‘DNA do Crime’ transforma em série de ação os crimes de fronteira e a tecnologia de perícia criminal


Nova série policial da Netflix é inspirada em acontecimentos reais da violência na fronteira entre Brasil e Paraguai e mostra uso de DNA na perícia com consultores da polícia e do crime; conheça

Por Larissa Godoy

Com direção de Heitor Dhalia, DNA do Crime, série da Netflix, que estreia em 14 de novembro, aborda uma faceta do crime brasileiro pouco explorada do nosso audiovisual: o crime nas fronteiras do País, com o domínio de cidades.

Uma dinâmica “100% brasileira”, descreve Dhalia, ao Estadão. ”Não existe igual. São cinematográficas as ações. Esses caras [os criminosos] são muito ousados. Eles atravessam uma fronteira riquíssima de 17 mil km do Brasil, que é vigiada pela Polícia Federal, e fazem o domínio de cidade em outro país. Depois fogem por diversas rotas para a Argentina, para o Brasil e para a Bolívia”.

Baseado em investigações e acontecimentos reais, DNA do Crime acompanha a saga do policial Benício, papel de Rômulo Braga, e da também policial Suellen, interpretada por Maeve Jinkings, na busca pela identidade de um grupo de criminosos responsável por um assalto de grandes proporções em uma seguradora do Paraguai, perto da fronteira com o Brasil.

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Rômulo Braga como Benício, Maeve Jinkins como Suellen em 'DNA do Crime' Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix

No entanto, para Benício, um policial que vive em função do trabalho, essa investigação assume também um caráter pessoal. Ele nutre a suspeita de que o mandante do crime na fronteira, conhecido como ‘Sem Alma’ e interpretado por Thomás Aquino, é o assassino de seu colega de patrulha. Essa tragédia ocorreu durante a invasão de um presídio brasileiro, e Benício carrega o fardo de culpa pela morte. Movido pela necessidade de justiça, ele torna sua missão pessoal capturar o responsável por esse crime.

Dualidades atravessadas

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Heitor Dhalia usa uma gíria do crime interessante para descrever os personagens transgressores que retrata em sua série: mente milionária. “É essa pessoa que tem uma mente genial. Ela consegue dominar a cidade de outro país. Ele podia estar no mercado financeiro, na política, mas está no crime”, explica.

Alex Nader como Isaac em 'DNA do Crime' Foto: ALISSONLOUBACK

Na ficção, algumas mentes milionárias têm sido o elemento que torna uma história digna de ser assistida. É o caso de Breaking Bad, com Walter White, cuja expertise em química o conduz para o perigoso mundo do tráfico de drogas. Ou ainda em Família Soprano, com Tony Soprano como chefe da máfia, que emprega sua inteligência e recursos para gerenciar seu império do crime enquanto enfrenta questões pessoais complexas.

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O diretor evoluiu a narrativa de forma a humanizar o ‘Sem Alma’. Ao mostrar suas motivações, dilemas pessoais e, às vezes, seus momentos de vulnerabilidade, a série desafia estereótipos. O mesmo ocorre do lado oposto, com os policiais. ”Quisemos fazer personagens interessantes nas duas pontas. Porque eles são assim, de fato… complexos. Tem gente brilhante nas duas pontas”, conta Dhalia.

“Acho que a audiência opta por acompanhar os protagonistas e os antagonistas. Mas eu gostaria que não escolhessem [um lado]. Não foi só o bandido que fez a escolha dele ou a polícia que fez a escolha dela. Somos nós, como País, e o que escolhemos como povo, como educação, como segurança, como tudo. E o reflexo é essa ponta que mostramos na série.”

Heitor Dhalia (Diretor) em 'DNA do Crime' Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback / Netflix
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Lastro com a realidade

DNA do Crime tem sua origem em 2020, durante a pandemia. Motivado pela sua curiosidade em relação ao tema, o diretor Heitor embarcou em uma extensa pesquisa sobre o assunto.

A história passou a ser desenvolvida com a ajuda de consultores - tanto da polícia quanto do crime. Heitor falou com com policiais e egressos do sistema penitenciário para garantir cenas muito críveis de ação e perseguição (que são realmente muito boas). “Nada da série é sem base no real. Tudo tem um lastro. Tem um fundo ali de verdade, mesmo transformado, mesmo modificado”, diz.

