Caio Blat se reinventa depois dos 40: ‘Tirando do baú projetos que tenho desde os meus 18 anos’


O ator estreia em São Paulo o espetáculo ‘Memórias do Vinho (Per Bacco)’ ao lado de Herson Capri. Ao ‘Estadão’, ela comenta mudanças na carreira depois do fim do contrato com a Globo e diz que peça é um ‘acerto de contas nada óbvio’ entre pai e filho

Por Dirceu Alves Jr

Desde que completou 40 anos, o ator paulistano Caio Blat, hoje com 44, sente que a vida, igual a uma mesa de jogo, passa por uma redistribuição das cartas. É como se o baralho tivesse sido novamente misturado, e ele precisasse reavaliar as melhores estratégias para combinar os naipes e as sequências. A segurança do contrato fixo com a Rede Globo, depois de 25 anos, deu lugar a uma carreira autônoma e possibilidades, algumas há muito tempo ansiadas, se impuseram com relativa naturalidade.

Uma delas é o teatro, um porto que Blat sempre considerou seguro, mas, comparado à sua dedicação ao audiovisual, recebeu atenção bissexta. Em meio a mais de 30 filmes e 20 novelas, o ator se destacou em peças como Essa Nossa Juventude (2006), Chorinho (2007) e A Comédia Latino-Americana (2016). O ponto alto no palco, porém, foi o espetáculo Grande Sertão: Veredas, dirigido por Bia Lessa em 2017, com base na obra-prima do escritor Guimarães Rosa. Pelo desempenho como o jagunço Riobaldo, o intérprete ganhou o Prêmio Shell e, entre tantas outras credenciais, recriou o personagem na versão cinematográfica de Guel Arraes, Grande Sertão, lançada em junho. “Eu fiz questão de ter uma carreira paralela à televisão, com um pé lá e outro cá.”

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Com estreia prometida para o sábado, 3, Memórias do Vinho (Per Bacco) é uma peça inédita de Jandira Martini (1945-2024) e Maurício Guilherme, que, sob a direção de Elias Andreato, ocupa o Teatro Vivo até 15 de setembro. Nesta nova investida nos palcos, Blat interpreta Júnior, o filho do engenheiro aposentado Daniel (papel de Herson Capri), que, assim como o artista, busca reorganizar a vida. Depois de anos na Austrália, ele volta ao Brasil disposto a investir no antigo sonho de se tornar cineasta que foi tragado pela prioridade ao mercado publicitário.

Caio Blat fotografado pelo Estadão na cidade de São Paulo.  Foto: Alex Silva/Estadão

O personagem está sem dinheiro, acabou de se divorciar e procura o pai, colecionador de vinhos e dono de uma adega valiosa, em busca de um auxílio financeiro. “São dois homens com a vida empacada, digerindo os próprios fracassos, e o pai sempre falou que aquela adega seria a herança do filho”, conta Blat. “Só que, sob o embalo do vinho, as máscaras caem, a divergências saltam e, diante dos desencantos, memórias são desencavadas em um acerto de contas nada óbvio.”

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Os ensaios começaram há dois meses, e uma intimidade já estabelecida entre Blat e Capri colaborou para o entendimento dos personagens. A dupla vinha de um trabalho recém-encerrado, a novela Beleza Fatal, produção do streaming Max, que estreia em janeiro, nos papéis de pai e filho. Na história, escrita por Raphael Montes, Blat é o inescrupuloso cirurgião plástico Benjamin Argento, herdeiro de uma clínica estética comandada pelo personagem de Capri. “O Caio e o Herson contracenaram juntos por oito meses, e essa relação ajudou muito no processo”, diz o diretor da peça, Elias Andreato. “O jogo entre eles é verdadeiro, já chegaram à vontade e com uma entrega que é resultado dessa experiência anterior.”

