‘Black Mirror’: 6.ª temporada afasta série da premissa original com ‘Red Mirror’


Sem menção a tecnologia, episódio ‘Demônio 79′ foca no sobrenatural e parece não ter explicação plausível para ser incluído na série; veja o que diz criador

Por André Carlos Zorzi

O nome Black Mirror (algo como “espelho preto”, em português) é uma referência às telas de televisão, celular ou computador quando as vemos desligadas. Desde o início, em 2011, a proposta da série tinha foco na relação entre os seres humanos e a tecnologia - fosse em futuros próximos ou distantes, em realidades distópicas ou não.

A 6.ª temporada se dá bem nesse sentido em seus primeiros episódios, mas no último simplesmente parece esquecer a premissa básica da produção, que começou na TV britânica e hoje pertence à Netflix: a tecnologia.

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Atenção: o texto a seguir contém spoilers de Black Mirror!

Demônio 79 ?

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A presença da tarja Red Mirror (“espelho vermelho”, em inglês) ao início da produção e também demarcando sua aparição no trailer da temporada já indicava algo de diferente.

Demônio 79 é de longe o enredo menos interessante da nova leva de capítulos, mas tem seu apelo: uma mulher de ascendência asiática que trabalha numa loja de sapatos e convive com pessoas xenófobas. Quando é obrigada a almoçar no porão do estabelecimento por seu patrão, encosta em uma pedra e, sem querer, invoca um demônio. A partir dali, tem que matar uma pessoa por dia nos três dias seguintes, do contrário, o apocalipse ocorrerá.

O demônio adota uma forma humanoide e é um sujeito engraçado, mas que só ela pode ver. Tendo acesso ao passado e ao futuro das outras pessoas, ele lhe ajuda a decidir quem matar - ao acertar um tijolo na cabeça de um homem, por exemplo, a protagonista fica com menos remorso por saber que ele era um abusador de crianças. Ao fim das contas, ela não consegue cumprir o combinado e o mundo é destruído.

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Cena do episódio 'Demônio 79', da 6.ª temporada de 'Black Mirror', categorizado como 'Red Mirror' pelo criador da série Foto: Reprodução de 'Black Mirror' (2023)/Netflix

Há explicação para episódio integrar Black Mirror?

Mas e a relação com a tecnologia? No máximo, em algumas cenas em que ela assiste TV, ou na cena em que o demônio usa o telefone. Nos momentos em que permite que ela tenha visões, seus olhos ficam semelhantes aos dos personagens do episódio Toda A Sua História, da 1.ª temporada.

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Não há explicação que pareça justificar a escolha de Demônio 79 entre os episódios de Black Mirror. A produção talvez faria mais sentido se integrasse séries como O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro (2022), Diário de Horrores (2017) ou Coletivo Terror (2020). E não simplesmente pelo fato de se aproximar do gênero de terror - como foi Versão de Testes, da 3.ª temporada - mas sim por sua falta de relação com a tecnologia.

O penúltimo episódio, Mazey Day, já dava indícios disso. Durante praticamente três quartos de sua duração, a trama parecia uma crítica à indústria da fama e dos paparazzi nos Estados Unidos, com referências tecnológicas em momentos que envolviam câmeras fotográficas ou rastreadores. Nos últimos minutos, porém, revela se tratar de uma história de lobisomem, com pegada mais sobrenatural, que continuou no derradeiro capítulo.

Cena do episódio 'Demônio 79', da 6.ª temporada de 'Black Mirror', categorizado como 'Red Mirror' pelo criador da série Foto: Reprodução de 'Black Mirror' (2023)/Netflix
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‘Red Mirror’ - O que diz o criador da série?

Em entrevista ao Radio Times, o criador de Black Mirror, Charlie Brooker, deu explicações sobre o que seria o Red Mirror e abordou o último episódio: “Demônio 79 começa com um ‘Red Mirror apresenta’ na sequência do título, marcando-o como ‘diferente-de-ainda-que-adjacente-a’ Black Mirror. Isso porque, tipicamente, Black Mirror tem foco em distopias tecnológicas ou sátira midiática, enquanto essa história tem um elemento sobrenatural mais forte. O episódio é quase inclassificável”.

