Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|O mundo sempre foi e será uma porcaria


É assim desde, pelo menos, 1934, quando se ouviu pela primeira vez o tango ‘Cambalache’, um catártico desabafo contra este merengue de absurdos em que ignorantes e sábios, honestos e canalhas, têm o mesmo peso

Por Sérgio Augusto
Atualização:

Que o mundo sempre foi e será uma porcaria a gente já sabe; desde, pelo menos, 1934, quando se ouviu pela primeira vez o tango Cambalache. Mais que um tango, um catártico desabafo niilista de Enrique Santos Discépolo (1901-1951) contra este merengue de absurdos em que ignorantes e sábios, honestos e canalhas, têm o mesmo peso. Discépolo falava do mundo, mas sobretudo da Argentina e das Américas.

Na quinta estrofe da versão original de Cambalache, aos mencionados Toscanini, Napoleão e o general San Martin juntavam-se o padre salesiano dom Bosco e o lutador Primo Carnera, com o tempo acrescidos de (ou substituídos por) Stravinski, Beethoven, John Lennon e Ringo Starr.

Nesse elenco Rexona, em que sempre cabe mais um, não fariam má figura dois argentinos sobre os quais muito tenho lido nas últimas semanas. Ambos convenientemente bissílabos, para não bagunçar a métrica da letra: Milei e Darré.

continua após a publicidade
Javier Milei em foto de 19 de novembro de 2023 Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Milei, que hoje toma posse como o Bolsonaro da Argentina, dispensa apresentações. Caberia sem aperto no meio de outras figuras ainda não evocadas por quem gravou o tango depois de Caetano, Raul Seixas e Angela Rô-Rô. E decerto subiria no conceito mundial se descumprisse suas promessas de campanha, se enfim se revelasse um estelionatário eleitoral.

Ainda que Darré corra o risco de ser confundido com (Ricardo) Darín – como Staviski acabou trocado por Stravinsky na insuperável interpretação de Julio Sosa, que nunca ouvira falar no financista de origem russa Alexander Staviski –, insisto em sua inclusão pelo que Richard Walther Oscar Darré representa na história da nazificação da Argentina. Isto mesmo: nazificação. Um novo capítulo dessa história pode estar sendo escrito por Milei.

continua após a publicidade

O milongueiro bufão que os hermanos alçaram à Casa Rosada iniciou sua carreira política à sombra do general Domingos Bussi, com extensa folha de serviços prestados à sanguinária ditadura de Videla (sequestrou um parlamentar, deu sumiço em centenas de sindicalistas, estudantes e professores), que culminaram com sua condenação à prisão perpétua em 2008.

Quanto a Richard Darré, nascido Ricardo e filho de imigrantes alemães atraídos ao “celeiro do mundo” que era a Argentina, aos 9 anos foi estudar agronomia na terra natal dos pais. Seu avassalador sucesso entre os nazistas o impediu de voltar para Buenos Aires, como planejara.

De um livro que publicou em 1930 saiu o slogan nazista Blut und Boden (sangue e solo pátrio) e a ideia de aplicar em seres humanos os mesmos métodos de “aprimoramento genético” da pecuária. O eugenista portenho ajudou Himmler a montar as diretrizes racistas do 3.º Reich, de que foi ministro da Agricultura entre 1933 e 1942. Condenado pelo Tribunal de Nuremberg, morreu em 1953, aos 58 anos, não na forca, de câncer. Como deixar de fora de Cambalache um supremacista branco desse calibre?

Que o mundo sempre foi e será uma porcaria a gente já sabe; desde, pelo menos, 1934, quando se ouviu pela primeira vez o tango Cambalache. Mais que um tango, um catártico desabafo niilista de Enrique Santos Discépolo (1901-1951) contra este merengue de absurdos em que ignorantes e sábios, honestos e canalhas, têm o mesmo peso. Discépolo falava do mundo, mas sobretudo da Argentina e das Américas.

