‘Entrevista com o Vampiro’: Ben Daniels comenta o sangrento final da 2ª temporada (com spoilers)


Continuação da série inspirada nos livros de Anne Rice estreia no Prime Video nesta segunda, 22. O ator britânico comenta o destino de seu personagem e afirma: ‘Ele tem uma energia que a gente adora odiar’. Aliás, atenção aos spoilers

Por Sean T. Collins
Foto: AMC/Divulgação
Entrevista comBen DanielsAtor

Atenção: Esta entrevista contém spoilers do final da 2ª temporada de Entrevista com o Vampiro.

Até ver seu tempo em Entrevista com o Vampiro cortado – junto com sua cabeça – no final da segunda temporada, Santiago foi o grande destaque da cena teatral vampírica.

Interpretado pelo ator britânico Ben Daniels, veterano dos palcos e ganhador do Prêmio Olivier, Santiago foi um artista arrojado e diabólico no Théâtre des Vampires, na Paris do pós-guerra. Até então conhecido como Francis, um ator inglês fracassado, Santiago se transformou em dândi do submundo depois de se tornar um sugador de sangue – e adotar um nome mais bacana – raramente visto sem uma vampira em cada braço e um brilho teatralmente odioso nos olhos.

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“Ele é tão horrível e, ao mesmo tempo, tão delicioso!”, Daniels disse em entrevista por videochamada na semana passada. “E tem também o prazer, a alegria. Ele adora ser vampiro.”

Daniels acrescentou: “Ele tem uma energia que a gente adora odiar.”

Infelizmente para Santiago, o vampiro-título da série era quem mais o odiava. Ao longo da 2ª temporada, que chegou ao Prime Video nesta segunda, 22, Santiago assumiu o controle da trupe de teatro, que acabou virando um grupo de vampiros disfarçados. No clímax da temporada, Santiago encenou um julgamento de mentira que culminou na execução de verdade, por exposição à luz do sol, de Claudia (Delainey Hayles) e sua companheira, Madeleine (Roxane Duran). Foi por esse crime que Santiago perdeu a cabeça nas mãos da figura paterna, o vampiro Louis (Jacob Anderson), no episódio final.

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Baseada nos romances da série Vampire Chronicles (ou Crônicas Vampirescas), de Anne Rice, a série criada e supervisionada por Rolin Jones já foi renovada para a terceira temporada. Mas Daniels não lamenta muito que seu personagem não possa chegar até lá. Santiago merecia ser punido por mau comportamento – principalmente no final.

“Se você não queria que ele morresse antes”, disse Daniels, “com certeza vai querer agora.”

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Aqui vão trechos editados da conversa.

Se você é um ex-gótico que fazia teatro na escola e adorava o musical The Rocky Horror Picture Show, Santiago é uma figura muito magnética. Na série, ele tem fãs que assistem a todas as apresentações e se vestem como ele.

Rocky Horror foi uma grande influência, Rocky Horror e Cabaret. É muito bom que a atuação de Tim Curry em The Rocky Horror Show exista em vídeo, porque é uma das melhores performances de todos os tempos. Eu adoraria ter visto no teatro.

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Fiquei curioso para saber se houve alguma influência de David Bowie também.

Sim! Santiago vai ficando cada vez mais niilista, e eu pensei: “Isso é muito Thin White Duke” – aquela terrível frieza da cocaína. Aí mandei para a Carol Cutshall, a figurinista, inúmeras fotos de Bowie como o Thin White Duke. Se você comparar, vai ver que ela copiou quase tudo. Depois acrescentou uma camisa transparente, o que é genial.

Como presença na tela, Santiago precisa desse tipo de armadura. Ele tem que se defender dos “quatro grandes” da série, Louis, Lestat [Sam Reid], Claudia e Armand [Assad Zaman], mesmo que não esteja romântica ou emocionalmente envolvido com nenhum deles.

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Não está envolvido? [Sorrindo]

Bem...

Este foi um dos primeiros trabalhos que fiz sem pensar duas vezes, só porque significava trabalhar com Rolin. Logo no começo, Rolin me ligou e disse: “Escute, tudo bem para você se Santiago não for LGBT?” E eu fiquei, tipo, “Ok, tudo bem”.

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Mas, quando o roteiro foi chegando, pensei que a única maneira de esse nível de ódio funcionar seria se ele estivesse apaixonado por Armand. A psicologia tem um conceito extraordinário, chamado formação reativa, que é o que Iago tem com Otelo. É um mecanismo de defesa pelo qual seus impulsos são tão inaceitáveis para seu ego que são substituídos por esse comportamento oposto e exagerado.

