Série da HBO reafirma vigor da escrita de Elena Ferrante


'My Brilliant Friend' encerrou segunda temporada, enquanto Netflix anuncia série do novo livro da autora

Por Júlia Corrêa

Lançada pela HBO e pela RAI em 2018, My Brilliant Friend, adaptação da tetralogia napolitana de Elena Ferrante, acaba de ser renovada para a sua terceira temporada. A própria autora italiana, cuja identidade permanece desconhecida, é uma das roteiristas da série, ao lado do diretor Saverio Costanzo, Francesco Piccolo e Laura Paolucci. Um dos produtores executivos é Paolo Sorrentino, diretor de A Grande Beleza.

Cena da série 'My Brilliant Friend', inspirada na Tetralogia Napolitana de Elena Ferrante Foto: HBO

A segunda temporada, disponível na plataforma de streaming HBO GO, contempla o período narrado no volume História do Novo Sobrenome, centrando-se na adolescência das protagonistas Lenu e Lila, vividas pelas atrizes Margherita Mazzucco e Gaia Girace. Nesta nova sequência, acentuam-se as tensões entre as duas amigas, bem como a brutalidade do bairro pobre de Nápoles em que vivem. Seus destinos ganham contornos mais nítidos e contrastantes: com o incentivo de professores, Lenu busca refinamento e vê nos estudos a possibilidade de sair do local, enquanto Lila, apesar de sua revolta, é sugada pela violência doméstica e por um ambiente dominado pela máfia. Em depoimento ao site IndieWire, o diretor afirmou que, na primeira temporada, buscou inspiração no neorrealismo italiano, para dar conta do período pós-guerra em que aquela fase era ambientada. Para esta, porém, buscou imaginar-se como um Godard ou um Truffaut, nomes que romperam com aquela estética, para conseguir, então, conferir um dinamismo associado já à fase de modernização do país. Não é à toa, por exemplo, que diferentes cenas da série são pontuadas pela passagem de um trem que atravessa o bairro, sinalizando um suposto progresso. A vivacidade de Lenu, protagonista e narradora da trama, se dá menos por suas ações do que pela potência de seu relato. A jovem atriz Margherita Mazzucco, de apenas 16 anos, dá conta das sutilezas dessa economia de gestos — seus silêncios frequentes e seu olhar observador comportam reflexões que aparecem apenas na transição entre as cenas, por meio de locuções em off da atriz que interpreta Lenu já na fase de maturidade, quando recapitula os eventos do passado. Isso é evidente em uma das cenas mais consistentes da temporada, no segundo episódio, quando, após uma discussão com a amiga, Lenu caminha pelo bairro com livros na mão e contempla a rudeza característica daquelas ruas — sobressaem-se figuras como mães enraivecidas com os filhos pequenos e trabalhadores falando, de forma espalhafatosa, no dialeto napolitano. Ela fica paralisada, sem reação, mas a voz da narradora surge, então, para dizer que, ali, ela havia compreendido a fúria de Lila com o determinismo daquele meio. Desse modo, a série ressalta, implicitamente, o vigor da escrita de Ferrante, conseguindo capturar visualmente um recurso literário central de sua obra. Além disso, as atuações de fôlego dão ainda mais força aos personagens construídos pela autora. O modo como Gaia Girace, com seu olhar esquivo, transmite a ambiguidade própria de Lila é um bom exemplo disso. Vale a pena assistir à produção e conferir esses e outros tantos méritos que a colocam à altura do romance.

Lançada pela HBO e pela RAI em 2018, My Brilliant Friend, adaptação da tetralogia napolitana de Elena Ferrante, acaba de ser renovada para a sua terceira temporada. A própria autora italiana, cuja identidade permanece desconhecida, é uma das roteiristas da série, ao lado do diretor Saverio Costanzo, Francesco Piccolo e Laura Paolucci. Um dos produtores executivos é Paolo Sorrentino, diretor de A Grande Beleza.

Cena da série 'My Brilliant Friend', inspirada na Tetralogia Napolitana de Elena Ferrante Foto: HBO

