Débora Falabella vive advogada abusada em monólogo: ‘Como mulheres, estamos sempre com esses medos’


A atriz protagoniza a peça ‘Prima Facie’, que debate o machismo no sistema judiciário e chega a SP após causar comoção no Rio. Ela comenta os temas do espetáculo, como o fato de o estuprador não ser apenas ‘aquela pessoa que te ataca na rua escura’ e projeta se lançar como diretora de cinema em versão de texto surrealista

Por Dirceu Alves Jr

No último dia 28 de agosto, a ministra do Superior Tribunal Federal Cármen Lúcia, o ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto e a ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge dividiram o palco do Teatro Unip, em Brasília, com a atriz Débora Falabella e a diretora Yara de Novaes. O motivo do encontro foi um debate depois do monólogo Prima Facie, protagonizado por Débora e dirigido por Yara, orquestrado na Capital Federal por Dodge, que se sentiu impactada depois de assistir a uma sessão no Rio de Janeiro.

Esta é apenas uma das demonstrações de como o texto da dramaturga australiana Suzie Miller é capaz de romper bolhas e ampliar a sua repercussão para muito além da cena. Prima Facie estreou no Rio em abril, foi visto por mais de 16 mil espectadores e chegou a São Paulo no sábado, 21, no Teatro Vivo. Novos debates devem ser programados ao longo da temporada paulistana.

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Em performance elogiada, a atriz, de 45 anos, recebeu indicação ao Prêmio Shell, assim como a direção de Yara e a trilha sonora composta por Morris. Mas o que toca tanto as pessoas em Prima Facie? “É uma peça que faz as mulheres se sentirem acolhidas, mas também se estende ao universo masculino”, arrisca a protagonista. “O texto traz os homens para o diálogo e faz eles olharem para o passado e reverem atos praticados que, mesmo em uma relação de afeto, podem ter sido abusivos.”

A atriz Débora Falabella estrela o monólogo 'Prima Facie', em cartaz em São Paulo até 1º de dezembro de 2024. Foto: Annelize Tozetto/Divulgação

Em cena, Débora é uma advogada bem-sucedida que, entre seus clientes, tem homens acusados de violência sexual. De origem humilde, ela batalhou muito para se destacar no complexo e machista mundo da advocacia e sempre defendeu a “verdade” contada pelos contratantes. A sua visão se transforma no momento em que ela sofre um abuso sexual e sente na pele o que as outras mulheres denunciavam. “A peça nos mostra que a figura do estuprador não é estrangeira, amedrontadora, não é a daquele sujeito que te ataca em uma rua escura”, explica Yara de Novaes. “A maioria dos abusadores está dentro de casa e tem proximidade com a vítima.”

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Débora se diz satisfeita ao perceber que através do teatro pode participar de um movimento político e social graças à repercussão do espetáculo. “O trabalho pode contribuir para a revisão de um sistema judiciário falido em que as leis foram criadas por homens e para beneficiar os homens”, afirma. Para a intérprete, a catarse da dramaturgia de Suzie Miller é que o público passa boa parte da peça vibrando com as vitórias da personagem e, quando o conflito do abuso é detonado, todos caem no abismo junto com ela.

“Como mulheres, nós estamos sempre envolvidas com essas questões, esses medos e, mesmo quem nunca sofreu uma violência como essa, sabe que tudo é possível de acontecer”, diz. “Existe uma evolução nos últimos anos, mas para que a transformação continue precisamos ficar atentas e conversar com nossas crianças dentro de casa, principalmente com os nossos meninos, para que venha uma geração diferente.”

Mesmo sendo filha de artistas – o pai, Rogério Falabella, é ator, e a mãe, Maria Olympia, cantora lírica –, Débora reconhece ter recebido uma educação com traços conservadores. “Cada um reproduziu um pouco de sua formação e vejo isso mudando claramente na minha sobrinha de 19 anos, que tem uma consciência de feminismo muito superior à minha na idade dela”, declara a atriz, que é mãe e procura revisar constantemente seus valores. “É impressionante como as mulheres até hoje são formadas em ambientes masculinos e isso serve de combustível para as minhas personagens.”

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A peça 'Prima Facie' , com a atriz Débora Falabella, é dirigida por Yara de Novaes. Foto: Annelize Tozetto/Divulgação

Em quase três décadas de carreira, Débora construiu uma sólida e rara trajetória capaz de equilibrar prestígio e popularidade – desafiando padrões até na Rede Globo, empresa que a manteve contratada entre 1999 e 2023. Ganhou fama através das telenovelas e colecionou trabalhos memoráveis na emissora, como a dependente química Mel de O Clone (2001), a vingativa Nina de Avenida Brasil (2012) e a sofrida Lucinda de Terra e Paixão (2023).