Na quinta estrofe da versão original de Cambalache, aos mencionados Toscanini, Napoleão e o general San Martin juntavam-se o padre salesiano dom Bosco e o lutador Primo Carnera, com o tempo acrescidos de (ou substituídos por) Stravinski, Beethoven, John Lennon e Ringo Starr.

Nesse elenco Rexona, em que sempre cabe mais um, não fariam má figura dois argentinos sobre os quais muito tenho lido nas últimas semanas. Ambos convenientemente bissílabos, para não bagunçar a métrica da letra: Milei e Darré.

Javier Milei em foto de 19 de novembro de 2023 Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Milei, que hoje toma posse como o Bolsonaro da Argentina, dispensa apresentações. Caberia sem aperto no meio de outras figuras ainda não evocadas por quem gravou o tango depois de Caetano, Raul Seixas e Angela Rô-Rô. E decerto subiria no conceito mundial se descumprisse suas promessas de campanha, se enfim se revelasse um estelionatário eleitoral.

Ainda que Darré corra o risco de ser confundido com (Ricardo) Darín – como Staviski acabou trocado por Stravinsky na insuperável interpretação de Julio Sosa, que nunca ouvira falar no financista de origem russa Alexander Staviski –, insisto em sua inclusão pelo que Richard Walther Oscar Darré representa na história da nazificação da Argentina. Isto mesmo: nazificação. Um novo capítulo dessa história pode estar sendo escrito por Milei.

O milongueiro bufão que os hermanos alçaram à Casa Rosada iniciou sua carreira política à sombra do general Domingos Bussi, com extensa folha de serviços prestados à sanguinária ditadura de Videla (sequestrou um parlamentar, deu sumiço em centenas de sindicalistas, estudantes e professores), que culminaram com sua condenação à prisão perpétua em 2008.

Quanto a Richard Darré, nascido Ricardo e filho de imigrantes alemães atraídos ao “celeiro do mundo” que era a Argentina, aos 9 anos foi estudar agronomia na terra natal dos pais. Seu avassalador sucesso entre os nazistas o impediu de voltar para Buenos Aires, como planejara.

De um livro que publicou em 1930 saiu o slogan nazista Blut und Boden (sangue e solo pátrio) e a ideia de aplicar em seres humanos os mesmos métodos de “aprimoramento genético” da pecuária. O eugenista portenho ajudou Himmler a montar as diretrizes racistas do 3.º Reich, de que foi ministro da Agricultura entre 1933 e 1942. Condenado pelo Tribunal de Nuremberg, morreu em 1953, aos 58 anos, não na forca, de câncer. Como deixar de fora de Cambalache um supremacista branco desse calibre?

Que o mundo sempre foi e será uma porcaria a gente já sabe; desde, pelo menos, 1934, quando se ouviu pela primeira vez o tango Cambalache. Mais que um tango, um catártico desabafo niilista de Enrique Santos Discépolo (1901-1951) contra este merengue de absurdos em que ignorantes e sábios, honestos e canalhas, têm o mesmo peso. Discépolo falava do mundo, mas sobretudo da Argentina e das Américas.

Na quinta estrofe da versão original de Cambalache, aos mencionados Toscanini, Napoleão e o general San Martin juntavam-se o padre salesiano dom Bosco e o lutador Primo Carnera, com o tempo acrescidos de (ou substituídos por) Stravinski, Beethoven, John Lennon e Ringo Starr.

Nesse elenco Rexona, em que sempre cabe mais um, não fariam má figura dois argentinos sobre os quais muito tenho lido nas últimas semanas. Ambos convenientemente bissílabos, para não bagunçar a métrica da letra: Milei e Darré.

Javier Milei em foto de 19 de novembro de 2023 Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Milei, que hoje toma posse como o Bolsonaro da Argentina, dispensa apresentações. Caberia sem aperto no meio de outras figuras ainda não evocadas por quem gravou o tango depois de Caetano, Raul Seixas e Angela Rô-Rô. E decerto subiria no conceito mundial se descumprisse suas promessas de campanha, se enfim se revelasse um estelionatário eleitoral.

