Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|Milan Kundera, o exilado da Boêmia


Kundera foi um dos escritores mais eruditos do seu tempo, um ensaísta de primeira ordem, um agudo intérprete do cômico e do humor, um fino observador do fazer literário e da ‘arte do romance’

Por Sérgio Augusto

Sei de gente que o acreditava morto já havia algum tempo. Ultimamente ainda mais recluso, por motivos de saúde, Milan Kundera só se manifestava em público por intermédio de um porta-voz da Gallimard, sua editora na França, seu exílio permanente. A Insustentável Leveza do Ser tornou-se um livro de geração, um best-seller mundial, mas a verdade é que o mais conhecido escritor checo depois de Kafka não publicava uma obra de indiscutível substância desde A Imortalidade, já lá se vão pouco mais de 30 anos.

Meio que saíra de moda junto à crítica, talvez porque boa parte dela julgasse suas preocupações e observações finisseculares, equivocadamente, menos relevantes, talvez porque muitas leitoras feministas (as mulheres leem mais que os homens) tenham deixado de vê-lo com bons olhos por conta de suas, dele, persistentes obsessões sexuais – outra tolice.

Noves fora a acusação de dedo-duro a serviço da polícia secreta checa, que em 2008 abalou sua reputação de paladino do antitotalitarismo.

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Fiel na juventude ao regime comunista, Kundera teria denunciado outro jovem como espião nazista, em 1950, que afinal acabou punido com 14 anos de cadeia. O escritor sempre negou a história e tachou sua inopinada exumação por uma revista checa de “um vingativo fatwa moral”, contando com a imediata solidariedade de toda a comunidade literária internacional, inclusive de três ou quatro premiados com o Nobel, reconhecimento que, diga-se, a Academia Sueca lhe ficou devendo.

O escritor checo Milan Kundera, que morreu no dia 11 de julho aos 94 anos. Foto: Companhia das Letras

Ao romper com o regime stalinista quando as tropas do Pacto de Varsóvia invadiram Praga em 1968, perdeu o emprego de professor e se mandou para Paris, onde desenvolveu um jeito todo seu de dizer com graça verdades inconvenientes sobre a burocracia, a estupidez ideológica, a ganância, a carneirada, o falso moralismo, a insensata busca pelo poder – e o existencialismo sexual.

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De seus escritos, aboliu as palavras “soviético” e “Checoslováquia” (para ele, uma fabricação política, trocada por “Boêmia”). Nada de discurso e proselitismo em sua ficção. Seu maior, quiçá exclusivo, engajamento era com os valores intrínsecos da prosa. “Um romancista”, preconizou, “não tem contas a prestar a ninguém, salvo a Cervantes”.

Cervantes, tido como o “pai do romance” e, para Kundera, o iniciador da mais pura e fértil linhagem literária, que passa por Sterne, Rabelais, Diderot, Kafka, Musil, Broch, e vai, vai, vai, até germinar García Márquez, a exceção nessa genealogia francamente eurocêntrica.

Kundera foi um dos escritores mais eruditos do seu tempo, um ensaísta de primeira ordem, um agudo intérprete do cômico e do humor, um fino observador do fazer literário e da “arte do romance”, título, aliás, de uma das três coletâneas de ensaios do autor traduzidas no Brasil pela Companhia das Letras. Aprendi um bocado com eles.

Sei de gente que o acreditava morto já havia algum tempo. Ultimamente ainda mais recluso, por motivos de saúde, Milan Kundera só se manifestava em público por intermédio de um porta-voz da Gallimard, sua editora na França, seu exílio permanente. A Insustentável Leveza do Ser tornou-se um livro de geração, um best-seller mundial, mas a verdade é que o mais conhecido escritor checo depois de Kafka não publicava uma obra de indiscutível substância desde A Imortalidade, já lá se vão pouco mais de 30 anos.

Meio que saíra de moda junto à crítica, talvez porque boa parte dela julgasse suas preocupações e observações finisseculares, equivocadamente, menos relevantes, talvez porque muitas leitoras feministas (as mulheres leem mais que os homens) tenham deixado de vê-lo com bons olhos por conta de suas, dele, persistentes obsessões sexuais – outra tolice.

