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Opinião|Crítica: em Meu Nome É Gal, Sophie Charlotte encanta como Gal e Rodrigo Lellis assusta como Caetano


Filme estreia nesta quinta, 12, e é síntese da brasilidade, aproveitando o despertar de uma das principais vozes do País para mostrar a ditadura militar pelos olhos dos artistas; veja trechos do filme

Por Simião Castro
Atualização:

É bom demais ver o Brasil na tela. E Meu nome é Gal aproveita que vai contar a história da cantora para documentar a ditadura no país. Mas faz isso de dentro, de forma muito esperta. Até porque, não dá para separar a trajetória de Gal Costa do regime autoritário.

Em cena de 'Meu Nome é Gal', Sophie Charlotte interpreta a cantora no Festival de MPB da TV Record em 1968 Foto: Paris Filmes/Divulgação

O filme estreia nesta quinta-feira, 12, e recorta um pedaço da vida da cantora, uma das maiores vozes que o Brasil já ouviu. E é exatamente o despertar desta voz que o longa de Dandara Ferreira e Lô Politi mostra no período entre 1966 e 1971.

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A narrativa é bem executada, apesar de cronológica — exceto por dois flashbacks belíssimos no início e no final. O filme poderia se beneficiar de um modelo mais criativo, com idas e vindas dinâmicas. Mas talvez seja uma referência muito christopher-nolanesca.

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De jeito muito inteligente a produção usa vídeos históricos reais da época mesclados às novas gravações. Chegando às vezes a confundir — o que é bom —, mas como recurso eficiente de sinalização temporal.

A película abre com a estreia do show Fa-Tal e logo depois volta no tempo, para acompanhar a chegada de Gal ao Rio, e o período em São Paulo, até chegar novamente à emblemática apresentação.

Rodrigo Lellis, como Caetano Veloso, e Sophie Charlotte, como Gal Costa; elenco de 'Meu nome é Gal' é excepcional  Foto: Paris Filmes/Divulgação
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É nesse retorno que o filme vai explorar o nascimento da estrela — sem referências ao clássico hollywoodiano. Muito embora seja possível traçar paralelos na relação dela com Caetano Veloso — como mentor, compositor e chanceler de Gal — e o “olheiro” dos longas gringos.

Mas as comparações terminam aí. Meu nome é Gal é uma síntese da brasilidade. Seja nos aspectos mais históricos — ao retratar a ebulição da Tropicália, a revolução da MPB e a resistência contra a ditadura militar —, ou pela ótica técnica — com a bela direção e o ótimo texto.

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Em cena de 'Meu Nome é Gal', precursores da Tropicália discutem os rumos do movimento

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Elenco brilhante

Tudo começa muito solar, apesar do recente golpe de estado que o país sofrera apenas dois anos antes. Os músicos vivem num refúgio carioca onde ainda é possível sorrir, cantar e fazer festa. A transição para os tempos cinzentos vem sorrateira e competentemente, conduzindo o espectador para uma austeridade crescente — na tela e na história.

Outro elemento favorável são as atuações. Enquanto Sophie Charlotte verdadeiramente incorpora Gal Costa e arrepia cantando, Rodrigo Lellis está assustador como Caetano. O ator canalizou à perfeição a voz, os trejeitos e a aura do músico.

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Vale mencionar também a sensibilidade de Dan Ferreira como Gilberto Gil, que protagoniza uma das cenas mais tocantes do filme. E transmite com sutileza a potência e ternura do mineiro.

Luis Lobianco é o alívio cômico, como o divertido empresário Guilherme Araújo. E não dá para ignorar a própria diretora, Dandara Ferreira, numa performance inspiradíssima de Maria Bethânia.

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Cena de Gal Costa mostra empresário e amigos da cantora em debate pela escolha do nome artístico de Gal

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Esse talvez seja o grande trunfo de Meu nome é Gal. Conseguir representar esses ícones brasileiros sem caricaturas, mas ainda assim mantendo características claras das personagens que permitem identificação imediata.

Sophie inclusive traz, além da voz, olhos de ressaca quase como os de Capitu, o que garante uma dimensão tímida para uma Gal que começava ainda a se soltar. Até culminar no espetáculo que foi o Festival de MPB da TV Record em 1968, com a histórica Divino maravilhoso como hino de protesto.