Em paralelo, jamais ficou fora dos palcos e formou, junto de Yara e do produtor Gabriel Fontes Paiva, uma companhia, o Grupo 3 de Teatro, que levou à cena os espetáculos A Serpente, Contrações, Love, Love, Love e Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante, entre outros. “O teatro é uma escolha de vida e não tinha como ser diferente, então sempre fiz tudo junto, mesmo que vários momentos tenham sido exaustivos”, assume. “Gravei novela ensaiando peça e estreei sem férias, mas tudo era possível porque não pensávamos em pausar nossos trabalhos.”

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O Grupo 3 encerrou as atividades no ano passado, com cada um dos integrantes buscando novos caminhos. Fontes Paiva precisou se dedicar a produções maiores e Yara viu ampliada a oferta como intérprete no audiovisual. “Foram 19 anos maravilhosos e isso é mais duradouro que muito casamento, mas o fim do grupo não significa que deixaremos de firmar parcerias futuras”, diz Débora.

Até porque Yara é a diretora de Prima Facie, e as duas dão sequência a uma troca profissional iniciada em 1996. Naquela época, em Belo Horizonte, Yara e Débora contracenaram no espetáculo infantil A Família Addams, como as personagens Mortícia e Wandinha, respectivamente. Em 2004, Yara a dirigiu pela primeira vez na peça Noites Brancas, versão da obra de Dostoiévski (1821-1881), um ano antes da fundação da companhia. “Hoje é muito visível a formação e a habilitação da Débora para a cena em qualquer papel”, elogia a diretora. “Fico feliz que o seu teatro não seja uma extensão da linguagem desenvolvida na televisão e ela faça do teatro um lugar de imaginação e invenção.”

Débora Falabella vive advogada que sofre abuso sexual no monólogo 'Prima Facie'. Foto: Annelize Tozetto/Divulgação
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Diante de tamanha experiência, Débora prepara o salto para assumir um papel inédito e ambicioso. Ela vai estrear como diretora de cinema com o filme Mantenha Fora do Alcance do Bebê, adaptação da peça de Silvia Gomez lançada em 2015. A trama surrealista, protagonizada por ela no palco, mostra uma mulher envolvida no processo de adoção de uma criança. O roteiro passa pela terceira versão, e as filmagens devem acontecer somente no início de 2026. “Tudo no cinema é demorado, caro e trabalhoso, por isso só vamos começar a rodar quando tudo estiver mesmo pronto”, conta. “Sempre tive medo, receio de falar, de parecer aquela atriz que quer dirigir, mas agora eu tenho mais coragem de fazer coisas que me interessam.”

Serviço ‘Prima Facie’

  • Teatro Vivo: Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460, Morumbi
  • Quinta a sábado, 20h; domingo, 18h
  • R$ 150
  • Até 1º de dezembro

No último dia 28 de agosto, a ministra do Superior Tribunal Federal Cármen Lúcia, o ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto e a ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge dividiram o palco do Teatro Unip, em Brasília, com a atriz Débora Falabella e a diretora Yara de Novaes. O motivo do encontro foi um debate depois do monólogo Prima Facie, protagonizado por Débora e dirigido por Yara, orquestrado na Capital Federal por Dodge, que se sentiu impactada depois de assistir a uma sessão no Rio de Janeiro.

Esta é apenas uma das demonstrações de como o texto da dramaturga australiana Suzie Miller é capaz de romper bolhas e ampliar a sua repercussão para muito além da cena. Prima Facie estreou no Rio em abril, foi visto por mais de 16 mil espectadores e chegou a São Paulo no sábado, 21, no Teatro Vivo. Novos debates devem ser programados ao longo da temporada paulistana.

Em performance elogiada, a atriz, de 45 anos, recebeu indicação ao Prêmio Shell, assim como a direção de Yara e a trilha sonora composta por Morris. Mas o que toca tanto as pessoas em Prima Facie? “É uma peça que faz as mulheres se sentirem acolhidas, mas também se estende ao universo masculino”, arrisca a protagonista. “O texto traz os homens para o diálogo e faz eles olharem para o passado e reverem atos praticados que, mesmo em uma relação de afeto, podem ter sido abusivos.”

A atriz Débora Falabella estrela o monólogo 'Prima Facie', em cartaz em São Paulo até 1º de dezembro de 2024. Foto: Annelize Tozetto/Divulgação

Em cena, Débora é uma advogada bem-sucedida que, entre seus clientes, tem homens acusados de violência sexual. De origem humilde, ela batalhou muito para se destacar no complexo e machista mundo da advocacia e sempre defendeu a “verdade” contada pelos contratantes. A sua visão se transforma no momento em que ela sofre um abuso sexual e sente na pele o que as outras mulheres denunciavam. “A peça nos mostra que a figura do estuprador não é estrangeira, amedrontadora, não é a daquele sujeito que te ataca em uma rua escura”, explica Yara de Novaes. “A maioria dos abusadores está dentro de casa e tem proximidade com a vítima.”