Noves fora a acusação de dedo-duro a serviço da polícia secreta checa, que em 2008 abalou sua reputação de paladino do antitotalitarismo.

Fiel na juventude ao regime comunista, Kundera teria denunciado outro jovem como espião nazista, em 1950, que afinal acabou punido com 14 anos de cadeia. O escritor sempre negou a história e tachou sua inopinada exumação por uma revista checa de “um vingativo fatwa moral”, contando com a imediata solidariedade de toda a comunidade literária internacional, inclusive de três ou quatro premiados com o Nobel, reconhecimento que, diga-se, a Academia Sueca lhe ficou devendo.

O escritor checo Milan Kundera, que morreu no dia 11 de julho aos 94 anos. Foto: Companhia das Letras

Ao romper com o regime stalinista quando as tropas do Pacto de Varsóvia invadiram Praga em 1968, perdeu o emprego de professor e se mandou para Paris, onde desenvolveu um jeito todo seu de dizer com graça verdades inconvenientes sobre a burocracia, a estupidez ideológica, a ganância, a carneirada, o falso moralismo, a insensata busca pelo poder – e o existencialismo sexual.

De seus escritos, aboliu as palavras “soviético” e “Checoslováquia” (para ele, uma fabricação política, trocada por “Boêmia”). Nada de discurso e proselitismo em sua ficção. Seu maior, quiçá exclusivo, engajamento era com os valores intrínsecos da prosa. “Um romancista”, preconizou, “não tem contas a prestar a ninguém, salvo a Cervantes”.

Cervantes, tido como o “pai do romance” e, para Kundera, o iniciador da mais pura e fértil linhagem literária, que passa por Sterne, Rabelais, Diderot, Kafka, Musil, Broch, e vai, vai, vai, até germinar García Márquez, a exceção nessa genealogia francamente eurocêntrica.

Kundera foi um dos escritores mais eruditos do seu tempo, um ensaísta de primeira ordem, um agudo intérprete do cômico e do humor, um fino observador do fazer literário e da “arte do romance”, título, aliás, de uma das três coletâneas de ensaios do autor traduzidas no Brasil pela Companhia das Letras. Aprendi um bocado com eles.

Sei de gente que o acreditava morto já havia algum tempo. Ultimamente ainda mais recluso, por motivos de saúde, Milan Kundera só se manifestava em público por intermédio de um porta-voz da Gallimard, sua editora na França, seu exílio permanente. A Insustentável Leveza do Ser tornou-se um livro de geração, um best-seller mundial, mas a verdade é que o mais conhecido escritor checo depois de Kafka não publicava uma obra de indiscutível substância desde A Imortalidade, já lá se vão pouco mais de 30 anos.

Meio que saíra de moda junto à crítica, talvez porque boa parte dela julgasse suas preocupações e observações finisseculares, equivocadamente, menos relevantes, talvez porque muitas leitoras feministas (as mulheres leem mais que os homens) tenham deixado de vê-lo com bons olhos por conta de suas, dele, persistentes obsessões sexuais – outra tolice.

Noves fora a acusação de dedo-duro a serviço da polícia secreta checa, que em 2008 abalou sua reputação de paladino do antitotalitarismo.

Fiel na juventude ao regime comunista, Kundera teria denunciado outro jovem como espião nazista, em 1950, que afinal acabou punido com 14 anos de cadeia. O escritor sempre negou a história e tachou sua inopinada exumação por uma revista checa de “um vingativo fatwa moral”, contando com a imediata solidariedade de toda a comunidade literária internacional, inclusive de três ou quatro premiados com o Nobel, reconhecimento que, diga-se, a Academia Sueca lhe ficou devendo.

O escritor checo Milan Kundera, que morreu no dia 11 de julho aos 94 anos. Foto: Companhia das Letras

Ao romper com o regime stalinista quando as tropas do Pacto de Varsóvia invadiram Praga em 1968, perdeu o emprego de professor e se mandou para Paris, onde desenvolveu um jeito todo seu de dizer com graça verdades inconvenientes sobre a burocracia, a estupidez ideológica, a ganância, a carneirada, o falso moralismo, a insensata busca pelo poder – e o existencialismo sexual.