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Para registros históricos, a série também retrata um avanço interessante dentro da polícia brasileira quando, a partir da iniciativa do trabalho da perícia com a coleta de DNA, foi possível aumentar o banco de dados e, consequentemente, prender os criminosos. A iniciativa rendeu ao Brasil o prêmio DNA Hit Of The Year 2020, conhecido como “Oscar do DNA”, que nunca antes havia sido concedido a uma equipe brasileira.

Giovanni di Lorenzi como Yuri, Mari Oliveira como Maria Clara Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix.

Análise: é preciso cruzar a fronteira do 6º episódio...

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Para Rômulo, dar vida a Benício foi uma oportunidade de se aproximar de uma realidade que chega imbuída de vieses. “Cada profissional carrega o seu arquétipo, a sua entidade policial, que é a representação de um Estado. Esse corpo estereotipado que a gente vê, ele existe e continua existindo. Mas o que eu aprendi, para além dessa entidade policial, é que essa série traz essa outra camada, ela aprofunda nessa camada subjetiva de cada um dos personagens.”

Maeve concorda: “Sinto que eu tenho ferramentas melhores de empatia para me aproximar da humanidade desses profissionais”. Com Suellen, a atriz foi destaque em DNA do Crime desde o início. Maeve imprime autoridade e entrega humor num tempo perfeito. Com a sua personagem, aborda não só a questão da escassa representatividade feminina dentro da polícia, um ambiente masculino, mas também as consequências disso para a família. “Gosto do dilema da personagem na série, o que representa colocar uma mulher nesse cenário, tendo tão poucas nesse gênero. E a curva dela me interessa muito. A questão de ela querer ‘ser pai’. É rico poder explorar uma coisa tão diferente”.

Maeve Jinkins como Suellen Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix.

Os protagonistas — e a quebra de paradigmas

A partir de uma questão inicial específica, a série inicia uma trama que se ramifica em uma rede intrincada de motivações. Inicialmente, a série parece focar principalmente na busca pessoal de Benício. No entanto, à medida que o ‘mistério’ central se desenrola rapidamente, os episódios subsequentes podem deixar o público dividido quanto à direção que a história pretende tomar.

Do lado dos criminosos, é difícil manter uma conexão com a variedade de personagens apresentados. Os contextos de cada personagem não são plenamente desenvolvidos. Essa dificuldade em estabelecer empatia e interesse pelo elenco é um ponto crítico a ser considerado. Afinal, a qualidade do desenvolvimento dos personagens desempenha um papel fundamental na capacidade da série de manter o público envolvido e emocionalmente investido na trama.

Mas existe um momento decisivo na trama. Dividida em oito episódios, a série poderia ser dividida em dois atos. No primeiro, que abrange pouco mais da metade da temporada, é quando conhecemos os personagens de forma ininterruptamente. Já no segundo ato, é quando a série deslancha. A partir do sexto episódio, elementos cruciais para o desenvolvimento da narrativa são revelados. DNA do Crime fica completa quando se humaniza. Em sua complexa trama de dualidades e quebra de paradigmas, DNA do Crime convida o público a explorar as motivações e dilemas de personagens que habitam um mundo sombrio e desafiador.

Com direção de Heitor Dhalia, DNA do Crime, série da Netflix, que estreia em 14 de novembro, aborda uma faceta do crime brasileiro pouco explorada do nosso audiovisual: o crime nas fronteiras do País, com o domínio de cidades.

Uma dinâmica “100% brasileira”, descreve Dhalia, ao Estadão. ”Não existe igual. São cinematográficas as ações. Esses caras [os criminosos] são muito ousados. Eles atravessam uma fronteira riquíssima de 17 mil km do Brasil, que é vigiada pela Polícia Federal, e fazem o domínio de cidade em outro país. Depois fogem por diversas rotas para a Argentina, para o Brasil e para a Bolívia”.

Baseado em investigações e acontecimentos reais, DNA do Crime acompanha a saga do policial Benício, papel de Rômulo Braga, e da também policial Suellen, interpretada por Maeve Jinkings, na busca pela identidade de um grupo de criminosos responsável por um assalto de grandes proporções em uma seguradora do Paraguai, perto da fronteira com o Brasil.

Rômulo Braga como Benício, Maeve Jinkins como Suellen em 'DNA do Crime' Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix

No entanto, para Benício, um policial que vive em função do trabalho, essa investigação assume também um caráter pessoal. Ele nutre a suspeita de que o mandante do crime na fronteira, conhecido como ‘Sem Alma’ e interpretado por Thomás Aquino, é o assassino de seu colega de patrulha. Essa tragédia ocorreu durante a invasão de um presídio brasileiro, e Benício carrega o fardo de culpa pela morte. Movido pela necessidade de justiça, ele torna sua missão pessoal capturar o responsável por esse crime.

