Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|Mudando de assunto


No Rio, Gore Vidal tornou nossa festa do Oscar mais animada do que a do Dorothy Chandler Pavilion

Por Sérgio Augusto

Todos os anos, o jornalista e crítico de cinema Nelson Hoineff juntava os amigos mais chegados em seu apartamento na Av. Atlântica para assistir à entrega dos Oscars. A plateia se dividia entre os televisores do living e do escritório do anfitrião. Na noite de 30 de março de 1987, com a cerimônia ainda nos salamaleques iniciais, a campainha da entrada social tocou, e o conviva mais próximo à porta, ao abri-la, espantou-se com o que viu. 

“Nelson”, comunicou o estupefato conviva ao dono da casa, “sabe quem acabou de chegar? O Gore Vidal.” 

EscritorGore Vidal na '2005 Literary Awards'. Foto: Mario Anzuoni/Reuters/Arquivo
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Entregue ao meu ciceronato no Rio, quando veio ao Brasil lançar a coletânea de ensaios De Fato e de Ficção, Vidal não pensou duas vezes ao ser convidado para assistir à festa do Oscar daquele prédio na mesma calçada do Copacabana Palace, em cuja suíte 217 ele e o companheiro Howard Austen estavam hospedados. Hoineff esquecera-se de informar aos amigos da possível passada do escritor, que não só passou como ficou até o fim da festa, e mais um pouco.

Por que estou a lembrar de Vidal? Porque amanhã faz dez anos que ele morreu e falar de um morto da sua estatura é mais prazenteiro e profícuo que falar, outra vez, do vivo mais vil desta republiqueta - sim, ele.

Com seu formidável repertório de fofocas dos bastidores de Hollywood, onde viveu, trabalhou como roteirista e morreria (de pneumonia) 25 anos depois, Vidal tornou a nossa festa do Oscar mais animada do que a montada no palco do Dorothy Chandler Pavilion. Sua infrene maledicência só baixou a guarda na premiação de “melhor ator”: Paul Newman, por A Cor do Dinheiro. Newman foi um dos maiores amigos do escritor e também seu afilhado de casamento com a atriz Joanne Woodward.

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Era madrugada quando, em meio às despedidas entre as mesas externas de um restaurante adormecido, o ilustre visitante improvisou um show privado e a capela de Mr. Austen: boa voz e uma espantosa memória do cancioneiro popular americano. A calçada da Fiorentina jamais serviu de palco a tão inusitada performance. 

Vidal e Howard viveram juntos 53 anos, numa relação a mais aberta imaginável. Nada de sexo entre eles ou com amigos comuns; dormiam em quartos separados e não se referiam mutuamente como “marido” ou “parceiro”. Contudo foram, a seu modo, afetivamente fiéis e inseparáveis até que a morte, esta infiel, os separou. 

Um tumor cerebral levou Howard em 2003. “Não era isso o combinado”, confessou Vidal, a quem horrorizava a hipótese de “ficar sozinho”. Nove anos depois, o escritor recuperou a companhia: lado a lado, nos túmulos que reservara no Cemitério de Rock Green, em Washington, meticulosamente colados ao do historiador Henry Adams, talvez a maior admiração intelectual de Vidal. 

Todos os anos, o jornalista e crítico de cinema Nelson Hoineff juntava os amigos mais chegados em seu apartamento na Av. Atlântica para assistir à entrega dos Oscars. A plateia se dividia entre os televisores do living e do escritório do anfitrião. Na noite de 30 de março de 1987, com a cerimônia ainda nos salamaleques iniciais, a campainha da entrada social tocou, e o conviva mais próximo à porta, ao abri-la, espantou-se com o que viu. 

“Nelson”, comunicou o estupefato conviva ao dono da casa, “sabe quem acabou de chegar? O Gore Vidal.” 

