‘Último Ato’: Série sobre caçada ao assassino de Lincoln é misto de intriga política e true crime


Thriller histórico estrelado por Tobias Menzies, de ‘The Crown’, chega ao Apple TV+ revelando novas facetas da busca pelo homem que matou o presidente dos EUA responsável pela abolição da escravidão; conheça a série e a história real

Por Mariane Morisawa
Atualização:

Fazer uma produção de época só tem sentido se for para iluminar o presente ou incluir personagens que ficaram de fora da história. Último Ato (Manhunt), criada por Monica Beletsky (Fargo, The Leftovers), que estreia seus dois primeiros episódios na sexta-feira, 15, no Apple TV+, com os outros cinco capítulos estreando semanalmente, cumpre os dois papeis, com uma embalagem irresistível de true crime.

“Sou apaixonada por história e por true crime, então fiquei empolgada de fazer um true crime que se passou no século 19 e é tão relevante”, disse Beletsky em entrevista ao Estadão, por videoconferência.

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A série, estrelada por Tobias Menzies, vencedor do Emmy por sua interpretação do príncipe Philip em The Crown, mostra a caçada pelo assassino de Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos que venceu a guerra civil e aboliu a escravatura. Menzies faz Edwin Stanton, o Ministro da Guerra encarregado de caçar o criminoso e defender o legado do presidente e amigo.

O que aconteceu com Abraham Lincoln

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É possível que você só saiba o básico sobre o assunto: que Lincoln foi morto em 1865, durante a apresentação de uma peça, em um teatro, por um ator conhecido. E está tudo bem. Hamish Linklater, que interpreta Lincoln, e Monica Beletsky, que criou a série, ambos nascidos nos Estados Unidos, também não conheciam muito mais do que isso.

“Eu sabia o mesmo que você”, disse Linklater em entrevista ao Estadão. “Que Lincoln foi assassinado por um ator que era irmão do ator mais famoso da época. É como se o irmão do Pedro Pascal matasse o presidente”, completou o intérprete de Lincoln, que passou por três horas e meia de maquiagem diárias, emagreceu e ficou musculoso para fazer o papel.

'Último Ato' mostra a caçada pelo assassino de Abraham Lincoln. Foto: Apple TV + / Divulgação
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Beletsky aprendeu sobre a história ao escrever a série. “Eu não tinha consciência de que o assassinato se deu apenas cinco dias após a rendição de Lee”, disse sobre o comandante do exército dos Estados confederados, que queriam se separar da União por se oporem à abolição da escravidão. “Também não sabia que naquela noite houve outros ataques. Me chocou perceber que se tratou de uma tentativa de golpe de Estado parcialmente bem-sucedida.”

Atentado contra a democracia

Lincoln foi assassinado durante a apresentação da peça Nosso Primo Americano, no Teatro Ford, em Washington D.C., com um tiro na cabeça, disparado pelo ator John Wilkes Booth, interpretado, na série, por Anthony Boyle (de Mestres do Ar). Mas Booth não agiu sozinho. O secretário de Estado, William H. Seward (Larry Pine), também foi atacado, e havia um plano para assassinar o vice-presidente Andrew Johnson (Glenn Morshower).

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Booth recebeu muita ajuda em sua fuga, que durou 12 dias, evidenciando uma rede de apoio a confederados que reunia fazendeiros, magnatas de Nova York e políticos.

O encarregado de caçá-lo é Edwin Stanton. Ele foi o coordenador da União (Estados do Norte, contrários à escravidão) na guerra civil e grande defensor da Reconstrução, uma série de medidas que visava integrar as pessoas negras recém-libertadas na sociedade, como a inclusão da abolição, seu status de cidadãos e direito a voto na Constituição, além da distribuição de terras.

Na série, Stanton lida com a culpa por não ter protegido o presidente, o luto pela perda do amigo, a necessidade de justiça e a briga para que a Reconstrução fosse realizada.

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'Último Ato' estreia seus dois primeiros episódios nesta sexta-feira, 15, no Apple TV+. Foto: Apple TV + /Divulgação

“Foi um momento de grande fragilidade de um país que estava começando sua existência”, disse o inglês Tobias Menzies. “A morte do presidente foi um choque no sistema. Havia um risco real de que a guerra recomeçasse.”

