Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|O que tenho a dizer sobre Chico Buarque, o octogenário mais tranchã do Brasil


Das histórias do Chico, a que mais me fascina é a de sua quase morte, quando ele ainda era bebê

Por Sérgio Augusto
Atualização:

O que tenho a dizer sobre Chico Buarque? Digo que ele é o octogenário mais tranchã do Brasil, e a repórter, com razão, não se dá por satisfeita. Já me manifestei outras vezes sobre o Chico e desejava fugir dos clichês sobre ele, que há dias se atropelam na mídia, mas deveria ter evitado um adjetivo tão vetusto e reducionista quanto tranchã.

Fiquei devendo. Mas com certeza fui justo na avaliação.

Há dois novos livros sobre o aniversariante nas livrarias, obras de dois jornalistas: O Que Não Tem Censura Nem Nunca Terá, de Márcio Pinheiro, e Trocando em Miúdos – Seis Vezes Chico, de Tom Cardoso. Sirvam-se à vontade.

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Chico Buarque se apresenta no palco do Palace, em Moema, na zona sul de São Paulo, SP, 18/3/1999. Foto: J. F. Diório/ Estadão

Acompanho o Chico desde os tempo em que vinil era long-play e o Maracanãzinho vibrava mais com música do que com basquete. Nosso primeiro, e inevitavelmente inesquecível, aperto de mão foi na casa do arquiteto Alberto Reis, à beira da piscina onde nasceu e nos fins de semana se jogava o carioquíssimo piscibol, misto de polo aquático e basquete praticado por alguns jornalistas e músicos amigos do anfitrião.

Chico: “Você não faz música, faz?”. Respondi que não. Chico era mais um a me associar ao sambinha bossa-novista Barquinho Diferente, composto por um xará meu e lançado por Claudette Soares. “Bem que achei que não combinava com o que você escreve”, comentou.

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Só mesmo a espantosa memória do Chico para se lembrar do obscuro barquinho de Sérgio Augusto, o outro. Espantosa é pouco. Ele e Caetano ganhavam todas as disputas na deliciosa gincana musical “A Palavra é...”, que Blota Júnior apresentava, nas noites de quinta-feira na TV Record (de São Paulo), no final da década de 1960. Quando Chico, coisa rara, tinha um branco, malandramente inventava na hora uma música com a palavra proposta e a apresentava como uma composição alheia, de cuja letra só ele, obviamente, se lembrava.

Torci para que a produção do programa selecionasse a palavra “aliás”, e Caetano apertasse o botão antes do Chico e vencesse a porfia daquela noite com o “aliás” de Trocando em Miúdos. Mas isso nunca se deu, o programa acabou, e logo depois estávamos todos – Caetano, inclusive – no Pasquim, onde Chico não só se fez repórter como, na qualidade de correspondente do jornaleco em Roma, desencavou as raízes históricas e etimológicas do termo “pasquim”, ao deparar com uma dilapidada estátua de Pasquino, o mítico difamador da aristocracia romana do século 15, perto da Piazza Navona.

Das histórias do Chico, a que mais me fascina é a de sua quase morte, quando ele ainda era bebê. Desconheço maiores detalhes, sei apenas que um grande amigo de seu pai por um triz não o esmagou lhe sentando em cima, ao tomá-lo por uma almofada do sofá. Já ouvi dizer que o tal amigo de Sérgio Buarque de Holanda era ninguém menos que Vinicius de Moraes. Fim mais trágico e prematuro de uma parceria musical eu não consigo imaginar.

O que tenho a dizer sobre Chico Buarque? Digo que ele é o octogenário mais tranchã do Brasil, e a repórter, com razão, não se dá por satisfeita. Já me manifestei outras vezes sobre o Chico e desejava fugir dos clichês sobre ele, que há dias se atropelam na mídia, mas deveria ter evitado um adjetivo tão vetusto e reducionista quanto tranchã.

Fiquei devendo. Mas com certeza fui justo na avaliação.

Há dois novos livros sobre o aniversariante nas livrarias, obras de dois jornalistas: O Que Não Tem Censura Nem Nunca Terá, de Márcio Pinheiro, e Trocando em Miúdos – Seis Vezes Chico, de Tom Cardoso. Sirvam-se à vontade.

Chico Buarque se apresenta no palco do Palace, em Moema, na zona sul de São Paulo, SP, 18/3/1999. Foto: J. F. Diório/ Estadão

Acompanho o Chico desde os tempo em que vinil era long-play e o Maracanãzinho vibrava mais com música do que com basquete. Nosso primeiro, e inevitavelmente inesquecível, aperto de mão foi na casa do arquiteto Alberto Reis, à beira da piscina onde nasceu e nos fins de semana se jogava o carioquíssimo piscibol, misto de polo aquático e basquete praticado por alguns jornalistas e músicos amigos do anfitrião.

Chico: “Você não faz música, faz?”. Respondi que não. Chico era mais um a me associar ao sambinha bossa-novista Barquinho Diferente, composto por um xará meu e lançado por Claudette Soares. “Bem que achei que não combinava com o que você escreve”, comentou.