Questionado se podemos ter mais episódios ao estilo Red Mirror, respondeu: “Depende do que as pessoas pensarão e como receberão isso”. “Quando Black Mirror começou, em 2011, não havia muitos programas que se pareciam com ele”, destacou, frisando que, com o passar do tempo, as temáticas passaram a ser abordadas também por outras séries.

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“Eu me coloquei na tarefa de: ‘E se eu pensar em algumas histórias que não têm a ver com tecnologia e tenham a ver com horror ou aconteçam no passado?’. Foi fazendo isso que chegamos ao episódio Demônio 79, que se passa em 1979 e é quase como se fosse uma peça complementar a Black Mirror

Cena do episódio 'Demônio 79', da 6.ª temporada de 'Black Mirror', categorizado como 'Red Mirror' pelo criador da série Foto: Reprodução de 'Black Mirror' (2023)/Netflix

Os episódios da 6.ª temporada de Black Mirror

Em A Joan É Péssima, uma mulher que, navegando num serviço semelhante à Netflix, descobre uma série sobre sua vida - resultado de termos de uso e políticas de privacidade que sempre assinou sem ler, somados à quantidade de eletrônicos que nos ‘monitoram’ constantemente e a um avanço da inteligência artificial. Tudo entra em parafuso e ela recorre a táticas extremas para tentar barrar a criação de novos episódios.

O 2º episódio, Loch Henry, traz um casal de cineastas que investiga um serial killer que passou pela cidade décadas antes. Em determinado momento, eles descobrem que os pais do próprio criador do documentário estavam envolvidos com os crimes que envolviam bizarras sessões de tortura e abuso. A tensão tecnológica aqui parece mais presente no retrato da indústria do streaming, e a forma problemática com a qual lida com séries de true crime.

No meio da 6.ª temporada, Beyond The Sea volta aos anos 1960 para uma versão paralela da corrida espacial em que os Estados Unidos consegue enviar dois astronautas para uma missão espacial ao mesmo tempo em que deixam uma réplica de seus corpos na Terra, com a qual podem transferir sua consciência e continuar convivendo em sociedade.

Charlie Brooker, criador de 'Black Mirror', recebe um prêmio Emmy em 2017 Foto: Mario Anzuoni/Reuters

Uma seita à la Manson Family assassina toda a família de um deles, fazendo com que o outro ‘empreste’ seu corpo terráqueo ao colega, o que obviamente trará complicações à relação entre eles. Apesar de alguns pontos soltos (como a razão pela qual foram enviados os astronautas originais ao espaço, em vez de a sua versão em réplica), remete ao caos trazido por uma tecnologia que o ser humano parece não se dar conta de todos os riscos ao utilizar.

Em Mazey Day, penúltimo episódio, a complicada relação dos paparazzi com artistas, remetendo a um passado próximo na década de 2000. Apesar de ser promissor e interessante em seus primeiros três quartos, no fim, descamba para o sobrenatural em uma história de lobisomens que deixa a desejar. Indício do que viria a seguir.

Já o 5º e último episódio da 6.ª temporada, Demônio 79, parece o que mais se afasta de Black Mirror entre as quase três dezenas de episódios da série, conforme explicado acima.

O nome Black Mirror (algo como “espelho preto”, em português) é uma referência às telas de televisão, celular ou computador quando as vemos desligadas. Desde o início, em 2011, a proposta da série tinha foco na relação entre os seres humanos e a tecnologia - fosse em futuros próximos ou distantes, em realidades distópicas ou não.

A 6.ª temporada se dá bem nesse sentido em seus primeiros episódios, mas no último simplesmente parece esquecer a premissa básica da produção, que começou na TV britânica e hoje pertence à Netflix: a tecnologia.

Atenção: o texto a seguir contém spoilers de Black Mirror!

Demônio 79 ?

A presença da tarja Red Mirror (“espelho vermelho”, em inglês) ao início da produção e também demarcando sua aparição no trailer da temporada já indicava algo de diferente.

Demônio 79 é de longe o enredo menos interessante da nova leva de capítulos, mas tem seu apelo: uma mulher de ascendência asiática que trabalha numa loja de sapatos e convive com pessoas xenófobas. Quando é obrigada a almoçar no porão do estabelecimento por seu patrão, encosta em uma pedra e, sem querer, invoca um demônio. A partir dali, tem que matar uma pessoa por dia nos três dias seguintes, do contrário, o apocalipse ocorrerá.