Santiago acha Louis muito lindo. Como Armand matou o criador de Santiago – por quem acho que ele também estava apaixonado – e também acha Louis atraente, tudo precisa ser destruído. Isso deu um impulso gigantesco ao seu ódio. Foi algo fermentando dentro dele mesmo que o levou a atacar de um jeito tão agressivo, louco, extremo.

Assad Zaman (Armand) e Ben Daniels (Santiago) nos bastidores de 'Entrevista com o Vampiro'. Foto: @Immortal_AMC via Twitter

Você não é só um humano interpretando um vampiro interpretando um humano interpretando um vampiro. Você também é um ator de teatro interpretando um ator de teatro.

Quando filmamos a maior parte das coisas de teatro, no episódio 2, eu vinha fazendo Medea por uns três meses no West End de Londres. Terminei num domingo e na quarta ou quinta estava filmando toda aquela sequência. Então, já estava preparado quando Levan [o diretor do episódio 2, Levan Akin] disse: “Faça como se fosse uma performance teatral. Nós vamos cuidar do resto”. Eles filmaram tudo com quatro câmeras, então não sabíamos quando estávamos na tela ou não. Foi implacável e ele filmou de forma brilhante.

No episódio 7, pouco antes da morte de Claudia, estar naquele palco foi como fazer uma peça. Filmamos aquela sequência do tribunal em pedaços de quinze minutos. Foi uma coisa insana. Muitas vezes não havia câmeras no palco conosco. Ou elas estavam em gruas, ou então entravam e saíam, ou era só a Emma [a diretora do episódio 7, Emma Freeman] filmando, fazendo toda a cobertura de closes, para termos todas as atuações na hora, não depois de três ou quatro dias. Aí todas as câmeras sumiram. Virou uma peça.

Como ator, é complicado interpretar um ator com um... nível de talento diferente?

Coitado do Francis. Sim, ele nunca alcançou as alturas vertiginosas que gostaria de ter alcançado. Ele é um cavalo de circo, não é? Basicamente, eu era uma esponja, olhando para tudo, desde Vincent Price em As 7 Máscaras da Morte – bem, Vincent Price em muitas coisas, na verdade – até meu gato. Eu observava como meu gato brincava com ratos e pensava: “Quer saber? Vou roubar um pouco disso”.

Você sempre quis interpretar um vampiro?

Sim, sem dúvida. Eu adoro terror. É para isso que vivo. Cresci assistindo Christopher Lee como Drácula e William Marshall como Príncipe Mamuwalde em O Vampiro Negro. Muito elegante, teatral, uma voz incrível. Sou vidrado nesses vampiros desde pequeno.

Sempre gostei de terror. As crianças que são diferentes geralmente gostam. Quando você cresce como uma criança LGBT, vai percebendo que esses vilões e vampiros muitas vezes refletem o jeito como as pessoas tratam os gays. Está sempre presente, essa codificação queer. Nos filmes antigos de James Whale, ela está lá.

Mais do que qualquer outro escritor, Anne Rice identificou a tragédia na monstruosidade do vampiro. Eles são imortais, mas as pessoas que amam morrem, e essa experiência fica com eles literalmente para sempre.

Parte do motivo pelo qual não consigo assistir Vampiro agora é que meu parceiro acabou de morrer. As ressonâncias são enormes. A dor é uma [palavrão]. É como ser assaltado em plena luz do dia, você nunca sabe quando vai acontecer. E ela [Rice] explora tudo isso de forma brilhante.

Acho que em qualquer tipo de trabalho criativo você é uma esponja. Você absorve o que está acontecendo com você e com o mundo, e às vezes isso sangra e é útil. Estávamos filmando Vampiro quando Ian [seu parceiro, o ator Ian Gelder] recebeu o diagnóstico [de câncer de pulmão; Gelder depois foi diagnosticado com câncer no ducto biliar, do qual morreu no mês passado]. Quando comecei a assistir ao episódio 2, eu sabia que o que estava acontecendo na minha vida era uma coisa importante para minha atuação – e é claro que seria, ainda mais quando você está contando uma história sobre morte e morrer e matar pessoas e viver para sempre. Eu sabia das conversas que estava levando entre as tomadas... Foi muito difícil. Tinha muito a ver com a minha vida pessoal.

Mas [com o tempo] vou conseguir ver o que estava acontecendo com Ian, até mesmo na raiva que sinto dos outros personagens. Sei que isso influenciou minha atuação de algum jeito, espero que no bom sentido.

