Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|Nietzsche em Ipanema


Como Deus e a Coca-Cola, o filósofo está em toda parte

Doutorando de uma universidade londrina está a pesquisar no Rio por que Nietzsche era tão apreciado e discutido pela intelectualidade local nos anos 1960-70. Fascinado pela “densidade” das discussões culturais na imprensa, notadamente no Pasquim, não será surpresa se sua tese de doutorado ganhar o título de Nietzsche em Ipanema.

Paulo Francis e Luiz Carlos Maciel, sobretudo este, falaram mais em Nietzsche que eu e o restante da redação do Pasquim. Mas não tanto quanto abordaram Freud, Marx e outros pensadores então na moda, como Benjamin, Marcuse, McLuhan, Adorno, Norman O. Brown.

Nietzsche só virou coqueluche entre nós na década seguinte. Dei conta disso na época.

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Beba Nietzsche, o Que Todos Preferem. Por acaso hoje faz 38 anos cravados que publiquei na Folha de S. Paulo um artigo com esse título parodicamente publicitário, em cuja abertura dizia que, “como Deus e a Coca-Cola”, o filósofo alemão estava em toda parte, principalmente nas livrarias, em antologias e reflexões alheias, e mesmo em obras de ficção distantes entre si no tempo e no mood, como as de Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser) e John Fante (Pergunte ao Pó). O filme de Júlio Bressane sobre os últimos dias de Nietzsche em Turim só seria rodado 15 anos mais tarde.

Até porque, no dia seguinte à publicação do artigo, a Faculdade Cândido Mendes iniciava um simpósio sobre a retomada do pensamento nietzschiano na filosofia e na política, o arrematei com uma jocosa exortação litúrgica: “Nietzsche vobiscum”.

Sete dias depois, na garupa do simpósio, cometi mais um texto sobre o bigodudo superego de Zaratustra. Se bem me lembro, não se deu muita bola para a então já cediça polêmica sobre o suposto nazismo avant la lettre do filósofo. Para minha surpresa, o gaio porco chauvinista teutônico não foi linchado pela militância feminista presente. Àquela altura, suas lideranças talvez já conhecessem o que Derrida e Luce Irigaray refletiram sobre a misoginia do filósofo.

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Nietzsche escreveu coisas desconcertantes, para dizer o mínimo, a respeito das mulheres. Que elas são frívolas, traiçoeiras, incultas, selvagens e almejam dominar os homens, se não destruí-los. O suco de tais preconceitos está nos aforismos de Para Além do Bem e do Mal, mas não só ali. A favor de Nietzsche, duas hipóteses: ele ter sucumbido, apesar de gênio, à sufocante misoginia do século 19, e/ou ter sido demasiado irônico, logo, sujeito à incompreensão, e, acima de tudo, demasiado metafórico.

O irônico Machado de Quincas Borba e seu humanitismo também foram equivocadamente confundidos com o nazi-fascismo, no auge da 2.ª Guerra, inclusive por um aluno de nosso grande filólogo J. Mattoso Câmara, na New School for Social Research, em Nova York. Mas essa é outra história. E de um tempo em que os nazi-fascistas daqui ao menos sabiam quem foi Nietzsche e até o haviam lido.

Doutorando de uma universidade londrina está a pesquisar no Rio por que Nietzsche era tão apreciado e discutido pela intelectualidade local nos anos 1960-70. Fascinado pela “densidade” das discussões culturais na imprensa, notadamente no Pasquim, não será surpresa se sua tese de doutorado ganhar o título de Nietzsche em Ipanema.

Paulo Francis e Luiz Carlos Maciel, sobretudo este, falaram mais em Nietzsche que eu e o restante da redação do Pasquim. Mas não tanto quanto abordaram Freud, Marx e outros pensadores então na moda, como Benjamin, Marcuse, McLuhan, Adorno, Norman O. Brown.

Nietzsche só virou coqueluche entre nós na década seguinte. Dei conta disso na época.