Thriller histórico

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A grande sacada de Último Ato é tratar essa intriga política como uma corrida contra o tempo. “É um thriller de roer as unhas porque foi uma época angustiante”, disse Hamish Linklater, que aparece majoritariamente em flashbacks. “O país poderia ter ido por um caminho totalmente diferente, a escravidão poderia ter sido restaurada. Foi por pouco. E o que esta história destaca é que muitas pessoas se levantaram para impedir que isso acontecesse.”

Entre elas, Mary Simms (Lovie Simone, de Selah e os Espadas), uma mulher negra recém-libertada que, por falta de opções, ainda trabalhava na mesma casa de seu antigo escravizador, o médico Samuel Mudd (Matt Walsh). Ele abrigou e atendeu Booth em sua fuga. Mary veio para o centro da narrativa, algo que não aconteceria alguns anos atrás.

'Último Ato' busca incluir personagens que ficaram de fora da história, como Mary Simms. Foto: Apple TV + /Divulgação

“As histórias da guerra civil costumam ter apenas homens brancos”, disse a criadora de Último Ato. “Muita gente me questionou sobre a presença de soldados negros. E eu falei que 200 mil soldados negros lutaram pela União. Todos ficaram chocados porque não é algo conhecido. Mary Simms era uma nota de rodapé na transcrição do julgamento. Não sabemos nada sobre ela. Mas Mary foi uma das primeiras testemunhas negras. Eu não precisei forçar nada, as mulheres e as pessoas negras sempre fizeram parte da história, só não estavam no foco.”

O passado no presente

Último Ato estabelece uma relação entre o passado e o presente, mostrando como o assassinato de Lincoln e a ascensão ao poder de Andrew Johnson, um ex-proprietário de escravos e defensor dos interesses dos fazendeiros dos Estados sulistas que tentaram se separar da União, atrasou o reconhecimento de pessoas negras como cidadãos.

“É difícil saber como os Estados Unidos seriam diferentes hoje caso as políticas da Reconstrução tivessem dado mais recursos aos libertados, em vez de simplesmente jogarem esses indivíduos aos leões”, disse Beletsky. “Lincoln e Stanton discutiam a integração de negros e brancos nas escolas em 1865, e isso só foi acontecer em 1965, cem anos mais tarde.”

No governo de Johnson e nos posteriores, os Estados do Sul criaram leis de segregação conhecidas como Jim Crow, que persistiram até o movimento pelos direitos civis e que ainda têm reflexos hoje. “Os confederados perderam a guerra, mas foram vitoriosos na paz”, disse Tobias Menzies.

'Último Ato' faz paralelos entre passado e presente. Foto: Apple TV+ / Divulgação

Os paralelos aparecem ainda no fato de poderosos estarem dispostos a tudo para manter o status quo, inclusive atentar contra a democracia – e, geralmente, saem ilesos, depois de incitar outros a cometerem atos criminosos. Booth, interpretado brilhantemente por Boyle, também inglês, é um poço de ressentimento por não ser tão reconhecido quanto seu pai e seu irmão. Ele queria ser um símbolo.

“Nós precisamos conhecer o passado para compreender o presente”, disse Beletsky. “Nossa democracia está sendo questionada neste exato momento. Precisamos entender o que nos trouxe até aqui. Boa parte de nossa história foi colocada nas sombras. Achei que trazer à tona alguns desses heróis desconhecidos poderia fazer a diferença.”

Para Menzies, a série tem um tema claro. “A democracia é algo frágil. Precisa ser cuidada, cultivada, mantida, trabalhada, defendida”, concluiu o ator.

Fazer uma produção de época só tem sentido se for para iluminar o presente ou incluir personagens que ficaram de fora da história. Último Ato (Manhunt), criada por Monica Beletsky (Fargo, The Leftovers), que estreia seus dois primeiros episódios na sexta-feira, 15, no Apple TV+, com os outros cinco capítulos estreando semanalmente, cumpre os dois papeis, com uma embalagem irresistível de true crime.

“Sou apaixonada por história e por true crime, então fiquei empolgada de fazer um true crime que se passou no século 19 e é tão relevante”, disse Beletsky em entrevista ao Estadão, por videoconferência.

