Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|No TikTok, Kafka é tietado como um astro pop do tope de Harry Styles


É um culto com muito de carência adolescente e fascínio necrófilo, em que as figuras (ou os fantasmas) de Franz Kafka e Gregor Samsa por vezes se misturam: vídeos com fotos, dramáticos recortes epistolares e dedicatórias amorosas do escritor atraem milhões de visualizações na internet

Por Sérgio Augusto
Atualização:

Se Gregor Samsa se transformou num inseto monstruoso, Franz Kafka virou um ídolo da Geração X, um improvável cult hero da mídia digital. E não de uma plataforma qualquer, mas do tentacular TikTok. Essa metamorfose foi explorada, com algum espanto, nas últimas semanas, ao sabor do centenário de morte do escritor checo, ocorrida em 3 de junho de 1924.

Me imaginei na remota redação do Correio da Manhã, a informar ao Otto Maria Carpeaux do novo status de Kafka, o de símbolo sexual da moçada nascida ao final do século passado e atualmente só uns dez anos mais jovem que o escritor ao sofrer sua derradeira hemoptise.

No TikTok, Kafka é tietado como um astro pop do tope de Harry Styles, para citar um parâmetro que pincei de um jornalista britânico. Fãs de variada procedência babam por ele, não apenas seduzidas por sua prosa poderosa, mas em grande medida por seu charme pessoal e até por sua proverbial insegurança, de que tomaram conhecimento através de seus diários e suas cartas a Milena, ao pai e ao testamenteiro Max Brod.

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É um culto com muito de carência adolescente e fascínio necrófilo, em que as figuras (ou os fantasmas) de Franz Kafka e Gregor Samsa por vezes se misturam. Vídeos com fotos, dramáticos recortes epistolares e dedicatórias amorosas do escritor atraem milhões de visualizações na internet.

Retrato de Franz Kafka por John Springfield  Foto: Editora Civilização Brasileira

Só uma idólatra grega chamada Margarida Mouka já produziu 293.949 vídeos em torno de A Metamorfose, que, aliás, ela, confessadamente, leu e releu chorando. Outra, identificada como Ashling, montou um vídeo só com suas reações emocionais a imagens de Kafka, a quem uma terceira prometeu fidelidade eterna se não encontrar um homem à altura do ídolo.

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Por que pensei primeiro em Carpeaux? Porque não conheci outro intelectual com mais intimidade e conhecimento de Kafka e seu entorno do que o grande crítico de origem austríaca, o primeiro a publicar um ensaio em português sobre o atual xodó do TikTok.

Carpeaux cruzou com Kafka por acaso em Berlim, numa tarde de 1921. O escritor era um ilustre desconhecido. Ao lhe ser apresentado no Romanische Café, ponto de encontro da boemia intelectual berlinense, entendeu Kafka dizer “Kauka” e ficaram só no “muito prazer”. A voz daquele “rapaz franzino, magro, pálido e taciturno” já estava embargada pela tuberculose que o mataria três anos mais tarde. Carpeaux detalhou o episódio num texto postumamente incluído em Reflexo e Realidade.

Ao pesquisar sobre os últimos dias do escritor, Carpeaux visitou até a clínica em que Kafka morreu, nos arredores de Viena, e ganhou de presente um exemplar da primeira edição de O Processo, tesouro que ainda era, em 1966, quando o visitei pela última vez, o maior orgulho de sua biblioteca, decepcionantemente pequena para o tanto que aquele polímata sabia.

Se Gregor Samsa se transformou num inseto monstruoso, Franz Kafka virou um ídolo da Geração X, um improvável cult hero da mídia digital. E não de uma plataforma qualquer, mas do tentacular TikTok. Essa metamorfose foi explorada, com algum espanto, nas últimas semanas, ao sabor do centenário de morte do escritor checo, ocorrida em 3 de junho de 1924.

Me imaginei na remota redação do Correio da Manhã, a informar ao Otto Maria Carpeaux do novo status de Kafka, o de símbolo sexual da moçada nascida ao final do século passado e atualmente só uns dez anos mais jovem que o escritor ao sofrer sua derradeira hemoptise.