Ainda que Darré corra o risco de ser confundido com (Ricardo) Darín – como Staviski acabou trocado por Stravinsky na insuperável interpretação de Julio Sosa, que nunca ouvira falar no financista de origem russa Alexander Staviski –, insisto em sua inclusão pelo que Richard Walther Oscar Darré representa na história da nazificação da Argentina. Isto mesmo: nazificação. Um novo capítulo dessa história pode estar sendo escrito por Milei.

O milongueiro bufão que os hermanos alçaram à Casa Rosada iniciou sua carreira política à sombra do general Domingos Bussi, com extensa folha de serviços prestados à sanguinária ditadura de Videla (sequestrou um parlamentar, deu sumiço em centenas de sindicalistas, estudantes e professores), que culminaram com sua condenação à prisão perpétua em 2008.

Quanto a Richard Darré, nascido Ricardo e filho de imigrantes alemães atraídos ao “celeiro do mundo” que era a Argentina, aos 9 anos foi estudar agronomia na terra natal dos pais. Seu avassalador sucesso entre os nazistas o impediu de voltar para Buenos Aires, como planejara.

De um livro que publicou em 1930 saiu o slogan nazista Blut und Boden (sangue e solo pátrio) e a ideia de aplicar em seres humanos os mesmos métodos de “aprimoramento genético” da pecuária. O eugenista portenho ajudou Himmler a montar as diretrizes racistas do 3.º Reich, de que foi ministro da Agricultura entre 1933 e 1942. Condenado pelo Tribunal de Nuremberg, morreu em 1953, aos 58 anos, não na forca, de câncer. Como deixar de fora de Cambalache um supremacista branco desse calibre?

Que o mundo sempre foi e será uma porcaria a gente já sabe; desde, pelo menos, 1934, quando se ouviu pela primeira vez o tango Cambalache. Mais que um tango, um catártico desabafo niilista de Enrique Santos Discépolo (1901-1951) contra este merengue de absurdos em que ignorantes e sábios, honestos e canalhas, têm o mesmo peso. Discépolo falava do mundo, mas sobretudo da Argentina e das Américas.

Na quinta estrofe da versão original de Cambalache, aos mencionados Toscanini, Napoleão e o general San Martin juntavam-se o padre salesiano dom Bosco e o lutador Primo Carnera, com o tempo acrescidos de (ou substituídos por) Stravinski, Beethoven, John Lennon e Ringo Starr.

Nesse elenco Rexona, em que sempre cabe mais um, não fariam má figura dois argentinos sobre os quais muito tenho lido nas últimas semanas. Ambos convenientemente bissílabos, para não bagunçar a métrica da letra: Milei e Darré.

Javier Milei em foto de 19 de novembro de 2023 Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Milei, que hoje toma posse como o Bolsonaro da Argentina, dispensa apresentações. Caberia sem aperto no meio de outras figuras ainda não evocadas por quem gravou o tango depois de Caetano, Raul Seixas e Angela Rô-Rô. E decerto subiria no conceito mundial se descumprisse suas promessas de campanha, se enfim se revelasse um estelionatário eleitoral.

Ainda que Darré corra o risco de ser confundido com (Ricardo) Darín – como Staviski acabou trocado por Stravinsky na insuperável interpretação de Julio Sosa, que nunca ouvira falar no financista de origem russa Alexander Staviski –, insisto em sua inclusão pelo que Richard Walther Oscar Darré representa na história da nazificação da Argentina. Isto mesmo: nazificação. Um novo capítulo dessa história pode estar sendo escrito por Milei.

O milongueiro bufão que os hermanos alçaram à Casa Rosada iniciou sua carreira política à sombra do general Domingos Bussi, com extensa folha de serviços prestados à sanguinária ditadura de Videla (sequestrou um parlamentar, deu sumiço em centenas de sindicalistas, estudantes e professores), que culminaram com sua condenação à prisão perpétua em 2008.

