Coluna quinzenal do jornalista e crítico Sérgio Martins com histórias da música

Opinião|Playlist: Qual é a melhor música para acordar, fazer café, sair de casa, trabalhar e voltar?


Nas Olimpíadas da vida cotidiana, cada atividade é pontuada por uma canção que nos prepara para os desafios que vêm a seguir. A exemplo das nossas atletas, criei uma combinação de canções tradicionais, nomes consagrados e algumas pequenas descobertas

Por Sérgio Martins
Veja canções tradicionais, consagrados e pequenas descobertas para escutar na rotina diária. Foto: stockbusters/adobe.stock

O ótimo desempenho das atletas da ginástica olímpica brasileira tornou a nossa vida, a de colunistas do mundo das artes, mais difícil. Como sugerir músicas e espetáculos quando o país se maravilha com o triunfo – merecido, diga-se – de Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Julia Soares e Flávia Saraiva? A solução veio em formato de trilha sonora.

O desempenho das meninas da ginástica mostrou a evolução dos temas musicais tocados durante esse tipo de competição. Se antes ele era restrito a balés e peças eruditas, como me contaram a ex-ginasta Luisa Parente (que, audaciosa, enfiou um The Entertainer, do jazzista americano Scott Joplin num de seus solos), e Rhony Ferreira, mentor das atletas que deram um show em Paris. E em matéria de piruetas e repertório, somos melhores que nossas concorrentes. No mínimo, inimitáveis. Como replicar o samba rock do Raça Negra e o pancadão do funk se eles não possuem essa cultura?

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Outra reflexão é que, na Olimpíada do nosso dia a dia, a gente também usa temas específicos. Cada atividade é pontuada por uma canção, que nos prepara para os desafios que vêm a seguir. E a exemplo das nossas atletas, eu criei uma combinação de canções tradicionais, nomes consagrados e algumas pequenas descobertas. Vamos então às principais categorias e suas canções-tema.

O desempenho das meninas da ginástica mostrou a evolução dos temas musicais tocados durante esse tipo de competição. As atletas que compõem o time brasileiro são Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira, Flávia Saraiva e Júlia Soares.  Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Categoria melhor despertar

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Mar de Cirandeiras, de Amaro Freitas; Girassol, de Silva (com arranjos de cordas de Arthur Verocai), e Reescreve, de Céu

O porquê da escolha: o toque delicado do pianista pernambucano Amaro Freitas cria um clima bucólico, que depois ganha a guitarra do americano Jeff Parker. A melodia de Silva, por seu turno, é suave – especialmente por causa do canto do compositor capixaba, mas dá vontade de sair pulando da cama. Já Céu é indicada para levantar na base do susto. O “acorda” e “te ergue” que ela solta nos momentos iniciais da canção, que tem uma levada de afrobeat, são daqueles que nós despertamos pulando da cama.

Categoria melhor café enquanto pensamos no que fazer

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Voando, de Rita Lee & Roberto de Carvalho; Tobogã, de Lô Borges e Fernanda Takai, e Black Hole Sun, de Scott Bradlee`s Post Modern Jukebox with Willie Ray Moore

O porquê da escolha: porque o momento pede um pouco de calma antes dos estresses do mundo moderno. Rita Lee e Roberto de Carvalho fizeram uma versão bossa nova da italiana Volare, interpretada com aquele jeito delicado que só Rita sabia (e sabe) ter; o mesmo se aplica à doçura na voz de Fernanda Takai ao lado de Lô Borges numa música cuja letra (de autoria de Manuela Costa) fala coisas como “O tempo é uma abstração da mente/ E eu quero a sua bem sã…” Black Hole Sun é aquela mesma do grupo de rock pesado Soundgarden, mas aqui surge numa versão jazz/soul. É aquele sinal de que está na hora de finalizar a refeição e sair para o trabalho.