EscritorGore Vidal na '2005 Literary Awards'. Foto: Mario Anzuoni/Reuters/Arquivo

Entregue ao meu ciceronato no Rio, quando veio ao Brasil lançar a coletânea de ensaios De Fato e de Ficção, Vidal não pensou duas vezes ao ser convidado para assistir à festa do Oscar daquele prédio na mesma calçada do Copacabana Palace, em cuja suíte 217 ele e o companheiro Howard Austen estavam hospedados. Hoineff esquecera-se de informar aos amigos da possível passada do escritor, que não só passou como ficou até o fim da festa, e mais um pouco.

Por que estou a lembrar de Vidal? Porque amanhã faz dez anos que ele morreu e falar de um morto da sua estatura é mais prazenteiro e profícuo que falar, outra vez, do vivo mais vil desta republiqueta - sim, ele.

Com seu formidável repertório de fofocas dos bastidores de Hollywood, onde viveu, trabalhou como roteirista e morreria (de pneumonia) 25 anos depois, Vidal tornou a nossa festa do Oscar mais animada do que a montada no palco do Dorothy Chandler Pavilion. Sua infrene maledicência só baixou a guarda na premiação de “melhor ator”: Paul Newman, por A Cor do Dinheiro. Newman foi um dos maiores amigos do escritor e também seu afilhado de casamento com a atriz Joanne Woodward.

Era madrugada quando, em meio às despedidas entre as mesas externas de um restaurante adormecido, o ilustre visitante improvisou um show privado e a capela de Mr. Austen: boa voz e uma espantosa memória do cancioneiro popular americano. A calçada da Fiorentina jamais serviu de palco a tão inusitada performance. 

Vidal e Howard viveram juntos 53 anos, numa relação a mais aberta imaginável. Nada de sexo entre eles ou com amigos comuns; dormiam em quartos separados e não se referiam mutuamente como “marido” ou “parceiro”. Contudo foram, a seu modo, afetivamente fiéis e inseparáveis até que a morte, esta infiel, os separou. 

Um tumor cerebral levou Howard em 2003. “Não era isso o combinado”, confessou Vidal, a quem horrorizava a hipótese de “ficar sozinho”. Nove anos depois, o escritor recuperou a companhia: lado a lado, nos túmulos que reservara no Cemitério de Rock Green, em Washington, meticulosamente colados ao do historiador Henry Adams, talvez a maior admiração intelectual de Vidal. 

Todos os anos, o jornalista e crítico de cinema Nelson Hoineff juntava os amigos mais chegados em seu apartamento na Av. Atlântica para assistir à entrega dos Oscars. A plateia se dividia entre os televisores do living e do escritório do anfitrião. Na noite de 30 de março de 1987, com a cerimônia ainda nos salamaleques iniciais, a campainha da entrada social tocou, e o conviva mais próximo à porta, ao abri-la, espantou-se com o que viu. 

“Nelson”, comunicou o estupefato conviva ao dono da casa, “sabe quem acabou de chegar? O Gore Vidal.” 

EscritorGore Vidal na '2005 Literary Awards'. Foto: Mario Anzuoni/Reuters/Arquivo

Entregue ao meu ciceronato no Rio, quando veio ao Brasil lançar a coletânea de ensaios De Fato e de Ficção, Vidal não pensou duas vezes ao ser convidado para assistir à festa do Oscar daquele prédio na mesma calçada do Copacabana Palace, em cuja suíte 217 ele e o companheiro Howard Austen estavam hospedados. Hoineff esquecera-se de informar aos amigos da possível passada do escritor, que não só passou como ficou até o fim da festa, e mais um pouco.

Por que estou a lembrar de Vidal? Porque amanhã faz dez anos que ele morreu e falar de um morto da sua estatura é mais prazenteiro e profícuo que falar, outra vez, do vivo mais vil desta republiqueta - sim, ele.

Com seu formidável repertório de fofocas dos bastidores de Hollywood, onde viveu, trabalhou como roteirista e morreria (de pneumonia) 25 anos depois, Vidal tornou a nossa festa do Oscar mais animada do que a montada no palco do Dorothy Chandler Pavilion. Sua infrene maledicência só baixou a guarda na premiação de “melhor ator”: Paul Newman, por A Cor do Dinheiro. Newman foi um dos maiores amigos do escritor e também seu afilhado de casamento com a atriz Joanne Woodward.

