Dos poetas que tiveram vida curta, Sylvia Plath, que completaria 90 anos nesta quinta-feira, 27, é uma das mais celebradas nos dias de hoje. Embora tenha morrido aos 30 anos, em 1963, a autora de A Redoma de Vidro é cultuada por uma geração de jovens que não se enxerga em projeções do american way of life. São mentes conscientes das perdas da vida, fragilidades e de todo processo de sofrimento da juventude, como Plath bem escreveu em seu único romance. Ela se destacou como uma poeta confessional, transportou suas angústias para o papel.
Começou cedo na literatura. Sylvia Plath publicou seu primeiro poema aos 8 anos de idade, no Boston Herald, um dos mais tradicionais de Massachusetts, à época da morte de seu pai, vítima de complicações da diabetes e de um câncer. A perda precoce do pai deixou uma mácula na vida da menina que, solitária, soube olhar para si desde muito cedo para investigar questões profundas, como a tristeza.
Nos diários de Sylvia Plath, que se tornaram best-seller, essas angústias são reveladas com franqueza e poesia. Como no seguinte trecho da edição em português de Diários: “Posso viver com mais segurança que os rapazes que conheci e invejei, ter filhos e instilar neles o desejo intenso de aprender e amar a vida que eu jamais chegarei a sentir plenamente, pois não há tempo, pois não há mais tempo, em vez disso há o medo súbito e desesperado, o relógio que bate e a neve que cai de repente demais [...], nos anos fáceis poderei amadurecer e descobrir meu caminho. Agora estou vivendo numa situação crítica. Estamos todos na beira do precipício, isso exige muito vigor, muita energia, seguir pela borda, olhar para baixo, ver a escuridão profunda”, escreve ela.
A escritora foi a prova de que uma vida glamourosa não é sinônimo do sucesso que os americanos de sua geração tanto ansiavam. Durante sua graduação, Plath fez um estágio na revista Mademoiselle, publicação feminina de prestígio na época, que publicava contos de grandes escritores e novos talentos, gente da envergadura de Carson McCullers (1917-1967), por exemplo. Foi dessa experiência que surgiu a personagem Esther Greenwood, de sua Redoma de Vidro.
Aos 23 anos, Sylvia Plath se casou com o também poeta Ted Hughes e há um debate fervoroso acerca da relação dos dois e o quanto sua vida (e literatura, por consequência) foi impactada pelos problemas conjugais.
Estudante em Cambridge, Ted e Sylvia tiveram um casamento tortuoso, que perdurou até 1962, ano em que a autora se divorciou e escreveu a história de Greenwood, com ecos autobiográficos. Plath se suicidou no ano seguinte, em 1963, sufocada por gás de cozinha.
Tendo escrito diários desde criança, após a morte de Sylvia Plath, Hughes manteve os originais em segredo. A polêmica em torno dos escritos remete aos últimos anos da autora (destruídos pelo ex-marido). Os volumes iniciais saíram ainda nos anos 1980, os demais, só no início dos anos 2000, após a morte de Hughes.
Para organizar pensamentos, dar vazão à imaginação e deixar como registro suas emoções, Sylvia Plath usava os cadernos como laboratório para suas obras. De poemas manuscritos no ato de suas inspirações aos abismos da solidão, ela deixou eternizado um diário aberto sobre o que é a depressão, com lirismo e coragem que inspiram gerações há mais de meio século.