Categoria melhor maneira de dar partida no carro, esperar o ônibus ou o metrô

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I Guess Time Just Make Fools of Us All, de Father John Misty; Por Mais que se Discuta, de Gui Amabis, e Um Vento Passou (Para Paul Simon), de Milton Nascimento e Speranza Spalding

O porquê da escolha: um dos nomes do pop alternativo americano, Father John Misty apresenta uma composição de mais de oito minutos (ideal para aguentar o trânsito e o aperto do transporte público) cujo título supostamente faz uma reflexão a um texto do matemático Eric Bell, que diz: “O tempo faz de todos nós tolos. Nosso único conforto é que algo maior virá depois de nós.” A criação de Gui Amabis tem uma melodia tristonha e é ideal para aceitar a demora em chegar ao local em que precisamos estar. E já que o atraso é inevitável, nada mais recomendável que a beleza de uma composição de Milton Nascimento, reforçada pelo talento da jazzista Speranza Spalding.

A saga do transporte traz ainda uma categoria extra, na qual o sujeito simplesmente dá de ombros para a situação. Caso de Flores de Rua, que Samuel Rosa indica para quem gosta de sair falando sozinho mundo afora, e Jack White manda todo mundo para o inferno no rock/blues That`s How I`m Feeling.

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Categoria trabalho sob pressão

Pequeno Mapa do Tempo, com João Fenix e Juliana Linhares; Don`t Stop, de Fleetwood Mac, e No Fim das Contas, de Renato Godá

O porquê da escolha: a canção de Belchior fala exatamente de enfrentar os medos que nos cercam, a necessidade de buscar forças, e vira um manifesto nas vozes fortes de Fênix e Juliana; Don`t Stop, aqui numa versão ao vivo, fala tanto de resiliência que virou hino da campanha do democrata Bill Clinton nas eleições americanas de 1992, e o folk de Renato Godá atua como uma reflexão de mais um dia de trabalho – “se as horas voam e as histórias vêm”, professa ele.

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Outro adendo a essa categoria: Larga Tudo, com Adriana Calcanhotto brincando de samba do Recôncavo Baiano, e a baiana Emanuelle Araújo pedindo para fazer seu trabalho sossegada em Vá na Paz do Senhor, que evoca a música do bloco afro Olodum e de Gerônimo.

Categoria eu te amo (De volta pra casa)

Dois Reveillóns, de Nando Reis; O Prazer de Viver Para Mim é Você, de Guilherme Arantes; Meu Pedaço de Pecado, de Mãeana, Simply Beautiful, de Maxwell, e Love Goes, de Mayer Hawthorne

O porquê da escolha: é a lista mais longa porque, afinal, somos eternos românticos. Nando Reis e Guilherme Arantes surgem com duas baladas – uma folk, outra ao piano – que falam sobre a beleza de ter alguém ao nosso lado. Mãeana, nome artístico de Ana Cláudia Lomelino, tem uma voz tão doce e emotiva que nos faz descobrir a doçura de versos do forrozeiro João Gomes. Mesmo que nunca foi vaqueiro vai gostar de versos como “Quero ser teu namorado ficar do seu lado e falar no ouvido/ Você é a mais bonita, um pedaço da vida, de felicidade…”. Maxwell e Mayer Hawthorne são dois cantores americanos de soul music e uma das mais expressões do gênero nas últimas décadas. A emoção que colocam nas melodias e letras que interpretam nos fazem acreditar que vale a pena começar tudo de novo. E você, o que me indicaria para uma trilha do dia a dia? O que te faz, a exemplo daquelas meninas tão talentosas, dar um duplo twist carpado para driblar as mazelas que são apresentadas à nossa frente?

Veja canções tradicionais, consagrados e pequenas descobertas para escutar na rotina diária. Foto: stockbusters/adobe.stock

O ótimo desempenho das atletas da ginástica olímpica brasileira tornou a nossa vida, a de colunistas do mundo das artes, mais difícil. Como sugerir músicas e espetáculos quando o país se maravilha com o triunfo – merecido, diga-se – de Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Julia Soares e Flávia Saraiva? A solução veio em formato de trilha sonora.