O que estou curtindo mesmo são as reações das pessoas. Rolin me ligou e disse: “É só dar um Google no seu nome, pesquisar ‘Ben Daniels Santiago’ no Twitter. Se você não for assistir, pelo menos veja a reação das pessoas”. Então, tenho vivido a reação das pessoas, o que tem sido ótimo./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Atenção: Esta entrevista contém spoilers do final da 2ª temporada de Entrevista com o Vampiro.

Até ver seu tempo em Entrevista com o Vampiro cortado – junto com sua cabeça – no final da segunda temporada, Santiago foi o grande destaque da cena teatral vampírica.

Interpretado pelo ator britânico Ben Daniels, veterano dos palcos e ganhador do Prêmio Olivier, Santiago foi um artista arrojado e diabólico no Théâtre des Vampires, na Paris do pós-guerra. Até então conhecido como Francis, um ator inglês fracassado, Santiago se transformou em dândi do submundo depois de se tornar um sugador de sangue – e adotar um nome mais bacana – raramente visto sem uma vampira em cada braço e um brilho teatralmente odioso nos olhos.

“Ele é tão horrível e, ao mesmo tempo, tão delicioso!”, Daniels disse em entrevista por videochamada na semana passada. “E tem também o prazer, a alegria. Ele adora ser vampiro.”

Daniels acrescentou: “Ele tem uma energia que a gente adora odiar.”

Infelizmente para Santiago, o vampiro-título da série era quem mais o odiava. Ao longo da 2ª temporada, que chegou ao Prime Video nesta segunda, 22, Santiago assumiu o controle da trupe de teatro, que acabou virando um grupo de vampiros disfarçados. No clímax da temporada, Santiago encenou um julgamento de mentira que culminou na execução de verdade, por exposição à luz do sol, de Claudia (Delainey Hayles) e sua companheira, Madeleine (Roxane Duran). Foi por esse crime que Santiago perdeu a cabeça nas mãos da figura paterna, o vampiro Louis (Jacob Anderson), no episódio final.

Baseada nos romances da série Vampire Chronicles (ou Crônicas Vampirescas), de Anne Rice, a série criada e supervisionada por Rolin Jones já foi renovada para a terceira temporada. Mas Daniels não lamenta muito que seu personagem não possa chegar até lá. Santiago merecia ser punido por mau comportamento – principalmente no final.

“Se você não queria que ele morresse antes”, disse Daniels, “com certeza vai querer agora.”

Aqui vão trechos editados da conversa.

Se você é um ex-gótico que fazia teatro na escola e adorava o musical The Rocky Horror Picture Show, Santiago é uma figura muito magnética. Na série, ele tem fãs que assistem a todas as apresentações e se vestem como ele.

Rocky Horror foi uma grande influência, Rocky Horror e Cabaret. É muito bom que a atuação de Tim Curry em The Rocky Horror Show exista em vídeo, porque é uma das melhores performances de todos os tempos. Eu adoraria ter visto no teatro.

Fiquei curioso para saber se houve alguma influência de David Bowie também.

Sim! Santiago vai ficando cada vez mais niilista, e eu pensei: “Isso é muito Thin White Duke” – aquela terrível frieza da cocaína. Aí mandei para a Carol Cutshall, a figurinista, inúmeras fotos de Bowie como o Thin White Duke. Se você comparar, vai ver que ela copiou quase tudo. Depois acrescentou uma camisa transparente, o que é genial.

Como presença na tela, Santiago precisa desse tipo de armadura. Ele tem que se defender dos “quatro grandes” da série, Louis, Lestat [Sam Reid], Claudia e Armand [Assad Zaman], mesmo que não esteja romântica ou emocionalmente envolvido com nenhum deles.

Não está envolvido? [Sorrindo]

Bem...

Este foi um dos primeiros trabalhos que fiz sem pensar duas vezes, só porque significava trabalhar com Rolin. Logo no começo, Rolin me ligou e disse: “Escute, tudo bem para você se Santiago não for LGBT?” E eu fiquei, tipo, “Ok, tudo bem”.

Mas, quando o roteiro foi chegando, pensei que a única maneira de esse nível de ódio funcionar seria se ele estivesse apaixonado por Armand. A psicologia tem um conceito extraordinário, chamado formação reativa, que é o que Iago tem com Otelo. É um mecanismo de defesa pelo qual seus impulsos são tão inaceitáveis para seu ego que são substituídos por esse comportamento oposto e exagerado.