Quanto a Richard Darré, nascido Ricardo e filho de imigrantes alemães atraídos ao “celeiro do mundo” que era a Argentina, aos 9 anos foi estudar agronomia na terra natal dos pais. Seu avassalador sucesso entre os nazistas o impediu de voltar para Buenos Aires, como planejara.

De um livro que publicou em 1930 saiu o slogan nazista Blut und Boden (sangue e solo pátrio) e a ideia de aplicar em seres humanos os mesmos métodos de “aprimoramento genético” da pecuária. O eugenista portenho ajudou Himmler a montar as diretrizes racistas do 3.º Reich, de que foi ministro da Agricultura entre 1933 e 1942. Condenado pelo Tribunal de Nuremberg, morreu em 1953, aos 58 anos, não na forca, de câncer. Como deixar de fora de Cambalache um supremacista branco desse calibre?

Que o mundo sempre foi e será uma porcaria a gente já sabe; desde, pelo menos, 1934, quando se ouviu pela primeira vez o tango Cambalache. Mais que um tango, um catártico desabafo niilista de Enrique Santos Discépolo (1901-1951) contra este merengue de absurdos em que ignorantes e sábios, honestos e canalhas, têm o mesmo peso. Discépolo falava do mundo, mas sobretudo da Argentina e das Américas.

Na quinta estrofe da versão original de Cambalache, aos mencionados Toscanini, Napoleão e o general San Martin juntavam-se o padre salesiano dom Bosco e o lutador Primo Carnera, com o tempo acrescidos de (ou substituídos por) Stravinski, Beethoven, John Lennon e Ringo Starr.

Nesse elenco Rexona, em que sempre cabe mais um, não fariam má figura dois argentinos sobre os quais muito tenho lido nas últimas semanas. Ambos convenientemente bissílabos, para não bagunçar a métrica da letra: Milei e Darré.

Javier Milei em foto de 19 de novembro de 2023 Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Milei, que hoje toma posse como o Bolsonaro da Argentina, dispensa apresentações. Caberia sem aperto no meio de outras figuras ainda não evocadas por quem gravou o tango depois de Caetano, Raul Seixas e Angela Rô-Rô. E decerto subiria no conceito mundial se descumprisse suas promessas de campanha, se enfim se revelasse um estelionatário eleitoral.

Ainda que Darré corra o risco de ser confundido com (Ricardo) Darín – como Staviski acabou trocado por Stravinsky na insuperável interpretação de Julio Sosa, que nunca ouvira falar no financista de origem russa Alexander Staviski –, insisto em sua inclusão pelo que Richard Walther Oscar Darré representa na história da nazificação da Argentina. Isto mesmo: nazificação. Um novo capítulo dessa história pode estar sendo escrito por Milei.

O milongueiro bufão que os hermanos alçaram à Casa Rosada iniciou sua carreira política à sombra do general Domingos Bussi, com extensa folha de serviços prestados à sanguinária ditadura de Videla (sequestrou um parlamentar, deu sumiço em centenas de sindicalistas, estudantes e professores), que culminaram com sua condenação à prisão perpétua em 2008.

Quanto a Richard Darré, nascido Ricardo e filho de imigrantes alemães atraídos ao “celeiro do mundo” que era a Argentina, aos 9 anos foi estudar agronomia na terra natal dos pais. Seu avassalador sucesso entre os nazistas o impediu de voltar para Buenos Aires, como planejara.

De um livro que publicou em 1930 saiu o slogan nazista Blut und Boden (sangue e solo pátrio) e a ideia de aplicar em seres humanos os mesmos métodos de “aprimoramento genético” da pecuária. O eugenista portenho ajudou Himmler a montar as diretrizes racistas do 3.º Reich, de que foi ministro da Agricultura entre 1933 e 1942. Condenado pelo Tribunal de Nuremberg, morreu em 1953, aos 58 anos, não na forca, de câncer. Como deixar de fora de Cambalache um supremacista branco desse calibre?

Opinião por Sérgio Augusto

É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.