O desempenho das meninas da ginástica mostrou a evolução dos temas musicais tocados durante esse tipo de competição. Se antes ele era restrito a balés e peças eruditas, como me contaram a ex-ginasta Luisa Parente (que, audaciosa, enfiou um The Entertainer, do jazzista americano Scott Joplin num de seus solos), e Rhony Ferreira, mentor das atletas que deram um show em Paris. E em matéria de piruetas e repertório, somos melhores que nossas concorrentes. No mínimo, inimitáveis. Como replicar o samba rock do Raça Negra e o pancadão do funk se eles não possuem essa cultura?

Outra reflexão é que, na Olimpíada do nosso dia a dia, a gente também usa temas específicos. Cada atividade é pontuada por uma canção, que nos prepara para os desafios que vêm a seguir. E a exemplo das nossas atletas, eu criei uma combinação de canções tradicionais, nomes consagrados e algumas pequenas descobertas. Vamos então às principais categorias e suas canções-tema.

O desempenho das meninas da ginástica mostrou a evolução dos temas musicais tocados durante esse tipo de competição. As atletas que compõem o time brasileiro são Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira, Flávia Saraiva e Júlia Soares.  Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Categoria melhor despertar

Mar de Cirandeiras, de Amaro Freitas; Girassol, de Silva (com arranjos de cordas de Arthur Verocai), e Reescreve, de Céu

O porquê da escolha: o toque delicado do pianista pernambucano Amaro Freitas cria um clima bucólico, que depois ganha a guitarra do americano Jeff Parker. A melodia de Silva, por seu turno, é suave – especialmente por causa do canto do compositor capixaba, mas dá vontade de sair pulando da cama. Já Céu é indicada para levantar na base do susto. O “acorda” e “te ergue” que ela solta nos momentos iniciais da canção, que tem uma levada de afrobeat, são daqueles que nós despertamos pulando da cama.

Categoria melhor café enquanto pensamos no que fazer

Voando, de Rita Lee & Roberto de Carvalho; Tobogã, de Lô Borges e Fernanda Takai, e Black Hole Sun, de Scott Bradlee`s Post Modern Jukebox with Willie Ray Moore

O porquê da escolha: porque o momento pede um pouco de calma antes dos estresses do mundo moderno. Rita Lee e Roberto de Carvalho fizeram uma versão bossa nova da italiana Volare, interpretada com aquele jeito delicado que só Rita sabia (e sabe) ter; o mesmo se aplica à doçura na voz de Fernanda Takai ao lado de Lô Borges numa música cuja letra (de autoria de Manuela Costa) fala coisas como “O tempo é uma abstração da mente/ E eu quero a sua bem sã…” Black Hole Sun é aquela mesma do grupo de rock pesado Soundgarden, mas aqui surge numa versão jazz/soul. É aquele sinal de que está na hora de finalizar a refeição e sair para o trabalho.

Categoria melhor maneira de dar partida no carro, esperar o ônibus ou o metrô

I Guess Time Just Make Fools of Us All, de Father John Misty; Por Mais que se Discuta, de Gui Amabis, e Um Vento Passou (Para Paul Simon), de Milton Nascimento e Speranza Spalding

O porquê da escolha: um dos nomes do pop alternativo americano, Father John Misty apresenta uma composição de mais de oito minutos (ideal para aguentar o trânsito e o aperto do transporte público) cujo título supostamente faz uma reflexão a um texto do matemático Eric Bell, que diz: “O tempo faz de todos nós tolos. Nosso único conforto é que algo maior virá depois de nós.” A criação de Gui Amabis tem uma melodia tristonha e é ideal para aceitar a demora em chegar ao local em que precisamos estar. E já que o atraso é inevitável, nada mais recomendável que a beleza de uma composição de Milton Nascimento, reforçada pelo talento da jazzista Speranza Spalding.

A saga do transporte traz ainda uma categoria extra, na qual o sujeito simplesmente dá de ombros para a situação. Caso de Flores de Rua, que Samuel Rosa indica para quem gosta de sair falando sozinho mundo afora, e Jack White manda todo mundo para o inferno no rock/blues That`s How I`m Feeling.