A novela Beleza Fatal é uma destas apostas da atual fase do artista e, nas palavras dele, significa um novo momento para o audiovisual brasileiro. “Os meios de comunicação passam por uma reinvenção, e esse modelo de 40 capítulos é perfeito porque a história é contada com densidade e sem perder do ritmo”, comenta. Além de atuar, Blat integrou a equipe de direção da trama, comandada por Maria de Médicis, e, com uma visão geral da produção, reconhece que o formato deverá ser facilmente assimilado.

Herson Capri e Caio Blat vivem pai e filho em 'Memórias do Vinho', peça que estreia em São Paulo Foto: Nana Moraes/Divulgação
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“Existe ainda um público residual das novelas convencionais, mas devemos entender que o perfil mudou, as pessoas assistem à televisão em diferentes horários e não têm mais disponibilidade para se prender a um programa diário por seis ou sete meses”, declara. “A pandemia destruiu tudo o que considerávamos estabelecido, e os artistas precisam se adaptar a uma nova realidade não só na televisão, mas também no cinema, porque as salas foram abandonadas, estão vazias.”

Blat, porém, não se mostra pessimista em relação ao cinema e acha que é preciso correr atrás dos espectadores onde quer que estejam. Ele estreou como diretor com o filme O Debate, lançado de forma discreta em 2022, no auge da campanha presidencial. O longa, protagonizado por Paulo Betti e Débora Bloch, entretanto, ampliou massivamente o seu alcance ao ser exibido pela Rede Globo, em uma segunda-feira de janeiro deste ano. “Foi sensacional, o filme entrou na Tela Quente e quem estava assistindo ao Big Brother Brasil, de repente, se viu diante de um debate político”, comenta. “Mesmo Grande Sertão, que, em outros tempos, teria um alto potencial de bilheteria, passou batido e vai encontrar o público quando chegar à televisão.”

O próximo projeto de Blat para as telas, novamente como diretor, é uma cinebiografia da mítica atriz Cacilda Becker (1921-1969), que será interpretada por Débora Falabella. As filmagens estão previstas para o começo do ano que vem, e o longa contará com a codireção de Yara de Novaes. “A ação se passa na memória da Cacilda durante a vertigem que ela sofreu antes do derrame fatal, e Débora fará mais de 40 personagens representados ao longo da carreira teatral dessa artista que ouvimos tanto falar, mas não deixou quase nada registrado porque não fez televisão”, antecipa.

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Antes disso, o ator, novamente como diretor, mas, desta vez, no teatro, desengaveta um sonho do final da adolescência: a adaptação de Os Irmãos Karamázov, romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), que estreia em dezembro no Rio de Janeiro e chega a São Paulo, no Sesc Pompeia, em 2025. No elenco estão Babu Santana, Nina Tomsic, Priscilla Rozenbaum e Luisa Arraes, companheira de Blat desde a temporada da peça Grande Sertão: Veredas e sua Diadorim na versão cinematográfica. “Estou tirando do baú projetos que tenho desde os meus 18 anos, antes de me mudar para o Rio e trabalhar na Globo”, conclui o artista, satisfeito com a ampliação das oportunidades profissionais.

Memórias do Vinho (Per Bacco)

  • Teatro Vivo. Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460, Morumbi.
  • Sexta e sábado, 20h; domingo, 18h.
  • R$ 150
  • Até 15 de setembro. A partir de sábado, 3.

Desde que completou 40 anos, o ator paulistano Caio Blat, hoje com 44, sente que a vida, igual a uma mesa de jogo, passa por uma redistribuição das cartas. É como se o baralho tivesse sido novamente misturado, e ele precisasse reavaliar as melhores estratégias para combinar os naipes e as sequências. A segurança do contrato fixo com a Rede Globo, depois de 25 anos, deu lugar a uma carreira autônoma e possibilidades, algumas há muito tempo ansiadas, se impuseram com relativa naturalidade.