Santiago acha Louis muito lindo. Como Armand matou o criador de Santiago – por quem acho que ele também estava apaixonado – e também acha Louis atraente, tudo precisa ser destruído. Isso deu um impulso gigantesco ao seu ódio. Foi algo fermentando dentro dele mesmo que o levou a atacar de um jeito tão agressivo, louco, extremo.

Assad Zaman (Armand) e Ben Daniels (Santiago) nos bastidores de 'Entrevista com o Vampiro'. Foto: @Immortal_AMC via Twitter

Você não é só um humano interpretando um vampiro interpretando um humano interpretando um vampiro. Você também é um ator de teatro interpretando um ator de teatro.

Quando filmamos a maior parte das coisas de teatro, no episódio 2, eu vinha fazendo Medea por uns três meses no West End de Londres. Terminei num domingo e na quarta ou quinta estava filmando toda aquela sequência. Então, já estava preparado quando Levan [o diretor do episódio 2, Levan Akin] disse: “Faça como se fosse uma performance teatral. Nós vamos cuidar do resto”. Eles filmaram tudo com quatro câmeras, então não sabíamos quando estávamos na tela ou não. Foi implacável e ele filmou de forma brilhante.

No episódio 7, pouco antes da morte de Claudia, estar naquele palco foi como fazer uma peça. Filmamos aquela sequência do tribunal em pedaços de quinze minutos. Foi uma coisa insana. Muitas vezes não havia câmeras no palco conosco. Ou elas estavam em gruas, ou então entravam e saíam, ou era só a Emma [a diretora do episódio 7, Emma Freeman] filmando, fazendo toda a cobertura de closes, para termos todas as atuações na hora, não depois de três ou quatro dias. Aí todas as câmeras sumiram. Virou uma peça.

Como ator, é complicado interpretar um ator com um... nível de talento diferente?

Coitado do Francis. Sim, ele nunca alcançou as alturas vertiginosas que gostaria de ter alcançado. Ele é um cavalo de circo, não é? Basicamente, eu era uma esponja, olhando para tudo, desde Vincent Price em As 7 Máscaras da Morte – bem, Vincent Price em muitas coisas, na verdade – até meu gato. Eu observava como meu gato brincava com ratos e pensava: “Quer saber? Vou roubar um pouco disso”.

Você sempre quis interpretar um vampiro?

Sim, sem dúvida. Eu adoro terror. É para isso que vivo. Cresci assistindo Christopher Lee como Drácula e William Marshall como Príncipe Mamuwalde em O Vampiro Negro. Muito elegante, teatral, uma voz incrível. Sou vidrado nesses vampiros desde pequeno.

Sempre gostei de terror. As crianças que são diferentes geralmente gostam. Quando você cresce como uma criança LGBT, vai percebendo que esses vilões e vampiros muitas vezes refletem o jeito como as pessoas tratam os gays. Está sempre presente, essa codificação queer. Nos filmes antigos de James Whale, ela está lá.

Mais do que qualquer outro escritor, Anne Rice identificou a tragédia na monstruosidade do vampiro. Eles são imortais, mas as pessoas que amam morrem, e essa experiência fica com eles literalmente para sempre.

Parte do motivo pelo qual não consigo assistir Vampiro agora é que meu parceiro acabou de morrer. As ressonâncias são enormes. A dor é uma [palavrão]. É como ser assaltado em plena luz do dia, você nunca sabe quando vai acontecer. E ela [Rice] explora tudo isso de forma brilhante.

Acho que em qualquer tipo de trabalho criativo você é uma esponja. Você absorve o que está acontecendo com você e com o mundo, e às vezes isso sangra e é útil. Estávamos filmando Vampiro quando Ian [seu parceiro, o ator Ian Gelder] recebeu o diagnóstico [de câncer de pulmão; Gelder depois foi diagnosticado com câncer no ducto biliar, do qual morreu no mês passado]. Quando comecei a assistir ao episódio 2, eu sabia que o que estava acontecendo na minha vida era uma coisa importante para minha atuação – e é claro que seria, ainda mais quando você está contando uma história sobre morte e morrer e matar pessoas e viver para sempre. Eu sabia das conversas que estava levando entre as tomadas... Foi muito difícil. Tinha muito a ver com a minha vida pessoal.

Mas [com o tempo] vou conseguir ver o que estava acontecendo com Ian, até mesmo na raiva que sinto dos outros personagens. Sei que isso influenciou minha atuação de algum jeito, espero que no bom sentido.

