Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|Porta secreta no Uruguai inspira dois contos espantosamente parecidos - e intriga autor espanhol


Vila-Matas, que lança autoficção ‘Montevidéu’, soube que Julio Cortázar e Bioy Casares escreveram contos ambientados no mesmo quarto no centro da capital uruguaia. Fetichista e obsessivo, atravessou o Atlântico

Por Sérgio Augusto
Atualização:

A mais nova autoficção do espanhol Enrique Vila-Matas lançada entre nós poderia intitular-se Barcelona ou Paris – ou, ainda, Cascais; talvez Reykjavik, St. Gallen ou Bogotá – outros lugares de passagem e peripécias do anônimo narrador do romance, mas a opção por Montevidéu se impôs por razões eminentemente literárias.

Através de uma amiga, Vila-Matas soube que Julio Cortázar e Bioy Casares escreveram dois contos espantosamente parecidos, “idênticos”, segundo Bioy Casares. Detalhe: ambos ambientados no mesmo quarto (205) do antigo Hotel Cervantes, no centro da capital uruguaia, e escritos quase ao mesmo tempo em Buenos Aires e Paris, respectivamente.

Vila-Matas só havia lido o de Cortázar, A Porta Condenada, publicado em 1956. Conhecidos os dois relatos, cismou de conhecer pessoalmente a tal porta secreta, atrás de um armário, que dava para o quarto contíguo ao 205, e averiguar que mistério ou mistérios ela, por ventura, ocultasse. Fetichista e obsessivo, atravessou o Atlântico para reviver a estranha experiência narrada pelos dois autores argentinos.

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Enrique Vila-Matas Foto: TONI GARRIGA

A palavra “porta” – no plural – também daria ao livro um bom título, falando nisso, tantas são as portas que pululam em sua deambulatória narrativa, ora abrindo-se para mistérios insondáveis, ora para o inferno interior dos personagens.

No jogo especular e labiríntico armado por Vila-Matas, um anônimo protagonista-narrador, que parece só ver e viver o mundo através da arte e da exploração de toda sorte de coincidências e analogias, retorna à produção literária após enfrentar a pandemia da covid, um transplante renal e um bloqueio criativo. Às voltas com fantasmas, maldições, obsessões, enigmas e fixações, é mais um alter ego do autor, tentando “biografar o próprio estilo” ao sabor de deslocamentos geográficos, temáticos e estéticos, cujo ponto de partida é a marquise do Teatro Marigny, em Paris.

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É pura ficção shandiana (de Tristram Shandy, clássico personagem de Laurence Sterne). Sterne sempre foi uma referência fundamental do escritor catalão, seu “amuleto”, a “coluna vertebral” de suas criações literárias, desta feita com baldeações na prosa de Cortázar (inevitável), Kafka, Herman Melville, Italo Calvino, Roberto Bolaño e Antonio Tabucchi.

O único minotauro nesse labirinto é a limitação intelectual do leitor. Quem mais conhecer as referências, mais vai deleitar-se com a leitura. Só nas primeiras 30 páginas, anotei 20 referências a autores de variadas têmperas e latitudes. Indo um pouco adiante, cruzei até com Clarice e Drummond, “o poeta brasileiro que via o mistério do além como se fosse apenas um velho palácio gelado”.

Mallarmé em imaginária conversa com Miles Davis e Jean-Pierre Léaud perturbando a paz noturna de um hotel em Cascais com uma incontrolável cascata de ruidosas gargalhadas? Também tem.

A mais nova autoficção do espanhol Enrique Vila-Matas lançada entre nós poderia intitular-se Barcelona ou Paris – ou, ainda, Cascais; talvez Reykjavik, St. Gallen ou Bogotá – outros lugares de passagem e peripécias do anônimo narrador do romance, mas a opção por Montevidéu se impôs por razões eminentemente literárias.