A série, estrelada por Tobias Menzies, vencedor do Emmy por sua interpretação do príncipe Philip em The Crown, mostra a caçada pelo assassino de Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos que venceu a guerra civil e aboliu a escravatura. Menzies faz Edwin Stanton, o Ministro da Guerra encarregado de caçar o criminoso e defender o legado do presidente e amigo.

O que aconteceu com Abraham Lincoln

É possível que você só saiba o básico sobre o assunto: que Lincoln foi morto em 1865, durante a apresentação de uma peça, em um teatro, por um ator conhecido. E está tudo bem. Hamish Linklater, que interpreta Lincoln, e Monica Beletsky, que criou a série, ambos nascidos nos Estados Unidos, também não conheciam muito mais do que isso.

“Eu sabia o mesmo que você”, disse Linklater em entrevista ao Estadão. “Que Lincoln foi assassinado por um ator que era irmão do ator mais famoso da época. É como se o irmão do Pedro Pascal matasse o presidente”, completou o intérprete de Lincoln, que passou por três horas e meia de maquiagem diárias, emagreceu e ficou musculoso para fazer o papel.

'Último Ato' mostra a caçada pelo assassino de Abraham Lincoln. Foto: Apple TV + / Divulgação

Beletsky aprendeu sobre a história ao escrever a série. “Eu não tinha consciência de que o assassinato se deu apenas cinco dias após a rendição de Lee”, disse sobre o comandante do exército dos Estados confederados, que queriam se separar da União por se oporem à abolição da escravidão. “Também não sabia que naquela noite houve outros ataques. Me chocou perceber que se tratou de uma tentativa de golpe de Estado parcialmente bem-sucedida.”

Atentado contra a democracia

Lincoln foi assassinado durante a apresentação da peça Nosso Primo Americano, no Teatro Ford, em Washington D.C., com um tiro na cabeça, disparado pelo ator John Wilkes Booth, interpretado, na série, por Anthony Boyle (de Mestres do Ar). Mas Booth não agiu sozinho. O secretário de Estado, William H. Seward (Larry Pine), também foi atacado, e havia um plano para assassinar o vice-presidente Andrew Johnson (Glenn Morshower).

Booth recebeu muita ajuda em sua fuga, que durou 12 dias, evidenciando uma rede de apoio a confederados que reunia fazendeiros, magnatas de Nova York e políticos.

O encarregado de caçá-lo é Edwin Stanton. Ele foi o coordenador da União (Estados do Norte, contrários à escravidão) na guerra civil e grande defensor da Reconstrução, uma série de medidas que visava integrar as pessoas negras recém-libertadas na sociedade, como a inclusão da abolição, seu status de cidadãos e direito a voto na Constituição, além da distribuição de terras.

Na série, Stanton lida com a culpa por não ter protegido o presidente, o luto pela perda do amigo, a necessidade de justiça e a briga para que a Reconstrução fosse realizada.

'Último Ato' estreia seus dois primeiros episódios nesta sexta-feira, 15, no Apple TV+. Foto: Apple TV + /Divulgação

“Foi um momento de grande fragilidade de um país que estava começando sua existência”, disse o inglês Tobias Menzies. “A morte do presidente foi um choque no sistema. Havia um risco real de que a guerra recomeçasse.”

Thriller histórico

A grande sacada de Último Ato é tratar essa intriga política como uma corrida contra o tempo. “É um thriller de roer as unhas porque foi uma época angustiante”, disse Hamish Linklater, que aparece majoritariamente em flashbacks. “O país poderia ter ido por um caminho totalmente diferente, a escravidão poderia ter sido restaurada. Foi por pouco. E o que esta história destaca é que muitas pessoas se levantaram para impedir que isso acontecesse.”

Entre elas, Mary Simms (Lovie Simone, de Selah e os Espadas), uma mulher negra recém-libertada que, por falta de opções, ainda trabalhava na mesma casa de seu antigo escravizador, o médico Samuel Mudd (Matt Walsh). Ele abrigou e atendeu Booth em sua fuga. Mary veio para o centro da narrativa, algo que não aconteceria alguns anos atrás.

'Último Ato' busca incluir personagens que ficaram de fora da história, como Mary Simms. Foto: Apple TV + /Divulgação

“As histórias da guerra civil costumam ter apenas homens brancos”, disse a criadora de Último Ato. “Muita gente me questionou sobre a presença de soldados negros. E eu falei que 200 mil soldados negros lutaram pela União. Todos ficaram chocados porque não é algo conhecido. Mary Simms era uma nota de rodapé na transcrição do julgamento. Não sabemos nada sobre ela. Mas Mary foi uma das primeiras testemunhas negras. Eu não precisei forçar nada, as mulheres e as pessoas negras sempre fizeram parte da história, só não estavam no foco.”