O que estou curtindo mesmo são as reações das pessoas. Rolin me ligou e disse: “É só dar um Google no seu nome, pesquisar ‘Ben Daniels Santiago’ no Twitter. Se você não for assistir, pelo menos veja a reação das pessoas”. Então, tenho vivido a reação das pessoas, o que tem sido ótimo./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Atenção: Esta entrevista contém spoilers do final da 2ª temporada de Entrevista com o Vampiro.

Até ver seu tempo em Entrevista com o Vampiro cortado – junto com sua cabeça – no final da segunda temporada, Santiago foi o grande destaque da cena teatral vampírica.

Interpretado pelo ator britânico Ben Daniels, veterano dos palcos e ganhador do Prêmio Olivier, Santiago foi um artista arrojado e diabólico no Théâtre des Vampires, na Paris do pós-guerra. Até então conhecido como Francis, um ator inglês fracassado, Santiago se transformou em dândi do submundo depois de se tornar um sugador de sangue – e adotar um nome mais bacana – raramente visto sem uma vampira em cada braço e um brilho teatralmente odioso nos olhos.

“Ele é tão horrível e, ao mesmo tempo, tão delicioso!”, Daniels disse em entrevista por videochamada na semana passada. “E tem também o prazer, a alegria. Ele adora ser vampiro.”

Daniels acrescentou: “Ele tem uma energia que a gente adora odiar.”

Infelizmente para Santiago, o vampiro-título da série era quem mais o odiava. Ao longo da 2ª temporada, que chegou ao Prime Video nesta segunda, 22, Santiago assumiu o controle da trupe de teatro, que acabou virando um grupo de vampiros disfarçados. No clímax da temporada, Santiago encenou um julgamento de mentira que culminou na execução de verdade, por exposição à luz do sol, de Claudia (Delainey Hayles) e sua companheira, Madeleine (Roxane Duran). Foi por esse crime que Santiago perdeu a cabeça nas mãos da figura paterna, o vampiro Louis (Jacob Anderson), no episódio final.

Baseada nos romances da série Vampire Chronicles (ou Crônicas Vampirescas), de Anne Rice, a série criada e supervisionada por Rolin Jones já foi renovada para a terceira temporada. Mas Daniels não lamenta muito que seu personagem não possa chegar até lá. Santiago merecia ser punido por mau comportamento – principalmente no final.

“Se você não queria que ele morresse antes”, disse Daniels, “com certeza vai querer agora.”

Aqui vão trechos editados da conversa.

Se você é um ex-gótico que fazia teatro na escola e adorava o musical The Rocky Horror Picture Show, Santiago é uma figura muito magnética. Na série, ele tem fãs que assistem a todas as apresentações e se vestem como ele.

Rocky Horror foi uma grande influência, Rocky Horror e Cabaret. É muito bom que a atuação de Tim Curry em The Rocky Horror Show exista em vídeo, porque é uma das melhores performances de todos os tempos. Eu adoraria ter visto no teatro.

Fiquei curioso para saber se houve alguma influência de David Bowie também.

Sim! Santiago vai ficando cada vez mais niilista, e eu pensei: “Isso é muito Thin White Duke” – aquela terrível frieza da cocaína. Aí mandei para a Carol Cutshall, a figurinista, inúmeras fotos de Bowie como o Thin White Duke. Se você comparar, vai ver que ela copiou quase tudo. Depois acrescentou uma camisa transparente, o que é genial.

Como presença na tela, Santiago precisa desse tipo de armadura. Ele tem que se defender dos “quatro grandes” da série, Louis, Lestat [Sam Reid], Claudia e Armand [Assad Zaman], mesmo que não esteja romântica ou emocionalmente envolvido com nenhum deles.

Não está envolvido? [Sorrindo]

Bem...

Este foi um dos primeiros trabalhos que fiz sem pensar duas vezes, só porque significava trabalhar com Rolin. Logo no começo, Rolin me ligou e disse: “Escute, tudo bem para você se Santiago não for LGBT?” E eu fiquei, tipo, “Ok, tudo bem”.

Mas, quando o roteiro foi chegando, pensei que a única maneira de esse nível de ódio funcionar seria se ele estivesse apaixonado por Armand. A psicologia tem um conceito extraordinário, chamado formação reativa, que é o que Iago tem com Otelo. É um mecanismo de defesa pelo qual seus impulsos são tão inaceitáveis para seu ego que são substituídos por esse comportamento oposto e exagerado.

