Menos de uma hora antes do início do ensaio geral de O Jovem Frankenstein, na última quarta-feira, 17, no Teatro Bradesco, em São Paulo, o diretor Claudio Botelho se mostrava seguro, sem o estresse comum que antecede as grandes estreias.
“Nada mais tem me abalado, realmente me sinto tranquilo nos últimos tempos”, garante ele, no começo da entrevista que concedeu ao Estadão, mesmo diante dos ruídos da movimentação dos bastidores.
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O Jovem Frankenstein, versão original e inédita da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho para o musical de Mel Brooks, lançado na Broadway em 2007, entrou em cartaz na cidade nesta quinta, 18, depois de bem-sucedida temporada carioca que teve início em agosto do ano passado.
A produção, protagonizada por Marcelo Serrado, Dani Calabresa, Malu Rodrigues, Totia Meireles, Fernando Caruso e Bel Kutner, entre outros, representa uma nova fase no repertório da dupla de diretores, responsável pela consolidação do gênero no Brasil nas duas últimas décadas: um diálogo com a comunicação através da comédia.
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“Estamos em busca de uma aproximação mais intensa com o público e da ampliação de plateia, com um humor que não é nada elitista, não é para poucos, sem, no entanto, cair no escapismo”, afirma Botelho. “Não devemos ficar restritos aos fãs de musicais e queremos estimular o gosto dos jovens para o teatro, como já fizemos em espetáculos como O Despertar da Primavera e O Mágico de Oz.”
O Jovem Frankenstein de Mel Brooks é um clássico do cinema, lançado em 1974, com o comediante Gene Wilder (1933-2016) no papel principal. “É um daqueles filmes que descobri na adolescência, vendo, como tantos outros, na Sessão da Tarde”, conta o diretor, referindo-se à faixa vespertina exibida pela Rede Globo com grande audiência nas décadas de 1970 e 1980.
A gênese de tudo começa bem antes, com o romance Frankenstein, publicado em 1818 pela escritora inglesa Mary Shelley (1797-1851), que, ao lado do filme homônimo, dirigido em 1931 por James Whale (1889-1957), inspiraram Brooks na criação do longa-metragem e, posteriormente, do musical.
“A adaptação de Brooks é uma sátira aos filmes de terror e ficção científica e serviu de modelo para várias gerações de comediantes, inclusive brasileiros, é que podemos chamar de ‘terrir’”, completa Botelho, que comprou os direitos da peça em 2012, logo depois de assisti-la em Nova York.
O espetáculo é centrado no Doutor Frederick (interpretado por Serrado), um neurocirurgião que dá aulas sobre o sistema nervoso central em uma faculdade de medicina e recebe de herança uma propriedade na região da Transilvânia. Chegando lá, ele descobre um livro deixado pelo avô, Victor Frankenstein, sobre a experiência de reanimar mortos e reativa a antiga teoria sem obter o resultado esperado.
Claudio Botelho
Para alcançar esse objetivo, Botelho tem fortes aliados, como a atriz Dani Calabresa e o ator Fernando Caruso, responsáveis pelas cenas mais hilárias. “Eu deixei todo o elenco livre para improvisar nos ensaios, especialmente a Dani e o Caruso, porque senão o jogo não funcionaria e acho que esse novo humor brasileiro está muito ligado aos comediantes ingleses e americanos”, conta.
Pouco associado ao gênero, Marcelo Serrado é outro que surpreende a plateia com suas tiradas cômicas, mas garante que, como seu personagem é o fio condutor da história, conserva o máximo de fidelidade ao texto original.
“A minha maior preocupação era estar apto vocalmente para dar conta das exigências de um musical e, por isso, me esforcei muito até porque também não sou um comediante, sou um ator que faz comédia, como Adam Sandler ou Ben Stiller”, diz o protagonista.
Botelho assume que, depois de clássicos da Broadway (Gypsy, Um Violonista no Telhado e West Side Story), peças contemporâneas (Avenida Q), criações originais (7 – O Musical) e revistas (Sassaricando), voltou, junto com Möeller, o seu olhar para a comédia. A nova fase pode ser resultado do trauma vivido na pandemia, quando teve os ensaios de West Side Story paralisados, mas é facilmente explicado pelo sucesso das mais recentes investidas da dupla.
Lançada em fevereiro de 2023, Mamma Mia!, comédia romântica embalada pelas canções da banda sueca Abba, acumulou 60 mil espectadores em 73 apresentações no Rio de Janeiro e recebeu outras 25 mil pessoas em oito sessões na casa de shows Vibra São Paulo. Kiss me, Kate – O Beijo da Megera, outra comédia musical, protagonizada por Miguel Falabella e Alessandra Verney, lotou todas as apresentações no Teatro Villa-Lobos, na capital paulista, em julho e agosto passado.
Para março do ano que vem, Möeller e Botelho prometem estrear Spamalot, musical de John Du Prez e Eric Idle em cima do filme Monty Python em Busca do Cálice Sagrado e das histórias do clássico grupo de comediantes ingleses.
“O teatro brasileiro deixou de se preocupar com o que o espectador deseja assistir e estamos cada vez mais focados nisso, ainda mais depois dessa fase terrível que vivemos com a pandemia”, justifica Botelho. “Bibi Ferreira sempre dizia que, se o teatro começa a esvaziar, a culpa não é do público que não entendeu o espetáculo. O responsável é o artista que não percebeu o que as pessoas gostariam de ver naquele momento.”
Serviço
O Jovem Frankenstein. Teatro Bradesco - Bourbon Shopping. Rua Palestra Itália, 500, Perdizes. Quinta e sexta, 21h; sábado, 16h e 21h; domingo, 16h. R$ 37,50 a R$ 150,00. Até 10 de março. A partir de quinta, 18.