Dualidades atravessadas

Heitor Dhalia usa uma gíria do crime interessante para descrever os personagens transgressores que retrata em sua série: mente milionária. “É essa pessoa que tem uma mente genial. Ela consegue dominar a cidade de outro país. Ele podia estar no mercado financeiro, na política, mas está no crime”, explica.

Alex Nader como Isaac em 'DNA do Crime' Foto: ALISSONLOUBACK

Na ficção, algumas mentes milionárias têm sido o elemento que torna uma história digna de ser assistida. É o caso de Breaking Bad, com Walter White, cuja expertise em química o conduz para o perigoso mundo do tráfico de drogas. Ou ainda em Família Soprano, com Tony Soprano como chefe da máfia, que emprega sua inteligência e recursos para gerenciar seu império do crime enquanto enfrenta questões pessoais complexas.

O diretor evoluiu a narrativa de forma a humanizar o ‘Sem Alma’. Ao mostrar suas motivações, dilemas pessoais e, às vezes, seus momentos de vulnerabilidade, a série desafia estereótipos. O mesmo ocorre do lado oposto, com os policiais. ”Quisemos fazer personagens interessantes nas duas pontas. Porque eles são assim, de fato… complexos. Tem gente brilhante nas duas pontas”, conta Dhalia.

“Acho que a audiência opta por acompanhar os protagonistas e os antagonistas. Mas eu gostaria que não escolhessem [um lado]. Não foi só o bandido que fez a escolha dele ou a polícia que fez a escolha dela. Somos nós, como País, e o que escolhemos como povo, como educação, como segurança, como tudo. E o reflexo é essa ponta que mostramos na série.”

Heitor Dhalia (Diretor) em 'DNA do Crime' Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback / Netflix

Lastro com a realidade

DNA do Crime tem sua origem em 2020, durante a pandemia. Motivado pela sua curiosidade em relação ao tema, o diretor Heitor embarcou em uma extensa pesquisa sobre o assunto.

A história passou a ser desenvolvida com a ajuda de consultores - tanto da polícia quanto do crime. Heitor falou com com policiais e egressos do sistema penitenciário para garantir cenas muito críveis de ação e perseguição (que são realmente muito boas). “Nada da série é sem base no real. Tudo tem um lastro. Tem um fundo ali de verdade, mesmo transformado, mesmo modificado”, diz.

Para registros históricos, a série também retrata um avanço interessante dentro da polícia brasileira quando, a partir da iniciativa do trabalho da perícia com a coleta de DNA, foi possível aumentar o banco de dados e, consequentemente, prender os criminosos. A iniciativa rendeu ao Brasil o prêmio DNA Hit Of The Year 2020, conhecido como “Oscar do DNA”, que nunca antes havia sido concedido a uma equipe brasileira.

Giovanni di Lorenzi como Yuri, Mari Oliveira como Maria Clara Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix.

Análise: é preciso cruzar a fronteira do 6º episódio...

Para Rômulo, dar vida a Benício foi uma oportunidade de se aproximar de uma realidade que chega imbuída de vieses. “Cada profissional carrega o seu arquétipo, a sua entidade policial, que é a representação de um Estado. Esse corpo estereotipado que a gente vê, ele existe e continua existindo. Mas o que eu aprendi, para além dessa entidade policial, é que essa série traz essa outra camada, ela aprofunda nessa camada subjetiva de cada um dos personagens.”

Maeve concorda: “Sinto que eu tenho ferramentas melhores de empatia para me aproximar da humanidade desses profissionais”. Com Suellen, a atriz foi destaque em DNA do Crime desde o início. Maeve imprime autoridade e entrega humor num tempo perfeito. Com a sua personagem, aborda não só a questão da escassa representatividade feminina dentro da polícia, um ambiente masculino, mas também as consequências disso para a família. “Gosto do dilema da personagem na série, o que representa colocar uma mulher nesse cenário, tendo tão poucas nesse gênero. E a curva dela me interessa muito. A questão de ela querer ‘ser pai’. É rico poder explorar uma coisa tão diferente”.

Maeve Jinkins como Suellen Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix.

Os protagonistas — e a quebra de paradigmas

A partir de uma questão inicial específica, a série inicia uma trama que se ramifica em uma rede intrincada de motivações. Inicialmente, a série parece focar principalmente na busca pessoal de Benício. No entanto, à medida que o ‘mistério’ central se desenrola rapidamente, os episódios subsequentes podem deixar o público dividido quanto à direção que a história pretende tomar.