Santiago acha Louis muito lindo. Como Armand matou o criador de Santiago – por quem acho que ele também estava apaixonado – e também acha Louis atraente, tudo precisa ser destruído. Isso deu um impulso gigantesco ao seu ódio. Foi algo fermentando dentro dele mesmo que o levou a atacar de um jeito tão agressivo, louco, extremo.

Assad Zaman (Armand) e Ben Daniels (Santiago) nos bastidores de 'Entrevista com o Vampiro'. Foto: @Immortal_AMC via Twitter

Você não é só um humano interpretando um vampiro interpretando um humano interpretando um vampiro. Você também é um ator de teatro interpretando um ator de teatro.

Quando filmamos a maior parte das coisas de teatro, no episódio 2, eu vinha fazendo Medea por uns três meses no West End de Londres. Terminei num domingo e na quarta ou quinta estava filmando toda aquela sequência. Então, já estava preparado quando Levan [o diretor do episódio 2, Levan Akin] disse: “Faça como se fosse uma performance teatral. Nós vamos cuidar do resto”. Eles filmaram tudo com quatro câmeras, então não sabíamos quando estávamos na tela ou não. Foi implacável e ele filmou de forma brilhante.

No episódio 7, pouco antes da morte de Claudia, estar naquele palco foi como fazer uma peça. Filmamos aquela sequência do tribunal em pedaços de quinze minutos. Foi uma coisa insana. Muitas vezes não havia câmeras no palco conosco. Ou elas estavam em gruas, ou então entravam e saíam, ou era só a Emma [a diretora do episódio 7, Emma Freeman] filmando, fazendo toda a cobertura de closes, para termos todas as atuações na hora, não depois de três ou quatro dias. Aí todas as câmeras sumiram. Virou uma peça.

Como ator, é complicado interpretar um ator com um... nível de talento diferente?

Coitado do Francis. Sim, ele nunca alcançou as alturas vertiginosas que gostaria de ter alcançado. Ele é um cavalo de circo, não é? Basicamente, eu era uma esponja, olhando para tudo, desde Vincent Price em As 7 Máscaras da Morte – bem, Vincent Price em muitas coisas, na verdade – até meu gato. Eu observava como meu gato brincava com ratos e pensava: “Quer saber? Vou roubar um pouco disso”.

Você sempre quis interpretar um vampiro?

Sim, sem dúvida. Eu adoro terror. É para isso que vivo. Cresci assistindo Christopher Lee como Drácula e William Marshall como Príncipe Mamuwalde em O Vampiro Negro. Muito elegante, teatral, uma voz incrível. Sou vidrado nesses vampiros desde pequeno.

Sempre gostei de terror. As crianças que são diferentes geralmente gostam. Quando você cresce como uma criança LGBT, vai percebendo que esses vilões e vampiros muitas vezes refletem o jeito como as pessoas tratam os gays. Está sempre presente, essa codificação queer. Nos filmes antigos de James Whale, ela está lá.

Mais do que qualquer outro escritor, Anne Rice identificou a tragédia na monstruosidade do vampiro. Eles são imortais, mas as pessoas que amam morrem, e essa experiência fica com eles literalmente para sempre.

Parte do motivo pelo qual não consigo assistir Vampiro agora é que meu parceiro acabou de morrer. As ressonâncias são enormes. A dor é uma [palavrão]. É como ser assaltado em plena luz do dia, você nunca sabe quando vai acontecer. E ela [Rice] explora tudo isso de forma brilhante.

Acho que em qualquer tipo de trabalho criativo você é uma esponja. Você absorve o que está acontecendo com você e com o mundo, e às vezes isso sangra e é útil. Estávamos filmando Vampiro quando Ian [seu parceiro, o ator Ian Gelder] recebeu o diagnóstico [de câncer de pulmão; Gelder depois foi diagnosticado com câncer no ducto biliar, do qual morreu no mês passado]. Quando comecei a assistir ao episódio 2, eu sabia que o que estava acontecendo na minha vida era uma coisa importante para minha atuação – e é claro que seria, ainda mais quando você está contando uma história sobre morte e morrer e matar pessoas e viver para sempre. Eu sabia das conversas que estava levando entre as tomadas... Foi muito difícil. Tinha muito a ver com a minha vida pessoal.

Mas [com o tempo] vou conseguir ver o que estava acontecendo com Ian, até mesmo na raiva que sinto dos outros personagens. Sei que isso influenciou minha atuação de algum jeito, espero que no bom sentido.

