De Ramiro a Euclides da Cunha: ‘Não vou me perder na vaidade que a TV traz’, diz Amaury Lorenzo


O ator e bailarino, que ganhou fama na novela ‘Terra e Paixão’, viaja o País com a peça ‘A Luta’, baseada em ‘Os Sertões’, de Euclides da Cunha; ao ‘Estadão’, ele fala sobre como a popularidade mudou sua vida - para o bem e para o mal

Por Dirceu Alves Jr
Atualização:

O ator e bailarino Amaury Lorenzo, de 39 anos, recorre a uma metáfora sobre a origem mineira para falar da relação com o sucesso na novela Terra e Paixão, da Rede Globo, exibida até 19 de janeiro. Para ele, no seu estado natal, como não existe mar, quando se olha para a frente, a visão bate em uma montanha e isso faz com que cada um volte a enxergar o próprio interior.

A repercussão do capaz Ramiro, que derruba preconceitos e assume o amor pelo garçom Kelvin (papel de Diego Martins), representou o reconhecimento de uma carreira de mais de duas décadas. A voz interior de Lorenzo, no entanto, lhe soprou que a popularidade do vídeo deveria servir de impulso para que ele corresse atrás de mais trabalhos.

O ator Amaury Lorenzo durante sessão de fotos cedida ao 'Estadão' na tarde de sexta-feira, 9, na zona oeste do Rio de Janeiro. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO
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O cansaço, depois de onze meses intensos na televisão, é evidente. Lorenzo perdeu oito quilos, dormiu pouco e decorou calhamaços de texto para fazer bonito ao contracenar com astros do porte de Tony Ramos e Glória Pires. Férias, porém, nem pensar, não é a hora. O artista voltou aos palcos – o seu habitat desde os 12 anos – para correr o Brasil com o espetáculo A Luta, adaptação de Ivan Jaf para a terceira parte do romance Os Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), sob a direção de Rose Abdallah.

O solo, que protagoniza desde setembro de 2022, fez cinco temporadas no Rio de Janeiro e será visto em Fortaleza nos dias 24 e 25, entre os dias 1º e 10 de março transita por Bragança Paulista, São Bernardo do Campo, Guarulhos, Osasco e São Caetano do Sul e, nos dias 16 e 17, vai a Teresina, no Piauí. Depois disso, a excursão segue por outras capitais do Norte e Nordeste e chega a São Paulo em maio.

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“É bonito ver o público ir ao teatro para encontrar o Ramiro e, aos poucos, perceber que eles se distanciaram do personagem da novela para acompanhar uma história que trata de violência, racismo e intolerância”, declara.

Sozinho em cena, Lorenzo é um Rapsodo, uma espécie de narrador que conta o genocídio da Guerra dos Canudos. Na Bahia de 1896, o conflito armado colocou em lados opostos os seguidores do líder religioso Antônio Conselheiro (1830-1897) e forças militares da República recém-proclamada, deixando 25.000 mortos.

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Para o artista, tudo que ele faz em cena serve como um ato político, então é importante colocar em evidência tanto um amor homossexual, como no caso da novela, como revoltas históricas do povo brasileiro que até hoje podem ser vistas em diferentes versões. “Quero levar ao público questões do homem preto e LGBT+ que sou, para ampliar discussões e fortalecer os debates”, diz o ator.

Eu me utilizo desta popularidade para entregar cidadania às pessoas e, dessa forma, sei que não vou me perder na vaidade trazida pela televisão.

Amaury Lorenzo

A vida de Lorenzo deu uma guinada em 2023 – e, para isso, é preciso ter maturidade. Filho de um caminhoneiro e de uma dona de casa, ele nasceu em Congonhas (MG), começou a estudar dança aos 8 anos e teatro aos 12, com o apoio dos pais, e chegou ao Rio de Janeiro aos 16, para perseguir o sonho dos palcos. Lorenzo se formou em artes cênicas e conta com 30 peças no currículo.