Do lado dos criminosos, é difícil manter uma conexão com a variedade de personagens apresentados. Os contextos de cada personagem não são plenamente desenvolvidos. Essa dificuldade em estabelecer empatia e interesse pelo elenco é um ponto crítico a ser considerado. Afinal, a qualidade do desenvolvimento dos personagens desempenha um papel fundamental na capacidade da série de manter o público envolvido e emocionalmente investido na trama.

Mas existe um momento decisivo na trama. Dividida em oito episódios, a série poderia ser dividida em dois atos. No primeiro, que abrange pouco mais da metade da temporada, é quando conhecemos os personagens de forma ininterruptamente. Já no segundo ato, é quando a série deslancha. A partir do sexto episódio, elementos cruciais para o desenvolvimento da narrativa são revelados. DNA do Crime fica completa quando se humaniza. Em sua complexa trama de dualidades e quebra de paradigmas, DNA do Crime convida o público a explorar as motivações e dilemas de personagens que habitam um mundo sombrio e desafiador.

Com direção de Heitor Dhalia, DNA do Crime, série da Netflix, que estreia em 14 de novembro, aborda uma faceta do crime brasileiro pouco explorada do nosso audiovisual: o crime nas fronteiras do País, com o domínio de cidades.

Uma dinâmica “100% brasileira”, descreve Dhalia, ao Estadão. ”Não existe igual. São cinematográficas as ações. Esses caras [os criminosos] são muito ousados. Eles atravessam uma fronteira riquíssima de 17 mil km do Brasil, que é vigiada pela Polícia Federal, e fazem o domínio de cidade em outro país. Depois fogem por diversas rotas para a Argentina, para o Brasil e para a Bolívia”.

Baseado em investigações e acontecimentos reais, DNA do Crime acompanha a saga do policial Benício, papel de Rômulo Braga, e da também policial Suellen, interpretada por Maeve Jinkings, na busca pela identidade de um grupo de criminosos responsável por um assalto de grandes proporções em uma seguradora do Paraguai, perto da fronteira com o Brasil.

Rômulo Braga como Benício, Maeve Jinkins como Suellen em 'DNA do Crime' Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix

No entanto, para Benício, um policial que vive em função do trabalho, essa investigação assume também um caráter pessoal. Ele nutre a suspeita de que o mandante do crime na fronteira, conhecido como ‘Sem Alma’ e interpretado por Thomás Aquino, é o assassino de seu colega de patrulha. Essa tragédia ocorreu durante a invasão de um presídio brasileiro, e Benício carrega o fardo de culpa pela morte. Movido pela necessidade de justiça, ele torna sua missão pessoal capturar o responsável por esse crime.

Dualidades atravessadas

Heitor Dhalia usa uma gíria do crime interessante para descrever os personagens transgressores que retrata em sua série: mente milionária. “É essa pessoa que tem uma mente genial. Ela consegue dominar a cidade de outro país. Ele podia estar no mercado financeiro, na política, mas está no crime”, explica.

Alex Nader como Isaac em 'DNA do Crime' Foto: ALISSONLOUBACK

Na ficção, algumas mentes milionárias têm sido o elemento que torna uma história digna de ser assistida. É o caso de Breaking Bad, com Walter White, cuja expertise em química o conduz para o perigoso mundo do tráfico de drogas. Ou ainda em Família Soprano, com Tony Soprano como chefe da máfia, que emprega sua inteligência e recursos para gerenciar seu império do crime enquanto enfrenta questões pessoais complexas.

O diretor evoluiu a narrativa de forma a humanizar o ‘Sem Alma’. Ao mostrar suas motivações, dilemas pessoais e, às vezes, seus momentos de vulnerabilidade, a série desafia estereótipos. O mesmo ocorre do lado oposto, com os policiais. ”Quisemos fazer personagens interessantes nas duas pontas. Porque eles são assim, de fato… complexos. Tem gente brilhante nas duas pontas”, conta Dhalia.

“Acho que a audiência opta por acompanhar os protagonistas e os antagonistas. Mas eu gostaria que não escolhessem [um lado]. Não foi só o bandido que fez a escolha dele ou a polícia que fez a escolha dela. Somos nós, como País, e o que escolhemos como povo, como educação, como segurança, como tudo. E o reflexo é essa ponta que mostramos na série.”

