Juliano Cazarré fez as pazes com a fé. Ex-ateu, o ator conhecido pelos papéis em telenovelas da TV Globo, como Pantanal e Amor à Vida, se converteu ao catolicismo após passar por um período sombrio que quase arruinou seu casamento com a estilista Letícia Cazarré, com quem ele acaba de celebrar o nascimento do sexto filho, Estevão.
A conexão com Jesus Cristo tem sido a força do casal para superar os problemas da pequena Maria Guilhermina, de apenas 1 ano. A menina nasceu com Anomalia de Ebstein, condição rara que afeta o coração, e já passou por algumas cirurgias – a mais recente delas no último dia 21, bem sucedida.
Às vésperas da Páscoa, Juliano conversou com o Estadão sobre seu novo projeto, Brasil de Todos os Santos, série documental dirigida e estrelada por ele, cujo objetivo é investigar a santidade no Brasil – maior país católico do mundo, mas com baixo número de santos, entre eles São José de Anchieta e a Irmã Dulce.
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“A ideia surgiu dessa dúvida do Juliano: ‘Por que têm poucos santos canonizados no Brasil?’. E resolvemos investigar o motivo. Durante as gravações ele teve dengue, então tivemos muitas adversidades, mas foi muito bacana. É a maior investigação sobre o fenômeno da santidade já feita em documentário”, conta Gustavo Leite, codiretor e roteirista da série, que é dividida em quatro capítulos e reúne entrevistas com 19 especialistas no assunto, incluindo o cardeal Dom Odílio Scherer, além de outras figuras religiosas.
O primeiro episódio será disponibilizado às 20h deste domingo, 31, no canal do YouTube da plataforma de streaming Lumine.
Parabéns pelo novo filho. Como é a sensação de ser pai pela sexta vez, comparada à primeira?
Obrigado, me senti muito feliz, tão feliz quanto com o Vicente, nosso primeiro filho, tão feliz quanto com cada um deles. Quando eles chegam, parece que era necessário que eles viessem. Já estávamos loucos para ver como seria a carinha dele. E agora queremos ver como ele vai ser quando crescer, sua personalidade. Cada um deles é sempre tão diferente um do outro.
Como você dá conta da rotina com seis filhos?
Tem que dar conta, não tem a opção de não dar conta. É ir fazendo uma coisa de cada vez. As coisas deles são prioridades - escola, alimentação e tal, contar histórias, estar com eles, brincar. Tem que fazer isso tudo. Então, às vezes, coisas da minha vida ficam para depois, mas vamos fazendo tudo que precisa ser feito.
A Maria Guilhermina passou por uma cirurgia recentemente, como ela está?
Ela passou por uma troca de cânula e está com um modelo novo agora, que vai ter que trocar uma vez por mês. Não era um procedimento tão delicado quanto as cirurgias que ela já fez, mas é claro que sempre dá uma certa preocupação ir com ela para o hospital. Ela teve que tirar bastante sangue para fazer vários exames. E é chato ver tirar sangue dela porque ela já foi muito invadida ao longo do primeiro ano da vida dela. Então algumas vezes o acesso é difícil. Ficamos com pena de vê-la sofrer, mas ela tem uma vontade de viver incrível. Deus está realizando um milagre na vida dela e é um milagre que vai acontecendo aos poucos.
Qual foi o seu maior aprendizado durante o processo de filmagem de ‘Brasil de Todos os Santos’?
Entender que os processos de canonização de santos ocorrem a princípio movidos pela comunidade onde aquele santo viveu, por pessoas que conviveram com ele, e aí isso vai se tornando um processo oficial e é um processo longo que tem que ser acompanhado. Isso explica talvez por que nós temos tão poucos santos canonizados no Brasil. E outra coisa que talvez seja o principal ensinamento da série é que a Igreja diz claramente que todos são chamados a ser santos. E a nossa busca pela santidade é uma busca diária e que só vai acabar no nosso último dia.
Como um antigo ateu foi salvo por Jesus?
Eu não fui criado ateu, eu tive educação religiosa, mas em algum momento da minha juventude fui abandonando a fé. Cheguei a flertar com o ateísmo, falando que podia ser que o mundo realmente não tivesse um criador, que tudo talvez fosse uma grande coincidência de átomos de carbono que vão se juntando, se afastando. Mas essa é uma hipótese muito mais absurda. O caos não pode ordenar a si mesmo, é necessária uma inteligência que ordene o caos. Então, eu, num momento muito difícil da minha vida, pedi perdão a Jesus e pedi misericórdia. O pior erro da minha vida, que mais me fez mal, foi o ateísmo. Se você não tem Deus na sua hierarquia de valores, tudo mais fica bagunçado.
Você publicou a seguinte frase nas suas redes sociais: ‘Passei por vários erros, flertei com várias falsas religiões’ – o que seriam essa falsas religiões?
Eu tentei encontrar respostas ao longo da vida, estudando, por exemplo, sobre o budismo. Fui três ou quatro vezes no budismo tibetano, conheci um pouco do candomblé e da umbanda. Nunca fiz parte, mas fui a algumas festas e durante um tempo pratiquei a parte mais religiosa do yoga. E nada disso me trazia as respostas e a paz que eu queria; Nada disso me parecia verdade. Fui abandonando tudo isso. Fui achando que tudo era absurdo. Cheguei no ateísmo. E depois fui fazer as pazes com a minha fé.
É possível ser santo ou estar ligado à santidade num mundo onde os pecados nos cercam a todo momento?
O primeiro passo da santidade é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a você mesmo. Isso foi difícil em todos os tempos da humanidade e é difícil hoje em dia. E o mundo sempre foi cruel. O ser humano é um animal quebrado, tocado pela ferida do pecado original. Então, sim, é possível. Acho que realmente é uma coisa que exige muito de nós e que ninguém consegue por si só, não É com a graça de Deus que vamos conseguir crescer nas virtudes e fugir dos pecados.
Você se considera santo ou pecador?
Ora, é claro que eu sou um pecador. Na verdade, se você perguntasse para São Francisco de Assis, para São Pedro de Alcântara, qualquer um deles também diria isso, não? Eu sou um pecador e vamos até o fim tentando ser santo. Essa é uma batalha da vida toda. Eu sou um pecador, mas que sonho, aspiro um dia merecer o céu.