Em 'Dr. Death', Joshua Jackson interpreta médico que matou e deixou sequelas em pacientes


Série baseada em fatos reais se inspira na história do dr. Christopher Duntsch

Por Mariane Morisawa

O Juramento de Hipócrates, que todo médico precisa dizer em sua formatura e que rege os princípios éticos da profissão, termina assim: “Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça”. Mas nem sempre os sistemas que existem para fiscalizar a ação ética de médicos, hospitais e planos de saúde funcionam a contento. 

Cena da série 'Dr. Death', com Joshua Jackson Foto: Starzplay

Uma prova é o dr. Christopher Duntsch que, ao longo de dois anos, causou danos em 33 de 38 pacientes e matou duas pessoas, para só então ter sua licença cassada pelo Conselho Regional de Medicina do Texas. Sua história está na série Dr. Death (“Dr. Morte”, na tradução livre), baseada em fatos e tema do podcast de mesmo nome que está disponível na Starzplay, com episódios novos estreando todos os domingos.  “Primeiro de tudo, é a história da escuridão e da luz que existem em cada um de nós”, disse Joshua Jackson, que interpreta o dr. Duntsch, em entrevista com participação do Estadão, por videoconferência. “Mas, principalmente, acho que é a história dos sistemas que protegem homens, especialmente homens brancos. E de como esses sistemas criados para beneficiar especificamente um tipo de pessoa são parciais em relação a quem entra nesse clubinho.”  O ator, que é canadense, mas mora há muito tempo nos Estados Unidos, criticou o sistema americano de saúde, que visa ao lucro e basicamente se autorregula. “Humanos têm a tendência de se fechar no grupinho e proteger os seus quando seu emprego, sua reputação, seu orgulho, seu ego são ameaçados, em vez de fazer o que deveriam, especialmente na profissão médica, que é ajudar e proteger seus pacientes, acima de tudo.”  Graças a essa tendência, o Dr. Duntsch foi seguindo adiante, completando sua residência médica em neurocirurgia com menos de cem operações, quando o normal é cerca de dez vezes mais que isso. No hospital Baylor Plano, foi alvo de investigação, mas saiu com uma carta de inocência, apesar de ter deixado um paciente paraplégico, outros três com sequelas graves e matado um. No Dallas Medical Center, uma paciente morreu e outra ficou paralisada. Foi lá que dois médicos, dr. Robert Henderson (interpretado por Alex Baldwin na série) e dr. Randall Kirby (Christian Slater), começaram a investigá-lo por negligência.  Para o showrunner Patrick Macmanus, era importante mostrar que há pessoas dispostas a fazer a coisa certa. “A série se chama Dr. Death, certo? Então é óbvio que vai ser algo sombrio”, disse. “Por isso, eu achava fundamental dar destaque aos heróis dessa história, que são Henderson e Kirby. São médicos, sem distintivos ou armas, apenas homens tentando descobrir por que alguém faria o que Duntsch fez.” É difícil de entender por que alguém agiria assim. Narcisismo, certamente, talvez com um toque de sociopatia. Joshua Jackson sabia dos riscos de fazer um personagem desses na televisão, que tende a pedir ao espectador para simpatizar com pessoas odiáveis e até torcer por elas. “Claro que era importante mostrar quais os caminhos que levaram Duntsch até o que ele se tornou”, afirmou o ator. “Mas tive todo o cuidado para não torná-lo sexy, para não glamourizá-lo ou glorificá-lo.” Jackson admitiu não ter sido nada fácil aceitar quem ele era. “Eu ficava querendo dar a ele alguma consciência de culpa, o que seria mais fácil para mim. Mas eu finalmente aceitei sua perspectiva. Em sua história, ele é o herói.”  Estar cara a cara com Duntsch não teria sido possível porque, na época em que a série estava sendo produzida, seus advogados estavam tentando uma apelação de sua condenação – ele cumpre prisão perpétua, e seu pedido foi negado. Mas Joshua Jackson acredita que um encontro não ajudaria muito na composição do personagem. “Na minha opinião, Duntsch ainda delira sobre quem ele é e o que ele é. Não ofereceria nenhum esclarecimento para mim.”  Patrick Macmanus confessou que gostaria de ter conhecido o homem que retrata na série. “Em seu testemunho, o dr. Henderson disse que houve um momento no julgamento em que Duntsch pareceu ter finalmente entendido o que tinha feito. Eu gostaria de perguntar se isso realmente aconteceu”, analisou. “É possível que negasse, dissesse que nunca fez nada de errado, porque ainda acho que ele é um sociopata. Mas eu estaria mentindo se não admitisse que gostaria de saber a resposta a essa questão.”

