A atriz paulista Bianca Bin, de 32 anos, escolheu a futura profissão no começo da adolescência, fascinada pelas aulas de teatro da professora Marielle Cecconello. A roda da vida girou, a jovem artista, prestes a fazer 18 anos, foi selecionada para a Oficina de Atores da Rede Globo e se mudou para o Rio de Janeiro. Começou em Malhação e emplacou personagens de destaque nas novelas Passione (2010), Cordel Encantado (2011), Joia Rara (2013) e O Outro Lado do Paraíso (2017). Nada mal, mas o teatro, o sonho inicial, ficou adormecido.
Bianca Bin, atriz
Essa revisão de rota culminou em uma irônica estreia no teatro. Em tempos de pandemia, ela integrou o elenco de O Homem que Matou Liberty Valance, peça dirigida por Mário Bortolotto em 2021, protagonizada por Sergio Guizé, marido dela há cinco anos. “Seguimos o processo tradicional de leituras, longos ensaios, mas, na hora de apresentar, foi tudo gravado diante de câmeras em um teatro sem público”, lembra.
No ano passado, ela substituiu a atriz Andréia Horta em Jardim de Inverno, espetáculo que ocupou o Teatro Faap entre junho e agosto, em encenação de Marco Antônio Pâmio. Por isso, pode-se afirmar que O Nome do Bebê, comédia dos franceses Matthieu Delaporte e Alexandre de la Patellière, que estreia na sexta, 14, no Teatro do Sesc Ipiranga, traz uma sensação inédita para a artista. Veja o serviço completo abaixo.
‘Trajetória de libertação’
Sob o comando de Elias Andreato, é a primeira vez que Bianca cria uma personagem original em um trabalho presencial. O diretor elogia o carisma e a disponibilidade dela nos ensaios, mas faz uma observação para a profissional em busca de desafios transformadores. “A televisão deu a ela uma velocidade de pensamento, uma rapidez invejável para decorar textos e é lindo vê-la se arriscando, mas existe uma questão que é a projeção da voz, porque lá o ator se acostuma a falar baixo”, repara Andreato.
O Nome do Bebê foi montada em vários países, chegou aos cinemas em 2012 e ganha os palcos brasileiros na hora certa – em um momento em que a polarização, o machismo e a falta de escuta imperam na sociedade. O casal Elizabeth e Pierre (interpretados por Bianca e Cesar Baccan) recebem para jantar Vicente (papel de Eduardo Pelizzari), irmão dela, sua mulher, Anna (a atriz Lilian Regina), e um amigo, Claude (o ator Marcelo Ullmann).
Felizes, Vicente e Anna anunciam que em breve terão um filho e vão batizá-lo de Adolfo. A sonoridade próxima à do nome do líder nazista alemão gera inflamadas reações Nenhuma justificativa apresentada por Vicente e Anna é sequer ouvida, criando situações que vão do absurdo à violência.
Elizabeth, a personagem de Bianca, trabalha como professora, cuida da casa e do marido, serve demais os outros e não alcança qualquer reconhecimento em troca. São papeis como este que interessam para a artista neste momento. “É uma mulher que quer ser vista e ouvida, começa a peça submissa, mas, aos poucos, vai empreendendo uma trajetória de libertação”, explica a atriz.
Bianca enfrentou uma maratona nas últimas semanas. Escalada para uma participação no começo da novela Terra e Paixão, da Rede Globo, ela foi vista em um único capítulo Em seguida, Agatha, sua personagem, morreu. Era a primeira mulher do vilão Antônio La Selva (Tony Ramos) e mãe de Caio (Cauã Reymond). Mergulhada na peça, a atriz foi convocada para gravar dezenas de outras cenas em que Agatha aparece em flashbacks. Bianca foi e voltou do Rio de Janeiro diversas vezes para cumprir os compromissos da televisão sem deixar o teatro de lado.
Essa rotina estafante figurava como uma lembrança do passado. Com o fim da novela O Outro Lado do Paraíso, em 2018, ela e Sergio Guizé, já namorados, decidiram se mudar para uma chácara em Indaiatuba, a 100 quilômetros de São Paulo. “A gente andava exausto, querendo natureza, sossego. O Lima Duarte, colega da novela que virou nosso vizinho, sugeriu que alugássemos alguma coisa por lá, e já são cinco anos”, conta.
Bianca ressalta que a vida no interior não é uma escolha, faz parte das personalidades tanto dela quanto de Guizé e do desejo dos dois de ficarem um pouco mais recolhidos diante da exposição de suas carreiras. “O fato de não ter um contrato fixo facilita essa questão, posso escolher meus projetos e não preciso seguir naquele ritmo intenso de viagens, mas qualquer coisa também estou a quinze minutos do Aeroporto de Viracopos”, avisa.
Serviço: ‘O Nome do Bebê'
- Teatro do Sesc Ipiranga
- Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga
- Sexta e sábado, 20h; domingo, 18h. R$ 40,00
- Até 20 de agosto
- A partir de sexta (14)