Heitor Dhalia (Diretor) em 'DNA do Crime' Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback / Netflix

Lastro com a realidade

DNA do Crime tem sua origem em 2020, durante a pandemia. Motivado pela sua curiosidade em relação ao tema, o diretor Heitor embarcou em uma extensa pesquisa sobre o assunto.

A história passou a ser desenvolvida com a ajuda de consultores - tanto da polícia quanto do crime. Heitor falou com com policiais e egressos do sistema penitenciário para garantir cenas muito críveis de ação e perseguição (que são realmente muito boas). “Nada da série é sem base no real. Tudo tem um lastro. Tem um fundo ali de verdade, mesmo transformado, mesmo modificado”, diz.

Para registros históricos, a série também retrata um avanço interessante dentro da polícia brasileira quando, a partir da iniciativa do trabalho da perícia com a coleta de DNA, foi possível aumentar o banco de dados e, consequentemente, prender os criminosos. A iniciativa rendeu ao Brasil o prêmio DNA Hit Of The Year 2020, conhecido como “Oscar do DNA”, que nunca antes havia sido concedido a uma equipe brasileira.

Giovanni di Lorenzi como Yuri, Mari Oliveira como Maria Clara Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix.

Análise: é preciso cruzar a fronteira do 6º episódio...

Para Rômulo, dar vida a Benício foi uma oportunidade de se aproximar de uma realidade que chega imbuída de vieses. “Cada profissional carrega o seu arquétipo, a sua entidade policial, que é a representação de um Estado. Esse corpo estereotipado que a gente vê, ele existe e continua existindo. Mas o que eu aprendi, para além dessa entidade policial, é que essa série traz essa outra camada, ela aprofunda nessa camada subjetiva de cada um dos personagens.”

Maeve concorda: “Sinto que eu tenho ferramentas melhores de empatia para me aproximar da humanidade desses profissionais”. Com Suellen, a atriz foi destaque em DNA do Crime desde o início. Maeve imprime autoridade e entrega humor num tempo perfeito. Com a sua personagem, aborda não só a questão da escassa representatividade feminina dentro da polícia, um ambiente masculino, mas também as consequências disso para a família. “Gosto do dilema da personagem na série, o que representa colocar uma mulher nesse cenário, tendo tão poucas nesse gênero. E a curva dela me interessa muito. A questão de ela querer ‘ser pai’. É rico poder explorar uma coisa tão diferente”.

Maeve Jinkins como Suellen Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix.

Os protagonistas — e a quebra de paradigmas

A partir de uma questão inicial específica, a série inicia uma trama que se ramifica em uma rede intrincada de motivações. Inicialmente, a série parece focar principalmente na busca pessoal de Benício. No entanto, à medida que o ‘mistério’ central se desenrola rapidamente, os episódios subsequentes podem deixar o público dividido quanto à direção que a história pretende tomar.

Do lado dos criminosos, é difícil manter uma conexão com a variedade de personagens apresentados. Os contextos de cada personagem não são plenamente desenvolvidos. Essa dificuldade em estabelecer empatia e interesse pelo elenco é um ponto crítico a ser considerado. Afinal, a qualidade do desenvolvimento dos personagens desempenha um papel fundamental na capacidade da série de manter o público envolvido e emocionalmente investido na trama.

Mas existe um momento decisivo na trama. Dividida em oito episódios, a série poderia ser dividida em dois atos. No primeiro, que abrange pouco mais da metade da temporada, é quando conhecemos os personagens de forma ininterruptamente. Já no segundo ato, é quando a série deslancha. A partir do sexto episódio, elementos cruciais para o desenvolvimento da narrativa são revelados. DNA do Crime fica completa quando se humaniza. Em sua complexa trama de dualidades e quebra de paradigmas, DNA do Crime convida o público a explorar as motivações e dilemas de personagens que habitam um mundo sombrio e desafiador.

Com direção de Heitor Dhalia, DNA do Crime, série da Netflix, que estreia em 14 de novembro, aborda uma faceta do crime brasileiro pouco explorada do nosso audiovisual: o crime nas fronteiras do País, com o domínio de cidades.

Uma dinâmica “100% brasileira”, descreve Dhalia, ao Estadão. ”Não existe igual. São cinematográficas as ações. Esses caras [os criminosos] são muito ousados. Eles atravessam uma fronteira riquíssima de 17 mil km do Brasil, que é vigiada pela Polícia Federal, e fazem o domínio de cidade em outro país. Depois fogem por diversas rotas para a Argentina, para o Brasil e para a Bolívia”.