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A televisão, o veículo que o consagrou, demorou a lhe dar boas oportunidades. Nos últimos dez anos, ele abraçou papéis de pouco destaque nas novelas Milagres de Jesus, O Rico e Lázaro, Apocalipse e A Terra Prometida, na Record, e Bom Sucesso, Nos Tempos do Imperador e Além da Ilusão, na Globo. A base do sustento vinha como professor de teatro e dança em cursos de formação, muitos deles para jovens periféricos.

Amaury Lorenzo, como Ramiro, em cena de 'Terra e Paixão'. Foto: Estevam Avellar/Globo

O casal Ramiro e Kelvin virou a sensação da novela escrita por Walcyr Carrasco e, para se ter um termômetro, o Instagram de Lorenzo que, em maio, mês da estreia de Terra e Paixão, contava com 5 mil seguidores beira hoje os 850 mil.

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“Ramiro era um assassino que teve o caráter transformado por causa do amor e muita gente foi impactada pela história”, explica o ator. Casos de sofrimento e superações chegaram aos seus ouvidos nos últimos meses, seja através das redes sociais ou de relatos presenciais dos fãs. Um dos mais marcantes aconteceu no último fim de semana de janeiro ao desembarcar no aeroporto de Cuiabá para a apresentar o espetáculo.

Ainda de mala na mão, o artista foi abordado por um rapaz, um tanto nervoso, que avisou ter vindo Rondônia para assisti-lo no teatro e queria dividir com ele uma passagem da sua vida. “Ele me contou que foi expulso de casa por ser homossexual e, depois de doze anos sem contato com a família, recebeu um telefonema do pai pedindo perdão e dizendo que passou a entendê-lo por causa da novela”, diz o intérprete de Ramiro.

É tão lindo ver o alcance de um debate gerado pela televisão em um país tão diverso que só posso me orgulhar.

Amaury Lorenzo

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A fama, entretanto, pode ser cruel e o assédio em torno de sua intimidade, segundo Lorenzo, de uma mídia sensacionalista, comprometeu sua saúde. Uma destas matérias, divulgada na semana final da novela, afirmava que o artista rompera um longo relacionamento com o cineasta Sérgio Lobato depois de se envolver com duas pessoas do elenco. “Além de expor a imagem do meu ex-companheiro, eu era tratado como um alpinista social que, fazendo sucesso, o tinha deixado para trás”, conta, indignado.

Amaury Lorenzo viaja o País com a peça solo 'A Luta'. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

Em decorrência do estresse, Lorenzo teve diagnosticada uma gastrite nervosa e passou dois dias hospitalizado. Deprimido, decidiu que ficaria ausente da festa de encerramento que reuniria a equipe para ver o último capítulo de Terra e Paixão.

Só mudou de ideia por causa das ligações recebidas de colegas, entre eles o ator Cauã Reymond, que falaram que nada deveria estragar a celebração de tantas conquistas. “Ser famoso não significa que você pode ser alvo de mentiras e tudo ficar por isso mesmo porque a vida de muita gente é atingida”, protesta.

O futuro se desenha sem ansiedade. Na semana da Páscoa, Lorenzo participa da encenação da Paixão de Cristo em sua Congonhas natal e, para abril, deve iniciar as filmagens de um longa-metragem. Enquanto uma nova novela não aparece, o teatro é prioridade com as viagens de A Luta e o ator busca trilhar novos caminhos com a coerência em que sempre acreditou.

“Fico feliz de, depois de anos, respirar mais aliviado e até garantir um plano de saúde para meus pais”, revela. “O tempo é a chave da vida e tudo se assenta conforme o bem que a gente faz.”

O ator e bailarino Amaury Lorenzo, de 39 anos, recorre a uma metáfora sobre a origem mineira para falar da relação com o sucesso na novela Terra e Paixão, da Rede Globo, exibida até 19 de janeiro. Para ele, no seu estado natal, como não existe mar, quando se olha para a frente, a visão bate em uma montanha e isso faz com que cada um volte a enxergar o próprio interior.

A repercussão do capaz Ramiro, que derruba preconceitos e assume o amor pelo garçom Kelvin (papel de Diego Martins), representou o reconhecimento de uma carreira de mais de duas décadas. A voz interior de Lorenzo, no entanto, lhe soprou que a popularidade do vídeo deveria servir de impulso para que ele corresse atrás de mais trabalhos.