No TikTok, Kafka é tietado como um astro pop do tope de Harry Styles, para citar um parâmetro que pincei de um jornalista britânico. Fãs de variada procedência babam por ele, não apenas seduzidas por sua prosa poderosa, mas em grande medida por seu charme pessoal e até por sua proverbial insegurança, de que tomaram conhecimento através de seus diários e suas cartas a Milena, ao pai e ao testamenteiro Max Brod.

É um culto com muito de carência adolescente e fascínio necrófilo, em que as figuras (ou os fantasmas) de Franz Kafka e Gregor Samsa por vezes se misturam. Vídeos com fotos, dramáticos recortes epistolares e dedicatórias amorosas do escritor atraem milhões de visualizações na internet.

Retrato de Franz Kafka por John Springfield  Foto: Editora Civilização Brasileira

Só uma idólatra grega chamada Margarida Mouka já produziu 293.949 vídeos em torno de A Metamorfose, que, aliás, ela, confessadamente, leu e releu chorando. Outra, identificada como Ashling, montou um vídeo só com suas reações emocionais a imagens de Kafka, a quem uma terceira prometeu fidelidade eterna se não encontrar um homem à altura do ídolo.

Por que pensei primeiro em Carpeaux? Porque não conheci outro intelectual com mais intimidade e conhecimento de Kafka e seu entorno do que o grande crítico de origem austríaca, o primeiro a publicar um ensaio em português sobre o atual xodó do TikTok.

Carpeaux cruzou com Kafka por acaso em Berlim, numa tarde de 1921. O escritor era um ilustre desconhecido. Ao lhe ser apresentado no Romanische Café, ponto de encontro da boemia intelectual berlinense, entendeu Kafka dizer “Kauka” e ficaram só no “muito prazer”. A voz daquele “rapaz franzino, magro, pálido e taciturno” já estava embargada pela tuberculose que o mataria três anos mais tarde. Carpeaux detalhou o episódio num texto postumamente incluído em Reflexo e Realidade.

Ao pesquisar sobre os últimos dias do escritor, Carpeaux visitou até a clínica em que Kafka morreu, nos arredores de Viena, e ganhou de presente um exemplar da primeira edição de O Processo, tesouro que ainda era, em 1966, quando o visitei pela última vez, o maior orgulho de sua biblioteca, decepcionantemente pequena para o tanto que aquele polímata sabia.

Se Gregor Samsa se transformou num inseto monstruoso, Franz Kafka virou um ídolo da Geração X, um improvável cult hero da mídia digital. E não de uma plataforma qualquer, mas do tentacular TikTok. Essa metamorfose foi explorada, com algum espanto, nas últimas semanas, ao sabor do centenário de morte do escritor checo, ocorrida em 3 de junho de 1924.

Me imaginei na remota redação do Correio da Manhã, a informar ao Otto Maria Carpeaux do novo status de Kafka, o de símbolo sexual da moçada nascida ao final do século passado e atualmente só uns dez anos mais jovem que o escritor ao sofrer sua derradeira hemoptise.

No TikTok, Kafka é tietado como um astro pop do tope de Harry Styles, para citar um parâmetro que pincei de um jornalista britânico. Fãs de variada procedência babam por ele, não apenas seduzidas por sua prosa poderosa, mas em grande medida por seu charme pessoal e até por sua proverbial insegurança, de que tomaram conhecimento através de seus diários e suas cartas a Milena, ao pai e ao testamenteiro Max Brod.

É um culto com muito de carência adolescente e fascínio necrófilo, em que as figuras (ou os fantasmas) de Franz Kafka e Gregor Samsa por vezes se misturam. Vídeos com fotos, dramáticos recortes epistolares e dedicatórias amorosas do escritor atraem milhões de visualizações na internet.

Retrato de Franz Kafka por John Springfield  Foto: Editora Civilização Brasileira

Só uma idólatra grega chamada Margarida Mouka já produziu 293.949 vídeos em torno de A Metamorfose, que, aliás, ela, confessadamente, leu e releu chorando. Outra, identificada como Ashling, montou um vídeo só com suas reações emocionais a imagens de Kafka, a quem uma terceira prometeu fidelidade eterna se não encontrar um homem à altura do ídolo.

