Por que a vida realizada se tornou tão diferente do que nossos sonhos propunham?
Será que devemos assumir uma culpa horrorosa de incompetência e nos declararmos falidos?
Acho muito pesado, apesar de haver uma série de verdades muito duras que precisaríamos reconhecer a respeito de nossa real competência.
Parece essa história de amantes que brigam e se esfolam até conseguirem um dia se livrarem definitivamente um do outro, e aí, o que acontece? Retornam as memórias dos momentos perfeitos experimentados quando estavam juntos, situações que impactam a consciência e que renovam o desejo ardente de se vincularem e estarem presentes.
Porém, nessa hora "Inês é Morta", é impossível retornar ao passado depois de tanto abuso e insulto.
Resta a hora da solidão numa madrugada perdida no Infinito, com a insônia a obrigar a consciência a lidar com as imagens de tudo que se perdeu, de tudo que nunca deveria ter sido destruído, porque era o que continha em si as sementes de maior glória, as oportunidades desconsideradas...
A vida, porém, pode ser tudo, cruel, dura e severa, mas nunca poderemos acusá-la de injusta. Nada se perde na vida, tudo se recicla, o vento do Infinito sopra através de nossas existências, que são apenas um instante. Aí, o cansaço dos milênios se apossa de nossos ossos e em um segundo nos transformamos em pó e em olvido, agregando com nossa melancolia a corrente de memórias que circula desde que nossa humanidade percebeu que tinha perdido uma grande oportunidade de ser feliz.