Só mesmo a espantosa memória do Chico para se lembrar do obscuro barquinho de Sérgio Augusto, o outro. Espantosa é pouco. Ele e Caetano ganhavam todas as disputas na deliciosa gincana musical “A Palavra é...”, que Blota Júnior apresentava, nas noites de quinta-feira na TV Record (de São Paulo), no final da década de 1960. Quando Chico, coisa rara, tinha um branco, malandramente inventava na hora uma música com a palavra proposta e a apresentava como uma composição alheia, de cuja letra só ele, obviamente, se lembrava.

Torci para que a produção do programa selecionasse a palavra “aliás”, e Caetano apertasse o botão antes do Chico e vencesse a porfia daquela noite com o “aliás” de Trocando em Miúdos. Mas isso nunca se deu, o programa acabou, e logo depois estávamos todos – Caetano, inclusive – no Pasquim, onde Chico não só se fez repórter como, na qualidade de correspondente do jornaleco em Roma, desencavou as raízes históricas e etimológicas do termo “pasquim”, ao deparar com uma dilapidada estátua de Pasquino, o mítico difamador da aristocracia romana do século 15, perto da Piazza Navona.

Das histórias do Chico, a que mais me fascina é a de sua quase morte, quando ele ainda era bebê. Desconheço maiores detalhes, sei apenas que um grande amigo de seu pai por um triz não o esmagou lhe sentando em cima, ao tomá-lo por uma almofada do sofá. Já ouvi dizer que o tal amigo de Sérgio Buarque de Holanda era ninguém menos que Vinicius de Moraes. Fim mais trágico e prematuro de uma parceria musical eu não consigo imaginar.

O que tenho a dizer sobre Chico Buarque? Digo que ele é o octogenário mais tranchã do Brasil, e a repórter, com razão, não se dá por satisfeita. Já me manifestei outras vezes sobre o Chico e desejava fugir dos clichês sobre ele, que há dias se atropelam na mídia, mas deveria ter evitado um adjetivo tão vetusto e reducionista quanto tranchã.

Fiquei devendo. Mas com certeza fui justo na avaliação.

Há dois novos livros sobre o aniversariante nas livrarias, obras de dois jornalistas: O Que Não Tem Censura Nem Nunca Terá, de Márcio Pinheiro, e Trocando em Miúdos – Seis Vezes Chico, de Tom Cardoso. Sirvam-se à vontade.

Chico Buarque se apresenta no palco do Palace, em Moema, na zona sul de São Paulo, SP, 18/3/1999. Foto: J. F. Diório/ Estadão

Acompanho o Chico desde os tempo em que vinil era long-play e o Maracanãzinho vibrava mais com música do que com basquete. Nosso primeiro, e inevitavelmente inesquecível, aperto de mão foi na casa do arquiteto Alberto Reis, à beira da piscina onde nasceu e nos fins de semana se jogava o carioquíssimo piscibol, misto de polo aquático e basquete praticado por alguns jornalistas e músicos amigos do anfitrião.

Chico: “Você não faz música, faz?”. Respondi que não. Chico era mais um a me associar ao sambinha bossa-novista Barquinho Diferente, composto por um xará meu e lançado por Claudette Soares. “Bem que achei que não combinava com o que você escreve”, comentou.

Só mesmo a espantosa memória do Chico para se lembrar do obscuro barquinho de Sérgio Augusto, o outro. Espantosa é pouco. Ele e Caetano ganhavam todas as disputas na deliciosa gincana musical “A Palavra é...”, que Blota Júnior apresentava, nas noites de quinta-feira na TV Record (de São Paulo), no final da década de 1960. Quando Chico, coisa rara, tinha um branco, malandramente inventava na hora uma música com a palavra proposta e a apresentava como uma composição alheia, de cuja letra só ele, obviamente, se lembrava.

Torci para que a produção do programa selecionasse a palavra “aliás”, e Caetano apertasse o botão antes do Chico e vencesse a porfia daquela noite com o “aliás” de Trocando em Miúdos. Mas isso nunca se deu, o programa acabou, e logo depois estávamos todos – Caetano, inclusive – no Pasquim, onde Chico não só se fez repórter como, na qualidade de correspondente do jornaleco em Roma, desencavou as raízes históricas e etimológicas do termo “pasquim”, ao deparar com uma dilapidada estátua de Pasquino, o mítico difamador da aristocracia romana do século 15, perto da Piazza Navona.

Das histórias do Chico, a que mais me fascina é a de sua quase morte, quando ele ainda era bebê. Desconheço maiores detalhes, sei apenas que um grande amigo de seu pai por um triz não o esmagou lhe sentando em cima, ao tomá-lo por uma almofada do sofá. Já ouvi dizer que o tal amigo de Sérgio Buarque de Holanda era ninguém menos que Vinicius de Moraes. Fim mais trágico e prematuro de uma parceria musical eu não consigo imaginar.

Opinião por Sérgio Augusto

É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

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