Categoria trabalho sob pressão

Pequeno Mapa do Tempo, com João Fenix e Juliana Linhares; Don`t Stop, de Fleetwood Mac, e No Fim das Contas, de Renato Godá

O porquê da escolha: a canção de Belchior fala exatamente de enfrentar os medos que nos cercam, a necessidade de buscar forças, e vira um manifesto nas vozes fortes de Fênix e Juliana; Don`t Stop, aqui numa versão ao vivo, fala tanto de resiliência que virou hino da campanha do democrata Bill Clinton nas eleições americanas de 1992, e o folk de Renato Godá atua como uma reflexão de mais um dia de trabalho – “se as horas voam e as histórias vêm”, professa ele.

Outro adendo a essa categoria: Larga Tudo, com Adriana Calcanhotto brincando de samba do Recôncavo Baiano, e a baiana Emanuelle Araújo pedindo para fazer seu trabalho sossegada em Vá na Paz do Senhor, que evoca a música do bloco afro Olodum e de Gerônimo.

Categoria eu te amo (De volta pra casa)

Dois Reveillóns, de Nando Reis; O Prazer de Viver Para Mim é Você, de Guilherme Arantes; Meu Pedaço de Pecado, de Mãeana, Simply Beautiful, de Maxwell, e Love Goes, de Mayer Hawthorne

O porquê da escolha: é a lista mais longa porque, afinal, somos eternos românticos. Nando Reis e Guilherme Arantes surgem com duas baladas – uma folk, outra ao piano – que falam sobre a beleza de ter alguém ao nosso lado. Mãeana, nome artístico de Ana Cláudia Lomelino, tem uma voz tão doce e emotiva que nos faz descobrir a doçura de versos do forrozeiro João Gomes. Mesmo que nunca foi vaqueiro vai gostar de versos como “Quero ser teu namorado ficar do seu lado e falar no ouvido/ Você é a mais bonita, um pedaço da vida, de felicidade…”. Maxwell e Mayer Hawthorne são dois cantores americanos de soul music e uma das mais expressões do gênero nas últimas décadas. A emoção que colocam nas melodias e letras que interpretam nos fazem acreditar que vale a pena começar tudo de novo. E você, o que me indicaria para uma trilha do dia a dia? O que te faz, a exemplo daquelas meninas tão talentosas, dar um duplo twist carpado para driblar as mazelas que são apresentadas à nossa frente?

Veja canções tradicionais, consagrados e pequenas descobertas para escutar na rotina diária. Foto: stockbusters/adobe.stock

O ótimo desempenho das atletas da ginástica olímpica brasileira tornou a nossa vida, a de colunistas do mundo das artes, mais difícil. Como sugerir músicas e espetáculos quando o país se maravilha com o triunfo – merecido, diga-se – de Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Julia Soares e Flávia Saraiva? A solução veio em formato de trilha sonora.

O desempenho das meninas da ginástica mostrou a evolução dos temas musicais tocados durante esse tipo de competição. Se antes ele era restrito a balés e peças eruditas, como me contaram a ex-ginasta Luisa Parente (que, audaciosa, enfiou um The Entertainer, do jazzista americano Scott Joplin num de seus solos), e Rhony Ferreira, mentor das atletas que deram um show em Paris. E em matéria de piruetas e repertório, somos melhores que nossas concorrentes. No mínimo, inimitáveis. Como replicar o samba rock do Raça Negra e o pancadão do funk se eles não possuem essa cultura?

Outra reflexão é que, na Olimpíada do nosso dia a dia, a gente também usa temas específicos. Cada atividade é pontuada por uma canção, que nos prepara para os desafios que vêm a seguir. E a exemplo das nossas atletas, eu criei uma combinação de canções tradicionais, nomes consagrados e algumas pequenas descobertas. Vamos então às principais categorias e suas canções-tema.