Através de uma amiga, Vila-Matas soube que Julio Cortázar e Bioy Casares escreveram dois contos espantosamente parecidos, “idênticos”, segundo Bioy Casares. Detalhe: ambos ambientados no mesmo quarto (205) do antigo Hotel Cervantes, no centro da capital uruguaia, e escritos quase ao mesmo tempo em Buenos Aires e Paris, respectivamente.

Vila-Matas só havia lido o de Cortázar, A Porta Condenada, publicado em 1956. Conhecidos os dois relatos, cismou de conhecer pessoalmente a tal porta secreta, atrás de um armário, que dava para o quarto contíguo ao 205, e averiguar que mistério ou mistérios ela, por ventura, ocultasse. Fetichista e obsessivo, atravessou o Atlântico para reviver a estranha experiência narrada pelos dois autores argentinos.

Enrique Vila-Matas Foto: TONI GARRIGA

A palavra “porta” – no plural – também daria ao livro um bom título, falando nisso, tantas são as portas que pululam em sua deambulatória narrativa, ora abrindo-se para mistérios insondáveis, ora para o inferno interior dos personagens.

No jogo especular e labiríntico armado por Vila-Matas, um anônimo protagonista-narrador, que parece só ver e viver o mundo através da arte e da exploração de toda sorte de coincidências e analogias, retorna à produção literária após enfrentar a pandemia da covid, um transplante renal e um bloqueio criativo. Às voltas com fantasmas, maldições, obsessões, enigmas e fixações, é mais um alter ego do autor, tentando “biografar o próprio estilo” ao sabor de deslocamentos geográficos, temáticos e estéticos, cujo ponto de partida é a marquise do Teatro Marigny, em Paris.

É pura ficção shandiana (de Tristram Shandy, clássico personagem de Laurence Sterne). Sterne sempre foi uma referência fundamental do escritor catalão, seu “amuleto”, a “coluna vertebral” de suas criações literárias, desta feita com baldeações na prosa de Cortázar (inevitável), Kafka, Herman Melville, Italo Calvino, Roberto Bolaño e Antonio Tabucchi.

O único minotauro nesse labirinto é a limitação intelectual do leitor. Quem mais conhecer as referências, mais vai deleitar-se com a leitura. Só nas primeiras 30 páginas, anotei 20 referências a autores de variadas têmperas e latitudes. Indo um pouco adiante, cruzei até com Clarice e Drummond, “o poeta brasileiro que via o mistério do além como se fosse apenas um velho palácio gelado”.

Mallarmé em imaginária conversa com Miles Davis e Jean-Pierre Léaud perturbando a paz noturna de um hotel em Cascais com uma incontrolável cascata de ruidosas gargalhadas? Também tem.

A mais nova autoficção do espanhol Enrique Vila-Matas lançada entre nós poderia intitular-se Barcelona ou Paris – ou, ainda, Cascais; talvez Reykjavik, St. Gallen ou Bogotá – outros lugares de passagem e peripécias do anônimo narrador do romance, mas a opção por Montevidéu se impôs por razões eminentemente literárias.

Através de uma amiga, Vila-Matas soube que Julio Cortázar e Bioy Casares escreveram dois contos espantosamente parecidos, “idênticos”, segundo Bioy Casares. Detalhe: ambos ambientados no mesmo quarto (205) do antigo Hotel Cervantes, no centro da capital uruguaia, e escritos quase ao mesmo tempo em Buenos Aires e Paris, respectivamente.

Vila-Matas só havia lido o de Cortázar, A Porta Condenada, publicado em 1956. Conhecidos os dois relatos, cismou de conhecer pessoalmente a tal porta secreta, atrás de um armário, que dava para o quarto contíguo ao 205, e averiguar que mistério ou mistérios ela, por ventura, ocultasse. Fetichista e obsessivo, atravessou o Atlântico para reviver a estranha experiência narrada pelos dois autores argentinos.

Enrique Vila-Matas Foto: TONI GARRIGA

A palavra “porta” – no plural – também daria ao livro um bom título, falando nisso, tantas são as portas que pululam em sua deambulatória narrativa, ora abrindo-se para mistérios insondáveis, ora para o inferno interior dos personagens.