O que estou curtindo mesmo são as reações das pessoas. Rolin me ligou e disse: “É só dar um Google no seu nome, pesquisar ‘Ben Daniels Santiago’ no Twitter. Se você não for assistir, pelo menos veja a reação das pessoas”. Então, tenho vivido a reação das pessoas, o que tem sido ótimo./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Atenção: Esta entrevista contém spoilers do final da 2ª temporada de Entrevista com o Vampiro.

Até ver seu tempo em Entrevista com o Vampiro cortado – junto com sua cabeça – no final da segunda temporada, Santiago foi o grande destaque da cena teatral vampírica.

Interpretado pelo ator britânico Ben Daniels, veterano dos palcos e ganhador do Prêmio Olivier, Santiago foi um artista arrojado e diabólico no Théâtre des Vampires, na Paris do pós-guerra. Até então conhecido como Francis, um ator inglês fracassado, Santiago se transformou em dândi do submundo depois de se tornar um sugador de sangue – e adotar um nome mais bacana – raramente visto sem uma vampira em cada braço e um brilho teatralmente odioso nos olhos.

“Ele é tão horrível e, ao mesmo tempo, tão delicioso!”, Daniels disse em entrevista por videochamada na semana passada. “E tem também o prazer, a alegria. Ele adora ser vampiro.”

Daniels acrescentou: “Ele tem uma energia que a gente adora odiar.”

Infelizmente para Santiago, o vampiro-título da série era quem mais o odiava. Ao longo da 2ª temporada, que chegou ao Prime Video nesta segunda, 22, Santiago assumiu o controle da trupe de teatro, que acabou virando um grupo de vampiros disfarçados. No clímax da temporada, Santiago encenou um julgamento de mentira que culminou na execução de verdade, por exposição à luz do sol, de Claudia (Delainey Hayles) e sua companheira, Madeleine (Roxane Duran). Foi por esse crime que Santiago perdeu a cabeça nas mãos da figura paterna, o vampiro Louis (Jacob Anderson), no episódio final.

Baseada nos romances da série Vampire Chronicles (ou Crônicas Vampirescas), de Anne Rice, a série criada e supervisionada por Rolin Jones já foi renovada para a terceira temporada. Mas Daniels não lamenta muito que seu personagem não possa chegar até lá. Santiago merecia ser punido por mau comportamento – principalmente no final.

“Se você não queria que ele morresse antes”, disse Daniels, “com certeza vai querer agora.”

Aqui vão trechos editados da conversa.

Se você é um ex-gótico que fazia teatro na escola e adorava o musical The Rocky Horror Picture Show, Santiago é uma figura muito magnética. Na série, ele tem fãs que assistem a todas as apresentações e se vestem como ele.

Rocky Horror foi uma grande influência, Rocky Horror e Cabaret. É muito bom que a atuação de Tim Curry em The Rocky Horror Show exista em vídeo, porque é uma das melhores performances de todos os tempos. Eu adoraria ter visto no teatro.

Fiquei curioso para saber se houve alguma influência de David Bowie também.

Sim! Santiago vai ficando cada vez mais niilista, e eu pensei: “Isso é muito Thin White Duke” – aquela terrível frieza da cocaína. Aí mandei para a Carol Cutshall, a figurinista, inúmeras fotos de Bowie como o Thin White Duke. Se você comparar, vai ver que ela copiou quase tudo. Depois acrescentou uma camisa transparente, o que é genial.

Como presença na tela, Santiago precisa desse tipo de armadura. Ele tem que se defender dos “quatro grandes” da série, Louis, Lestat [Sam Reid], Claudia e Armand [Assad Zaman], mesmo que não esteja romântica ou emocionalmente envolvido com nenhum deles.

Não está envolvido? [Sorrindo]

Bem...

Este foi um dos primeiros trabalhos que fiz sem pensar duas vezes, só porque significava trabalhar com Rolin. Logo no começo, Rolin me ligou e disse: “Escute, tudo bem para você se Santiago não for LGBT?” E eu fiquei, tipo, “Ok, tudo bem”.

Mas, quando o roteiro foi chegando, pensei que a única maneira de esse nível de ódio funcionar seria se ele estivesse apaixonado por Armand. A psicologia tem um conceito extraordinário, chamado formação reativa, que é o que Iago tem com Otelo. É um mecanismo de defesa pelo qual seus impulsos são tão inaceitáveis para seu ego que são substituídos por esse comportamento oposto e exagerado.

Santiago acha Louis muito lindo. Como Armand matou o criador de Santiago – por quem acho que ele também estava apaixonado – e também acha Louis atraente, tudo precisa ser destruído. Isso deu um impulso gigantesco ao seu ódio. Foi algo fermentando dentro dele mesmo que o levou a atacar de um jeito tão agressivo, louco, extremo.

