O sucesso de Only Murders In The Building é compreensível, mas não deixa de ser surpreendente. Isso porque a série estreou no streaming em 2021, durante a pandemia do covid-19, sem muito alarde e com dúvidas sobre a força do trio protagonista.
Steve Martin, 79, por mais que seja uma lenda do humor, não tinha um papel principal desde a comédia O Grande Ano (2011) e esteve focado em outros tipos de projetos na última década. O canadense Martin Short, 74, figura hilária e enérgica do programa Saturday Night Live!, tem o nome pouco conhecido fora da América do Norte e se destacou mais em peças da Broadway. Já a cantora Selena Gomez, 32, por sua vez, ainda não havia se consolidado na carreira de atuação – ela ganhou fama na adolescência em programas juvenis como Os Feiticeiros de Waverly Place, mas depois disso sua maior oportunidade nas telonas foi no mediano Um Dia de Chuva em Nova York (2019), de Woody Allen.
Todas as dúvidas, porém, foram rapidamente dissipadas devido à química irresistível da trinca de atores, que interpretam moradores de um luxuoso prédio em Nova York chamado Arconia, onde acontece um crime misterioso. Martin é Charles-Haden Savage, um rabugento ex-astro de TV; Short é Oliver Putnam, um diretor de teatro falido e Selena é Mabel Mora, a ‘mascote’ sarcástica dos dois idosos que tem a ideia de criar o podcast de true crime responsável por batizar o seriado, que já acumula mais de 40 indicações ao Emmy.
A 4ª temporada estreia no Disney+ nesta terça-feira, 27, e os atores conversaram com o Estadão por videoconferência. Ao se deparar com o jornalista do Brasil alocado em uma sala de escritório, Steve Martin perguntou: “Você está no Brasil e esse é o seu plano de fundo?”, arrancando gargalhadas dos colegas. “Não tem nenhuma praia por aqui, desculpe!”, respondi.
“É delicioso termos chegarmos até aqui. Quando começamos, e não acho que nenhum de nós planejou que seria apenas uma temporada, esperávamos o melhor e ficamos encantados com a qualidade do programa e com a reação”, conta Short, cuja parceria com Steve é antiga e já rendeu produções como Três Amigos! (1986) e o especial de stand-up An Evening You Will Never Forget (2018), da Netflix.
“Nós já trabalhamos muito juntos, temos uma química descomplicada. Steve criou o show [ao lado de John Hoffman], então foi ele quem me escalou”, acrescenta, antes de ser interrompido pelo rei das comédias tipo pastelão, como Doze é Demais (2003) e O Pai da Noiva (1993). “Perguntaram-me se eu queria participar e eu disse: ‘só farei se o Marty fizer’”, revela.
Tramas renovadas e participações especiais
O fato de cada ciclo desenvolver uma investigação diferente oferece frescor ao roteiro, impulsionado pelos episódios de curta duração, sendo um dos principais fatores que tornaram a produção um hit. Além disso, novos personagens são incorporados gradativamente na órbita da tríade condutora – dentre algumas das participações especiais estão Da’Vine Joy Randolph (premiada no último Oscar por Os Rejeitados), Meryl Streep e até mesmo o cantor Sting.
“Não acho que [para o público] seja: ‘ah, vamos apenas assistir para ver os famosos’. Eu acho que há uma história que conduz o programa. Esses personagens não são apenas frívolos. Eles realmente fazem parte do enredo e são bem escalados”, diz Martin, que foi recentemente celebrado no projeto STEVE! (martin): documentário em 2 partes.
Na nova trama, Hollywood entra na jogada e há referência ao conceito de ‘multiverso’, moda da vez na indústria do entretenimento. Zach Galifianakis (Se Beber, Não Case!), Eva Longoria (Desperate Housewives) e Eugene Levy (American Pie) são escalados para interpretar os três protagonistas em uma adaptação cinematográfica do podcast.
“Em nossa apresentação de Hollywood, nós meio que nos inclinamos para um clichê e brincamos com a questão de algoritmos e pesquisas de mercado. Mas, a propósito, não existe uma só Hollywood. Existe uma Hollywood que faz televisão, outra que faz filmes independentes, outra que faz programas da Marvel. Então não é uma só indústria”, explica Steve.
Streaming versus cinema
O elenco ainda comentou sobre a diferença de conteúdo oferecido pelo streaming em contraste ao cinema tradicional. “Acho que muitas das histórias que anos atrás eram contadas em filmes agora são contadas em séries. Os filmes hoje tendem a ser mais com efeitos especiais, CGI, etc... Perdidos na Noite (1969) teria sido apenas um conteúdo de streaming se fosse feito hoje? Provavelmente”, opina Short.
“Eu amo o fato de que o streaming ou a televisão se tornaram o lugar para esse tipo de história, pois costumava haver a reclamação que era uma tela pequena. Mas agora você tem uma tela grande em casa, pode desfrutar com o mesmo fascínio e não ter pessoas falando ao redor”, diz Steve. “Gosto do streaming, mas às vezes pode sobrecarregar. São muitas coisas diferentes acontecendo ao mesmo tempo”, alerta Selena.
A ocupação no audiovisual tem trazido louros à mulher com mais seguidores no mundo no Instagram (acima de 420 milhões). A popstar foi premiada no último Festival de Cannes pelo longa Emilia Perez, ainda sem previsão de lançamento. Perguntada sobre o que a carreira de atriz oferece que a carreira musical não, ela responde: “Eu não sei, acho que elas são apenas diferentes. Amo contar histórias e você pode fazer isso tanto na música quanto no cinema. Eu me vejo sendo mais atraída pela atuação, mas a música é muito importante para mim – é parte da minha vida e de quem eu sou. Então, gosto de ambas, não acho que uma seja melhor que a outra”.