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O Juramento de Hipócrates, que todo médico precisa dizer em sua formatura e que rege os princípios éticos da profissão, termina assim: “Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça”. Mas nem sempre os sistemas que existem para fiscalizar a ação ética de médicos, hospitais e planos de saúde funcionam a contento. 

Cena da série 'Dr. Death', com Joshua Jackson Foto: Starzplay

Uma prova é o dr. Christopher Duntsch que, ao longo de dois anos, causou danos em 33 de 38 pacientes e matou duas pessoas, para só então ter sua licença cassada pelo Conselho Regional de Medicina do Texas. Sua história está na série Dr. Death (“Dr. Morte”, na tradução livre), baseada em fatos e tema do podcast de mesmo nome que está disponível na Starzplay, com episódios novos estreando todos os domingos.  “Primeiro de tudo, é a história da escuridão e da luz que existem em cada um de nós”, disse Joshua Jackson, que interpreta o dr. Duntsch, em entrevista com participação do Estadão, por videoconferência. “Mas, principalmente, acho que é a história dos sistemas que protegem homens, especialmente homens brancos. E de como esses sistemas criados para beneficiar especificamente um tipo de pessoa são parciais em relação a quem entra nesse clubinho.”  O ator, que é canadense, mas mora há muito tempo nos Estados Unidos, criticou o sistema americano de saúde, que visa ao lucro e basicamente se autorregula. “Humanos têm a tendência de se fechar no grupinho e proteger os seus quando seu emprego, sua reputação, seu orgulho, seu ego são ameaçados, em vez de fazer o que deveriam, especialmente na profissão médica, que é ajudar e proteger seus pacientes, acima de tudo.”  Graças a essa tendência, o Dr. Duntsch foi seguindo adiante, completando sua residência médica em neurocirurgia com menos de cem operações, quando o normal é cerca de dez vezes mais que isso. No hospital Baylor Plano, foi alvo de investigação, mas saiu com uma carta de inocência, apesar de ter deixado um paciente paraplégico, outros três com sequelas graves e matado um. No Dallas Medical Center, uma paciente morreu e outra ficou paralisada. Foi lá que dois médicos, dr. Robert Henderson (interpretado por Alex Baldwin na série) e dr. Randall Kirby (Christian Slater), começaram a investigá-lo por negligência.  Para o showrunner Patrick Macmanus, era importante mostrar que há pessoas dispostas a fazer a coisa certa. “A série se chama Dr. Death, certo? Então é óbvio que vai ser algo sombrio”, disse. “Por isso, eu achava fundamental dar destaque aos heróis dessa história, que são Henderson e Kirby. São médicos, sem distintivos ou armas, apenas homens tentando descobrir por que alguém faria o que Duntsch fez.” É difícil de entender por que alguém agiria assim. Narcisismo, certamente, talvez com um toque de sociopatia. Joshua Jackson sabia dos riscos de fazer um personagem desses na televisão, que tende a pedir ao espectador para simpatizar com pessoas odiáveis e até torcer por elas. “Claro que era importante mostrar quais os caminhos que levaram Duntsch até o que ele se tornou”, afirmou o ator. “Mas tive todo o cuidado para não torná-lo sexy, para não glamourizá-lo ou glorificá-lo.” Jackson admitiu não ter sido nada fácil aceitar quem ele era. “Eu ficava querendo dar a ele alguma consciência de culpa, o que seria mais fácil para mim. Mas eu finalmente aceitei sua perspectiva. Em sua história, ele é o herói.”  Estar cara a cara com Duntsch não teria sido possível porque, na época em que a série estava sendo produzida, seus advogados estavam tentando uma apelação de sua condenação – ele cumpre prisão perpétua, e seu pedido foi negado. Mas Joshua Jackson acredita que um encontro não ajudaria muito na composição do personagem. “Na minha opinião, Duntsch ainda delira sobre quem ele é e o que ele é. Não ofereceria nenhum esclarecimento para mim.”  Patrick Macmanus confessou que gostaria de ter conhecido o homem que retrata na série. “Em seu testemunho, o dr. Henderson disse que houve um momento no julgamento em que Duntsch pareceu ter finalmente entendido o que tinha feito. Eu gostaria de perguntar se isso realmente aconteceu”, analisou. “É possível que negasse, dissesse que nunca fez nada de errado, porque ainda acho que ele é um sociopata. Mas eu estaria mentindo se não admitisse que gostaria de saber a resposta a essa questão.”

