Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|Dialética é uma bola de neve dentro de um banho turco em Cuba


Graças a um recorte de jornal posso afirmar que passei a tarde de 23 de agosto de 1988 a trocar ideias com Guillermo Cabrera Infante

Por Sérgio Augusto
Atualização:

Graças a um recorte de jornal casualmente exumado por meu amigo Paulo Roberto Pires, posso afirmar, agora com evidência impressa, que não só passei a tarde de 23 de agosto de 1988 a trocar ideias com Guillermo Cabrera Infante (o brilhante escritor cubano, naturalizado britânico, 1929-2005), como ainda improvisei, durante a conversa, a mais surreal e ultrajante definição de “dialética” que Paulo Roberto diz ter ouvido na vida.

Kant, Hegel e Marx (não só esta trinca, mas sobretudo ela) teriam se horrorizado com a definição, até porque tinham muito pouco ou nenhum senso de humor. Se é que entenderiam a boutade, impenetrável por quem ignora, como seguramente era o caso da trinca, o legendário chansonnier gay cubano Bola de Nieve (1911-1971) e sua “gracia criolla”.

Sérgio Augusto Foto: Estadão
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O encontro foi numa sala de reuniões da Folha de S. Paulo; presentes não mais que meia dúzia de pessoas, uma delas o então secretário do jornal, Matinas Suzuki Jr. Aliás, foi ele, leitor de primeira hora de Três Tristes Tigres, quem jogou Bola de Nieve na conversa, dominada de início por confidências cinefílicas do escritor, que em Havana viveu de escrever críticas de cinema antes de se dedicar à literatura.

Infante ainda estava sob o impacto de No Silêncio da Noite, melodrama noir de Nicholas Ray, que dias antes de seu embarque para o Brasil assistira pela primeira vez, na BBC. De algum modo identificou-se com o personagem de Humphrey Bogart, um atormentado e virulento roteirista de cinema, que só não apanhou mais do destino que o roteirista vivido por William Holden em Crepúsculo dos Deuses, o outro noir hollywoodiano de 1950, também o ano (que ano!) de A Malvada.

“Foi desastrosa.” Assim Infante definiu sua experiência como roteirista. Orgulhava-se da adaptação do romance Sob o Vulcão, de Malcolm Lowry, que fez para Joseph Losey e cuja estrutura, a seu ver, John Huston destruiu. De Corrida Contra o Destino (Vanishing Point) só guardou a perplexa ignorância do produtor Richard (filho de Darryl F.) Zanuck sobre o significado da expressão “vanishing point” (ponto de fuga). E o enjoativo fumacê de George Harrison foi tudo o que lhe ficou das filmagens do psicodélico Wonderwall.

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Poucos dias depois, fizemos um tour pelo Rio, com Matinas ao volante, e a atriz Miriam Gómez, companheira do escritor. Miriam encantou-se com as florzinhas que margeiam a subida para o Alto da Boa Vista, especialmente com o nome que aqui se deu às “hierbas doncellas”: marias-sem-vergonha.

Àquela altura, já sabíamos da imensa admiração de Infante por Bola de Nieve. Companheiros de sauna em Havana (“honni soit...”, etc.), o cantor costumava lhe fazer as perguntas mais inocentes do mundo. “O que é dialética?”, por exemplo.

Foi aí que, de chofre e só para iniciados, sugeri esta alternativa: “Dialética é uma bola de neve dentro de um banho turco em Cuba”. Que o cantor morreu sem conhecer.

Graças a um recorte de jornal casualmente exumado por meu amigo Paulo Roberto Pires, posso afirmar, agora com evidência impressa, que não só passei a tarde de 23 de agosto de 1988 a trocar ideias com Guillermo Cabrera Infante (o brilhante escritor cubano, naturalizado britânico, 1929-2005), como ainda improvisei, durante a conversa, a mais surreal e ultrajante definição de “dialética” que Paulo Roberto diz ter ouvido na vida.