De seus escritos, aboliu as palavras “soviético” e “Checoslováquia” (para ele, uma fabricação política, trocada por “Boêmia”). Nada de discurso e proselitismo em sua ficção. Seu maior, quiçá exclusivo, engajamento era com os valores intrínsecos da prosa. “Um romancista”, preconizou, “não tem contas a prestar a ninguém, salvo a Cervantes”.

Cervantes, tido como o “pai do romance” e, para Kundera, o iniciador da mais pura e fértil linhagem literária, que passa por Sterne, Rabelais, Diderot, Kafka, Musil, Broch, e vai, vai, vai, até germinar García Márquez, a exceção nessa genealogia francamente eurocêntrica.

Kundera foi um dos escritores mais eruditos do seu tempo, um ensaísta de primeira ordem, um agudo intérprete do cômico e do humor, um fino observador do fazer literário e da “arte do romance”, título, aliás, de uma das três coletâneas de ensaios do autor traduzidas no Brasil pela Companhia das Letras. Aprendi um bocado com eles.

Sei de gente que o acreditava morto já havia algum tempo. Ultimamente ainda mais recluso, por motivos de saúde, Milan Kundera só se manifestava em público por intermédio de um porta-voz da Gallimard, sua editora na França, seu exílio permanente. A Insustentável Leveza do Ser tornou-se um livro de geração, um best-seller mundial, mas a verdade é que o mais conhecido escritor checo depois de Kafka não publicava uma obra de indiscutível substância desde A Imortalidade, já lá se vão pouco mais de 30 anos.

Meio que saíra de moda junto à crítica, talvez porque boa parte dela julgasse suas preocupações e observações finisseculares, equivocadamente, menos relevantes, talvez porque muitas leitoras feministas (as mulheres leem mais que os homens) tenham deixado de vê-lo com bons olhos por conta de suas, dele, persistentes obsessões sexuais – outra tolice.

Noves fora a acusação de dedo-duro a serviço da polícia secreta checa, que em 2008 abalou sua reputação de paladino do antitotalitarismo.

Fiel na juventude ao regime comunista, Kundera teria denunciado outro jovem como espião nazista, em 1950, que afinal acabou punido com 14 anos de cadeia. O escritor sempre negou a história e tachou sua inopinada exumação por uma revista checa de “um vingativo fatwa moral”, contando com a imediata solidariedade de toda a comunidade literária internacional, inclusive de três ou quatro premiados com o Nobel, reconhecimento que, diga-se, a Academia Sueca lhe ficou devendo.

O escritor checo Milan Kundera, que morreu no dia 11 de julho aos 94 anos. Foto: Companhia das Letras

Ao romper com o regime stalinista quando as tropas do Pacto de Varsóvia invadiram Praga em 1968, perdeu o emprego de professor e se mandou para Paris, onde desenvolveu um jeito todo seu de dizer com graça verdades inconvenientes sobre a burocracia, a estupidez ideológica, a ganância, a carneirada, o falso moralismo, a insensata busca pelo poder – e o existencialismo sexual.

De seus escritos, aboliu as palavras “soviético” e “Checoslováquia” (para ele, uma fabricação política, trocada por “Boêmia”). Nada de discurso e proselitismo em sua ficção. Seu maior, quiçá exclusivo, engajamento era com os valores intrínsecos da prosa. “Um romancista”, preconizou, “não tem contas a prestar a ninguém, salvo a Cervantes”.

Cervantes, tido como o “pai do romance” e, para Kundera, o iniciador da mais pura e fértil linhagem literária, que passa por Sterne, Rabelais, Diderot, Kafka, Musil, Broch, e vai, vai, vai, até germinar García Márquez, a exceção nessa genealogia francamente eurocêntrica.

Kundera foi um dos escritores mais eruditos do seu tempo, um ensaísta de primeira ordem, um agudo intérprete do cômico e do humor, um fino observador do fazer literário e da “arte do romance”, título, aliás, de uma das três coletâneas de ensaios do autor traduzidas no Brasil pela Companhia das Letras. Aprendi um bocado com eles.

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Opinião por Sérgio Augusto

É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

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