Assad Zaman (Armand) e Ben Daniels (Santiago) nos bastidores de 'Entrevista com o Vampiro'. Foto: @Immortal_AMC via Twitter

Você não é só um humano interpretando um vampiro interpretando um humano interpretando um vampiro. Você também é um ator de teatro interpretando um ator de teatro.

Quando filmamos a maior parte das coisas de teatro, no episódio 2, eu vinha fazendo Medea por uns três meses no West End de Londres. Terminei num domingo e na quarta ou quinta estava filmando toda aquela sequência. Então, já estava preparado quando Levan [o diretor do episódio 2, Levan Akin] disse: “Faça como se fosse uma performance teatral. Nós vamos cuidar do resto”. Eles filmaram tudo com quatro câmeras, então não sabíamos quando estávamos na tela ou não. Foi implacável e ele filmou de forma brilhante.

No episódio 7, pouco antes da morte de Claudia, estar naquele palco foi como fazer uma peça. Filmamos aquela sequência do tribunal em pedaços de quinze minutos. Foi uma coisa insana. Muitas vezes não havia câmeras no palco conosco. Ou elas estavam em gruas, ou então entravam e saíam, ou era só a Emma [a diretora do episódio 7, Emma Freeman] filmando, fazendo toda a cobertura de closes, para termos todas as atuações na hora, não depois de três ou quatro dias. Aí todas as câmeras sumiram. Virou uma peça.

Como ator, é complicado interpretar um ator com um... nível de talento diferente?

Coitado do Francis. Sim, ele nunca alcançou as alturas vertiginosas que gostaria de ter alcançado. Ele é um cavalo de circo, não é? Basicamente, eu era uma esponja, olhando para tudo, desde Vincent Price em As 7 Máscaras da Morte – bem, Vincent Price em muitas coisas, na verdade – até meu gato. Eu observava como meu gato brincava com ratos e pensava: “Quer saber? Vou roubar um pouco disso”.

Você sempre quis interpretar um vampiro?

Sim, sem dúvida. Eu adoro terror. É para isso que vivo. Cresci assistindo Christopher Lee como Drácula e William Marshall como Príncipe Mamuwalde em O Vampiro Negro. Muito elegante, teatral, uma voz incrível. Sou vidrado nesses vampiros desde pequeno.

Sempre gostei de terror. As crianças que são diferentes geralmente gostam. Quando você cresce como uma criança LGBT, vai percebendo que esses vilões e vampiros muitas vezes refletem o jeito como as pessoas tratam os gays. Está sempre presente, essa codificação queer. Nos filmes antigos de James Whale, ela está lá.

Mais do que qualquer outro escritor, Anne Rice identificou a tragédia na monstruosidade do vampiro. Eles são imortais, mas as pessoas que amam morrem, e essa experiência fica com eles literalmente para sempre.

Parte do motivo pelo qual não consigo assistir Vampiro agora é que meu parceiro acabou de morrer. As ressonâncias são enormes. A dor é uma [palavrão]. É como ser assaltado em plena luz do dia, você nunca sabe quando vai acontecer. E ela [Rice] explora tudo isso de forma brilhante.

Acho que em qualquer tipo de trabalho criativo você é uma esponja. Você absorve o que está acontecendo com você e com o mundo, e às vezes isso sangra e é útil. Estávamos filmando Vampiro quando Ian [seu parceiro, o ator Ian Gelder] recebeu o diagnóstico [de câncer de pulmão; Gelder depois foi diagnosticado com câncer no ducto biliar, do qual morreu no mês passado]. Quando comecei a assistir ao episódio 2, eu sabia que o que estava acontecendo na minha vida era uma coisa importante para minha atuação – e é claro que seria, ainda mais quando você está contando uma história sobre morte e morrer e matar pessoas e viver para sempre. Eu sabia das conversas que estava levando entre as tomadas... Foi muito difícil. Tinha muito a ver com a minha vida pessoal.

Mas [com o tempo] vou conseguir ver o que estava acontecendo com Ian, até mesmo na raiva que sinto dos outros personagens. Sei que isso influenciou minha atuação de algum jeito, espero que no bom sentido.

O que estou curtindo mesmo são as reações das pessoas. Rolin me ligou e disse: “É só dar um Google no seu nome, pesquisar ‘Ben Daniels Santiago’ no Twitter. Se você não for assistir, pelo menos veja a reação das pessoas”. Então, tenho vivido a reação das pessoas, o que tem sido ótimo./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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