O desempenho das meninas da ginástica mostrou a evolução dos temas musicais tocados durante esse tipo de competição. As atletas que compõem o time brasileiro são Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira, Flávia Saraiva e Júlia Soares.  Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Categoria melhor despertar

Mar de Cirandeiras, de Amaro Freitas; Girassol, de Silva (com arranjos de cordas de Arthur Verocai), e Reescreve, de Céu

O porquê da escolha: o toque delicado do pianista pernambucano Amaro Freitas cria um clima bucólico, que depois ganha a guitarra do americano Jeff Parker. A melodia de Silva, por seu turno, é suave – especialmente por causa do canto do compositor capixaba, mas dá vontade de sair pulando da cama. Já Céu é indicada para levantar na base do susto. O “acorda” e “te ergue” que ela solta nos momentos iniciais da canção, que tem uma levada de afrobeat, são daqueles que nós despertamos pulando da cama.

Categoria melhor café enquanto pensamos no que fazer

Voando, de Rita Lee & Roberto de Carvalho; Tobogã, de Lô Borges e Fernanda Takai, e Black Hole Sun, de Scott Bradlee`s Post Modern Jukebox with Willie Ray Moore

O porquê da escolha: porque o momento pede um pouco de calma antes dos estresses do mundo moderno. Rita Lee e Roberto de Carvalho fizeram uma versão bossa nova da italiana Volare, interpretada com aquele jeito delicado que só Rita sabia (e sabe) ter; o mesmo se aplica à doçura na voz de Fernanda Takai ao lado de Lô Borges numa música cuja letra (de autoria de Manuela Costa) fala coisas como “O tempo é uma abstração da mente/ E eu quero a sua bem sã…” Black Hole Sun é aquela mesma do grupo de rock pesado Soundgarden, mas aqui surge numa versão jazz/soul. É aquele sinal de que está na hora de finalizar a refeição e sair para o trabalho.

Categoria melhor maneira de dar partida no carro, esperar o ônibus ou o metrô

I Guess Time Just Make Fools of Us All, de Father John Misty; Por Mais que se Discuta, de Gui Amabis, e Um Vento Passou (Para Paul Simon), de Milton Nascimento e Speranza Spalding

O porquê da escolha: um dos nomes do pop alternativo americano, Father John Misty apresenta uma composição de mais de oito minutos (ideal para aguentar o trânsito e o aperto do transporte público) cujo título supostamente faz uma reflexão a um texto do matemático Eric Bell, que diz: “O tempo faz de todos nós tolos. Nosso único conforto é que algo maior virá depois de nós.” A criação de Gui Amabis tem uma melodia tristonha e é ideal para aceitar a demora em chegar ao local em que precisamos estar. E já que o atraso é inevitável, nada mais recomendável que a beleza de uma composição de Milton Nascimento, reforçada pelo talento da jazzista Speranza Spalding.

A saga do transporte traz ainda uma categoria extra, na qual o sujeito simplesmente dá de ombros para a situação. Caso de Flores de Rua, que Samuel Rosa indica para quem gosta de sair falando sozinho mundo afora, e Jack White manda todo mundo para o inferno no rock/blues That`s How I`m Feeling.

Categoria trabalho sob pressão

Pequeno Mapa do Tempo, com João Fenix e Juliana Linhares; Don`t Stop, de Fleetwood Mac, e No Fim das Contas, de Renato Godá

O porquê da escolha: a canção de Belchior fala exatamente de enfrentar os medos que nos cercam, a necessidade de buscar forças, e vira um manifesto nas vozes fortes de Fênix e Juliana; Don`t Stop, aqui numa versão ao vivo, fala tanto de resiliência que virou hino da campanha do democrata Bill Clinton nas eleições americanas de 1992, e o folk de Renato Godá atua como uma reflexão de mais um dia de trabalho – “se as horas voam e as histórias vêm”, professa ele.

Outro adendo a essa categoria: Larga Tudo, com Adriana Calcanhotto brincando de samba do Recôncavo Baiano, e a baiana Emanuelle Araújo pedindo para fazer seu trabalho sossegada em Vá na Paz do Senhor, que evoca a música do bloco afro Olodum e de Gerônimo.