Uma delas é o teatro, um porto que Blat sempre considerou seguro, mas, comparado à sua dedicação ao audiovisual, recebeu atenção bissexta. Em meio a mais de 30 filmes e 20 novelas, o ator se destacou em peças como Essa Nossa Juventude (2006), Chorinho (2007) e A Comédia Latino-Americana (2016). O ponto alto no palco, porém, foi o espetáculo Grande Sertão: Veredas, dirigido por Bia Lessa em 2017, com base na obra-prima do escritor Guimarães Rosa. Pelo desempenho como o jagunço Riobaldo, o intérprete ganhou o Prêmio Shell e, entre tantas outras credenciais, recriou o personagem na versão cinematográfica de Guel Arraes, Grande Sertão, lançada em junho. “Eu fiz questão de ter uma carreira paralela à televisão, com um pé lá e outro cá.”

Com estreia prometida para o sábado, 3, Memórias do Vinho (Per Bacco) é uma peça inédita de Jandira Martini (1945-2024) e Maurício Guilherme, que, sob a direção de Elias Andreato, ocupa o Teatro Vivo até 15 de setembro. Nesta nova investida nos palcos, Blat interpreta Júnior, o filho do engenheiro aposentado Daniel (papel de Herson Capri), que, assim como o artista, busca reorganizar a vida. Depois de anos na Austrália, ele volta ao Brasil disposto a investir no antigo sonho de se tornar cineasta que foi tragado pela prioridade ao mercado publicitário.

Caio Blat fotografado pelo Estadão na cidade de São Paulo.  Foto: Alex Silva/Estadão

O personagem está sem dinheiro, acabou de se divorciar e procura o pai, colecionador de vinhos e dono de uma adega valiosa, em busca de um auxílio financeiro. “São dois homens com a vida empacada, digerindo os próprios fracassos, e o pai sempre falou que aquela adega seria a herança do filho”, conta Blat. “Só que, sob o embalo do vinho, as máscaras caem, a divergências saltam e, diante dos desencantos, memórias são desencavadas em um acerto de contas nada óbvio.”

Os ensaios começaram há dois meses, e uma intimidade já estabelecida entre Blat e Capri colaborou para o entendimento dos personagens. A dupla vinha de um trabalho recém-encerrado, a novela Beleza Fatal, produção do streaming Max, que estreia em janeiro, nos papéis de pai e filho. Na história, escrita por Raphael Montes, Blat é o inescrupuloso cirurgião plástico Benjamin Argento, herdeiro de uma clínica estética comandada pelo personagem de Capri. “O Caio e o Herson contracenaram juntos por oito meses, e essa relação ajudou muito no processo”, diz o diretor da peça, Elias Andreato. “O jogo entre eles é verdadeiro, já chegaram à vontade e com uma entrega que é resultado dessa experiência anterior.”

A novela Beleza Fatal é uma destas apostas da atual fase do artista e, nas palavras dele, significa um novo momento para o audiovisual brasileiro. “Os meios de comunicação passam por uma reinvenção, e esse modelo de 40 capítulos é perfeito porque a história é contada com densidade e sem perder do ritmo”, comenta. Além de atuar, Blat integrou a equipe de direção da trama, comandada por Maria de Médicis, e, com uma visão geral da produção, reconhece que o formato deverá ser facilmente assimilado.

Herson Capri e Caio Blat vivem pai e filho em 'Memórias do Vinho', peça que estreia em São Paulo Foto: Nana Moraes/Divulgação

“Existe ainda um público residual das novelas convencionais, mas devemos entender que o perfil mudou, as pessoas assistem à televisão em diferentes horários e não têm mais disponibilidade para se prender a um programa diário por seis ou sete meses”, declara. “A pandemia destruiu tudo o que considerávamos estabelecido, e os artistas precisam se adaptar a uma nova realidade não só na televisão, mas também no cinema, porque as salas foram abandonadas, estão vazias.”