O retrato de um país

Gal hesita em se posicionar politicamente, tenta se manter cautelosa quanto ao endurecimento da ditadura militar. Até não poder mais. O ápice é quando Caetano e Gil são presos e posteriormente fogem para o exílio.

Com o arbítrio tão perto do coração, não pode mais evitar. Vira de vez a voz do movimento. Até porque outros tropicalistas precisaram sair do Brasil para preservar a vida. Ela fica e enfrenta.

Ao centro, Sophie Charlotte como Gal. Debruçado na areia, George Sauma como Waly Salomão Foto: Paris Filmes/Divulgação

As múltiplas relações da cantora são um pilar do filme. Sempre discreta, Gal deixava a vida particular — e amorosa — de fora dos holofotes. O que é tratado muito respeitosamente na produção.

Mas o roteiro dá conta também do vínculo da artista com a mãe, os amigos e, mais importante, a relação consigo mesma. Os próprios conflitos. Além disso, retrata inclusive o contato às vezes belicoso com a imprensa e resume em uma fala a vida da cantora: “Meu negócio é a música”.

No fim, é isso. Meu nome é Gal é um desenho dos anos de chumbo do regime militar, traduzido pela história de uma voz. Uma das maiores vozes do Brasil. E visto a partir do que não vimos. Da perspectiva dos que viveram o período.

É bom demais ver o Brasil na tela. E Meu nome é Gal aproveita que vai contar a história da cantora para documentar a ditadura no país. Mas faz isso de dentro, de forma muito esperta. Até porque, não dá para separar a trajetória de Gal Costa do regime autoritário.

Em cena de 'Meu Nome é Gal', Sophie Charlotte interpreta a cantora no Festival de MPB da TV Record em 1968 Foto: Paris Filmes/Divulgação

O filme estreia nesta quinta-feira, 12, e recorta um pedaço da vida da cantora, uma das maiores vozes que o Brasil já ouviu. E é exatamente o despertar desta voz que o longa de Dandara Ferreira e Lô Politi mostra no período entre 1966 e 1971.

A narrativa é bem executada, apesar de cronológica — exceto por dois flashbacks belíssimos no início e no final. O filme poderia se beneficiar de um modelo mais criativo, com idas e vindas dinâmicas. Mas talvez seja uma referência muito christopher-nolanesca.

De jeito muito inteligente a produção usa vídeos históricos reais da época mesclados às novas gravações. Chegando às vezes a confundir — o que é bom —, mas como recurso eficiente de sinalização temporal.

A película abre com a estreia do show Fa-Tal e logo depois volta no tempo, para acompanhar a chegada de Gal ao Rio, e o período em São Paulo, até chegar novamente à emblemática apresentação.

Rodrigo Lellis, como Caetano Veloso, e Sophie Charlotte, como Gal Costa; elenco de 'Meu nome é Gal' é excepcional  Foto: Paris Filmes/Divulgação

É nesse retorno que o filme vai explorar o nascimento da estrela — sem referências ao clássico hollywoodiano. Muito embora seja possível traçar paralelos na relação dela com Caetano Veloso — como mentor, compositor e chanceler de Gal — e o “olheiro” dos longas gringos.

Mas as comparações terminam aí. Meu nome é Gal é uma síntese da brasilidade. Seja nos aspectos mais históricos — ao retratar a ebulição da Tropicália, a revolução da MPB e a resistência contra a ditadura militar —, ou pela ótica técnica — com a bela direção e o ótimo texto.

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Em cena de 'Meu Nome é Gal', precursores da Tropicália discutem os rumos do movimento

Elenco brilhante

Tudo começa muito solar, apesar do recente golpe de estado que o país sofrera apenas dois anos antes. Os músicos vivem num refúgio carioca onde ainda é possível sorrir, cantar e fazer festa. A transição para os tempos cinzentos vem sorrateira e competentemente, conduzindo o espectador para uma austeridade crescente — na tela e na história.

Outro elemento favorável são as atuações. Enquanto Sophie Charlotte verdadeiramente incorpora Gal Costa e arrepia cantando, Rodrigo Lellis está assustador como Caetano. O ator canalizou à perfeição a voz, os trejeitos e a aura do músico.

