‘Rainha Cleópatra’: polêmica esvazia série da Netflix, que lembra documentários do History Channel


Produção com quatro episódios foi lançada nesta quarta-feira na plataforma de streaming

Por Daniel Silveira

Uma das primeiras cenas de Rainha Cleópatra, série da Netflix lançada nesta quarta-feira, 10, justifica uma polêmica criada em torno da produção desde que o trailer foi divulgado. “Não importa o que digam, Cleópatra era negra”, diz Shelley P. Haley, professora de Estudos Africanos na Hamilton College, lembrando de um conselho que recebeu de sua avó quando ainda era uma menina aprendendo história antiga na escola. Shelley é uma mulher negra.

Adele James como Cleópatra em série da Netflix Foto: Reprodução de 'Queen Cleopatra' (2023)/Netflix

Outras pessoas pretas são entrevistadas na série, que mistura documentário e encenação, em um espécie de Linha Direta à moda History Channel. Mas também tem pessoas brancas e elas seguem o mesmo raciocínio. Rainha Cleópatra é um bom exemplo de que polêmicas podem alavancar uma produção que, possivelmente, teria menos visibilidade se não fosse isso. Basta comparar com a primeira temporada, que contou a história de Nzinga e que não foi tão comentada.

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O motivo dela existir é justo. Histórias de reis e rainhas africanos foram apagadas pelo colonialismo. Pouco se conhece sobre os povos que viviam no continente antes da colonização no século 16. O que aprendemos nas escolas é principalmente baseado no que nos contam a partir da visão do colonizador europeu.

Nos últimos anos, estudos decoloniais - forma de olhar o mundo a partir de diferentes perspectivas para além do olhar eurocêntrico, se abrindo para uma pluralidade de vozes - tem trazido novas perspectivas e apresentado outras visões de mundo. Ao escolher uma atriz negra, o que se vê na tela não é uma opção por reescrever a história da Rainha do Nilo, mas sugerir uma possibilidade que não é exatamente mentirosa.

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Não é possível, a não ser pela dedução, dizer qual o tom de pele de Cleópatra. Não existiam fotografias na época e nem há registro escrito que descreva suas feições e cor. Sua família estava no Egito há cerca de 200 anos, sua mãe e avós não são conhecidas. Estes são elementos suficientes para acreditar que pode ter existido algum grau de miscigenação, o que daria a ela uma pele mais escura, diferente da ideia difundida com representações como a de Elizabeth Taylor no filme Cleópatra de 1963.

No entanto, a disputa pela cor da pele de Cleópatra envolveu até mesmo o Ministério de Antiguidades do país Egito que declarou que ela tinha “a pele branca e traços helênicos”. “Os baixos-relevos e estátuas da rainha são as maiores provas”, ressalta um comunicado divulgado pela instituição. Um advogado egípcio chegou a entrar na justiça pedindo a proibição da Netflix no país por conta da escolha de Adele James para dar vida à rainha.

Historiadores que defendem os “traços helênicos” da rainha justificam o fato de que a família de Cleópatra era de origem grega, além do fato deles se relacionarem apenas entre familiares, o que dificultaria a miscigenação.

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É curioso que há muito se escuta por aí que as pirâmides (também no Egito) foram construídas por alienígenas, teorias que já viraram temas de documentários no History Channel. E isso não chega a mobilizar pedidos de proibição do canal ou das produções. Quando Elon Musk publicou isso no Twitter em 2020, o arqueólogo e ex-ministro das Antiguidades do Egito Zahi Hawass afirmou que a fala dele era uma “alucinação”. “Não queria comentar estas afirmações porque elas não valem isso, mas a informação enganosa se tornou viral e tive que comentar, especialmente já que não é baseada em nenhuma evidência científica”, disse Hawass à revista EgyptToday na época.

Rainha Cleópatra não reescreve a história nem tira dos brancos um reinado. Mas comprova o que o projeto de Jada Pinkett Smith, mulher negra - é bom ressaltar - é importante para apresentar às pessoas um pedaço da história de um continente que parece ter sido esquecido. Além de fortalecer a imagem de que reis e rainhas pretos existiram e que, se não fosse o racismo que ainda permeia as relações, esse tipo de questão sobre o tom de pele de Cleópatra sequer existiria.