Baseado em investigações e acontecimentos reais, DNA do Crime acompanha a saga do policial Benício, papel de Rômulo Braga, e da também policial Suellen, interpretada por Maeve Jinkings, na busca pela identidade de um grupo de criminosos responsável por um assalto de grandes proporções em uma seguradora do Paraguai, perto da fronteira com o Brasil.

Rômulo Braga como Benício, Maeve Jinkins como Suellen em 'DNA do Crime' Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix

No entanto, para Benício, um policial que vive em função do trabalho, essa investigação assume também um caráter pessoal. Ele nutre a suspeita de que o mandante do crime na fronteira, conhecido como ‘Sem Alma’ e interpretado por Thomás Aquino, é o assassino de seu colega de patrulha. Essa tragédia ocorreu durante a invasão de um presídio brasileiro, e Benício carrega o fardo de culpa pela morte. Movido pela necessidade de justiça, ele torna sua missão pessoal capturar o responsável por esse crime.

Dualidades atravessadas

Heitor Dhalia usa uma gíria do crime interessante para descrever os personagens transgressores que retrata em sua série: mente milionária. “É essa pessoa que tem uma mente genial. Ela consegue dominar a cidade de outro país. Ele podia estar no mercado financeiro, na política, mas está no crime”, explica.

Alex Nader como Isaac em 'DNA do Crime' Foto: ALISSONLOUBACK

Na ficção, algumas mentes milionárias têm sido o elemento que torna uma história digna de ser assistida. É o caso de Breaking Bad, com Walter White, cuja expertise em química o conduz para o perigoso mundo do tráfico de drogas. Ou ainda em Família Soprano, com Tony Soprano como chefe da máfia, que emprega sua inteligência e recursos para gerenciar seu império do crime enquanto enfrenta questões pessoais complexas.

O diretor evoluiu a narrativa de forma a humanizar o ‘Sem Alma’. Ao mostrar suas motivações, dilemas pessoais e, às vezes, seus momentos de vulnerabilidade, a série desafia estereótipos. O mesmo ocorre do lado oposto, com os policiais. ”Quisemos fazer personagens interessantes nas duas pontas. Porque eles são assim, de fato… complexos. Tem gente brilhante nas duas pontas”, conta Dhalia.

“Acho que a audiência opta por acompanhar os protagonistas e os antagonistas. Mas eu gostaria que não escolhessem [um lado]. Não foi só o bandido que fez a escolha dele ou a polícia que fez a escolha dela. Somos nós, como País, e o que escolhemos como povo, como educação, como segurança, como tudo. E o reflexo é essa ponta que mostramos na série.”

Heitor Dhalia (Diretor) em 'DNA do Crime' Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback / Netflix

Lastro com a realidade

DNA do Crime tem sua origem em 2020, durante a pandemia. Motivado pela sua curiosidade em relação ao tema, o diretor Heitor embarcou em uma extensa pesquisa sobre o assunto.

A história passou a ser desenvolvida com a ajuda de consultores - tanto da polícia quanto do crime. Heitor falou com com policiais e egressos do sistema penitenciário para garantir cenas muito críveis de ação e perseguição (que são realmente muito boas). “Nada da série é sem base no real. Tudo tem um lastro. Tem um fundo ali de verdade, mesmo transformado, mesmo modificado”, diz.

Para registros históricos, a série também retrata um avanço interessante dentro da polícia brasileira quando, a partir da iniciativa do trabalho da perícia com a coleta de DNA, foi possível aumentar o banco de dados e, consequentemente, prender os criminosos. A iniciativa rendeu ao Brasil o prêmio DNA Hit Of The Year 2020, conhecido como “Oscar do DNA”, que nunca antes havia sido concedido a uma equipe brasileira.

Giovanni di Lorenzi como Yuri, Mari Oliveira como Maria Clara Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix.

Análise: é preciso cruzar a fronteira do 6º episódio...

Para Rômulo, dar vida a Benício foi uma oportunidade de se aproximar de uma realidade que chega imbuída de vieses. “Cada profissional carrega o seu arquétipo, a sua entidade policial, que é a representação de um Estado. Esse corpo estereotipado que a gente vê, ele existe e continua existindo. Mas o que eu aprendi, para além dessa entidade policial, é que essa série traz essa outra camada, ela aprofunda nessa camada subjetiva de cada um dos personagens.”