Vale mencionar também a sensibilidade de Dan Ferreira como Gilberto Gil, que protagoniza uma das cenas mais tocantes do filme. E transmite com sutileza a potência e ternura do mineiro.

Luis Lobianco é o alívio cômico, como o divertido empresário Guilherme Araújo. E não dá para ignorar a própria diretora, Dandara Ferreira, numa performance inspiradíssima de Maria Bethânia.

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Cena de Gal Costa mostra empresário e amigos da cantora em debate pela escolha do nome artístico de Gal

Esse talvez seja o grande trunfo de Meu nome é Gal. Conseguir representar esses ícones brasileiros sem caricaturas, mas ainda assim mantendo características claras das personagens que permitem identificação imediata.

Sophie inclusive traz, além da voz, olhos de ressaca quase como os de Capitu, o que garante uma dimensão tímida para uma Gal que começava ainda a se soltar. Até culminar no espetáculo que foi o Festival de MPB da TV Record em 1968, com a histórica Divino maravilhoso como hino de protesto.

O retrato de um país

Gal hesita em se posicionar politicamente, tenta se manter cautelosa quanto ao endurecimento da ditadura militar. Até não poder mais. O ápice é quando Caetano e Gil são presos e posteriormente fogem para o exílio.

Com o arbítrio tão perto do coração, não pode mais evitar. Vira de vez a voz do movimento. Até porque outros tropicalistas precisaram sair do Brasil para preservar a vida. Ela fica e enfrenta.

Ao centro, Sophie Charlotte como Gal. Debruçado na areia, George Sauma como Waly Salomão Foto: Paris Filmes/Divulgação

As múltiplas relações da cantora são um pilar do filme. Sempre discreta, Gal deixava a vida particular — e amorosa — de fora dos holofotes. O que é tratado muito respeitosamente na produção.

Mas o roteiro dá conta também do vínculo da artista com a mãe, os amigos e, mais importante, a relação consigo mesma. Os próprios conflitos. Além disso, retrata inclusive o contato às vezes belicoso com a imprensa e resume em uma fala a vida da cantora: “Meu negócio é a música”.

No fim, é isso. Meu nome é Gal é um desenho dos anos de chumbo do regime militar, traduzido pela história de uma voz. Uma das maiores vozes do Brasil. E visto a partir do que não vimos. Da perspectiva dos que viveram o período.

É bom demais ver o Brasil na tela. E Meu nome é Gal aproveita que vai contar a história da cantora para documentar a ditadura no país. Mas faz isso de dentro, de forma muito esperta. Até porque, não dá para separar a trajetória de Gal Costa do regime autoritário.

Em cena de 'Meu Nome é Gal', Sophie Charlotte interpreta a cantora no Festival de MPB da TV Record em 1968 Foto: Paris Filmes/Divulgação

O filme estreia nesta quinta-feira, 12, e recorta um pedaço da vida da cantora, uma das maiores vozes que o Brasil já ouviu. E é exatamente o despertar desta voz que o longa de Dandara Ferreira e Lô Politi mostra no período entre 1966 e 1971.

A narrativa é bem executada, apesar de cronológica — exceto por dois flashbacks belíssimos no início e no final. O filme poderia se beneficiar de um modelo mais criativo, com idas e vindas dinâmicas. Mas talvez seja uma referência muito christopher-nolanesca.

De jeito muito inteligente a produção usa vídeos históricos reais da época mesclados às novas gravações. Chegando às vezes a confundir — o que é bom —, mas como recurso eficiente de sinalização temporal.

A película abre com a estreia do show Fa-Tal e logo depois volta no tempo, para acompanhar a chegada de Gal ao Rio, e o período em São Paulo, até chegar novamente à emblemática apresentação.

Rodrigo Lellis, como Caetano Veloso, e Sophie Charlotte, como Gal Costa; elenco de 'Meu nome é Gal' é excepcional  Foto: Paris Filmes/Divulgação

É nesse retorno que o filme vai explorar o nascimento da estrela — sem referências ao clássico hollywoodiano. Muito embora seja possível traçar paralelos na relação dela com Caetano Veloso — como mentor, compositor e chanceler de Gal — e o “olheiro” dos longas gringos.

Mas as comparações terminam aí. Meu nome é Gal é uma síntese da brasilidade. Seja nos aspectos mais históricos — ao retratar a ebulição da Tropicália, a revolução da MPB e a resistência contra a ditadura militar —, ou pela ótica técnica — com a bela direção e o ótimo texto.

