Novo livro de Gay Talese na praça – a de lá, onde ele vive e escreve. Chegou às livrarias na última terça-feira, mas seu preço, no formato digital, o de mais rápido acesso, ainda não é para qualquer bico.
Dividido em 35 capítulos curtos, de escorreita leitura, como tudo o que Talese assina, Bartleby and Me (Mariner Books) homenageia o clássico relato de Henry Melville sobre o escrivão que preferia abster-se a comprometer-se, aqui traduzido pela Cosac Naify e há tempos de graça na rede.
É a respeito dele e seu peculiar negativismo que versa o texto de abertura, memorialístico como os demais e rico em detalhes do início da carreira de Talese, no The New York Times, em 1953, e dos bastidores do seminal perfil (Frank Sinatra Está gripado) que o consagrou como um dos pilares do melhor jornalismo literário.
A gripe de Sinatra não saiu no Times, mas no pouso seguinte de Talese, a revista Esquire (abril de 1966), e é sobre ela que me debruço, unindo-me aos hosanas pelos seus 90 anos de incomparáveis serviços à imprensa mundial. Minha geração e as que a precederam (mais) e procederam (menos) se formaram pela universidade informal de jornalismo que foi a Esquire, inspiração, entre outras, da nossa Senhor.
Publicação trimestral ao chegar às bancas no outono de 1933, com textos de Hemingway, John Dos Passos, Ring Lardner Jr, Dashiell Hammett e outras estrelas da época, parecia uma empreitada suicida no auge da Depressão, a começar pelo preço de capa: 50 centavos de dólar, dez vezes mais cara que a já estabelecida Saturday Evening Post.
Seu público-alvo (jovem urbano, letrado e sofisticado) era quase o mesmo da semanal The New Yorker, oito anos mais velha. Nem depois de virar mensal Esquire sentiu a concorrência.
“Sempre tentamos ser os primeiros em tudo”, gabava-se o editor Arnold Gingrich, principal responsável pelo alto padrão intelectual da revista. Foi ele quem arrancou de um relutante F. Scott Fitzgerald os atormentados desabafos de A Derrocada, publicada em primeira mão na Esquire, desde o início um paraíso para escritores, jornalistas e mesmo sumidades estranhas ao serviço, como Jean Genet, que se arriscou na reportagem política.
André Gide, Alberto Moravia, J.D. Salinger (ainda servindo na Marinha), Norman Mailer, Tom Wolfe, Dwight Macdonald, Terry Southern, Raymond Carver e Nora Ephron lá colaboraram uma ou mais vezes ou lá tiveram sua primeira grande chance. O estarrecedor massacre de My Lai, no Vietnã, em 1968, foi um furo da revista (e de John Sack).
E ainda nem toquei num de seus trunfos mais evidentes: as chamativas capas criadas pelo designer e publicitário George Lois: Andy Warhol afogando-se numa lata de sopa Campbell, Muhammad Ali flechado como São Sebastião – um museu em papel cuchê.