Uma das primeiras cenas de Rainha Cleópatra, série da Netflix lançada nesta quarta-feira, 10, justifica uma polêmica criada em torno da produção desde que o trailer foi divulgado. “Não importa o que digam, Cleópatra era negra”, diz Shelley P. Haley, professora de Estudos Africanos na Hamilton College, lembrando de um conselho que recebeu de sua avó quando ainda era uma menina aprendendo história antiga na escola. Shelley é uma mulher negra.

Adele James como Cleópatra em série da Netflix Foto: Reprodução de 'Queen Cleopatra' (2023)/Netflix

Outras pessoas pretas são entrevistadas na série, que mistura documentário e encenação, em um espécie de Linha Direta à moda History Channel. Mas também tem pessoas brancas e elas seguem o mesmo raciocínio. Rainha Cleópatra é um bom exemplo de que polêmicas podem alavancar uma produção que, possivelmente, teria menos visibilidade se não fosse isso. Basta comparar com a primeira temporada, que contou a história de Nzinga e que não foi tão comentada.

O motivo dela existir é justo. Histórias de reis e rainhas africanos foram apagadas pelo colonialismo. Pouco se conhece sobre os povos que viviam no continente antes da colonização no século 16. O que aprendemos nas escolas é principalmente baseado no que nos contam a partir da visão do colonizador europeu.

Nos últimos anos, estudos decoloniais - forma de olhar o mundo a partir de diferentes perspectivas para além do olhar eurocêntrico, se abrindo para uma pluralidade de vozes - tem trazido novas perspectivas e apresentado outras visões de mundo. Ao escolher uma atriz negra, o que se vê na tela não é uma opção por reescrever a história da Rainha do Nilo, mas sugerir uma possibilidade que não é exatamente mentirosa.

Não é possível, a não ser pela dedução, dizer qual o tom de pele de Cleópatra. Não existiam fotografias na época e nem há registro escrito que descreva suas feições e cor. Sua família estava no Egito há cerca de 200 anos, sua mãe e avós não são conhecidas. Estes são elementos suficientes para acreditar que pode ter existido algum grau de miscigenação, o que daria a ela uma pele mais escura, diferente da ideia difundida com representações como a de Elizabeth Taylor no filme Cleópatra de 1963.

No entanto, a disputa pela cor da pele de Cleópatra envolveu até mesmo o Ministério de Antiguidades do país Egito que declarou que ela tinha “a pele branca e traços helênicos”. “Os baixos-relevos e estátuas da rainha são as maiores provas”, ressalta um comunicado divulgado pela instituição. Um advogado egípcio chegou a entrar na justiça pedindo a proibição da Netflix no país por conta da escolha de Adele James para dar vida à rainha.

Historiadores que defendem os “traços helênicos” da rainha justificam o fato de que a família de Cleópatra era de origem grega, além do fato deles se relacionarem apenas entre familiares, o que dificultaria a miscigenação.

É curioso que há muito se escuta por aí que as pirâmides (também no Egito) foram construídas por alienígenas, teorias que já viraram temas de documentários no History Channel. E isso não chega a mobilizar pedidos de proibição do canal ou das produções. Quando Elon Musk publicou isso no Twitter em 2020, o arqueólogo e ex-ministro das Antiguidades do Egito Zahi Hawass afirmou que a fala dele era uma “alucinação”. “Não queria comentar estas afirmações porque elas não valem isso, mas a informação enganosa se tornou viral e tive que comentar, especialmente já que não é baseada em nenhuma evidência científica”, disse Hawass à revista EgyptToday na época.

Rainha Cleópatra não reescreve a história nem tira dos brancos um reinado. Mas comprova o que o projeto de Jada Pinkett Smith, mulher negra - é bom ressaltar - é importante para apresentar às pessoas um pedaço da história de um continente que parece ter sido esquecido. Além de fortalecer a imagem de que reis e rainhas pretos existiram e que, se não fosse o racismo que ainda permeia as relações, esse tipo de questão sobre o tom de pele de Cleópatra sequer existiria.