Era madrugada quando, em meio às despedidas entre as mesas externas de um restaurante adormecido, o ilustre visitante improvisou um show privado e a capela de Mr. Austen: boa voz e uma espantosa memória do cancioneiro popular americano. A calçada da Fiorentina jamais serviu de palco a tão inusitada performance. 

Vidal e Howard viveram juntos 53 anos, numa relação a mais aberta imaginável. Nada de sexo entre eles ou com amigos comuns; dormiam em quartos separados e não se referiam mutuamente como “marido” ou “parceiro”. Contudo foram, a seu modo, afetivamente fiéis e inseparáveis até que a morte, esta infiel, os separou. 

Um tumor cerebral levou Howard em 2003. “Não era isso o combinado”, confessou Vidal, a quem horrorizava a hipótese de “ficar sozinho”. Nove anos depois, o escritor recuperou a companhia: lado a lado, nos túmulos que reservara no Cemitério de Rock Green, em Washington, meticulosamente colados ao do historiador Henry Adams, talvez a maior admiração intelectual de Vidal. 

Todos os anos, o jornalista e crítico de cinema Nelson Hoineff juntava os amigos mais chegados em seu apartamento na Av. Atlântica para assistir à entrega dos Oscars. A plateia se dividia entre os televisores do living e do escritório do anfitrião. Na noite de 30 de março de 1987, com a cerimônia ainda nos salamaleques iniciais, a campainha da entrada social tocou, e o conviva mais próximo à porta, ao abri-la, espantou-se com o que viu. 

“Nelson”, comunicou o estupefato conviva ao dono da casa, “sabe quem acabou de chegar? O Gore Vidal.” 

EscritorGore Vidal na '2005 Literary Awards'. Foto: Mario Anzuoni/Reuters/Arquivo

Entregue ao meu ciceronato no Rio, quando veio ao Brasil lançar a coletânea de ensaios De Fato e de Ficção, Vidal não pensou duas vezes ao ser convidado para assistir à festa do Oscar daquele prédio na mesma calçada do Copacabana Palace, em cuja suíte 217 ele e o companheiro Howard Austen estavam hospedados. Hoineff esquecera-se de informar aos amigos da possível passada do escritor, que não só passou como ficou até o fim da festa, e mais um pouco.

Por que estou a lembrar de Vidal? Porque amanhã faz dez anos que ele morreu e falar de um morto da sua estatura é mais prazenteiro e profícuo que falar, outra vez, do vivo mais vil desta republiqueta - sim, ele.

Com seu formidável repertório de fofocas dos bastidores de Hollywood, onde viveu, trabalhou como roteirista e morreria (de pneumonia) 25 anos depois, Vidal tornou a nossa festa do Oscar mais animada do que a montada no palco do Dorothy Chandler Pavilion. Sua infrene maledicência só baixou a guarda na premiação de “melhor ator”: Paul Newman, por A Cor do Dinheiro. Newman foi um dos maiores amigos do escritor e também seu afilhado de casamento com a atriz Joanne Woodward.

Era madrugada quando, em meio às despedidas entre as mesas externas de um restaurante adormecido, o ilustre visitante improvisou um show privado e a capela de Mr. Austen: boa voz e uma espantosa memória do cancioneiro popular americano. A calçada da Fiorentina jamais serviu de palco a tão inusitada performance. 

Vidal e Howard viveram juntos 53 anos, numa relação a mais aberta imaginável. Nada de sexo entre eles ou com amigos comuns; dormiam em quartos separados e não se referiam mutuamente como “marido” ou “parceiro”. Contudo foram, a seu modo, afetivamente fiéis e inseparáveis até que a morte, esta infiel, os separou. 

Um tumor cerebral levou Howard em 2003. “Não era isso o combinado”, confessou Vidal, a quem horrorizava a hipótese de “ficar sozinho”. Nove anos depois, o escritor recuperou a companhia: lado a lado, nos túmulos que reservara no Cemitério de Rock Green, em Washington, meticulosamente colados ao do historiador Henry Adams, talvez a maior admiração intelectual de Vidal. 

Opinião por Sérgio Augusto

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