O demônio adota uma forma humanoide e é um sujeito engraçado, mas que só ela pode ver. Tendo acesso ao passado e ao futuro das outras pessoas, ele lhe ajuda a decidir quem matar - ao acertar um tijolo na cabeça de um homem, por exemplo, a protagonista fica com menos remorso por saber que ele era um abusador de crianças. Ao fim das contas, ela não consegue cumprir o combinado e o mundo é destruído.

Cena do episódio 'Demônio 79', da 6.ª temporada de 'Black Mirror', categorizado como 'Red Mirror' pelo criador da série Foto: Reprodução de 'Black Mirror' (2023)/Netflix

Há explicação para episódio integrar Black Mirror?

Mas e a relação com a tecnologia? No máximo, em algumas cenas em que ela assiste TV, ou na cena em que o demônio usa o telefone. Nos momentos em que permite que ela tenha visões, seus olhos ficam semelhantes aos dos personagens do episódio Toda A Sua História, da 1.ª temporada.

Não há explicação que pareça justificar a escolha de Demônio 79 entre os episódios de Black Mirror. A produção talvez faria mais sentido se integrasse séries como O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro (2022), Diário de Horrores (2017) ou Coletivo Terror (2020). E não simplesmente pelo fato de se aproximar do gênero de terror - como foi Versão de Testes, da 3.ª temporada - mas sim por sua falta de relação com a tecnologia.

O penúltimo episódio, Mazey Day, já dava indícios disso. Durante praticamente três quartos de sua duração, a trama parecia uma crítica à indústria da fama e dos paparazzi nos Estados Unidos, com referências tecnológicas em momentos que envolviam câmeras fotográficas ou rastreadores. Nos últimos minutos, porém, revela se tratar de uma história de lobisomem, com pegada mais sobrenatural, que continuou no derradeiro capítulo.

Cena do episódio 'Demônio 79', da 6.ª temporada de 'Black Mirror', categorizado como 'Red Mirror' pelo criador da série Foto: Reprodução de 'Black Mirror' (2023)/Netflix

‘Red Mirror’ - O que diz o criador da série?

Em entrevista ao Radio Times, o criador de Black Mirror, Charlie Brooker, deu explicações sobre o que seria o Red Mirror e abordou o último episódio: “Demônio 79 começa com um ‘Red Mirror apresenta’ na sequência do título, marcando-o como ‘diferente-de-ainda-que-adjacente-a’ Black Mirror. Isso porque, tipicamente, Black Mirror tem foco em distopias tecnológicas ou sátira midiática, enquanto essa história tem um elemento sobrenatural mais forte. O episódio é quase inclassificável”.

Questionado se podemos ter mais episódios ao estilo Red Mirror, respondeu: “Depende do que as pessoas pensarão e como receberão isso”. “Quando Black Mirror começou, em 2011, não havia muitos programas que se pareciam com ele”, destacou, frisando que, com o passar do tempo, as temáticas passaram a ser abordadas também por outras séries.

“Eu me coloquei na tarefa de: ‘E se eu pensar em algumas histórias que não têm a ver com tecnologia e tenham a ver com horror ou aconteçam no passado?’. Foi fazendo isso que chegamos ao episódio Demônio 79, que se passa em 1979 e é quase como se fosse uma peça complementar a Black Mirror

Cena do episódio 'Demônio 79', da 6.ª temporada de 'Black Mirror', categorizado como 'Red Mirror' pelo criador da série Foto: Reprodução de 'Black Mirror' (2023)/Netflix

Os episódios da 6.ª temporada de Black Mirror

Em A Joan É Péssima, uma mulher que, navegando num serviço semelhante à Netflix, descobre uma série sobre sua vida - resultado de termos de uso e políticas de privacidade que sempre assinou sem ler, somados à quantidade de eletrônicos que nos ‘monitoram’ constantemente e a um avanço da inteligência artificial. Tudo entra em parafuso e ela recorre a táticas extremas para tentar barrar a criação de novos episódios.

O 2º episódio, Loch Henry, traz um casal de cineastas que investiga um serial killer que passou pela cidade décadas antes. Em determinado momento, eles descobrem que os pais do próprio criador do documentário estavam envolvidos com os crimes que envolviam bizarras sessões de tortura e abuso. A tensão tecnológica aqui parece mais presente no retrato da indústria do streaming, e a forma problemática com a qual lida com séries de true crime.