Débora se diz satisfeita ao perceber que através do teatro pode participar de um movimento político e social graças à repercussão do espetáculo. “O trabalho pode contribuir para a revisão de um sistema judiciário falido em que as leis foram criadas por homens e para beneficiar os homens”, afirma. Para a intérprete, a catarse da dramaturgia de Suzie Miller é que o público passa boa parte da peça vibrando com as vitórias da personagem e, quando o conflito do abuso é detonado, todos caem no abismo junto com ela.

“Como mulheres, nós estamos sempre envolvidas com essas questões, esses medos e, mesmo quem nunca sofreu uma violência como essa, sabe que tudo é possível de acontecer”, diz. “Existe uma evolução nos últimos anos, mas para que a transformação continue precisamos ficar atentas e conversar com nossas crianças dentro de casa, principalmente com os nossos meninos, para que venha uma geração diferente.”

Mesmo sendo filha de artistas – o pai, Rogério Falabella, é ator, e a mãe, Maria Olympia, cantora lírica –, Débora reconhece ter recebido uma educação com traços conservadores. “Cada um reproduziu um pouco de sua formação e vejo isso mudando claramente na minha sobrinha de 19 anos, que tem uma consciência de feminismo muito superior à minha na idade dela”, declara a atriz, que é mãe e procura revisar constantemente seus valores. “É impressionante como as mulheres até hoje são formadas em ambientes masculinos e isso serve de combustível para as minhas personagens.”

A peça 'Prima Facie' , com a atriz Débora Falabella, é dirigida por Yara de Novaes. Foto: Annelize Tozetto/Divulgação

Em quase três décadas de carreira, Débora construiu uma sólida e rara trajetória capaz de equilibrar prestígio e popularidade – desafiando padrões até na Rede Globo, empresa que a manteve contratada entre 1999 e 2023. Ganhou fama através das telenovelas e colecionou trabalhos memoráveis na emissora, como a dependente química Mel de O Clone (2001), a vingativa Nina de Avenida Brasil (2012) e a sofrida Lucinda de Terra e Paixão (2023).

Em paralelo, jamais ficou fora dos palcos e formou, junto de Yara e do produtor Gabriel Fontes Paiva, uma companhia, o Grupo 3 de Teatro, que levou à cena os espetáculos A Serpente, Contrações, Love, Love, Love e Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante, entre outros. “O teatro é uma escolha de vida e não tinha como ser diferente, então sempre fiz tudo junto, mesmo que vários momentos tenham sido exaustivos”, assume. “Gravei novela ensaiando peça e estreei sem férias, mas tudo era possível porque não pensávamos em pausar nossos trabalhos.”

O Grupo 3 encerrou as atividades no ano passado, com cada um dos integrantes buscando novos caminhos. Fontes Paiva precisou se dedicar a produções maiores e Yara viu ampliada a oferta como intérprete no audiovisual. “Foram 19 anos maravilhosos e isso é mais duradouro que muito casamento, mas o fim do grupo não significa que deixaremos de firmar parcerias futuras”, diz Débora.

Até porque Yara é a diretora de Prima Facie, e as duas dão sequência a uma troca profissional iniciada em 1996. Naquela época, em Belo Horizonte, Yara e Débora contracenaram no espetáculo infantil A Família Addams, como as personagens Mortícia e Wandinha, respectivamente. Em 2004, Yara a dirigiu pela primeira vez na peça Noites Brancas, versão da obra de Dostoiévski (1821-1881), um ano antes da fundação da companhia. “Hoje é muito visível a formação e a habilitação da Débora para a cena em qualquer papel”, elogia a diretora. “Fico feliz que o seu teatro não seja uma extensão da linguagem desenvolvida na televisão e ela faça do teatro um lugar de imaginação e invenção.”

Débora Falabella vive advogada que sofre abuso sexual no monólogo 'Prima Facie'. Foto: Annelize Tozetto/Divulgação

Diante de tamanha experiência, Débora prepara o salto para assumir um papel inédito e ambicioso. Ela vai estrear como diretora de cinema com o filme Mantenha Fora do Alcance do Bebê, adaptação da peça de Silvia Gomez lançada em 2015. A trama surrealista, protagonizada por ela no palco, mostra uma mulher envolvida no processo de adoção de uma criança. O roteiro passa pela terceira versão, e as filmagens devem acontecer somente no início de 2026. “Tudo no cinema é demorado, caro e trabalhoso, por isso só vamos começar a rodar quando tudo estiver mesmo pronto”, conta. “Sempre tive medo, receio de falar, de parecer aquela atriz que quer dirigir, mas agora eu tenho mais coragem de fazer coisas que me interessam.”