Kant, Hegel e Marx (não só esta trinca, mas sobretudo ela) teriam se horrorizado com a definição, até porque tinham muito pouco ou nenhum senso de humor. Se é que entenderiam a boutade, impenetrável por quem ignora, como seguramente era o caso da trinca, o legendário chansonnier gay cubano Bola de Nieve (1911-1971) e sua “gracia criolla”.

Sérgio Augusto Foto: Estadão

O encontro foi numa sala de reuniões da Folha de S. Paulo; presentes não mais que meia dúzia de pessoas, uma delas o então secretário do jornal, Matinas Suzuki Jr. Aliás, foi ele, leitor de primeira hora de Três Tristes Tigres, quem jogou Bola de Nieve na conversa, dominada de início por confidências cinefílicas do escritor, que em Havana viveu de escrever críticas de cinema antes de se dedicar à literatura.

Infante ainda estava sob o impacto de No Silêncio da Noite, melodrama noir de Nicholas Ray, que dias antes de seu embarque para o Brasil assistira pela primeira vez, na BBC. De algum modo identificou-se com o personagem de Humphrey Bogart, um atormentado e virulento roteirista de cinema, que só não apanhou mais do destino que o roteirista vivido por William Holden em Crepúsculo dos Deuses, o outro noir hollywoodiano de 1950, também o ano (que ano!) de A Malvada.

“Foi desastrosa.” Assim Infante definiu sua experiência como roteirista. Orgulhava-se da adaptação do romance Sob o Vulcão, de Malcolm Lowry, que fez para Joseph Losey e cuja estrutura, a seu ver, John Huston destruiu. De Corrida Contra o Destino (Vanishing Point) só guardou a perplexa ignorância do produtor Richard (filho de Darryl F.) Zanuck sobre o significado da expressão “vanishing point” (ponto de fuga). E o enjoativo fumacê de George Harrison foi tudo o que lhe ficou das filmagens do psicodélico Wonderwall.

Poucos dias depois, fizemos um tour pelo Rio, com Matinas ao volante, e a atriz Miriam Gómez, companheira do escritor. Miriam encantou-se com as florzinhas que margeiam a subida para o Alto da Boa Vista, especialmente com o nome que aqui se deu às “hierbas doncellas”: marias-sem-vergonha.

Àquela altura, já sabíamos da imensa admiração de Infante por Bola de Nieve. Companheiros de sauna em Havana (“honni soit...”, etc.), o cantor costumava lhe fazer as perguntas mais inocentes do mundo. “O que é dialética?”, por exemplo.

Foi aí que, de chofre e só para iniciados, sugeri esta alternativa: “Dialética é uma bola de neve dentro de um banho turco em Cuba”. Que o cantor morreu sem conhecer.

Graças a um recorte de jornal casualmente exumado por meu amigo Paulo Roberto Pires, posso afirmar, agora com evidência impressa, que não só passei a tarde de 23 de agosto de 1988 a trocar ideias com Guillermo Cabrera Infante (o brilhante escritor cubano, naturalizado britânico, 1929-2005), como ainda improvisei, durante a conversa, a mais surreal e ultrajante definição de “dialética” que Paulo Roberto diz ter ouvido na vida.

Kant, Hegel e Marx (não só esta trinca, mas sobretudo ela) teriam se horrorizado com a definição, até porque tinham muito pouco ou nenhum senso de humor. Se é que entenderiam a boutade, impenetrável por quem ignora, como seguramente era o caso da trinca, o legendário chansonnier gay cubano Bola de Nieve (1911-1971) e sua “gracia criolla”.

Sérgio Augusto Foto: Estadão

O encontro foi numa sala de reuniões da Folha de S. Paulo; presentes não mais que meia dúzia de pessoas, uma delas o então secretário do jornal, Matinas Suzuki Jr. Aliás, foi ele, leitor de primeira hora de Três Tristes Tigres, quem jogou Bola de Nieve na conversa, dominada de início por confidências cinefílicas do escritor, que em Havana viveu de escrever críticas de cinema antes de se dedicar à literatura.