Beba Nietzsche, o Que Todos Preferem. Por acaso hoje faz 38 anos cravados que publiquei na Folha de S. Paulo um artigo com esse título parodicamente publicitário, em cuja abertura dizia que, “como Deus e a Coca-Cola”, o filósofo alemão estava em toda parte, principalmente nas livrarias, em antologias e reflexões alheias, e mesmo em obras de ficção distantes entre si no tempo e no mood, como as de Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser) e John Fante (Pergunte ao Pó). O filme de Júlio Bressane sobre os últimos dias de Nietzsche em Turim só seria rodado 15 anos mais tarde.

Até porque, no dia seguinte à publicação do artigo, a Faculdade Cândido Mendes iniciava um simpósio sobre a retomada do pensamento nietzschiano na filosofia e na política, o arrematei com uma jocosa exortação litúrgica: “Nietzsche vobiscum”.

Sete dias depois, na garupa do simpósio, cometi mais um texto sobre o bigodudo superego de Zaratustra. Se bem me lembro, não se deu muita bola para a então já cediça polêmica sobre o suposto nazismo avant la lettre do filósofo. Para minha surpresa, o gaio porco chauvinista teutônico não foi linchado pela militância feminista presente. Àquela altura, suas lideranças talvez já conhecessem o que Derrida e Luce Irigaray refletiram sobre a misoginia do filósofo.

Nietzsche escreveu coisas desconcertantes, para dizer o mínimo, a respeito das mulheres. Que elas são frívolas, traiçoeiras, incultas, selvagens e almejam dominar os homens, se não destruí-los. O suco de tais preconceitos está nos aforismos de Para Além do Bem e do Mal, mas não só ali. A favor de Nietzsche, duas hipóteses: ele ter sucumbido, apesar de gênio, à sufocante misoginia do século 19, e/ou ter sido demasiado irônico, logo, sujeito à incompreensão, e, acima de tudo, demasiado metafórico.

O irônico Machado de Quincas Borba e seu humanitismo também foram equivocadamente confundidos com o nazi-fascismo, no auge da 2.ª Guerra, inclusive por um aluno de nosso grande filólogo J. Mattoso Câmara, na New School for Social Research, em Nova York. Mas essa é outra história. E de um tempo em que os nazi-fascistas daqui ao menos sabiam quem foi Nietzsche e até o haviam lido.

Doutorando de uma universidade londrina está a pesquisar no Rio por que Nietzsche era tão apreciado e discutido pela intelectualidade local nos anos 1960-70. Fascinado pela “densidade” das discussões culturais na imprensa, notadamente no Pasquim, não será surpresa se sua tese de doutorado ganhar o título de Nietzsche em Ipanema.

Paulo Francis e Luiz Carlos Maciel, sobretudo este, falaram mais em Nietzsche que eu e o restante da redação do Pasquim. Mas não tanto quanto abordaram Freud, Marx e outros pensadores então na moda, como Benjamin, Marcuse, McLuhan, Adorno, Norman O. Brown.

Nietzsche só virou coqueluche entre nós na década seguinte. Dei conta disso na época.

Beba Nietzsche, o Que Todos Preferem. Por acaso hoje faz 38 anos cravados que publiquei na Folha de S. Paulo um artigo com esse título parodicamente publicitário, em cuja abertura dizia que, “como Deus e a Coca-Cola”, o filósofo alemão estava em toda parte, principalmente nas livrarias, em antologias e reflexões alheias, e mesmo em obras de ficção distantes entre si no tempo e no mood, como as de Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser) e John Fante (Pergunte ao Pó). O filme de Júlio Bressane sobre os últimos dias de Nietzsche em Turim só seria rodado 15 anos mais tarde.

Até porque, no dia seguinte à publicação do artigo, a Faculdade Cândido Mendes iniciava um simpósio sobre a retomada do pensamento nietzschiano na filosofia e na política, o arrematei com uma jocosa exortação litúrgica: “Nietzsche vobiscum”.

Sete dias depois, na garupa do simpósio, cometi mais um texto sobre o bigodudo superego de Zaratustra. Se bem me lembro, não se deu muita bola para a então já cediça polêmica sobre o suposto nazismo avant la lettre do filósofo. Para minha surpresa, o gaio porco chauvinista teutônico não foi linchado pela militância feminista presente. Àquela altura, suas lideranças talvez já conhecessem o que Derrida e Luce Irigaray refletiram sobre a misoginia do filósofo.