No meio da 6.ª temporada, Beyond The Sea volta aos anos 1960 para uma versão paralela da corrida espacial em que os Estados Unidos consegue enviar dois astronautas para uma missão espacial ao mesmo tempo em que deixam uma réplica de seus corpos na Terra, com a qual podem transferir sua consciência e continuar convivendo em sociedade.

Charlie Brooker, criador de 'Black Mirror', recebe um prêmio Emmy em 2017 Foto: Mario Anzuoni/Reuters

Uma seita à la Manson Family assassina toda a família de um deles, fazendo com que o outro ‘empreste’ seu corpo terráqueo ao colega, o que obviamente trará complicações à relação entre eles. Apesar de alguns pontos soltos (como a razão pela qual foram enviados os astronautas originais ao espaço, em vez de a sua versão em réplica), remete ao caos trazido por uma tecnologia que o ser humano parece não se dar conta de todos os riscos ao utilizar.

Em Mazey Day, penúltimo episódio, a complicada relação dos paparazzi com artistas, remetendo a um passado próximo na década de 2000. Apesar de ser promissor e interessante em seus primeiros três quartos, no fim, descamba para o sobrenatural em uma história de lobisomens que deixa a desejar. Indício do que viria a seguir.

Já o 5º e último episódio da 6.ª temporada, Demônio 79, parece o que mais se afasta de Black Mirror entre as quase três dezenas de episódios da série, conforme explicado acima.

O nome Black Mirror (algo como “espelho preto”, em português) é uma referência às telas de televisão, celular ou computador quando as vemos desligadas. Desde o início, em 2011, a proposta da série tinha foco na relação entre os seres humanos e a tecnologia - fosse em futuros próximos ou distantes, em realidades distópicas ou não.

A 6.ª temporada se dá bem nesse sentido em seus primeiros episódios, mas no último simplesmente parece esquecer a premissa básica da produção, que começou na TV britânica e hoje pertence à Netflix: a tecnologia.

Atenção: o texto a seguir contém spoilers de Black Mirror!

Demônio 79 ?

A presença da tarja Red Mirror (“espelho vermelho”, em inglês) ao início da produção e também demarcando sua aparição no trailer da temporada já indicava algo de diferente.

Demônio 79 é de longe o enredo menos interessante da nova leva de capítulos, mas tem seu apelo: uma mulher de ascendência asiática que trabalha numa loja de sapatos e convive com pessoas xenófobas. Quando é obrigada a almoçar no porão do estabelecimento por seu patrão, encosta em uma pedra e, sem querer, invoca um demônio. A partir dali, tem que matar uma pessoa por dia nos três dias seguintes, do contrário, o apocalipse ocorrerá.

O demônio adota uma forma humanoide e é um sujeito engraçado, mas que só ela pode ver. Tendo acesso ao passado e ao futuro das outras pessoas, ele lhe ajuda a decidir quem matar - ao acertar um tijolo na cabeça de um homem, por exemplo, a protagonista fica com menos remorso por saber que ele era um abusador de crianças. Ao fim das contas, ela não consegue cumprir o combinado e o mundo é destruído.

Cena do episódio 'Demônio 79', da 6.ª temporada de 'Black Mirror', categorizado como 'Red Mirror' pelo criador da série Foto: Reprodução de 'Black Mirror' (2023)/Netflix

Há explicação para episódio integrar Black Mirror?

Mas e a relação com a tecnologia? No máximo, em algumas cenas em que ela assiste TV, ou na cena em que o demônio usa o telefone. Nos momentos em que permite que ela tenha visões, seus olhos ficam semelhantes aos dos personagens do episódio Toda A Sua História, da 1.ª temporada.

Não há explicação que pareça justificar a escolha de Demônio 79 entre os episódios de Black Mirror. A produção talvez faria mais sentido se integrasse séries como O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro (2022), Diário de Horrores (2017) ou Coletivo Terror (2020). E não simplesmente pelo fato de se aproximar do gênero de terror - como foi Versão de Testes, da 3.ª temporada - mas sim por sua falta de relação com a tecnologia.