O Juramento de Hipócrates, que todo médico precisa dizer em sua formatura e que rege os princípios éticos da profissão, termina assim: “Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça”. Mas nem sempre os sistemas que existem para fiscalizar a ação ética de médicos, hospitais e planos de saúde funcionam a contento. 

Cena da série 'Dr. Death', com Joshua Jackson Foto: Starzplay

Uma prova é o dr. Christopher Duntsch que, ao longo de dois anos, causou danos em 33 de 38 pacientes e matou duas pessoas, para só então ter sua licença cassada pelo Conselho Regional de Medicina do Texas. Sua história está na série Dr. Death (“Dr. Morte”, na tradução livre), baseada em fatos e tema do podcast de mesmo nome que está disponível na Starzplay, com episódios novos estreando todos os domingos.  “Primeiro de tudo, é a história da escuridão e da luz que existem em cada um de nós”, disse Joshua Jackson, que interpreta o dr. Duntsch, em entrevista com participação do Estadão, por videoconferência. “Mas, principalmente, acho que é a história dos sistemas que protegem homens, especialmente homens brancos. E de como esses sistemas criados para beneficiar especificamente um tipo de pessoa são parciais em relação a quem entra nesse clubinho.”  O ator, que é canadense, mas mora há muito tempo nos Estados Unidos, criticou o sistema americano de saúde, que visa ao lucro e basicamente se autorregula. “Humanos têm a tendência de se fechar no grupinho e proteger os seus quando seu emprego, sua reputação, seu orgulho, seu ego são ameaçados, em vez de fazer o que deveriam, especialmente na profissão médica, que é ajudar e proteger seus pacientes, acima de tudo.”  Graças a essa tendência, o Dr. Duntsch foi seguindo adiante, completando sua residência médica em neurocirurgia com menos de cem operações, quando o normal é cerca de dez vezes mais que isso. No hospital Baylor Plano, foi alvo de investigação, mas saiu com uma carta de inocência, apesar de ter deixado um paciente paraplégico, outros três com sequelas graves e matado um. No Dallas Medical Center, uma paciente morreu e outra ficou paralisada. Foi lá que dois médicos, dr. Robert Henderson (interpretado por Alex Baldwin na série) e dr. Randall Kirby (Christian Slater), começaram a investigá-lo por negligência.  Para o showrunner Patrick Macmanus, era importante mostrar que há pessoas dispostas a fazer a coisa certa. “A série se chama Dr. Death, certo? Então é óbvio que vai ser algo sombrio”, disse. “Por isso, eu achava fundamental dar destaque aos heróis dessa história, que são Henderson e Kirby. São médicos, sem distintivos ou armas, apenas homens tentando descobrir por que alguém faria o que Duntsch fez.” É difícil de entender por que alguém agiria assim. Narcisismo, certamente, talvez com um toque de sociopatia. Joshua Jackson sabia dos riscos de fazer um personagem desses na televisão, que tende a pedir ao espectador para simpatizar com pessoas odiáveis e até torcer por elas. “Claro que era importante mostrar quais os caminhos que levaram Duntsch até o que ele se tornou”, afirmou o ator. “Mas tive todo o cuidado para não torná-lo sexy, para não glamourizá-lo ou glorificá-lo.” Jackson admitiu não ter sido nada fácil aceitar quem ele era. “Eu ficava querendo dar a ele alguma consciência de culpa, o que seria mais fácil para mim. Mas eu finalmente aceitei sua perspectiva. Em sua história, ele é o herói.”  Estar cara a cara com Duntsch não teria sido possível porque, na época em que a série estava sendo produzida, seus advogados estavam tentando uma apelação de sua condenação – ele cumpre prisão perpétua, e seu pedido foi negado. Mas Joshua Jackson acredita que um encontro não ajudaria muito na composição do personagem. “Na minha opinião, Duntsch ainda delira sobre quem ele é e o que ele é. Não ofereceria nenhum esclarecimento para mim.”  Patrick Macmanus confessou que gostaria de ter conhecido o homem que retrata na série. “Em seu testemunho, o dr. Henderson disse que houve um momento no julgamento em que Duntsch pareceu ter finalmente entendido o que tinha feito. Eu gostaria de perguntar se isso realmente aconteceu”, analisou. “É possível que negasse, dissesse que nunca fez nada de errado, porque ainda acho que ele é um sociopata. Mas eu estaria mentindo se não admitisse que gostaria de saber a resposta a essa questão.”

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