O passado no presente

Último Ato estabelece uma relação entre o passado e o presente, mostrando como o assassinato de Lincoln e a ascensão ao poder de Andrew Johnson, um ex-proprietário de escravos e defensor dos interesses dos fazendeiros dos Estados sulistas que tentaram se separar da União, atrasou o reconhecimento de pessoas negras como cidadãos.

“É difícil saber como os Estados Unidos seriam diferentes hoje caso as políticas da Reconstrução tivessem dado mais recursos aos libertados, em vez de simplesmente jogarem esses indivíduos aos leões”, disse Beletsky. “Lincoln e Stanton discutiam a integração de negros e brancos nas escolas em 1865, e isso só foi acontecer em 1965, cem anos mais tarde.”

No governo de Johnson e nos posteriores, os Estados do Sul criaram leis de segregação conhecidas como Jim Crow, que persistiram até o movimento pelos direitos civis e que ainda têm reflexos hoje. “Os confederados perderam a guerra, mas foram vitoriosos na paz”, disse Tobias Menzies.

'Último Ato' faz paralelos entre passado e presente. Foto: Apple TV+ / Divulgação

Os paralelos aparecem ainda no fato de poderosos estarem dispostos a tudo para manter o status quo, inclusive atentar contra a democracia – e, geralmente, saem ilesos, depois de incitar outros a cometerem atos criminosos. Booth, interpretado brilhantemente por Boyle, também inglês, é um poço de ressentimento por não ser tão reconhecido quanto seu pai e seu irmão. Ele queria ser um símbolo.

“Nós precisamos conhecer o passado para compreender o presente”, disse Beletsky. “Nossa democracia está sendo questionada neste exato momento. Precisamos entender o que nos trouxe até aqui. Boa parte de nossa história foi colocada nas sombras. Achei que trazer à tona alguns desses heróis desconhecidos poderia fazer a diferença.”

Para Menzies, a série tem um tema claro. “A democracia é algo frágil. Precisa ser cuidada, cultivada, mantida, trabalhada, defendida”, concluiu o ator.

Fazer uma produção de época só tem sentido se for para iluminar o presente ou incluir personagens que ficaram de fora da história. Último Ato (Manhunt), criada por Monica Beletsky (Fargo, The Leftovers), que estreia seus dois primeiros episódios na sexta-feira, 15, no Apple TV+, com os outros cinco capítulos estreando semanalmente, cumpre os dois papeis, com uma embalagem irresistível de true crime.

“Sou apaixonada por história e por true crime, então fiquei empolgada de fazer um true crime que se passou no século 19 e é tão relevante”, disse Beletsky em entrevista ao Estadão, por videoconferência.

A série, estrelada por Tobias Menzies, vencedor do Emmy por sua interpretação do príncipe Philip em The Crown, mostra a caçada pelo assassino de Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos que venceu a guerra civil e aboliu a escravatura. Menzies faz Edwin Stanton, o Ministro da Guerra encarregado de caçar o criminoso e defender o legado do presidente e amigo.

O que aconteceu com Abraham Lincoln

É possível que você só saiba o básico sobre o assunto: que Lincoln foi morto em 1865, durante a apresentação de uma peça, em um teatro, por um ator conhecido. E está tudo bem. Hamish Linklater, que interpreta Lincoln, e Monica Beletsky, que criou a série, ambos nascidos nos Estados Unidos, também não conheciam muito mais do que isso.

“Eu sabia o mesmo que você”, disse Linklater em entrevista ao Estadão. “Que Lincoln foi assassinado por um ator que era irmão do ator mais famoso da época. É como se o irmão do Pedro Pascal matasse o presidente”, completou o intérprete de Lincoln, que passou por três horas e meia de maquiagem diárias, emagreceu e ficou musculoso para fazer o papel.