Maeve concorda: “Sinto que eu tenho ferramentas melhores de empatia para me aproximar da humanidade desses profissionais”. Com Suellen, a atriz foi destaque em DNA do Crime desde o início. Maeve imprime autoridade e entrega humor num tempo perfeito. Com a sua personagem, aborda não só a questão da escassa representatividade feminina dentro da polícia, um ambiente masculino, mas também as consequências disso para a família. “Gosto do dilema da personagem na série, o que representa colocar uma mulher nesse cenário, tendo tão poucas nesse gênero. E a curva dela me interessa muito. A questão de ela querer ‘ser pai’. É rico poder explorar uma coisa tão diferente”.

Maeve Jinkins como Suellen Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix.

Os protagonistas — e a quebra de paradigmas

A partir de uma questão inicial específica, a série inicia uma trama que se ramifica em uma rede intrincada de motivações. Inicialmente, a série parece focar principalmente na busca pessoal de Benício. No entanto, à medida que o ‘mistério’ central se desenrola rapidamente, os episódios subsequentes podem deixar o público dividido quanto à direção que a história pretende tomar.

Do lado dos criminosos, é difícil manter uma conexão com a variedade de personagens apresentados. Os contextos de cada personagem não são plenamente desenvolvidos. Essa dificuldade em estabelecer empatia e interesse pelo elenco é um ponto crítico a ser considerado. Afinal, a qualidade do desenvolvimento dos personagens desempenha um papel fundamental na capacidade da série de manter o público envolvido e emocionalmente investido na trama.

Mas existe um momento decisivo na trama. Dividida em oito episódios, a série poderia ser dividida em dois atos. No primeiro, que abrange pouco mais da metade da temporada, é quando conhecemos os personagens de forma ininterruptamente. Já no segundo ato, é quando a série deslancha. A partir do sexto episódio, elementos cruciais para o desenvolvimento da narrativa são revelados. DNA do Crime fica completa quando se humaniza. Em sua complexa trama de dualidades e quebra de paradigmas, DNA do Crime convida o público a explorar as motivações e dilemas de personagens que habitam um mundo sombrio e desafiador.

Com direção de Heitor Dhalia, DNA do Crime, série da Netflix, que estreia em 14 de novembro, aborda uma faceta do crime brasileiro pouco explorada do nosso audiovisual: o crime nas fronteiras do País, com o domínio de cidades.

Uma dinâmica “100% brasileira”, descreve Dhalia, ao Estadão. ”Não existe igual. São cinematográficas as ações. Esses caras [os criminosos] são muito ousados. Eles atravessam uma fronteira riquíssima de 17 mil km do Brasil, que é vigiada pela Polícia Federal, e fazem o domínio de cidade em outro país. Depois fogem por diversas rotas para a Argentina, para o Brasil e para a Bolívia”.

Baseado em investigações e acontecimentos reais, DNA do Crime acompanha a saga do policial Benício, papel de Rômulo Braga, e da também policial Suellen, interpretada por Maeve Jinkings, na busca pela identidade de um grupo de criminosos responsável por um assalto de grandes proporções em uma seguradora do Paraguai, perto da fronteira com o Brasil.

Rômulo Braga como Benício, Maeve Jinkins como Suellen em 'DNA do Crime' Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix

No entanto, para Benício, um policial que vive em função do trabalho, essa investigação assume também um caráter pessoal. Ele nutre a suspeita de que o mandante do crime na fronteira, conhecido como ‘Sem Alma’ e interpretado por Thomás Aquino, é o assassino de seu colega de patrulha. Essa tragédia ocorreu durante a invasão de um presídio brasileiro, e Benício carrega o fardo de culpa pela morte. Movido pela necessidade de justiça, ele torna sua missão pessoal capturar o responsável por esse crime.

Dualidades atravessadas

Heitor Dhalia usa uma gíria do crime interessante para descrever os personagens transgressores que retrata em sua série: mente milionária. “É essa pessoa que tem uma mente genial. Ela consegue dominar a cidade de outro país. Ele podia estar no mercado financeiro, na política, mas está no crime”, explica.

Alex Nader como Isaac em 'DNA do Crime' Foto: ALISSONLOUBACK

Na ficção, algumas mentes milionárias têm sido o elemento que torna uma história digna de ser assistida. É o caso de Breaking Bad, com Walter White, cuja expertise em química o conduz para o perigoso mundo do tráfico de drogas. Ou ainda em Família Soprano, com Tony Soprano como chefe da máfia, que emprega sua inteligência e recursos para gerenciar seu império do crime enquanto enfrenta questões pessoais complexas.