Blat, porém, não se mostra pessimista em relação ao cinema e acha que é preciso correr atrás dos espectadores onde quer que estejam. Ele estreou como diretor com o filme O Debate, lançado de forma discreta em 2022, no auge da campanha presidencial. O longa, protagonizado por Paulo Betti e Débora Bloch, entretanto, ampliou massivamente o seu alcance ao ser exibido pela Rede Globo, em uma segunda-feira de janeiro deste ano. “Foi sensacional, o filme entrou na Tela Quente e quem estava assistindo ao Big Brother Brasil, de repente, se viu diante de um debate político”, comenta. “Mesmo Grande Sertão, que, em outros tempos, teria um alto potencial de bilheteria, passou batido e vai encontrar o público quando chegar à televisão.”

O próximo projeto de Blat para as telas, novamente como diretor, é uma cinebiografia da mítica atriz Cacilda Becker (1921-1969), que será interpretada por Débora Falabella. As filmagens estão previstas para o começo do ano que vem, e o longa contará com a codireção de Yara de Novaes. “A ação se passa na memória da Cacilda durante a vertigem que ela sofreu antes do derrame fatal, e Débora fará mais de 40 personagens representados ao longo da carreira teatral dessa artista que ouvimos tanto falar, mas não deixou quase nada registrado porque não fez televisão”, antecipa.

Antes disso, o ator, novamente como diretor, mas, desta vez, no teatro, desengaveta um sonho do final da adolescência: a adaptação de Os Irmãos Karamázov, romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), que estreia em dezembro no Rio de Janeiro e chega a São Paulo, no Sesc Pompeia, em 2025. No elenco estão Babu Santana, Nina Tomsic, Priscilla Rozenbaum e Luisa Arraes, companheira de Blat desde a temporada da peça Grande Sertão: Veredas e sua Diadorim na versão cinematográfica. “Estou tirando do baú projetos que tenho desde os meus 18 anos, antes de me mudar para o Rio e trabalhar na Globo”, conclui o artista, satisfeito com a ampliação das oportunidades profissionais.

Memórias do Vinho (Per Bacco)

  • Teatro Vivo. Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460, Morumbi.
  • Sexta e sábado, 20h; domingo, 18h.
  • R$ 150
  • Até 15 de setembro. A partir de sábado, 3.

Desde que completou 40 anos, o ator paulistano Caio Blat, hoje com 44, sente que a vida, igual a uma mesa de jogo, passa por uma redistribuição das cartas. É como se o baralho tivesse sido novamente misturado, e ele precisasse reavaliar as melhores estratégias para combinar os naipes e as sequências. A segurança do contrato fixo com a Rede Globo, depois de 25 anos, deu lugar a uma carreira autônoma e possibilidades, algumas há muito tempo ansiadas, se impuseram com relativa naturalidade.

Uma delas é o teatro, um porto que Blat sempre considerou seguro, mas, comparado à sua dedicação ao audiovisual, recebeu atenção bissexta. Em meio a mais de 30 filmes e 20 novelas, o ator se destacou em peças como Essa Nossa Juventude (2006), Chorinho (2007) e A Comédia Latino-Americana (2016). O ponto alto no palco, porém, foi o espetáculo Grande Sertão: Veredas, dirigido por Bia Lessa em 2017, com base na obra-prima do escritor Guimarães Rosa. Pelo desempenho como o jagunço Riobaldo, o intérprete ganhou o Prêmio Shell e, entre tantas outras credenciais, recriou o personagem na versão cinematográfica de Guel Arraes, Grande Sertão, lançada em junho. “Eu fiz questão de ter uma carreira paralela à televisão, com um pé lá e outro cá.”

Com estreia prometida para o sábado, 3, Memórias do Vinho (Per Bacco) é uma peça inédita de Jandira Martini (1945-2024) e Maurício Guilherme, que, sob a direção de Elias Andreato, ocupa o Teatro Vivo até 15 de setembro. Nesta nova investida nos palcos, Blat interpreta Júnior, o filho do engenheiro aposentado Daniel (papel de Herson Capri), que, assim como o artista, busca reorganizar a vida. Depois de anos na Austrália, ele volta ao Brasil disposto a investir no antigo sonho de se tornar cineasta que foi tragado pela prioridade ao mercado publicitário.