Seu navegador não suporta esse video.

Em cena de 'Meu Nome é Gal', precursores da Tropicália discutem os rumos do movimento

Elenco brilhante

Tudo começa muito solar, apesar do recente golpe de estado que o país sofrera apenas dois anos antes. Os músicos vivem num refúgio carioca onde ainda é possível sorrir, cantar e fazer festa. A transição para os tempos cinzentos vem sorrateira e competentemente, conduzindo o espectador para uma austeridade crescente — na tela e na história.

Outro elemento favorável são as atuações. Enquanto Sophie Charlotte verdadeiramente incorpora Gal Costa e arrepia cantando, Rodrigo Lellis está assustador como Caetano. O ator canalizou à perfeição a voz, os trejeitos e a aura do músico.

Vale mencionar também a sensibilidade de Dan Ferreira como Gilberto Gil, que protagoniza uma das cenas mais tocantes do filme. E transmite com sutileza a potência e ternura do mineiro.

Luis Lobianco é o alívio cômico, como o divertido empresário Guilherme Araújo. E não dá para ignorar a própria diretora, Dandara Ferreira, numa performance inspiradíssima de Maria Bethânia.

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Cena de Gal Costa mostra empresário e amigos da cantora em debate pela escolha do nome artístico de Gal

Esse talvez seja o grande trunfo de Meu nome é Gal. Conseguir representar esses ícones brasileiros sem caricaturas, mas ainda assim mantendo características claras das personagens que permitem identificação imediata.

Sophie inclusive traz, além da voz, olhos de ressaca quase como os de Capitu, o que garante uma dimensão tímida para uma Gal que começava ainda a se soltar. Até culminar no espetáculo que foi o Festival de MPB da TV Record em 1968, com a histórica Divino maravilhoso como hino de protesto.

O retrato de um país

Gal hesita em se posicionar politicamente, tenta se manter cautelosa quanto ao endurecimento da ditadura militar. Até não poder mais. O ápice é quando Caetano e Gil são presos e posteriormente fogem para o exílio.

Com o arbítrio tão perto do coração, não pode mais evitar. Vira de vez a voz do movimento. Até porque outros tropicalistas precisaram sair do Brasil para preservar a vida. Ela fica e enfrenta.

Ao centro, Sophie Charlotte como Gal. Debruçado na areia, George Sauma como Waly Salomão Foto: Paris Filmes/Divulgação

As múltiplas relações da cantora são um pilar do filme. Sempre discreta, Gal deixava a vida particular — e amorosa — de fora dos holofotes. O que é tratado muito respeitosamente na produção.

Mas o roteiro dá conta também do vínculo da artista com a mãe, os amigos e, mais importante, a relação consigo mesma. Os próprios conflitos. Além disso, retrata inclusive o contato às vezes belicoso com a imprensa e resume em uma fala a vida da cantora: “Meu negócio é a música”.

No fim, é isso. Meu nome é Gal é um desenho dos anos de chumbo do regime militar, traduzido pela história de uma voz. Uma das maiores vozes do Brasil. E visto a partir do que não vimos. Da perspectiva dos que viveram o período.

É bom demais ver o Brasil na tela. E Meu nome é Gal aproveita que vai contar a história da cantora para documentar a ditadura no país. Mas faz isso de dentro, de forma muito esperta. Até porque, não dá para separar a trajetória de Gal Costa do regime autoritário.

Em cena de 'Meu Nome é Gal', Sophie Charlotte interpreta a cantora no Festival de MPB da TV Record em 1968 Foto: Paris Filmes/Divulgação

O filme estreia nesta quinta-feira, 12, e recorta um pedaço da vida da cantora, uma das maiores vozes que o Brasil já ouviu. E é exatamente o despertar desta voz que o longa de Dandara Ferreira e Lô Politi mostra no período entre 1966 e 1971.

A narrativa é bem executada, apesar de cronológica — exceto por dois flashbacks belíssimos no início e no final. O filme poderia se beneficiar de um modelo mais criativo, com idas e vindas dinâmicas. Mas talvez seja uma referência muito christopher-nolanesca.