No jogo especular e labiríntico armado por Vila-Matas, um anônimo protagonista-narrador, que parece só ver e viver o mundo através da arte e da exploração de toda sorte de coincidências e analogias, retorna à produção literária após enfrentar a pandemia da covid, um transplante renal e um bloqueio criativo. Às voltas com fantasmas, maldições, obsessões, enigmas e fixações, é mais um alter ego do autor, tentando “biografar o próprio estilo” ao sabor de deslocamentos geográficos, temáticos e estéticos, cujo ponto de partida é a marquise do Teatro Marigny, em Paris.

É pura ficção shandiana (de Tristram Shandy, clássico personagem de Laurence Sterne). Sterne sempre foi uma referência fundamental do escritor catalão, seu “amuleto”, a “coluna vertebral” de suas criações literárias, desta feita com baldeações na prosa de Cortázar (inevitável), Kafka, Herman Melville, Italo Calvino, Roberto Bolaño e Antonio Tabucchi.

O único minotauro nesse labirinto é a limitação intelectual do leitor. Quem mais conhecer as referências, mais vai deleitar-se com a leitura. Só nas primeiras 30 páginas, anotei 20 referências a autores de variadas têmperas e latitudes. Indo um pouco adiante, cruzei até com Clarice e Drummond, “o poeta brasileiro que via o mistério do além como se fosse apenas um velho palácio gelado”.

Mallarmé em imaginária conversa com Miles Davis e Jean-Pierre Léaud perturbando a paz noturna de um hotel em Cascais com uma incontrolável cascata de ruidosas gargalhadas? Também tem.

A mais nova autoficção do espanhol Enrique Vila-Matas lançada entre nós poderia intitular-se Barcelona ou Paris – ou, ainda, Cascais; talvez Reykjavik, St. Gallen ou Bogotá – outros lugares de passagem e peripécias do anônimo narrador do romance, mas a opção por Montevidéu se impôs por razões eminentemente literárias.

Através de uma amiga, Vila-Matas soube que Julio Cortázar e Bioy Casares escreveram dois contos espantosamente parecidos, “idênticos”, segundo Bioy Casares. Detalhe: ambos ambientados no mesmo quarto (205) do antigo Hotel Cervantes, no centro da capital uruguaia, e escritos quase ao mesmo tempo em Buenos Aires e Paris, respectivamente.

Vila-Matas só havia lido o de Cortázar, A Porta Condenada, publicado em 1956. Conhecidos os dois relatos, cismou de conhecer pessoalmente a tal porta secreta, atrás de um armário, que dava para o quarto contíguo ao 205, e averiguar que mistério ou mistérios ela, por ventura, ocultasse. Fetichista e obsessivo, atravessou o Atlântico para reviver a estranha experiência narrada pelos dois autores argentinos.

Enrique Vila-Matas Foto: TONI GARRIGA

A palavra “porta” – no plural – também daria ao livro um bom título, falando nisso, tantas são as portas que pululam em sua deambulatória narrativa, ora abrindo-se para mistérios insondáveis, ora para o inferno interior dos personagens.

No jogo especular e labiríntico armado por Vila-Matas, um anônimo protagonista-narrador, que parece só ver e viver o mundo através da arte e da exploração de toda sorte de coincidências e analogias, retorna à produção literária após enfrentar a pandemia da covid, um transplante renal e um bloqueio criativo. Às voltas com fantasmas, maldições, obsessões, enigmas e fixações, é mais um alter ego do autor, tentando “biografar o próprio estilo” ao sabor de deslocamentos geográficos, temáticos e estéticos, cujo ponto de partida é a marquise do Teatro Marigny, em Paris.