Caio Blat fotografado pelo Estadão na cidade de São Paulo.  Foto: Alex Silva/Estadão

O personagem está sem dinheiro, acabou de se divorciar e procura o pai, colecionador de vinhos e dono de uma adega valiosa, em busca de um auxílio financeiro. “São dois homens com a vida empacada, digerindo os próprios fracassos, e o pai sempre falou que aquela adega seria a herança do filho”, conta Blat. “Só que, sob o embalo do vinho, as máscaras caem, a divergências saltam e, diante dos desencantos, memórias são desencavadas em um acerto de contas nada óbvio.”

Os ensaios começaram há dois meses, e uma intimidade já estabelecida entre Blat e Capri colaborou para o entendimento dos personagens. A dupla vinha de um trabalho recém-encerrado, a novela Beleza Fatal, produção do streaming Max, que estreia em janeiro, nos papéis de pai e filho. Na história, escrita por Raphael Montes, Blat é o inescrupuloso cirurgião plástico Benjamin Argento, herdeiro de uma clínica estética comandada pelo personagem de Capri. “O Caio e o Herson contracenaram juntos por oito meses, e essa relação ajudou muito no processo”, diz o diretor da peça, Elias Andreato. “O jogo entre eles é verdadeiro, já chegaram à vontade e com uma entrega que é resultado dessa experiência anterior.”

A novela Beleza Fatal é uma destas apostas da atual fase do artista e, nas palavras dele, significa um novo momento para o audiovisual brasileiro. “Os meios de comunicação passam por uma reinvenção, e esse modelo de 40 capítulos é perfeito porque a história é contada com densidade e sem perder do ritmo”, comenta. Além de atuar, Blat integrou a equipe de direção da trama, comandada por Maria de Médicis, e, com uma visão geral da produção, reconhece que o formato deverá ser facilmente assimilado.

Herson Capri e Caio Blat vivem pai e filho em 'Memórias do Vinho', peça que estreia em São Paulo Foto: Nana Moraes/Divulgação

“Existe ainda um público residual das novelas convencionais, mas devemos entender que o perfil mudou, as pessoas assistem à televisão em diferentes horários e não têm mais disponibilidade para se prender a um programa diário por seis ou sete meses”, declara. “A pandemia destruiu tudo o que considerávamos estabelecido, e os artistas precisam se adaptar a uma nova realidade não só na televisão, mas também no cinema, porque as salas foram abandonadas, estão vazias.”

Blat, porém, não se mostra pessimista em relação ao cinema e acha que é preciso correr atrás dos espectadores onde quer que estejam. Ele estreou como diretor com o filme O Debate, lançado de forma discreta em 2022, no auge da campanha presidencial. O longa, protagonizado por Paulo Betti e Débora Bloch, entretanto, ampliou massivamente o seu alcance ao ser exibido pela Rede Globo, em uma segunda-feira de janeiro deste ano. “Foi sensacional, o filme entrou na Tela Quente e quem estava assistindo ao Big Brother Brasil, de repente, se viu diante de um debate político”, comenta. “Mesmo Grande Sertão, que, em outros tempos, teria um alto potencial de bilheteria, passou batido e vai encontrar o público quando chegar à televisão.”

O próximo projeto de Blat para as telas, novamente como diretor, é uma cinebiografia da mítica atriz Cacilda Becker (1921-1969), que será interpretada por Débora Falabella. As filmagens estão previstas para o começo do ano que vem, e o longa contará com a codireção de Yara de Novaes. “A ação se passa na memória da Cacilda durante a vertigem que ela sofreu antes do derrame fatal, e Débora fará mais de 40 personagens representados ao longo da carreira teatral dessa artista que ouvimos tanto falar, mas não deixou quase nada registrado porque não fez televisão”, antecipa.