De jeito muito inteligente a produção usa vídeos históricos reais da época mesclados às novas gravações. Chegando às vezes a confundir — o que é bom —, mas como recurso eficiente de sinalização temporal.

A película abre com a estreia do show Fa-Tal e logo depois volta no tempo, para acompanhar a chegada de Gal ao Rio, e o período em São Paulo, até chegar novamente à emblemática apresentação.

Rodrigo Lellis, como Caetano Veloso, e Sophie Charlotte, como Gal Costa; elenco de 'Meu nome é Gal' é excepcional  Foto: Paris Filmes/Divulgação

É nesse retorno que o filme vai explorar o nascimento da estrela — sem referências ao clássico hollywoodiano. Muito embora seja possível traçar paralelos na relação dela com Caetano Veloso — como mentor, compositor e chanceler de Gal — e o “olheiro” dos longas gringos.

Mas as comparações terminam aí. Meu nome é Gal é uma síntese da brasilidade. Seja nos aspectos mais históricos — ao retratar a ebulição da Tropicália, a revolução da MPB e a resistência contra a ditadura militar —, ou pela ótica técnica — com a bela direção e o ótimo texto.

Seu navegador não suporta esse video.

Em cena de 'Meu Nome é Gal', precursores da Tropicália discutem os rumos do movimento

Elenco brilhante

Tudo começa muito solar, apesar do recente golpe de estado que o país sofrera apenas dois anos antes. Os músicos vivem num refúgio carioca onde ainda é possível sorrir, cantar e fazer festa. A transição para os tempos cinzentos vem sorrateira e competentemente, conduzindo o espectador para uma austeridade crescente — na tela e na história.

Outro elemento favorável são as atuações. Enquanto Sophie Charlotte verdadeiramente incorpora Gal Costa e arrepia cantando, Rodrigo Lellis está assustador como Caetano. O ator canalizou à perfeição a voz, os trejeitos e a aura do músico.

Vale mencionar também a sensibilidade de Dan Ferreira como Gilberto Gil, que protagoniza uma das cenas mais tocantes do filme. E transmite com sutileza a potência e ternura do mineiro.

Luis Lobianco é o alívio cômico, como o divertido empresário Guilherme Araújo. E não dá para ignorar a própria diretora, Dandara Ferreira, numa performance inspiradíssima de Maria Bethânia.

Seu navegador não suporta esse video.

Cena de Gal Costa mostra empresário e amigos da cantora em debate pela escolha do nome artístico de Gal

Esse talvez seja o grande trunfo de Meu nome é Gal. Conseguir representar esses ícones brasileiros sem caricaturas, mas ainda assim mantendo características claras das personagens que permitem identificação imediata.

Sophie inclusive traz, além da voz, olhos de ressaca quase como os de Capitu, o que garante uma dimensão tímida para uma Gal que começava ainda a se soltar. Até culminar no espetáculo que foi o Festival de MPB da TV Record em 1968, com a histórica Divino maravilhoso como hino de protesto.

O retrato de um país

Gal hesita em se posicionar politicamente, tenta se manter cautelosa quanto ao endurecimento da ditadura militar. Até não poder mais. O ápice é quando Caetano e Gil são presos e posteriormente fogem para o exílio.

Com o arbítrio tão perto do coração, não pode mais evitar. Vira de vez a voz do movimento. Até porque outros tropicalistas precisaram sair do Brasil para preservar a vida. Ela fica e enfrenta.

Ao centro, Sophie Charlotte como Gal. Debruçado na areia, George Sauma como Waly Salomão Foto: Paris Filmes/Divulgação

As múltiplas relações da cantora são um pilar do filme. Sempre discreta, Gal deixava a vida particular — e amorosa — de fora dos holofotes. O que é tratado muito respeitosamente na produção.

Mas o roteiro dá conta também do vínculo da artista com a mãe, os amigos e, mais importante, a relação consigo mesma. Os próprios conflitos. Além disso, retrata inclusive o contato às vezes belicoso com a imprensa e resume em uma fala a vida da cantora: “Meu negócio é a música”.

No fim, é isso. Meu nome é Gal é um desenho dos anos de chumbo do regime militar, traduzido pela história de uma voz. Uma das maiores vozes do Brasil. E visto a partir do que não vimos. Da perspectiva dos que viveram o período.

Opinião por Simião Castro

Repórter de Cultura do Estadão

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