Uma das primeiras cenas de Rainha Cleópatra, série da Netflix lançada nesta quarta-feira, 10, justifica uma polêmica criada em torno da produção desde que o trailer foi divulgado. “Não importa o que digam, Cleópatra era negra”, diz Shelley P. Haley, professora de Estudos Africanos na Hamilton College, lembrando de um conselho que recebeu de sua avó quando ainda era uma menina aprendendo história antiga na escola. Shelley é uma mulher negra.

Adele James como Cleópatra em série da Netflix Foto: Reprodução de 'Queen Cleopatra' (2023)/Netflix

Outras pessoas pretas são entrevistadas na série, que mistura documentário e encenação, em um espécie de Linha Direta à moda History Channel. Mas também tem pessoas brancas e elas seguem o mesmo raciocínio. Rainha Cleópatra é um bom exemplo de que polêmicas podem alavancar uma produção que, possivelmente, teria menos visibilidade se não fosse isso. Basta comparar com a primeira temporada, que contou a história de Nzinga e que não foi tão comentada.

O motivo dela existir é justo. Histórias de reis e rainhas africanos foram apagadas pelo colonialismo. Pouco se conhece sobre os povos que viviam no continente antes da colonização no século 16. O que aprendemos nas escolas é principalmente baseado no que nos contam a partir da visão do colonizador europeu.

Nos últimos anos, estudos decoloniais - forma de olhar o mundo a partir de diferentes perspectivas para além do olhar eurocêntrico, se abrindo para uma pluralidade de vozes - tem trazido novas perspectivas e apresentado outras visões de mundo. Ao escolher uma atriz negra, o que se vê na tela não é uma opção por reescrever a história da Rainha do Nilo, mas sugerir uma possibilidade que não é exatamente mentirosa.

Não é possível, a não ser pela dedução, dizer qual o tom de pele de Cleópatra. Não existiam fotografias na época e nem há registro escrito que descreva suas feições e cor. Sua família estava no Egito há cerca de 200 anos, sua mãe e avós não são conhecidas. Estes são elementos suficientes para acreditar que pode ter existido algum grau de miscigenação, o que daria a ela uma pele mais escura, diferente da ideia difundida com representações como a de Elizabeth Taylor no filme Cleópatra de 1963.

No entanto, a disputa pela cor da pele de Cleópatra envolveu até mesmo o Ministério de Antiguidades do país Egito que declarou que ela tinha “a pele branca e traços helênicos”. “Os baixos-relevos e estátuas da rainha são as maiores provas”, ressalta um comunicado divulgado pela instituição. Um advogado egípcio chegou a entrar na justiça pedindo a proibição da Netflix no país por conta da escolha de Adele James para dar vida à rainha.

Historiadores que defendem os “traços helênicos” da rainha justificam o fato de que a família de Cleópatra era de origem grega, além do fato deles se relacionarem apenas entre familiares, o que dificultaria a miscigenação.

É curioso que há muito se escuta por aí que as pirâmides (também no Egito) foram construídas por alienígenas, teorias que já viraram temas de documentários no History Channel. E isso não chega a mobilizar pedidos de proibição do canal ou das produções. Quando Elon Musk publicou isso no Twitter em 2020, o arqueólogo e ex-ministro das Antiguidades do Egito Zahi Hawass afirmou que a fala dele era uma “alucinação”. “Não queria comentar estas afirmações porque elas não valem isso, mas a informação enganosa se tornou viral e tive que comentar, especialmente já que não é baseada em nenhuma evidência científica”, disse Hawass à revista EgyptToday na época.

Rainha Cleópatra não reescreve a história nem tira dos brancos um reinado. Mas comprova o que o projeto de Jada Pinkett Smith, mulher negra - é bom ressaltar - é importante para apresentar às pessoas um pedaço da história de um continente que parece ter sido esquecido. Além de fortalecer a imagem de que reis e rainhas pretos existiram e que, se não fosse o racismo que ainda permeia as relações, esse tipo de questão sobre o tom de pele de Cleópatra sequer existiria.