O diretor evoluiu a narrativa de forma a humanizar o ‘Sem Alma’. Ao mostrar suas motivações, dilemas pessoais e, às vezes, seus momentos de vulnerabilidade, a série desafia estereótipos. O mesmo ocorre do lado oposto, com os policiais. ”Quisemos fazer personagens interessantes nas duas pontas. Porque eles são assim, de fato… complexos. Tem gente brilhante nas duas pontas”, conta Dhalia.

“Acho que a audiência opta por acompanhar os protagonistas e os antagonistas. Mas eu gostaria que não escolhessem [um lado]. Não foi só o bandido que fez a escolha dele ou a polícia que fez a escolha dela. Somos nós, como País, e o que escolhemos como povo, como educação, como segurança, como tudo. E o reflexo é essa ponta que mostramos na série.”

Heitor Dhalia (Diretor) em 'DNA do Crime' Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback / Netflix

Lastro com a realidade

DNA do Crime tem sua origem em 2020, durante a pandemia. Motivado pela sua curiosidade em relação ao tema, o diretor Heitor embarcou em uma extensa pesquisa sobre o assunto.

A história passou a ser desenvolvida com a ajuda de consultores - tanto da polícia quanto do crime. Heitor falou com com policiais e egressos do sistema penitenciário para garantir cenas muito críveis de ação e perseguição (que são realmente muito boas). “Nada da série é sem base no real. Tudo tem um lastro. Tem um fundo ali de verdade, mesmo transformado, mesmo modificado”, diz.

Para registros históricos, a série também retrata um avanço interessante dentro da polícia brasileira quando, a partir da iniciativa do trabalho da perícia com a coleta de DNA, foi possível aumentar o banco de dados e, consequentemente, prender os criminosos. A iniciativa rendeu ao Brasil o prêmio DNA Hit Of The Year 2020, conhecido como “Oscar do DNA”, que nunca antes havia sido concedido a uma equipe brasileira.

Giovanni di Lorenzi como Yuri, Mari Oliveira como Maria Clara Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix.

Análise: é preciso cruzar a fronteira do 6º episódio...

Para Rômulo, dar vida a Benício foi uma oportunidade de se aproximar de uma realidade que chega imbuída de vieses. “Cada profissional carrega o seu arquétipo, a sua entidade policial, que é a representação de um Estado. Esse corpo estereotipado que a gente vê, ele existe e continua existindo. Mas o que eu aprendi, para além dessa entidade policial, é que essa série traz essa outra camada, ela aprofunda nessa camada subjetiva de cada um dos personagens.”

Maeve concorda: “Sinto que eu tenho ferramentas melhores de empatia para me aproximar da humanidade desses profissionais”. Com Suellen, a atriz foi destaque em DNA do Crime desde o início. Maeve imprime autoridade e entrega humor num tempo perfeito. Com a sua personagem, aborda não só a questão da escassa representatividade feminina dentro da polícia, um ambiente masculino, mas também as consequências disso para a família. “Gosto do dilema da personagem na série, o que representa colocar uma mulher nesse cenário, tendo tão poucas nesse gênero. E a curva dela me interessa muito. A questão de ela querer ‘ser pai’. É rico poder explorar uma coisa tão diferente”.

Maeve Jinkins como Suellen Foto: Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix.

Os protagonistas — e a quebra de paradigmas

A partir de uma questão inicial específica, a série inicia uma trama que se ramifica em uma rede intrincada de motivações. Inicialmente, a série parece focar principalmente na busca pessoal de Benício. No entanto, à medida que o ‘mistério’ central se desenrola rapidamente, os episódios subsequentes podem deixar o público dividido quanto à direção que a história pretende tomar.

Do lado dos criminosos, é difícil manter uma conexão com a variedade de personagens apresentados. Os contextos de cada personagem não são plenamente desenvolvidos. Essa dificuldade em estabelecer empatia e interesse pelo elenco é um ponto crítico a ser considerado. Afinal, a qualidade do desenvolvimento dos personagens desempenha um papel fundamental na capacidade da série de manter o público envolvido e emocionalmente investido na trama.

Mas existe um momento decisivo na trama. Dividida em oito episódios, a série poderia ser dividida em dois atos. No primeiro, que abrange pouco mais da metade da temporada, é quando conhecemos os personagens de forma ininterruptamente. Já no segundo ato, é quando a série deslancha. A partir do sexto episódio, elementos cruciais para o desenvolvimento da narrativa são revelados. DNA do Crime fica completa quando se humaniza. Em sua complexa trama de dualidades e quebra de paradigmas, DNA do Crime convida o público a explorar as motivações e dilemas de personagens que habitam um mundo sombrio e desafiador.

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