Antes disso, o ator, novamente como diretor, mas, desta vez, no teatro, desengaveta um sonho do final da adolescência: a adaptação de Os Irmãos Karamázov, romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), que estreia em dezembro no Rio de Janeiro e chega a São Paulo, no Sesc Pompeia, em 2025. No elenco estão Babu Santana, Nina Tomsic, Priscilla Rozenbaum e Luisa Arraes, companheira de Blat desde a temporada da peça Grande Sertão: Veredas e sua Diadorim na versão cinematográfica. “Estou tirando do baú projetos que tenho desde os meus 18 anos, antes de me mudar para o Rio e trabalhar na Globo”, conclui o artista, satisfeito com a ampliação das oportunidades profissionais.

Memórias do Vinho (Per Bacco)

  • Teatro Vivo. Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460, Morumbi.
  • Sexta e sábado, 20h; domingo, 18h.
  • R$ 150
  • Até 15 de setembro. A partir de sábado, 3.

Desde que completou 40 anos, o ator paulistano Caio Blat, hoje com 44, sente que a vida, igual a uma mesa de jogo, passa por uma redistribuição das cartas. É como se o baralho tivesse sido novamente misturado, e ele precisasse reavaliar as melhores estratégias para combinar os naipes e as sequências. A segurança do contrato fixo com a Rede Globo, depois de 25 anos, deu lugar a uma carreira autônoma e possibilidades, algumas há muito tempo ansiadas, se impuseram com relativa naturalidade.

Uma delas é o teatro, um porto que Blat sempre considerou seguro, mas, comparado à sua dedicação ao audiovisual, recebeu atenção bissexta. Em meio a mais de 30 filmes e 20 novelas, o ator se destacou em peças como Essa Nossa Juventude (2006), Chorinho (2007) e A Comédia Latino-Americana (2016). O ponto alto no palco, porém, foi o espetáculo Grande Sertão: Veredas, dirigido por Bia Lessa em 2017, com base na obra-prima do escritor Guimarães Rosa. Pelo desempenho como o jagunço Riobaldo, o intérprete ganhou o Prêmio Shell e, entre tantas outras credenciais, recriou o personagem na versão cinematográfica de Guel Arraes, Grande Sertão, lançada em junho. “Eu fiz questão de ter uma carreira paralela à televisão, com um pé lá e outro cá.”

Com estreia prometida para o sábado, 3, Memórias do Vinho (Per Bacco) é uma peça inédita de Jandira Martini (1945-2024) e Maurício Guilherme, que, sob a direção de Elias Andreato, ocupa o Teatro Vivo até 15 de setembro. Nesta nova investida nos palcos, Blat interpreta Júnior, o filho do engenheiro aposentado Daniel (papel de Herson Capri), que, assim como o artista, busca reorganizar a vida. Depois de anos na Austrália, ele volta ao Brasil disposto a investir no antigo sonho de se tornar cineasta que foi tragado pela prioridade ao mercado publicitário.

Caio Blat fotografado pelo Estadão na cidade de São Paulo.  Foto: Alex Silva/Estadão

O personagem está sem dinheiro, acabou de se divorciar e procura o pai, colecionador de vinhos e dono de uma adega valiosa, em busca de um auxílio financeiro. “São dois homens com a vida empacada, digerindo os próprios fracassos, e o pai sempre falou que aquela adega seria a herança do filho”, conta Blat. “Só que, sob o embalo do vinho, as máscaras caem, a divergências saltam e, diante dos desencantos, memórias são desencavadas em um acerto de contas nada óbvio.”

