AP - O cineasta Jay Roach geralmente tem um momento de pânico e dúvida antes do início da produção de um projeto.
É algo que Sydney Pollack, que foi seu mentor, certa vez garantiu que era normal. Ele também leu algo semelhante sobre Mike Nichols na biografia de Mark Harris. Boa companhia para se estar, claro, mas ainda não é a melhor sensação quando se está pensando “Eu cometi um erro terrível e como posso me livrar disso?”
Mas para seu mais recente projeto, Deserto Selvagem, sua primeira incursão em série de TV, ele não tinha isso. Atualmente com cinco de seus oito episódios disponíveis no Apple TV +, Deserto Selvagem é estrelada por Patricia Arquette como uma vigarista chamada Peggy Newman, uma ex-viciada e traficante que sobrevive no deserto do sul da Califórnia, trabalhando como uma garota de saloon em um parque temático do Velho Oeste. Seu marido (Matt Dillon) está na prisão. Sua mãe (Bernadette Peters) morreu recentemente. E seus irmãos mais rígidos (Christine Taylor e Keir O’Donnell) estão tentando vender a casa em que ela mora. Em uma tentativa de ganhar algum dinheiro extra para manter seu lugar, ela decide pegar o trabalho de detetive particular. E ela não é ruim nisso, embora seus métodos sejam diferentes de seu relutante chefe estilo Philip Marlowe (Brad Garrett).
Peggy, disse Roach, é como uma “Lucy Ricardo rock ‘n’ roll”, referindo-se à comediante do seriado I Love Lucy. Ela é disfuncional em um nível, mas também tem uma arrogância e confiança totalmente únicas que não são injustificadas, que ganham vida através da performance singular de Arquette, parcialmente inspirada em Patti Smith e The Runaways.
Roach conseguiu o roteiro – escrito por Nancy Fichman, Jennifer Hoppe (da série Nurse Jackie) e Katie Ford (do filme Miss Simpatia) – de Ben Stiller, um amigo de longa data que é produtor executivo, para ver se ele aceitaria dirigir o piloto. Em pouco tempo, Roach pediu para dirigir todos os oito episódios.
“Foi comovente e sombriamente engraçado”, disse ele. “Patricia falou sobre como as pessoas lidam e como uma personagem como Peggy pode ficar isolada, mas acaba reunindo outras pessoas perdidas. Achei isso muito comovente, essa ideia de lidar com a tragédia e o luto por meio de uma abordagem muito descentralizada da vida.”
Roach fez carreira na direção de longas-metragens, incluindo a trilogia Austin Powers, dois filmes da tetralogia Entrando Numa Fria, Esquentando o Alasca e, mais recentemente, O Escândalo, bem como aclamados dramas políticos da HBO como Recontagem e Virada no Jogo, ambos lhe renderam Emmys.
Embora ainda esteja desenvolvendo filmes, incluindo uma glamourosa nova versão de Onze Homens e um Segredo, ambientada em Monte Carlo em 1962 e estrelada por Margot Robbie e Ryan Gosling, Roach está interessado em mergulhar em narrativas de formato mais longo.
“Você se aprofunda mais e desenvolve melhor os personagens em um conjunto complicado de situações”, disse Roach. “Como consumidor de uma ótima série de formato longo, adoro ter tempo para conhecer as pessoas, descobrir o que realmente as motiva e que faz me perder em sua situação com elas. O fator empatia pode ser ainda mais forte.”
Além disso, o deserto é um lugar que ele conhece bem. Roach cresceu nos arredores de Albuquerque, Novo México. A série seria no deserto de Mojave, em Yucca Valley, Califórnia, uma cidade cercada pelas montanhas de San Bernardino e o Parque Nacional Joshua Tree. É o tipo de lugar onde, ao lado de um barraco de madeira compensado em ruínas, não é incomum ver um único poste com um carregador Tesla.
“Em Joshua Tree, todo mundo é um pouco rebelde e recluso ou, você sabe, um certo tipo de refugiado”, disse ele. “Todo o tipo de pessoa vai para lá como fuga e elas acabam por conviver umas com as outras. Há muitas contradições e um forte senso de comunidade, porque há quase uma união para se enfrentar os desafios da sobrevivência.”
Para a série, isso significou personagens maiores que a vida, que também estão fazendo uma busca genuína pela alma, como o “Guru Bob” de Rupert Friend, um ex-locutor local que teve um colapso no ar e se refez como um autodenominado guru no deserto. Ele também está sendo caçado por algumas pessoas más.
“Todo mundo é tão peculiar por aí, então vamos encontrar absurdo, ironia, comédia”, disse ele. “O tom é complicado, no entanto. Às vezes fica amplo e ridículo, mas volta a ser algo muito, muito emocional.”
O elenco foi fundamental – um grupo de atores “capazes de fazer comédia”, disse Roach, mesmo que não sejam conhecidos pela graça. A música também ajudou enormemente. Da supervisora musical Maggie Phillips ao elenco, todos tinham algo a contribuir.
As opções de trilha sonora variam entre o atrevido Nice Work if You Can Get It, de Mel Tormé, e Frank Sinatra cantando I’ve Got the World on a String, para o mais sincero e profundo cover de Kevin Morby & Waxahatchee para Farewell Transmission e o destruidor de corações de Ellen McIlwaine Can’t Find My Way Home, de 1972.
“Há uma série de canções que são pura ironia, que usamos no final dos episódios”, disse Roach. “Outras lhe dão permissão para se conectar a essas zonas emocionais.”
Roach ouvia a música de McIlwaine todos os dias enquanto rumava para o set. Parecia, para ele, o coração e o espírito do show.
Mesmo com a dificuldade de filmar durante a pandemia, os tetos orçamentários e o ritmo acelerado da televisão, foi uma de suas melhores experiências. As vibrações, ele disse, eram tão boas, que nunca “tentou sair disso”.