É pura ficção shandiana (de Tristram Shandy, clássico personagem de Laurence Sterne). Sterne sempre foi uma referência fundamental do escritor catalão, seu “amuleto”, a “coluna vertebral” de suas criações literárias, desta feita com baldeações na prosa de Cortázar (inevitável), Kafka, Herman Melville, Italo Calvino, Roberto Bolaño e Antonio Tabucchi.

O único minotauro nesse labirinto é a limitação intelectual do leitor. Quem mais conhecer as referências, mais vai deleitar-se com a leitura. Só nas primeiras 30 páginas, anotei 20 referências a autores de variadas têmperas e latitudes. Indo um pouco adiante, cruzei até com Clarice e Drummond, “o poeta brasileiro que via o mistério do além como se fosse apenas um velho palácio gelado”.

Mallarmé em imaginária conversa com Miles Davis e Jean-Pierre Léaud perturbando a paz noturna de um hotel em Cascais com uma incontrolável cascata de ruidosas gargalhadas? Também tem.

A mais nova autoficção do espanhol Enrique Vila-Matas lançada entre nós poderia intitular-se Barcelona ou Paris – ou, ainda, Cascais; talvez Reykjavik, St. Gallen ou Bogotá – outros lugares de passagem e peripécias do anônimo narrador do romance, mas a opção por Montevidéu se impôs por razões eminentemente literárias.

Através de uma amiga, Vila-Matas soube que Julio Cortázar e Bioy Casares escreveram dois contos espantosamente parecidos, “idênticos”, segundo Bioy Casares. Detalhe: ambos ambientados no mesmo quarto (205) do antigo Hotel Cervantes, no centro da capital uruguaia, e escritos quase ao mesmo tempo em Buenos Aires e Paris, respectivamente.

Vila-Matas só havia lido o de Cortázar, A Porta Condenada, publicado em 1956. Conhecidos os dois relatos, cismou de conhecer pessoalmente a tal porta secreta, atrás de um armário, que dava para o quarto contíguo ao 205, e averiguar que mistério ou mistérios ela, por ventura, ocultasse. Fetichista e obsessivo, atravessou o Atlântico para reviver a estranha experiência narrada pelos dois autores argentinos.

Enrique Vila-Matas Foto: TONI GARRIGA

A palavra “porta” – no plural – também daria ao livro um bom título, falando nisso, tantas são as portas que pululam em sua deambulatória narrativa, ora abrindo-se para mistérios insondáveis, ora para o inferno interior dos personagens.

No jogo especular e labiríntico armado por Vila-Matas, um anônimo protagonista-narrador, que parece só ver e viver o mundo através da arte e da exploração de toda sorte de coincidências e analogias, retorna à produção literária após enfrentar a pandemia da covid, um transplante renal e um bloqueio criativo. Às voltas com fantasmas, maldições, obsessões, enigmas e fixações, é mais um alter ego do autor, tentando “biografar o próprio estilo” ao sabor de deslocamentos geográficos, temáticos e estéticos, cujo ponto de partida é a marquise do Teatro Marigny, em Paris.

É pura ficção shandiana (de Tristram Shandy, clássico personagem de Laurence Sterne). Sterne sempre foi uma referência fundamental do escritor catalão, seu “amuleto”, a “coluna vertebral” de suas criações literárias, desta feita com baldeações na prosa de Cortázar (inevitável), Kafka, Herman Melville, Italo Calvino, Roberto Bolaño e Antonio Tabucchi.

O único minotauro nesse labirinto é a limitação intelectual do leitor. Quem mais conhecer as referências, mais vai deleitar-se com a leitura. Só nas primeiras 30 páginas, anotei 20 referências a autores de variadas têmperas e latitudes. Indo um pouco adiante, cruzei até com Clarice e Drummond, “o poeta brasileiro que via o mistério do além como se fosse apenas um velho palácio gelado”.

Mallarmé em imaginária conversa com Miles Davis e Jean-Pierre Léaud perturbando a paz noturna de um hotel em Cascais com uma incontrolável cascata de ruidosas gargalhadas? Também tem.

Opinião por Sérgio Augusto

É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

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