Os ensaios começaram há dois meses, e uma intimidade já estabelecida entre Blat e Capri colaborou para o entendimento dos personagens. A dupla vinha de um trabalho recém-encerrado, a novela Beleza Fatal, produção do streaming Max, que estreia em janeiro, nos papéis de pai e filho. Na história, escrita por Raphael Montes, Blat é o inescrupuloso cirurgião plástico Benjamin Argento, herdeiro de uma clínica estética comandada pelo personagem de Capri. “O Caio e o Herson contracenaram juntos por oito meses, e essa relação ajudou muito no processo”, diz o diretor da peça, Elias Andreato. “O jogo entre eles é verdadeiro, já chegaram à vontade e com uma entrega que é resultado dessa experiência anterior.”

A novela Beleza Fatal é uma destas apostas da atual fase do artista e, nas palavras dele, significa um novo momento para o audiovisual brasileiro. “Os meios de comunicação passam por uma reinvenção, e esse modelo de 40 capítulos é perfeito porque a história é contada com densidade e sem perder do ritmo”, comenta. Além de atuar, Blat integrou a equipe de direção da trama, comandada por Maria de Médicis, e, com uma visão geral da produção, reconhece que o formato deverá ser facilmente assimilado.

Herson Capri e Caio Blat vivem pai e filho em 'Memórias do Vinho', peça que estreia em São Paulo Foto: Nana Moraes/Divulgação

“Existe ainda um público residual das novelas convencionais, mas devemos entender que o perfil mudou, as pessoas assistem à televisão em diferentes horários e não têm mais disponibilidade para se prender a um programa diário por seis ou sete meses”, declara. “A pandemia destruiu tudo o que considerávamos estabelecido, e os artistas precisam se adaptar a uma nova realidade não só na televisão, mas também no cinema, porque as salas foram abandonadas, estão vazias.”

Blat, porém, não se mostra pessimista em relação ao cinema e acha que é preciso correr atrás dos espectadores onde quer que estejam. Ele estreou como diretor com o filme O Debate, lançado de forma discreta em 2022, no auge da campanha presidencial. O longa, protagonizado por Paulo Betti e Débora Bloch, entretanto, ampliou massivamente o seu alcance ao ser exibido pela Rede Globo, em uma segunda-feira de janeiro deste ano. “Foi sensacional, o filme entrou na Tela Quente e quem estava assistindo ao Big Brother Brasil, de repente, se viu diante de um debate político”, comenta. “Mesmo Grande Sertão, que, em outros tempos, teria um alto potencial de bilheteria, passou batido e vai encontrar o público quando chegar à televisão.”

O próximo projeto de Blat para as telas, novamente como diretor, é uma cinebiografia da mítica atriz Cacilda Becker (1921-1969), que será interpretada por Débora Falabella. As filmagens estão previstas para o começo do ano que vem, e o longa contará com a codireção de Yara de Novaes. “A ação se passa na memória da Cacilda durante a vertigem que ela sofreu antes do derrame fatal, e Débora fará mais de 40 personagens representados ao longo da carreira teatral dessa artista que ouvimos tanto falar, mas não deixou quase nada registrado porque não fez televisão”, antecipa.

Antes disso, o ator, novamente como diretor, mas, desta vez, no teatro, desengaveta um sonho do final da adolescência: a adaptação de Os Irmãos Karamázov, romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), que estreia em dezembro no Rio de Janeiro e chega a São Paulo, no Sesc Pompeia, em 2025. No elenco estão Babu Santana, Nina Tomsic, Priscilla Rozenbaum e Luisa Arraes, companheira de Blat desde a temporada da peça Grande Sertão: Veredas e sua Diadorim na versão cinematográfica. “Estou tirando do baú projetos que tenho desde os meus 18 anos, antes de me mudar para o Rio e trabalhar na Globo”, conclui o artista, satisfeito com a ampliação das oportunidades profissionais.

Memórias do Vinho (Per Bacco)

  • Teatro Vivo. Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460, Morumbi.
  • Sexta e sábado, 20h; domingo, 18h.
  • R$ 150
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