O penúltimo episódio, Mazey Day, já dava indícios disso. Durante praticamente três quartos de sua duração, a trama parecia uma crítica à indústria da fama e dos paparazzi nos Estados Unidos, com referências tecnológicas em momentos que envolviam câmeras fotográficas ou rastreadores. Nos últimos minutos, porém, revela se tratar de uma história de lobisomem, com pegada mais sobrenatural, que continuou no derradeiro capítulo.

Cena do episódio 'Demônio 79', da 6.ª temporada de 'Black Mirror', categorizado como 'Red Mirror' pelo criador da série Foto: Reprodução de 'Black Mirror' (2023)/Netflix

‘Red Mirror’ - O que diz o criador da série?

Em entrevista ao Radio Times, o criador de Black Mirror, Charlie Brooker, deu explicações sobre o que seria o Red Mirror e abordou o último episódio: “Demônio 79 começa com um ‘Red Mirror apresenta’ na sequência do título, marcando-o como ‘diferente-de-ainda-que-adjacente-a’ Black Mirror. Isso porque, tipicamente, Black Mirror tem foco em distopias tecnológicas ou sátira midiática, enquanto essa história tem um elemento sobrenatural mais forte. O episódio é quase inclassificável”.

Questionado se podemos ter mais episódios ao estilo Red Mirror, respondeu: “Depende do que as pessoas pensarão e como receberão isso”. “Quando Black Mirror começou, em 2011, não havia muitos programas que se pareciam com ele”, destacou, frisando que, com o passar do tempo, as temáticas passaram a ser abordadas também por outras séries.

“Eu me coloquei na tarefa de: ‘E se eu pensar em algumas histórias que não têm a ver com tecnologia e tenham a ver com horror ou aconteçam no passado?’. Foi fazendo isso que chegamos ao episódio Demônio 79, que se passa em 1979 e é quase como se fosse uma peça complementar a Black Mirror

Cena do episódio 'Demônio 79', da 6.ª temporada de 'Black Mirror', categorizado como 'Red Mirror' pelo criador da série Foto: Reprodução de 'Black Mirror' (2023)/Netflix

Os episódios da 6.ª temporada de Black Mirror

Em A Joan É Péssima, uma mulher que, navegando num serviço semelhante à Netflix, descobre uma série sobre sua vida - resultado de termos de uso e políticas de privacidade que sempre assinou sem ler, somados à quantidade de eletrônicos que nos ‘monitoram’ constantemente e a um avanço da inteligência artificial. Tudo entra em parafuso e ela recorre a táticas extremas para tentar barrar a criação de novos episódios.

O 2º episódio, Loch Henry, traz um casal de cineastas que investiga um serial killer que passou pela cidade décadas antes. Em determinado momento, eles descobrem que os pais do próprio criador do documentário estavam envolvidos com os crimes que envolviam bizarras sessões de tortura e abuso. A tensão tecnológica aqui parece mais presente no retrato da indústria do streaming, e a forma problemática com a qual lida com séries de true crime.

No meio da 6.ª temporada, Beyond The Sea volta aos anos 1960 para uma versão paralela da corrida espacial em que os Estados Unidos consegue enviar dois astronautas para uma missão espacial ao mesmo tempo em que deixam uma réplica de seus corpos na Terra, com a qual podem transferir sua consciência e continuar convivendo em sociedade.

Charlie Brooker, criador de 'Black Mirror', recebe um prêmio Emmy em 2017 Foto: Mario Anzuoni/Reuters

Uma seita à la Manson Family assassina toda a família de um deles, fazendo com que o outro ‘empreste’ seu corpo terráqueo ao colega, o que obviamente trará complicações à relação entre eles. Apesar de alguns pontos soltos (como a razão pela qual foram enviados os astronautas originais ao espaço, em vez de a sua versão em réplica), remete ao caos trazido por uma tecnologia que o ser humano parece não se dar conta de todos os riscos ao utilizar.

Em Mazey Day, penúltimo episódio, a complicada relação dos paparazzi com artistas, remetendo a um passado próximo na década de 2000. Apesar de ser promissor e interessante em seus primeiros três quartos, no fim, descamba para o sobrenatural em uma história de lobisomens que deixa a desejar. Indício do que viria a seguir.

Já o 5º e último episódio da 6.ª temporada, Demônio 79, parece o que mais se afasta de Black Mirror entre as quase três dezenas de episódios da série, conforme explicado acima.

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