O ator Amaury Lorenzo durante sessão de fotos cedida ao 'Estadão' na tarde de sexta-feira, 9, na zona oeste do Rio de Janeiro. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

O cansaço, depois de onze meses intensos na televisão, é evidente. Lorenzo perdeu oito quilos, dormiu pouco e decorou calhamaços de texto para fazer bonito ao contracenar com astros do porte de Tony Ramos e Glória Pires. Férias, porém, nem pensar, não é a hora. O artista voltou aos palcos – o seu habitat desde os 12 anos – para correr o Brasil com o espetáculo A Luta, adaptação de Ivan Jaf para a terceira parte do romance Os Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), sob a direção de Rose Abdallah.

O solo, que protagoniza desde setembro de 2022, fez cinco temporadas no Rio de Janeiro e será visto em Fortaleza nos dias 24 e 25, entre os dias 1º e 10 de março transita por Bragança Paulista, São Bernardo do Campo, Guarulhos, Osasco e São Caetano do Sul e, nos dias 16 e 17, vai a Teresina, no Piauí. Depois disso, a excursão segue por outras capitais do Norte e Nordeste e chega a São Paulo em maio.

“É bonito ver o público ir ao teatro para encontrar o Ramiro e, aos poucos, perceber que eles se distanciaram do personagem da novela para acompanhar uma história que trata de violência, racismo e intolerância”, declara.

Sozinho em cena, Lorenzo é um Rapsodo, uma espécie de narrador que conta o genocídio da Guerra dos Canudos. Na Bahia de 1896, o conflito armado colocou em lados opostos os seguidores do líder religioso Antônio Conselheiro (1830-1897) e forças militares da República recém-proclamada, deixando 25.000 mortos.

Para o artista, tudo que ele faz em cena serve como um ato político, então é importante colocar em evidência tanto um amor homossexual, como no caso da novela, como revoltas históricas do povo brasileiro que até hoje podem ser vistas em diferentes versões. “Quero levar ao público questões do homem preto e LGBT+ que sou, para ampliar discussões e fortalecer os debates”, diz o ator.

Eu me utilizo desta popularidade para entregar cidadania às pessoas e, dessa forma, sei que não vou me perder na vaidade trazida pela televisão.

Amaury Lorenzo

A vida de Lorenzo deu uma guinada em 2023 – e, para isso, é preciso ter maturidade. Filho de um caminhoneiro e de uma dona de casa, ele nasceu em Congonhas (MG), começou a estudar dança aos 8 anos e teatro aos 12, com o apoio dos pais, e chegou ao Rio de Janeiro aos 16, para perseguir o sonho dos palcos. Lorenzo se formou em artes cênicas e conta com 30 peças no currículo.

A televisão, o veículo que o consagrou, demorou a lhe dar boas oportunidades. Nos últimos dez anos, ele abraçou papéis de pouco destaque nas novelas Milagres de Jesus, O Rico e Lázaro, Apocalipse e A Terra Prometida, na Record, e Bom Sucesso, Nos Tempos do Imperador e Além da Ilusão, na Globo. A base do sustento vinha como professor de teatro e dança em cursos de formação, muitos deles para jovens periféricos.

Amaury Lorenzo, como Ramiro, em cena de 'Terra e Paixão'. Foto: Estevam Avellar/Globo

O casal Ramiro e Kelvin virou a sensação da novela escrita por Walcyr Carrasco e, para se ter um termômetro, o Instagram de Lorenzo que, em maio, mês da estreia de Terra e Paixão, contava com 5 mil seguidores beira hoje os 850 mil.

“Ramiro era um assassino que teve o caráter transformado por causa do amor e muita gente foi impactada pela história”, explica o ator. Casos de sofrimento e superações chegaram aos seus ouvidos nos últimos meses, seja através das redes sociais ou de relatos presenciais dos fãs. Um dos mais marcantes aconteceu no último fim de semana de janeiro ao desembarcar no aeroporto de Cuiabá para a apresentar o espetáculo.