Categoria eu te amo (De volta pra casa)

Dois Reveillóns, de Nando Reis; O Prazer de Viver Para Mim é Você, de Guilherme Arantes; Meu Pedaço de Pecado, de Mãeana, Simply Beautiful, de Maxwell, e Love Goes, de Mayer Hawthorne

O porquê da escolha: é a lista mais longa porque, afinal, somos eternos românticos. Nando Reis e Guilherme Arantes surgem com duas baladas – uma folk, outra ao piano – que falam sobre a beleza de ter alguém ao nosso lado. Mãeana, nome artístico de Ana Cláudia Lomelino, tem uma voz tão doce e emotiva que nos faz descobrir a doçura de versos do forrozeiro João Gomes. Mesmo que nunca foi vaqueiro vai gostar de versos como “Quero ser teu namorado ficar do seu lado e falar no ouvido/ Você é a mais bonita, um pedaço da vida, de felicidade…”. Maxwell e Mayer Hawthorne são dois cantores americanos de soul music e uma das mais expressões do gênero nas últimas décadas. A emoção que colocam nas melodias e letras que interpretam nos fazem acreditar que vale a pena começar tudo de novo. E você, o que me indicaria para uma trilha do dia a dia? O que te faz, a exemplo daquelas meninas tão talentosas, dar um duplo twist carpado para driblar as mazelas que são apresentadas à nossa frente?

Veja canções tradicionais, consagrados e pequenas descobertas para escutar na rotina diária. Foto: stockbusters/adobe.stock

O ótimo desempenho das atletas da ginástica olímpica brasileira tornou a nossa vida, a de colunistas do mundo das artes, mais difícil. Como sugerir músicas e espetáculos quando o país se maravilha com o triunfo – merecido, diga-se – de Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Julia Soares e Flávia Saraiva? A solução veio em formato de trilha sonora.

O desempenho das meninas da ginástica mostrou a evolução dos temas musicais tocados durante esse tipo de competição. Se antes ele era restrito a balés e peças eruditas, como me contaram a ex-ginasta Luisa Parente (que, audaciosa, enfiou um The Entertainer, do jazzista americano Scott Joplin num de seus solos), e Rhony Ferreira, mentor das atletas que deram um show em Paris. E em matéria de piruetas e repertório, somos melhores que nossas concorrentes. No mínimo, inimitáveis. Como replicar o samba rock do Raça Negra e o pancadão do funk se eles não possuem essa cultura?

Outra reflexão é que, na Olimpíada do nosso dia a dia, a gente também usa temas específicos. Cada atividade é pontuada por uma canção, que nos prepara para os desafios que vêm a seguir. E a exemplo das nossas atletas, eu criei uma combinação de canções tradicionais, nomes consagrados e algumas pequenas descobertas. Vamos então às principais categorias e suas canções-tema.

O desempenho das meninas da ginástica mostrou a evolução dos temas musicais tocados durante esse tipo de competição. As atletas que compõem o time brasileiro são Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira, Flávia Saraiva e Júlia Soares.  Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Categoria melhor despertar

Mar de Cirandeiras, de Amaro Freitas; Girassol, de Silva (com arranjos de cordas de Arthur Verocai), e Reescreve, de Céu

O porquê da escolha: o toque delicado do pianista pernambucano Amaro Freitas cria um clima bucólico, que depois ganha a guitarra do americano Jeff Parker. A melodia de Silva, por seu turno, é suave – especialmente por causa do canto do compositor capixaba, mas dá vontade de sair pulando da cama. Já Céu é indicada para levantar na base do susto. O “acorda” e “te ergue” que ela solta nos momentos iniciais da canção, que tem uma levada de afrobeat, são daqueles que nós despertamos pulando da cama.

Categoria melhor café enquanto pensamos no que fazer

Voando, de Rita Lee & Roberto de Carvalho; Tobogã, de Lô Borges e Fernanda Takai, e Black Hole Sun, de Scott Bradlee`s Post Modern Jukebox with Willie Ray Moore

O porquê da escolha: porque o momento pede um pouco de calma antes dos estresses do mundo moderno. Rita Lee e Roberto de Carvalho fizeram uma versão bossa nova da italiana Volare, interpretada com aquele jeito delicado que só Rita sabia (e sabe) ter; o mesmo se aplica à doçura na voz de Fernanda Takai ao lado de Lô Borges numa música cuja letra (de autoria de Manuela Costa) fala coisas como “O tempo é uma abstração da mente/ E eu quero a sua bem sã…” Black Hole Sun é aquela mesma do grupo de rock pesado Soundgarden, mas aqui surge numa versão jazz/soul. É aquele sinal de que está na hora de finalizar a refeição e sair para o trabalho.