'Último Ato' mostra a caçada pelo assassino de Abraham Lincoln. Foto: Apple TV + / Divulgação

Beletsky aprendeu sobre a história ao escrever a série. “Eu não tinha consciência de que o assassinato se deu apenas cinco dias após a rendição de Lee”, disse sobre o comandante do exército dos Estados confederados, que queriam se separar da União por se oporem à abolição da escravidão. “Também não sabia que naquela noite houve outros ataques. Me chocou perceber que se tratou de uma tentativa de golpe de Estado parcialmente bem-sucedida.”

Atentado contra a democracia

Lincoln foi assassinado durante a apresentação da peça Nosso Primo Americano, no Teatro Ford, em Washington D.C., com um tiro na cabeça, disparado pelo ator John Wilkes Booth, interpretado, na série, por Anthony Boyle (de Mestres do Ar). Mas Booth não agiu sozinho. O secretário de Estado, William H. Seward (Larry Pine), também foi atacado, e havia um plano para assassinar o vice-presidente Andrew Johnson (Glenn Morshower).

Booth recebeu muita ajuda em sua fuga, que durou 12 dias, evidenciando uma rede de apoio a confederados que reunia fazendeiros, magnatas de Nova York e políticos.

O encarregado de caçá-lo é Edwin Stanton. Ele foi o coordenador da União (Estados do Norte, contrários à escravidão) na guerra civil e grande defensor da Reconstrução, uma série de medidas que visava integrar as pessoas negras recém-libertadas na sociedade, como a inclusão da abolição, seu status de cidadãos e direito a voto na Constituição, além da distribuição de terras.

Na série, Stanton lida com a culpa por não ter protegido o presidente, o luto pela perda do amigo, a necessidade de justiça e a briga para que a Reconstrução fosse realizada.

'Último Ato' estreia seus dois primeiros episódios nesta sexta-feira, 15, no Apple TV+. Foto: Apple TV + /Divulgação

“Foi um momento de grande fragilidade de um país que estava começando sua existência”, disse o inglês Tobias Menzies. “A morte do presidente foi um choque no sistema. Havia um risco real de que a guerra recomeçasse.”

Thriller histórico

A grande sacada de Último Ato é tratar essa intriga política como uma corrida contra o tempo. “É um thriller de roer as unhas porque foi uma época angustiante”, disse Hamish Linklater, que aparece majoritariamente em flashbacks. “O país poderia ter ido por um caminho totalmente diferente, a escravidão poderia ter sido restaurada. Foi por pouco. E o que esta história destaca é que muitas pessoas se levantaram para impedir que isso acontecesse.”

Entre elas, Mary Simms (Lovie Simone, de Selah e os Espadas), uma mulher negra recém-libertada que, por falta de opções, ainda trabalhava na mesma casa de seu antigo escravizador, o médico Samuel Mudd (Matt Walsh). Ele abrigou e atendeu Booth em sua fuga. Mary veio para o centro da narrativa, algo que não aconteceria alguns anos atrás.

'Último Ato' busca incluir personagens que ficaram de fora da história, como Mary Simms. Foto: Apple TV + /Divulgação

“As histórias da guerra civil costumam ter apenas homens brancos”, disse a criadora de Último Ato. “Muita gente me questionou sobre a presença de soldados negros. E eu falei que 200 mil soldados negros lutaram pela União. Todos ficaram chocados porque não é algo conhecido. Mary Simms era uma nota de rodapé na transcrição do julgamento. Não sabemos nada sobre ela. Mas Mary foi uma das primeiras testemunhas negras. Eu não precisei forçar nada, as mulheres e as pessoas negras sempre fizeram parte da história, só não estavam no foco.”

O passado no presente

Último Ato estabelece uma relação entre o passado e o presente, mostrando como o assassinato de Lincoln e a ascensão ao poder de Andrew Johnson, um ex-proprietário de escravos e defensor dos interesses dos fazendeiros dos Estados sulistas que tentaram se separar da União, atrasou o reconhecimento de pessoas negras como cidadãos.

“É difícil saber como os Estados Unidos seriam diferentes hoje caso as políticas da Reconstrução tivessem dado mais recursos aos libertados, em vez de simplesmente jogarem esses indivíduos aos leões”, disse Beletsky. “Lincoln e Stanton discutiam a integração de negros e brancos nas escolas em 1865, e isso só foi acontecer em 1965, cem anos mais tarde.”