Ainda de mala na mão, o artista foi abordado por um rapaz, um tanto nervoso, que avisou ter vindo Rondônia para assisti-lo no teatro e queria dividir com ele uma passagem da sua vida. “Ele me contou que foi expulso de casa por ser homossexual e, depois de doze anos sem contato com a família, recebeu um telefonema do pai pedindo perdão e dizendo que passou a entendê-lo por causa da novela”, diz o intérprete de Ramiro.

É tão lindo ver o alcance de um debate gerado pela televisão em um país tão diverso que só posso me orgulhar.

Amaury Lorenzo

A fama, entretanto, pode ser cruel e o assédio em torno de sua intimidade, segundo Lorenzo, de uma mídia sensacionalista, comprometeu sua saúde. Uma destas matérias, divulgada na semana final da novela, afirmava que o artista rompera um longo relacionamento com o cineasta Sérgio Lobato depois de se envolver com duas pessoas do elenco. “Além de expor a imagem do meu ex-companheiro, eu era tratado como um alpinista social que, fazendo sucesso, o tinha deixado para trás”, conta, indignado.

Amaury Lorenzo viaja o País com a peça solo 'A Luta'. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

Em decorrência do estresse, Lorenzo teve diagnosticada uma gastrite nervosa e passou dois dias hospitalizado. Deprimido, decidiu que ficaria ausente da festa de encerramento que reuniria a equipe para ver o último capítulo de Terra e Paixão.

Só mudou de ideia por causa das ligações recebidas de colegas, entre eles o ator Cauã Reymond, que falaram que nada deveria estragar a celebração de tantas conquistas. “Ser famoso não significa que você pode ser alvo de mentiras e tudo ficar por isso mesmo porque a vida de muita gente é atingida”, protesta.

O futuro se desenha sem ansiedade. Na semana da Páscoa, Lorenzo participa da encenação da Paixão de Cristo em sua Congonhas natal e, para abril, deve iniciar as filmagens de um longa-metragem. Enquanto uma nova novela não aparece, o teatro é prioridade com as viagens de A Luta e o ator busca trilhar novos caminhos com a coerência em que sempre acreditou.

“Fico feliz de, depois de anos, respirar mais aliviado e até garantir um plano de saúde para meus pais”, revela. “O tempo é a chave da vida e tudo se assenta conforme o bem que a gente faz.”

O ator e bailarino Amaury Lorenzo, de 39 anos, recorre a uma metáfora sobre a origem mineira para falar da relação com o sucesso na novela Terra e Paixão, da Rede Globo, exibida até 19 de janeiro. Para ele, no seu estado natal, como não existe mar, quando se olha para a frente, a visão bate em uma montanha e isso faz com que cada um volte a enxergar o próprio interior.

A repercussão do capaz Ramiro, que derruba preconceitos e assume o amor pelo garçom Kelvin (papel de Diego Martins), representou o reconhecimento de uma carreira de mais de duas décadas. A voz interior de Lorenzo, no entanto, lhe soprou que a popularidade do vídeo deveria servir de impulso para que ele corresse atrás de mais trabalhos.

O ator Amaury Lorenzo durante sessão de fotos cedida ao 'Estadão' na tarde de sexta-feira, 9, na zona oeste do Rio de Janeiro. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

O cansaço, depois de onze meses intensos na televisão, é evidente. Lorenzo perdeu oito quilos, dormiu pouco e decorou calhamaços de texto para fazer bonito ao contracenar com astros do porte de Tony Ramos e Glória Pires. Férias, porém, nem pensar, não é a hora. O artista voltou aos palcos – o seu habitat desde os 12 anos – para correr o Brasil com o espetáculo A Luta, adaptação de Ivan Jaf para a terceira parte do romance Os Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), sob a direção de Rose Abdallah.

O solo, que protagoniza desde setembro de 2022, fez cinco temporadas no Rio de Janeiro e será visto em Fortaleza nos dias 24 e 25, entre os dias 1º e 10 de março transita por Bragança Paulista, São Bernardo do Campo, Guarulhos, Osasco e São Caetano do Sul e, nos dias 16 e 17, vai a Teresina, no Piauí. Depois disso, a excursão segue por outras capitais do Norte e Nordeste e chega a São Paulo em maio.