A segunda temporada, disponível na plataforma de streaming HBO GO, contempla o período narrado no volume História do Novo Sobrenome, centrando-se na adolescência das protagonistas Lenu e Lila, vividas pelas atrizes Margherita Mazzucco e Gaia Girace. Nesta nova sequência, acentuam-se as tensões entre as duas amigas, bem como a brutalidade do bairro pobre de Nápoles em que vivem. Seus destinos ganham contornos mais nítidos e contrastantes: com o incentivo de professores, Lenu busca refinamento e vê nos estudos a possibilidade de sair do local, enquanto Lila, apesar de sua revolta, é sugada pela violência doméstica e por um ambiente dominado pela máfia. Em depoimento ao site IndieWire, o diretor afirmou que, na primeira temporada, buscou inspiração no neorrealismo italiano, para dar conta do período pós-guerra em que aquela fase era ambientada. Para esta, porém, buscou imaginar-se como um Godard ou um Truffaut, nomes que romperam com aquela estética, para conseguir, então, conferir um dinamismo associado já à fase de modernização do país. Não é à toa, por exemplo, que diferentes cenas da série são pontuadas pela passagem de um trem que atravessa o bairro, sinalizando um suposto progresso. A vivacidade de Lenu, protagonista e narradora da trama, se dá menos por suas ações do que pela potência de seu relato. A jovem atriz Margherita Mazzucco, de apenas 16 anos, dá conta das sutilezas dessa economia de gestos — seus silêncios frequentes e seu olhar observador comportam reflexões que aparecem apenas na transição entre as cenas, por meio de locuções em off da atriz que interpreta Lenu já na fase de maturidade, quando recapitula os eventos do passado. Isso é evidente em uma das cenas mais consistentes da temporada, no segundo episódio, quando, após uma discussão com a amiga, Lenu caminha pelo bairro com livros na mão e contempla a rudeza característica daquelas ruas — sobressaem-se figuras como mães enraivecidas com os filhos pequenos e trabalhadores falando, de forma espalhafatosa, no dialeto napolitano. Ela fica paralisada, sem reação, mas a voz da narradora surge, então, para dizer que, ali, ela havia compreendido a fúria de Lila com o determinismo daquele meio. Desse modo, a série ressalta, implicitamente, o vigor da escrita de Ferrante, conseguindo capturar visualmente um recurso literário central de sua obra. Além disso, as atuações de fôlego dão ainda mais força aos personagens construídos pela autora. O modo como Gaia Girace, com seu olhar esquivo, transmite a ambiguidade própria de Lila é um bom exemplo disso. Vale a pena assistir à produção e conferir esses e outros tantos méritos que a colocam à altura do romance.

Lançada pela HBO e pela RAI em 2018, My Brilliant Friend, adaptação da tetralogia napolitana de Elena Ferrante, acaba de ser renovada para a sua terceira temporada. A própria autora italiana, cuja identidade permanece desconhecida, é uma das roteiristas da série, ao lado do diretor Saverio Costanzo, Francesco Piccolo e Laura Paolucci. Um dos produtores executivos é Paolo Sorrentino, diretor de A Grande Beleza.

Cena da série 'My Brilliant Friend', inspirada na Tetralogia Napolitana de Elena Ferrante Foto: HBO

A segunda temporada, disponível na plataforma de streaming HBO GO, contempla o período narrado no volume História do Novo Sobrenome, centrando-se na adolescência das protagonistas Lenu e Lila, vividas pelas atrizes Margherita Mazzucco e Gaia Girace. Nesta nova sequência, acentuam-se as tensões entre as duas amigas, bem como a brutalidade do bairro pobre de Nápoles em que vivem. Seus destinos ganham contornos mais nítidos e contrastantes: com o incentivo de professores, Lenu busca refinamento e vê nos estudos a possibilidade de sair do local, enquanto Lila, apesar de sua revolta, é sugada pela violência doméstica e por um ambiente dominado pela máfia. Em depoimento ao site IndieWire, o diretor afirmou que, na primeira temporada, buscou inspiração no neorrealismo italiano, para dar conta do período pós-guerra em que aquela fase era ambientada. Para esta, porém, buscou imaginar-se como um Godard ou um Truffaut, nomes que romperam com aquela estética, para conseguir, então, conferir um dinamismo associado já à fase de modernização do país. Não é à toa, por exemplo, que diferentes cenas da série são pontuadas pela passagem de um trem que atravessa o bairro, sinalizando um suposto progresso. A vivacidade de Lenu, protagonista e narradora da trama, se dá menos por suas ações do que pela potência de seu relato. A jovem atriz Margherita Mazzucco, de apenas 16 anos, dá conta das sutilezas dessa economia de gestos — seus silêncios frequentes e seu olhar observador comportam reflexões que aparecem apenas na transição entre as cenas, por meio de locuções em off da atriz que interpreta Lenu já na fase de maturidade, quando recapitula os eventos do passado. Isso é evidente em uma das cenas mais consistentes da temporada, no segundo episódio, quando, após uma discussão com a amiga, Lenu caminha pelo bairro com livros na mão e contempla a rudeza característica daquelas ruas — sobressaem-se figuras como mães enraivecidas com os filhos pequenos e trabalhadores falando, de forma espalhafatosa, no dialeto napolitano. Ela fica paralisada, sem reação, mas a voz da narradora surge, então, para dizer que, ali, ela havia compreendido a fúria de Lila com o determinismo daquele meio. Desse modo, a série ressalta, implicitamente, o vigor da escrita de Ferrante, conseguindo capturar visualmente um recurso literário central de sua obra. Além disso, as atuações de fôlego dão ainda mais força aos personagens construídos pela autora. O modo como Gaia Girace, com seu olhar esquivo, transmite a ambiguidade própria de Lila é um bom exemplo disso. Vale a pena assistir à produção e conferir esses e outros tantos méritos que a colocam à altura do romance.

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