Uma das primeiras cenas de Rainha Cleópatra, série da Netflix lançada nesta quarta-feira, 10, justifica uma polêmica criada em torno da produção desde que o trailer foi divulgado. “Não importa o que digam, Cleópatra era negra”, diz Shelley P. Haley, professora de Estudos Africanos na Hamilton College, lembrando de um conselho que recebeu de sua avó quando ainda era uma menina aprendendo história antiga na escola. Shelley é uma mulher negra.

Adele James como Cleópatra em série da Netflix Foto: Reprodução de 'Queen Cleopatra' (2023)/Netflix

Outras pessoas pretas são entrevistadas na série, que mistura documentário e encenação, em um espécie de Linha Direta à moda History Channel. Mas também tem pessoas brancas e elas seguem o mesmo raciocínio. Rainha Cleópatra é um bom exemplo de que polêmicas podem alavancar uma produção que, possivelmente, teria menos visibilidade se não fosse isso. Basta comparar com a primeira temporada, que contou a história de Nzinga e que não foi tão comentada.

O motivo dela existir é justo. Histórias de reis e rainhas africanos foram apagadas pelo colonialismo. Pouco se conhece sobre os povos que viviam no continente antes da colonização no século 16. O que aprendemos nas escolas é principalmente baseado no que nos contam a partir da visão do colonizador europeu.

Nos últimos anos, estudos decoloniais - forma de olhar o mundo a partir de diferentes perspectivas para além do olhar eurocêntrico, se abrindo para uma pluralidade de vozes - tem trazido novas perspectivas e apresentado outras visões de mundo. Ao escolher uma atriz negra, o que se vê na tela não é uma opção por reescrever a história da Rainha do Nilo, mas sugerir uma possibilidade que não é exatamente mentirosa.

Não é possível, a não ser pela dedução, dizer qual o tom de pele de Cleópatra. Não existiam fotografias na época e nem há registro escrito que descreva suas feições e cor. Sua família estava no Egito há cerca de 200 anos, sua mãe e avós não são conhecidas. Estes são elementos suficientes para acreditar que pode ter existido algum grau de miscigenação, o que daria a ela uma pele mais escura, diferente da ideia difundida com representações como a de Elizabeth Taylor no filme Cleópatra de 1963.

No entanto, a disputa pela cor da pele de Cleópatra envolveu até mesmo o Ministério de Antiguidades do país Egito que declarou que ela tinha “a pele branca e traços helênicos”. “Os baixos-relevos e estátuas da rainha são as maiores provas”, ressalta um comunicado divulgado pela instituição. Um advogado egípcio chegou a entrar na justiça pedindo a proibição da Netflix no país por conta da escolha de Adele James para dar vida à rainha.

Historiadores que defendem os “traços helênicos” da rainha justificam o fato de que a família de Cleópatra era de origem grega, além do fato deles se relacionarem apenas entre familiares, o que dificultaria a miscigenação.

É curioso que há muito se escuta por aí que as pirâmides (também no Egito) foram construídas por alienígenas, teorias que já viraram temas de documentários no History Channel. E isso não chega a mobilizar pedidos de proibição do canal ou das produções. Quando Elon Musk publicou isso no Twitter em 2020, o arqueólogo e ex-ministro das Antiguidades do Egito Zahi Hawass afirmou que a fala dele era uma “alucinação”. “Não queria comentar estas afirmações porque elas não valem isso, mas a informação enganosa se tornou viral e tive que comentar, especialmente já que não é baseada em nenhuma evidência científica”, disse Hawass à revista EgyptToday na época.

Rainha Cleópatra não reescreve a história nem tira dos brancos um reinado. Mas comprova o que o projeto de Jada Pinkett Smith, mulher negra - é bom ressaltar - é importante para apresentar às pessoas um pedaço da história de um continente que parece ter sido esquecido. Além de fortalecer a imagem de que reis e rainhas pretos existiram e que, se não fosse o racismo que ainda permeia as relações, esse tipo de questão sobre o tom de pele de Cleópatra sequer existiria.

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