“É bonito ver o público ir ao teatro para encontrar o Ramiro e, aos poucos, perceber que eles se distanciaram do personagem da novela para acompanhar uma história que trata de violência, racismo e intolerância”, declara.

Sozinho em cena, Lorenzo é um Rapsodo, uma espécie de narrador que conta o genocídio da Guerra dos Canudos. Na Bahia de 1896, o conflito armado colocou em lados opostos os seguidores do líder religioso Antônio Conselheiro (1830-1897) e forças militares da República recém-proclamada, deixando 25.000 mortos.

Para o artista, tudo que ele faz em cena serve como um ato político, então é importante colocar em evidência tanto um amor homossexual, como no caso da novela, como revoltas históricas do povo brasileiro que até hoje podem ser vistas em diferentes versões. “Quero levar ao público questões do homem preto e LGBT+ que sou, para ampliar discussões e fortalecer os debates”, diz o ator.

Eu me utilizo desta popularidade para entregar cidadania às pessoas e, dessa forma, sei que não vou me perder na vaidade trazida pela televisão.

Amaury Lorenzo

A vida de Lorenzo deu uma guinada em 2023 – e, para isso, é preciso ter maturidade. Filho de um caminhoneiro e de uma dona de casa, ele nasceu em Congonhas (MG), começou a estudar dança aos 8 anos e teatro aos 12, com o apoio dos pais, e chegou ao Rio de Janeiro aos 16, para perseguir o sonho dos palcos. Lorenzo se formou em artes cênicas e conta com 30 peças no currículo.

A televisão, o veículo que o consagrou, demorou a lhe dar boas oportunidades. Nos últimos dez anos, ele abraçou papéis de pouco destaque nas novelas Milagres de Jesus, O Rico e Lázaro, Apocalipse e A Terra Prometida, na Record, e Bom Sucesso, Nos Tempos do Imperador e Além da Ilusão, na Globo. A base do sustento vinha como professor de teatro e dança em cursos de formação, muitos deles para jovens periféricos.

Amaury Lorenzo, como Ramiro, em cena de 'Terra e Paixão'. Foto: Estevam Avellar/Globo

O casal Ramiro e Kelvin virou a sensação da novela escrita por Walcyr Carrasco e, para se ter um termômetro, o Instagram de Lorenzo que, em maio, mês da estreia de Terra e Paixão, contava com 5 mil seguidores beira hoje os 850 mil.

“Ramiro era um assassino que teve o caráter transformado por causa do amor e muita gente foi impactada pela história”, explica o ator. Casos de sofrimento e superações chegaram aos seus ouvidos nos últimos meses, seja através das redes sociais ou de relatos presenciais dos fãs. Um dos mais marcantes aconteceu no último fim de semana de janeiro ao desembarcar no aeroporto de Cuiabá para a apresentar o espetáculo.

Ainda de mala na mão, o artista foi abordado por um rapaz, um tanto nervoso, que avisou ter vindo Rondônia para assisti-lo no teatro e queria dividir com ele uma passagem da sua vida. “Ele me contou que foi expulso de casa por ser homossexual e, depois de doze anos sem contato com a família, recebeu um telefonema do pai pedindo perdão e dizendo que passou a entendê-lo por causa da novela”, diz o intérprete de Ramiro.

É tão lindo ver o alcance de um debate gerado pela televisão em um país tão diverso que só posso me orgulhar.

Amaury Lorenzo

A fama, entretanto, pode ser cruel e o assédio em torno de sua intimidade, segundo Lorenzo, de uma mídia sensacionalista, comprometeu sua saúde. Uma destas matérias, divulgada na semana final da novela, afirmava que o artista rompera um longo relacionamento com o cineasta Sérgio Lobato depois de se envolver com duas pessoas do elenco. “Além de expor a imagem do meu ex-companheiro, eu era tratado como um alpinista social que, fazendo sucesso, o tinha deixado para trás”, conta, indignado.