No governo de Johnson e nos posteriores, os Estados do Sul criaram leis de segregação conhecidas como Jim Crow, que persistiram até o movimento pelos direitos civis e que ainda têm reflexos hoje. “Os confederados perderam a guerra, mas foram vitoriosos na paz”, disse Tobias Menzies.

'Último Ato' faz paralelos entre passado e presente. Foto: Apple TV+ / Divulgação

Os paralelos aparecem ainda no fato de poderosos estarem dispostos a tudo para manter o status quo, inclusive atentar contra a democracia – e, geralmente, saem ilesos, depois de incitar outros a cometerem atos criminosos. Booth, interpretado brilhantemente por Boyle, também inglês, é um poço de ressentimento por não ser tão reconhecido quanto seu pai e seu irmão. Ele queria ser um símbolo.

“Nós precisamos conhecer o passado para compreender o presente”, disse Beletsky. “Nossa democracia está sendo questionada neste exato momento. Precisamos entender o que nos trouxe até aqui. Boa parte de nossa história foi colocada nas sombras. Achei que trazer à tona alguns desses heróis desconhecidos poderia fazer a diferença.”

Para Menzies, a série tem um tema claro. “A democracia é algo frágil. Precisa ser cuidada, cultivada, mantida, trabalhada, defendida”, concluiu o ator.

Fazer uma produção de época só tem sentido se for para iluminar o presente ou incluir personagens que ficaram de fora da história. Último Ato (Manhunt), criada por Monica Beletsky (Fargo, The Leftovers), que estreia seus dois primeiros episódios na sexta-feira, 15, no Apple TV+, com os outros cinco capítulos estreando semanalmente, cumpre os dois papeis, com uma embalagem irresistível de true crime.

“Sou apaixonada por história e por true crime, então fiquei empolgada de fazer um true crime que se passou no século 19 e é tão relevante”, disse Beletsky em entrevista ao Estadão, por videoconferência.

A série, estrelada por Tobias Menzies, vencedor do Emmy por sua interpretação do príncipe Philip em The Crown, mostra a caçada pelo assassino de Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos que venceu a guerra civil e aboliu a escravatura. Menzies faz Edwin Stanton, o Ministro da Guerra encarregado de caçar o criminoso e defender o legado do presidente e amigo.

O que aconteceu com Abraham Lincoln

É possível que você só saiba o básico sobre o assunto: que Lincoln foi morto em 1865, durante a apresentação de uma peça, em um teatro, por um ator conhecido. E está tudo bem. Hamish Linklater, que interpreta Lincoln, e Monica Beletsky, que criou a série, ambos nascidos nos Estados Unidos, também não conheciam muito mais do que isso.

“Eu sabia o mesmo que você”, disse Linklater em entrevista ao Estadão. “Que Lincoln foi assassinado por um ator que era irmão do ator mais famoso da época. É como se o irmão do Pedro Pascal matasse o presidente”, completou o intérprete de Lincoln, que passou por três horas e meia de maquiagem diárias, emagreceu e ficou musculoso para fazer o papel.

'Último Ato' mostra a caçada pelo assassino de Abraham Lincoln. Foto: Apple TV + / Divulgação

Beletsky aprendeu sobre a história ao escrever a série. “Eu não tinha consciência de que o assassinato se deu apenas cinco dias após a rendição de Lee”, disse sobre o comandante do exército dos Estados confederados, que queriam se separar da União por se oporem à abolição da escravidão. “Também não sabia que naquela noite houve outros ataques. Me chocou perceber que se tratou de uma tentativa de golpe de Estado parcialmente bem-sucedida.”

Atentado contra a democracia

Lincoln foi assassinado durante a apresentação da peça Nosso Primo Americano, no Teatro Ford, em Washington D.C., com um tiro na cabeça, disparado pelo ator John Wilkes Booth, interpretado, na série, por Anthony Boyle (de Mestres do Ar). Mas Booth não agiu sozinho. O secretário de Estado, William H. Seward (Larry Pine), também foi atacado, e havia um plano para assassinar o vice-presidente Andrew Johnson (Glenn Morshower).

Booth recebeu muita ajuda em sua fuga, que durou 12 dias, evidenciando uma rede de apoio a confederados que reunia fazendeiros, magnatas de Nova York e políticos.