Infante ainda estava sob o impacto de No Silêncio da Noite, melodrama noir de Nicholas Ray, que dias antes de seu embarque para o Brasil assistira pela primeira vez, na BBC. De algum modo identificou-se com o personagem de Humphrey Bogart, um atormentado e virulento roteirista de cinema, que só não apanhou mais do destino que o roteirista vivido por William Holden em Crepúsculo dos Deuses, o outro noir hollywoodiano de 1950, também o ano (que ano!) de A Malvada.

“Foi desastrosa.” Assim Infante definiu sua experiência como roteirista. Orgulhava-se da adaptação do romance Sob o Vulcão, de Malcolm Lowry, que fez para Joseph Losey e cuja estrutura, a seu ver, John Huston destruiu. De Corrida Contra o Destino (Vanishing Point) só guardou a perplexa ignorância do produtor Richard (filho de Darryl F.) Zanuck sobre o significado da expressão “vanishing point” (ponto de fuga). E o enjoativo fumacê de George Harrison foi tudo o que lhe ficou das filmagens do psicodélico Wonderwall.

Poucos dias depois, fizemos um tour pelo Rio, com Matinas ao volante, e a atriz Miriam Gómez, companheira do escritor. Miriam encantou-se com as florzinhas que margeiam a subida para o Alto da Boa Vista, especialmente com o nome que aqui se deu às “hierbas doncellas”: marias-sem-vergonha.

Àquela altura, já sabíamos da imensa admiração de Infante por Bola de Nieve. Companheiros de sauna em Havana (“honni soit...”, etc.), o cantor costumava lhe fazer as perguntas mais inocentes do mundo. “O que é dialética?”, por exemplo.

Foi aí que, de chofre e só para iniciados, sugeri esta alternativa: “Dialética é uma bola de neve dentro de um banho turco em Cuba”. Que o cantor morreu sem conhecer.

Graças a um recorte de jornal casualmente exumado por meu amigo Paulo Roberto Pires, posso afirmar, agora com evidência impressa, que não só passei a tarde de 23 de agosto de 1988 a trocar ideias com Guillermo Cabrera Infante (o brilhante escritor cubano, naturalizado britânico, 1929-2005), como ainda improvisei, durante a conversa, a mais surreal e ultrajante definição de “dialética” que Paulo Roberto diz ter ouvido na vida.

Kant, Hegel e Marx (não só esta trinca, mas sobretudo ela) teriam se horrorizado com a definição, até porque tinham muito pouco ou nenhum senso de humor. Se é que entenderiam a boutade, impenetrável por quem ignora, como seguramente era o caso da trinca, o legendário chansonnier gay cubano Bola de Nieve (1911-1971) e sua “gracia criolla”.

Sérgio Augusto Foto: Estadão

O encontro foi numa sala de reuniões da Folha de S. Paulo; presentes não mais que meia dúzia de pessoas, uma delas o então secretário do jornal, Matinas Suzuki Jr. Aliás, foi ele, leitor de primeira hora de Três Tristes Tigres, quem jogou Bola de Nieve na conversa, dominada de início por confidências cinefílicas do escritor, que em Havana viveu de escrever críticas de cinema antes de se dedicar à literatura.

Infante ainda estava sob o impacto de No Silêncio da Noite, melodrama noir de Nicholas Ray, que dias antes de seu embarque para o Brasil assistira pela primeira vez, na BBC. De algum modo identificou-se com o personagem de Humphrey Bogart, um atormentado e virulento roteirista de cinema, que só não apanhou mais do destino que o roteirista vivido por William Holden em Crepúsculo dos Deuses, o outro noir hollywoodiano de 1950, também o ano (que ano!) de A Malvada.

“Foi desastrosa.” Assim Infante definiu sua experiência como roteirista. Orgulhava-se da adaptação do romance Sob o Vulcão, de Malcolm Lowry, que fez para Joseph Losey e cuja estrutura, a seu ver, John Huston destruiu. De Corrida Contra o Destino (Vanishing Point) só guardou a perplexa ignorância do produtor Richard (filho de Darryl F.) Zanuck sobre o significado da expressão “vanishing point” (ponto de fuga). E o enjoativo fumacê de George Harrison foi tudo o que lhe ficou das filmagens do psicodélico Wonderwall.