Amaury Lorenzo viaja o País com a peça solo 'A Luta'. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

Em decorrência do estresse, Lorenzo teve diagnosticada uma gastrite nervosa e passou dois dias hospitalizado. Deprimido, decidiu que ficaria ausente da festa de encerramento que reuniria a equipe para ver o último capítulo de Terra e Paixão.

Só mudou de ideia por causa das ligações recebidas de colegas, entre eles o ator Cauã Reymond, que falaram que nada deveria estragar a celebração de tantas conquistas. “Ser famoso não significa que você pode ser alvo de mentiras e tudo ficar por isso mesmo porque a vida de muita gente é atingida”, protesta.

O futuro se desenha sem ansiedade. Na semana da Páscoa, Lorenzo participa da encenação da Paixão de Cristo em sua Congonhas natal e, para abril, deve iniciar as filmagens de um longa-metragem. Enquanto uma nova novela não aparece, o teatro é prioridade com as viagens de A Luta e o ator busca trilhar novos caminhos com a coerência em que sempre acreditou.

“Fico feliz de, depois de anos, respirar mais aliviado e até garantir um plano de saúde para meus pais”, revela. “O tempo é a chave da vida e tudo se assenta conforme o bem que a gente faz.”

O ator e bailarino Amaury Lorenzo, de 39 anos, recorre a uma metáfora sobre a origem mineira para falar da relação com o sucesso na novela Terra e Paixão, da Rede Globo, exibida até 19 de janeiro. Para ele, no seu estado natal, como não existe mar, quando se olha para a frente, a visão bate em uma montanha e isso faz com que cada um volte a enxergar o próprio interior.

A repercussão do capaz Ramiro, que derruba preconceitos e assume o amor pelo garçom Kelvin (papel de Diego Martins), representou o reconhecimento de uma carreira de mais de duas décadas. A voz interior de Lorenzo, no entanto, lhe soprou que a popularidade do vídeo deveria servir de impulso para que ele corresse atrás de mais trabalhos.

O ator Amaury Lorenzo durante sessão de fotos cedida ao 'Estadão' na tarde de sexta-feira, 9, na zona oeste do Rio de Janeiro. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

O cansaço, depois de onze meses intensos na televisão, é evidente. Lorenzo perdeu oito quilos, dormiu pouco e decorou calhamaços de texto para fazer bonito ao contracenar com astros do porte de Tony Ramos e Glória Pires. Férias, porém, nem pensar, não é a hora. O artista voltou aos palcos – o seu habitat desde os 12 anos – para correr o Brasil com o espetáculo A Luta, adaptação de Ivan Jaf para a terceira parte do romance Os Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), sob a direção de Rose Abdallah.

O solo, que protagoniza desde setembro de 2022, fez cinco temporadas no Rio de Janeiro e será visto em Fortaleza nos dias 24 e 25, entre os dias 1º e 10 de março transita por Bragança Paulista, São Bernardo do Campo, Guarulhos, Osasco e São Caetano do Sul e, nos dias 16 e 17, vai a Teresina, no Piauí. Depois disso, a excursão segue por outras capitais do Norte e Nordeste e chega a São Paulo em maio.

“É bonito ver o público ir ao teatro para encontrar o Ramiro e, aos poucos, perceber que eles se distanciaram do personagem da novela para acompanhar uma história que trata de violência, racismo e intolerância”, declara.

Sozinho em cena, Lorenzo é um Rapsodo, uma espécie de narrador que conta o genocídio da Guerra dos Canudos. Na Bahia de 1896, o conflito armado colocou em lados opostos os seguidores do líder religioso Antônio Conselheiro (1830-1897) e forças militares da República recém-proclamada, deixando 25.000 mortos.

Para o artista, tudo que ele faz em cena serve como um ato político, então é importante colocar em evidência tanto um amor homossexual, como no caso da novela, como revoltas históricas do povo brasileiro que até hoje podem ser vistas em diferentes versões. “Quero levar ao público questões do homem preto e LGBT+ que sou, para ampliar discussões e fortalecer os debates”, diz o ator.

Eu me utilizo desta popularidade para entregar cidadania às pessoas e, dessa forma, sei que não vou me perder na vaidade trazida pela televisão.