Categoria melhor maneira de dar partida no carro, esperar o ônibus ou o metrô

I Guess Time Just Make Fools of Us All, de Father John Misty; Por Mais que se Discuta, de Gui Amabis, e Um Vento Passou (Para Paul Simon), de Milton Nascimento e Speranza Spalding

O porquê da escolha: um dos nomes do pop alternativo americano, Father John Misty apresenta uma composição de mais de oito minutos (ideal para aguentar o trânsito e o aperto do transporte público) cujo título supostamente faz uma reflexão a um texto do matemático Eric Bell, que diz: “O tempo faz de todos nós tolos. Nosso único conforto é que algo maior virá depois de nós.” A criação de Gui Amabis tem uma melodia tristonha e é ideal para aceitar a demora em chegar ao local em que precisamos estar. E já que o atraso é inevitável, nada mais recomendável que a beleza de uma composição de Milton Nascimento, reforçada pelo talento da jazzista Speranza Spalding.

A saga do transporte traz ainda uma categoria extra, na qual o sujeito simplesmente dá de ombros para a situação. Caso de Flores de Rua, que Samuel Rosa indica para quem gosta de sair falando sozinho mundo afora, e Jack White manda todo mundo para o inferno no rock/blues That`s How I`m Feeling.

Categoria trabalho sob pressão

Pequeno Mapa do Tempo, com João Fenix e Juliana Linhares; Don`t Stop, de Fleetwood Mac, e No Fim das Contas, de Renato Godá

O porquê da escolha: a canção de Belchior fala exatamente de enfrentar os medos que nos cercam, a necessidade de buscar forças, e vira um manifesto nas vozes fortes de Fênix e Juliana; Don`t Stop, aqui numa versão ao vivo, fala tanto de resiliência que virou hino da campanha do democrata Bill Clinton nas eleições americanas de 1992, e o folk de Renato Godá atua como uma reflexão de mais um dia de trabalho – “se as horas voam e as histórias vêm”, professa ele.

Outro adendo a essa categoria: Larga Tudo, com Adriana Calcanhotto brincando de samba do Recôncavo Baiano, e a baiana Emanuelle Araújo pedindo para fazer seu trabalho sossegada em Vá na Paz do Senhor, que evoca a música do bloco afro Olodum e de Gerônimo.

Categoria eu te amo (De volta pra casa)

Dois Reveillóns, de Nando Reis; O Prazer de Viver Para Mim é Você, de Guilherme Arantes; Meu Pedaço de Pecado, de Mãeana, Simply Beautiful, de Maxwell, e Love Goes, de Mayer Hawthorne

O porquê da escolha: é a lista mais longa porque, afinal, somos eternos românticos. Nando Reis e Guilherme Arantes surgem com duas baladas – uma folk, outra ao piano – que falam sobre a beleza de ter alguém ao nosso lado. Mãeana, nome artístico de Ana Cláudia Lomelino, tem uma voz tão doce e emotiva que nos faz descobrir a doçura de versos do forrozeiro João Gomes. Mesmo que nunca foi vaqueiro vai gostar de versos como “Quero ser teu namorado ficar do seu lado e falar no ouvido/ Você é a mais bonita, um pedaço da vida, de felicidade…”. Maxwell e Mayer Hawthorne são dois cantores americanos de soul music e uma das mais expressões do gênero nas últimas décadas. A emoção que colocam nas melodias e letras que interpretam nos fazem acreditar que vale a pena começar tudo de novo. E você, o que me indicaria para uma trilha do dia a dia? O que te faz, a exemplo daquelas meninas tão talentosas, dar um duplo twist carpado para driblar as mazelas que são apresentadas à nossa frente?

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