Poucos dias depois, fizemos um tour pelo Rio, com Matinas ao volante, e a atriz Miriam Gómez, companheira do escritor. Miriam encantou-se com as florzinhas que margeiam a subida para o Alto da Boa Vista, especialmente com o nome que aqui se deu às “hierbas doncellas”: marias-sem-vergonha.

Àquela altura, já sabíamos da imensa admiração de Infante por Bola de Nieve. Companheiros de sauna em Havana (“honni soit...”, etc.), o cantor costumava lhe fazer as perguntas mais inocentes do mundo. “O que é dialética?”, por exemplo.

Foi aí que, de chofre e só para iniciados, sugeri esta alternativa: “Dialética é uma bola de neve dentro de um banho turco em Cuba”. Que o cantor morreu sem conhecer.

Graças a um recorte de jornal casualmente exumado por meu amigo Paulo Roberto Pires, posso afirmar, agora com evidência impressa, que não só passei a tarde de 23 de agosto de 1988 a trocar ideias com Guillermo Cabrera Infante (o brilhante escritor cubano, naturalizado britânico, 1929-2005), como ainda improvisei, durante a conversa, a mais surreal e ultrajante definição de “dialética” que Paulo Roberto diz ter ouvido na vida.

Kant, Hegel e Marx (não só esta trinca, mas sobretudo ela) teriam se horrorizado com a definição, até porque tinham muito pouco ou nenhum senso de humor. Se é que entenderiam a boutade, impenetrável por quem ignora, como seguramente era o caso da trinca, o legendário chansonnier gay cubano Bola de Nieve (1911-1971) e sua “gracia criolla”.

Sérgio Augusto Foto: Estadão

O encontro foi numa sala de reuniões da Folha de S. Paulo; presentes não mais que meia dúzia de pessoas, uma delas o então secretário do jornal, Matinas Suzuki Jr. Aliás, foi ele, leitor de primeira hora de Três Tristes Tigres, quem jogou Bola de Nieve na conversa, dominada de início por confidências cinefílicas do escritor, que em Havana viveu de escrever críticas de cinema antes de se dedicar à literatura.

Infante ainda estava sob o impacto de No Silêncio da Noite, melodrama noir de Nicholas Ray, que dias antes de seu embarque para o Brasil assistira pela primeira vez, na BBC. De algum modo identificou-se com o personagem de Humphrey Bogart, um atormentado e virulento roteirista de cinema, que só não apanhou mais do destino que o roteirista vivido por William Holden em Crepúsculo dos Deuses, o outro noir hollywoodiano de 1950, também o ano (que ano!) de A Malvada.

“Foi desastrosa.” Assim Infante definiu sua experiência como roteirista. Orgulhava-se da adaptação do romance Sob o Vulcão, de Malcolm Lowry, que fez para Joseph Losey e cuja estrutura, a seu ver, John Huston destruiu. De Corrida Contra o Destino (Vanishing Point) só guardou a perplexa ignorância do produtor Richard (filho de Darryl F.) Zanuck sobre o significado da expressão “vanishing point” (ponto de fuga). E o enjoativo fumacê de George Harrison foi tudo o que lhe ficou das filmagens do psicodélico Wonderwall.

Poucos dias depois, fizemos um tour pelo Rio, com Matinas ao volante, e a atriz Miriam Gómez, companheira do escritor. Miriam encantou-se com as florzinhas que margeiam a subida para o Alto da Boa Vista, especialmente com o nome que aqui se deu às “hierbas doncellas”: marias-sem-vergonha.

Àquela altura, já sabíamos da imensa admiração de Infante por Bola de Nieve. Companheiros de sauna em Havana (“honni soit...”, etc.), o cantor costumava lhe fazer as perguntas mais inocentes do mundo. “O que é dialética?”, por exemplo.

Foi aí que, de chofre e só para iniciados, sugeri esta alternativa: “Dialética é uma bola de neve dentro de um banho turco em Cuba”. Que o cantor morreu sem conhecer.

Opinião por Sérgio Augusto

É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

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