Amaury Lorenzo

A vida de Lorenzo deu uma guinada em 2023 – e, para isso, é preciso ter maturidade. Filho de um caminhoneiro e de uma dona de casa, ele nasceu em Congonhas (MG), começou a estudar dança aos 8 anos e teatro aos 12, com o apoio dos pais, e chegou ao Rio de Janeiro aos 16, para perseguir o sonho dos palcos. Lorenzo se formou em artes cênicas e conta com 30 peças no currículo.

A televisão, o veículo que o consagrou, demorou a lhe dar boas oportunidades. Nos últimos dez anos, ele abraçou papéis de pouco destaque nas novelas Milagres de Jesus, O Rico e Lázaro, Apocalipse e A Terra Prometida, na Record, e Bom Sucesso, Nos Tempos do Imperador e Além da Ilusão, na Globo. A base do sustento vinha como professor de teatro e dança em cursos de formação, muitos deles para jovens periféricos.

Amaury Lorenzo, como Ramiro, em cena de 'Terra e Paixão'. Foto: Estevam Avellar/Globo

O casal Ramiro e Kelvin virou a sensação da novela escrita por Walcyr Carrasco e, para se ter um termômetro, o Instagram de Lorenzo que, em maio, mês da estreia de Terra e Paixão, contava com 5 mil seguidores beira hoje os 850 mil.

“Ramiro era um assassino que teve o caráter transformado por causa do amor e muita gente foi impactada pela história”, explica o ator. Casos de sofrimento e superações chegaram aos seus ouvidos nos últimos meses, seja através das redes sociais ou de relatos presenciais dos fãs. Um dos mais marcantes aconteceu no último fim de semana de janeiro ao desembarcar no aeroporto de Cuiabá para a apresentar o espetáculo.

Ainda de mala na mão, o artista foi abordado por um rapaz, um tanto nervoso, que avisou ter vindo Rondônia para assisti-lo no teatro e queria dividir com ele uma passagem da sua vida. “Ele me contou que foi expulso de casa por ser homossexual e, depois de doze anos sem contato com a família, recebeu um telefonema do pai pedindo perdão e dizendo que passou a entendê-lo por causa da novela”, diz o intérprete de Ramiro.

É tão lindo ver o alcance de um debate gerado pela televisão em um país tão diverso que só posso me orgulhar.

Amaury Lorenzo

A fama, entretanto, pode ser cruel e o assédio em torno de sua intimidade, segundo Lorenzo, de uma mídia sensacionalista, comprometeu sua saúde. Uma destas matérias, divulgada na semana final da novela, afirmava que o artista rompera um longo relacionamento com o cineasta Sérgio Lobato depois de se envolver com duas pessoas do elenco. “Além de expor a imagem do meu ex-companheiro, eu era tratado como um alpinista social que, fazendo sucesso, o tinha deixado para trás”, conta, indignado.

Amaury Lorenzo viaja o País com a peça solo 'A Luta'. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

Em decorrência do estresse, Lorenzo teve diagnosticada uma gastrite nervosa e passou dois dias hospitalizado. Deprimido, decidiu que ficaria ausente da festa de encerramento que reuniria a equipe para ver o último capítulo de Terra e Paixão.

Só mudou de ideia por causa das ligações recebidas de colegas, entre eles o ator Cauã Reymond, que falaram que nada deveria estragar a celebração de tantas conquistas. “Ser famoso não significa que você pode ser alvo de mentiras e tudo ficar por isso mesmo porque a vida de muita gente é atingida”, protesta.

O futuro se desenha sem ansiedade. Na semana da Páscoa, Lorenzo participa da encenação da Paixão de Cristo em sua Congonhas natal e, para abril, deve iniciar as filmagens de um longa-metragem. Enquanto uma nova novela não aparece, o teatro é prioridade com as viagens de A Luta e o ator busca trilhar novos caminhos com a coerência em que sempre acreditou.

“Fico feliz de, depois de anos, respirar mais aliviado e até garantir um plano de saúde para meus pais”, revela. “O tempo é a chave da vida e tudo se assenta conforme o bem que a gente faz.”

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