Foi com certa desconfiança que os fãs da obra de J.R.R. Tolkien receberam as notícias de que haveria uma série baseada no universo criado pelo autor - O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder. Afinal, os filmes de Peter Jackson - ao menos a trilogia original, formada por A Sociedade do Anel (2001), As Duas Torres (2002) e O Retorno do Rei (2003) -, foram sucesso de público, crítica e Oscars.
A maior preocupação era que os criadores, Patrick McKay e John D. Payne, sem nenhum crédito em seu nome, iam trabalhar a partir de fragmentos sobre a Segunda Era da Terra-Média, sem ter uma obra em que se basear. Fãs de fantasia escaldados pelas últimas temporadas de Game of Thrones ficaram desconfiados. As primeiras imagens não chegaram a empolgar. Mas os últimos trailers colocaram a expectativa lá em cima.
O Estadão assistiu aos dois primeiros episódios de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, que entram no ar amanhã, às 22h do Brasil, no Prime Video. Vale a pena assistir?
Os primeiros oito minutos são uma introdução à história, narrada pela elfa Galadriel (Morfydd Clark). Ela aparece ainda criança. “Achávamos que nossas alegrias seriam infinitas, que a luz nunca se apagaria”, diz. E narra os horrores do senhor do mal, Morgoth, e de seu seguidor, Sauron, que matou seu irmão. Por causa disso, ela sai à sua caçada, e de seus orcs, e não acredita quando dizem que a paz reina novamente.
A partir daí, a história começa a pular de núcleo em núcleo, dando uma amostra de que o escopo da série é enorme, envolvendo lugares e povos diferentes. Há os simpáticos Hobbits Pés-Peludos, nômades que vivem da natureza. Em Lindon, capital dos Altos-Elfos, Galadriel reencontra-se com o amigo Elrond (Robert Aramayo), um político. Nas Terras do Sul, o elfo Arondir (Ismael Cruz Cordova) recebe o comunicado de que não precisa mais guardar a região dos orcs, que teriam desaparecido. Mas ele está apaixonado por uma humana, Bronwyn (Nazanin Boniadi). O namoro interracial não é bem-visto, até porque essa é uma região que apoiou Morgoth no passado. Também conhecemos o reino dos anãos Khazad-Dûm, uma cidade magnífica embaixo da terra.
Os estimados US$ 60 milhões por episódio estão todos na tela. Os cenários são de embasbacar, assim como os efeitos especiais, os figurinos e as caracterizações. Que diferença é ver seres mágicos com maquiagem prostética em vez de CGI simplesmente. Há cenas verdadeiramente belas nos dois capítulos dirigidos pelo espanhol J.A. Bayona (O Impossível, de 2012), o que ainda é raro na televisão. Ele alterna sem solavancos momentos de suspense, aventura e humor, especialmente nas cenas envolvendo os pés-peludos e os anãos.
A série fala que o mal nunca descansa. Que é sempre preciso ficar vigilante para não cair em promessas fáceis de quem prega o medo e o ódio como salvação. Esses povos todos vão precisar deixar suas diferenças de lado para lutar contra o inimigo em comum. Uma ideia que era fundamental para Tolkien, que viveu os horrores da Primeira Guerra Mundial, e continua atual.
Por tudo isso, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder é imperdível.