O encarregado de caçá-lo é Edwin Stanton. Ele foi o coordenador da União (Estados do Norte, contrários à escravidão) na guerra civil e grande defensor da Reconstrução, uma série de medidas que visava integrar as pessoas negras recém-libertadas na sociedade, como a inclusão da abolição, seu status de cidadãos e direito a voto na Constituição, além da distribuição de terras.

Na série, Stanton lida com a culpa por não ter protegido o presidente, o luto pela perda do amigo, a necessidade de justiça e a briga para que a Reconstrução fosse realizada.

'Último Ato' estreia seus dois primeiros episódios nesta sexta-feira, 15, no Apple TV+. Foto: Apple TV + /Divulgação

“Foi um momento de grande fragilidade de um país que estava começando sua existência”, disse o inglês Tobias Menzies. “A morte do presidente foi um choque no sistema. Havia um risco real de que a guerra recomeçasse.”

Thriller histórico

A grande sacada de Último Ato é tratar essa intriga política como uma corrida contra o tempo. “É um thriller de roer as unhas porque foi uma época angustiante”, disse Hamish Linklater, que aparece majoritariamente em flashbacks. “O país poderia ter ido por um caminho totalmente diferente, a escravidão poderia ter sido restaurada. Foi por pouco. E o que esta história destaca é que muitas pessoas se levantaram para impedir que isso acontecesse.”

Entre elas, Mary Simms (Lovie Simone, de Selah e os Espadas), uma mulher negra recém-libertada que, por falta de opções, ainda trabalhava na mesma casa de seu antigo escravizador, o médico Samuel Mudd (Matt Walsh). Ele abrigou e atendeu Booth em sua fuga. Mary veio para o centro da narrativa, algo que não aconteceria alguns anos atrás.

'Último Ato' busca incluir personagens que ficaram de fora da história, como Mary Simms. Foto: Apple TV + /Divulgação

“As histórias da guerra civil costumam ter apenas homens brancos”, disse a criadora de Último Ato. “Muita gente me questionou sobre a presença de soldados negros. E eu falei que 200 mil soldados negros lutaram pela União. Todos ficaram chocados porque não é algo conhecido. Mary Simms era uma nota de rodapé na transcrição do julgamento. Não sabemos nada sobre ela. Mas Mary foi uma das primeiras testemunhas negras. Eu não precisei forçar nada, as mulheres e as pessoas negras sempre fizeram parte da história, só não estavam no foco.”

O passado no presente

Último Ato estabelece uma relação entre o passado e o presente, mostrando como o assassinato de Lincoln e a ascensão ao poder de Andrew Johnson, um ex-proprietário de escravos e defensor dos interesses dos fazendeiros dos Estados sulistas que tentaram se separar da União, atrasou o reconhecimento de pessoas negras como cidadãos.

“É difícil saber como os Estados Unidos seriam diferentes hoje caso as políticas da Reconstrução tivessem dado mais recursos aos libertados, em vez de simplesmente jogarem esses indivíduos aos leões”, disse Beletsky. “Lincoln e Stanton discutiam a integração de negros e brancos nas escolas em 1865, e isso só foi acontecer em 1965, cem anos mais tarde.”

No governo de Johnson e nos posteriores, os Estados do Sul criaram leis de segregação conhecidas como Jim Crow, que persistiram até o movimento pelos direitos civis e que ainda têm reflexos hoje. “Os confederados perderam a guerra, mas foram vitoriosos na paz”, disse Tobias Menzies.

'Último Ato' faz paralelos entre passado e presente. Foto: Apple TV+ / Divulgação

Os paralelos aparecem ainda no fato de poderosos estarem dispostos a tudo para manter o status quo, inclusive atentar contra a democracia – e, geralmente, saem ilesos, depois de incitar outros a cometerem atos criminosos. Booth, interpretado brilhantemente por Boyle, também inglês, é um poço de ressentimento por não ser tão reconhecido quanto seu pai e seu irmão. Ele queria ser um símbolo.

“Nós precisamos conhecer o passado para compreender o presente”, disse Beletsky. “Nossa democracia está sendo questionada neste exato momento. Precisamos entender o que nos trouxe até aqui. Boa parte de nossa história foi colocada nas sombras. Achei que trazer à tona alguns desses heróis desconhecidos poderia fazer a diferença.”

Para Menzies, a série tem um tema claro. “A democracia é algo frágil. Precisa ser cuidada, cultivada, mantida, trabalhada, defendida”, concluiu o ator.

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