Nietzsche escreveu coisas desconcertantes, para dizer o mínimo, a respeito das mulheres. Que elas são frívolas, traiçoeiras, incultas, selvagens e almejam dominar os homens, se não destruí-los. O suco de tais preconceitos está nos aforismos de Para Além do Bem e do Mal, mas não só ali. A favor de Nietzsche, duas hipóteses: ele ter sucumbido, apesar de gênio, à sufocante misoginia do século 19, e/ou ter sido demasiado irônico, logo, sujeito à incompreensão, e, acima de tudo, demasiado metafórico.

O irônico Machado de Quincas Borba e seu humanitismo também foram equivocadamente confundidos com o nazi-fascismo, no auge da 2.ª Guerra, inclusive por um aluno de nosso grande filólogo J. Mattoso Câmara, na New School for Social Research, em Nova York. Mas essa é outra história. E de um tempo em que os nazi-fascistas daqui ao menos sabiam quem foi Nietzsche e até o haviam lido.

Doutorando de uma universidade londrina está a pesquisar no Rio por que Nietzsche era tão apreciado e discutido pela intelectualidade local nos anos 1960-70. Fascinado pela “densidade” das discussões culturais na imprensa, notadamente no Pasquim, não será surpresa se sua tese de doutorado ganhar o título de Nietzsche em Ipanema.

Paulo Francis e Luiz Carlos Maciel, sobretudo este, falaram mais em Nietzsche que eu e o restante da redação do Pasquim. Mas não tanto quanto abordaram Freud, Marx e outros pensadores então na moda, como Benjamin, Marcuse, McLuhan, Adorno, Norman O. Brown.

Nietzsche só virou coqueluche entre nós na década seguinte. Dei conta disso na época.

Beba Nietzsche, o Que Todos Preferem. Por acaso hoje faz 38 anos cravados que publiquei na Folha de S. Paulo um artigo com esse título parodicamente publicitário, em cuja abertura dizia que, “como Deus e a Coca-Cola”, o filósofo alemão estava em toda parte, principalmente nas livrarias, em antologias e reflexões alheias, e mesmo em obras de ficção distantes entre si no tempo e no mood, como as de Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser) e John Fante (Pergunte ao Pó). O filme de Júlio Bressane sobre os últimos dias de Nietzsche em Turim só seria rodado 15 anos mais tarde.

Até porque, no dia seguinte à publicação do artigo, a Faculdade Cândido Mendes iniciava um simpósio sobre a retomada do pensamento nietzschiano na filosofia e na política, o arrematei com uma jocosa exortação litúrgica: “Nietzsche vobiscum”.

Sete dias depois, na garupa do simpósio, cometi mais um texto sobre o bigodudo superego de Zaratustra. Se bem me lembro, não se deu muita bola para a então já cediça polêmica sobre o suposto nazismo avant la lettre do filósofo. Para minha surpresa, o gaio porco chauvinista teutônico não foi linchado pela militância feminista presente. Àquela altura, suas lideranças talvez já conhecessem o que Derrida e Luce Irigaray refletiram sobre a misoginia do filósofo.

Nietzsche escreveu coisas desconcertantes, para dizer o mínimo, a respeito das mulheres. Que elas são frívolas, traiçoeiras, incultas, selvagens e almejam dominar os homens, se não destruí-los. O suco de tais preconceitos está nos aforismos de Para Além do Bem e do Mal, mas não só ali. A favor de Nietzsche, duas hipóteses: ele ter sucumbido, apesar de gênio, à sufocante misoginia do século 19, e/ou ter sido demasiado irônico, logo, sujeito à incompreensão, e, acima de tudo, demasiado metafórico.

O irônico Machado de Quincas Borba e seu humanitismo também foram equivocadamente confundidos com o nazi-fascismo, no auge da 2.ª Guerra, inclusive por um aluno de nosso grande filólogo J. Mattoso Câmara, na New School for Social Research, em Nova York. Mas essa é outra história. E de um tempo em que os nazi-fascistas daqui ao menos sabiam quem foi Nietzsche e até o haviam lido.

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