Por que pensei primeiro em Carpeaux? Porque não conheci outro intelectual com mais intimidade e conhecimento de Kafka e seu entorno do que o grande crítico de origem austríaca, o primeiro a publicar um ensaio em português sobre o atual xodó do TikTok.

Carpeaux cruzou com Kafka por acaso em Berlim, numa tarde de 1921. O escritor era um ilustre desconhecido. Ao lhe ser apresentado no Romanische Café, ponto de encontro da boemia intelectual berlinense, entendeu Kafka dizer “Kauka” e ficaram só no “muito prazer”. A voz daquele “rapaz franzino, magro, pálido e taciturno” já estava embargada pela tuberculose que o mataria três anos mais tarde. Carpeaux detalhou o episódio num texto postumamente incluído em Reflexo e Realidade.

Ao pesquisar sobre os últimos dias do escritor, Carpeaux visitou até a clínica em que Kafka morreu, nos arredores de Viena, e ganhou de presente um exemplar da primeira edição de O Processo, tesouro que ainda era, em 1966, quando o visitei pela última vez, o maior orgulho de sua biblioteca, decepcionantemente pequena para o tanto que aquele polímata sabia.

Se Gregor Samsa se transformou num inseto monstruoso, Franz Kafka virou um ídolo da Geração X, um improvável cult hero da mídia digital. E não de uma plataforma qualquer, mas do tentacular TikTok. Essa metamorfose foi explorada, com algum espanto, nas últimas semanas, ao sabor do centenário de morte do escritor checo, ocorrida em 3 de junho de 1924.

Me imaginei na remota redação do Correio da Manhã, a informar ao Otto Maria Carpeaux do novo status de Kafka, o de símbolo sexual da moçada nascida ao final do século passado e atualmente só uns dez anos mais jovem que o escritor ao sofrer sua derradeira hemoptise.

No TikTok, Kafka é tietado como um astro pop do tope de Harry Styles, para citar um parâmetro que pincei de um jornalista britânico. Fãs de variada procedência babam por ele, não apenas seduzidas por sua prosa poderosa, mas em grande medida por seu charme pessoal e até por sua proverbial insegurança, de que tomaram conhecimento através de seus diários e suas cartas a Milena, ao pai e ao testamenteiro Max Brod.

É um culto com muito de carência adolescente e fascínio necrófilo, em que as figuras (ou os fantasmas) de Franz Kafka e Gregor Samsa por vezes se misturam. Vídeos com fotos, dramáticos recortes epistolares e dedicatórias amorosas do escritor atraem milhões de visualizações na internet.

Retrato de Franz Kafka por John Springfield  Foto: Editora Civilização Brasileira

Só uma idólatra grega chamada Margarida Mouka já produziu 293.949 vídeos em torno de A Metamorfose, que, aliás, ela, confessadamente, leu e releu chorando. Outra, identificada como Ashling, montou um vídeo só com suas reações emocionais a imagens de Kafka, a quem uma terceira prometeu fidelidade eterna se não encontrar um homem à altura do ídolo.

Por que pensei primeiro em Carpeaux? Porque não conheci outro intelectual com mais intimidade e conhecimento de Kafka e seu entorno do que o grande crítico de origem austríaca, o primeiro a publicar um ensaio em português sobre o atual xodó do TikTok.

Carpeaux cruzou com Kafka por acaso em Berlim, numa tarde de 1921. O escritor era um ilustre desconhecido. Ao lhe ser apresentado no Romanische Café, ponto de encontro da boemia intelectual berlinense, entendeu Kafka dizer “Kauka” e ficaram só no “muito prazer”. A voz daquele “rapaz franzino, magro, pálido e taciturno” já estava embargada pela tuberculose que o mataria três anos mais tarde. Carpeaux detalhou o episódio num texto postumamente incluído em Reflexo e Realidade.

Ao pesquisar sobre os últimos dias do escritor, Carpeaux visitou até a clínica em que Kafka morreu, nos arredores de Viena, e ganhou de presente um exemplar da primeira edição de O Processo, tesouro que ainda era, em 1966, quando o visitei pela última vez, o maior orgulho de sua biblioteca, decepcionantemente pequena para o tanto que aquele polímata sabia.

Opinião por Sérgio Augusto

É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

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