Serviço ‘Prima Facie’

  • Teatro Vivo: Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460, Morumbi
  • Quinta a sábado, 20h; domingo, 18h
  • R$ 150
  • Até 1º de dezembro

No último dia 28 de agosto, a ministra do Superior Tribunal Federal Cármen Lúcia, o ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto e a ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge dividiram o palco do Teatro Unip, em Brasília, com a atriz Débora Falabella e a diretora Yara de Novaes. O motivo do encontro foi um debate depois do monólogo Prima Facie, protagonizado por Débora e dirigido por Yara, orquestrado na Capital Federal por Dodge, que se sentiu impactada depois de assistir a uma sessão no Rio de Janeiro.

Esta é apenas uma das demonstrações de como o texto da dramaturga australiana Suzie Miller é capaz de romper bolhas e ampliar a sua repercussão para muito além da cena. Prima Facie estreou no Rio em abril, foi visto por mais de 16 mil espectadores e chegou a São Paulo no sábado, 21, no Teatro Vivo. Novos debates devem ser programados ao longo da temporada paulistana.

Em performance elogiada, a atriz, de 45 anos, recebeu indicação ao Prêmio Shell, assim como a direção de Yara e a trilha sonora composta por Morris. Mas o que toca tanto as pessoas em Prima Facie? “É uma peça que faz as mulheres se sentirem acolhidas, mas também se estende ao universo masculino”, arrisca a protagonista. “O texto traz os homens para o diálogo e faz eles olharem para o passado e reverem atos praticados que, mesmo em uma relação de afeto, podem ter sido abusivos.”

A atriz Débora Falabella estrela o monólogo 'Prima Facie', em cartaz em São Paulo até 1º de dezembro de 2024. Foto: Annelize Tozetto/Divulgação

Em cena, Débora é uma advogada bem-sucedida que, entre seus clientes, tem homens acusados de violência sexual. De origem humilde, ela batalhou muito para se destacar no complexo e machista mundo da advocacia e sempre defendeu a “verdade” contada pelos contratantes. A sua visão se transforma no momento em que ela sofre um abuso sexual e sente na pele o que as outras mulheres denunciavam. “A peça nos mostra que a figura do estuprador não é estrangeira, amedrontadora, não é a daquele sujeito que te ataca em uma rua escura”, explica Yara de Novaes. “A maioria dos abusadores está dentro de casa e tem proximidade com a vítima.”

Débora se diz satisfeita ao perceber que através do teatro pode participar de um movimento político e social graças à repercussão do espetáculo. “O trabalho pode contribuir para a revisão de um sistema judiciário falido em que as leis foram criadas por homens e para beneficiar os homens”, afirma. Para a intérprete, a catarse da dramaturgia de Suzie Miller é que o público passa boa parte da peça vibrando com as vitórias da personagem e, quando o conflito do abuso é detonado, todos caem no abismo junto com ela.

“Como mulheres, nós estamos sempre envolvidas com essas questões, esses medos e, mesmo quem nunca sofreu uma violência como essa, sabe que tudo é possível de acontecer”, diz. “Existe uma evolução nos últimos anos, mas para que a transformação continue precisamos ficar atentas e conversar com nossas crianças dentro de casa, principalmente com os nossos meninos, para que venha uma geração diferente.”

Mesmo sendo filha de artistas – o pai, Rogério Falabella, é ator, e a mãe, Maria Olympia, cantora lírica –, Débora reconhece ter recebido uma educação com traços conservadores. “Cada um reproduziu um pouco de sua formação e vejo isso mudando claramente na minha sobrinha de 19 anos, que tem uma consciência de feminismo muito superior à minha na idade dela”, declara a atriz, que é mãe e procura revisar constantemente seus valores. “É impressionante como as mulheres até hoje são formadas em ambientes masculinos e isso serve de combustível para as minhas personagens.”

A peça 'Prima Facie' , com a atriz Débora Falabella, é dirigida por Yara de Novaes. Foto: Annelize Tozetto/Divulgação

Em quase três décadas de carreira, Débora construiu uma sólida e rara trajetória capaz de equilibrar prestígio e popularidade – desafiando padrões até na Rede Globo, empresa que a manteve contratada entre 1999 e 2023. Ganhou fama através das telenovelas e colecionou trabalhos memoráveis na emissora, como a dependente química Mel de O Clone (2001), a vingativa Nina de Avenida Brasil (2012) e a sofrida Lucinda de Terra e Paixão (2023).

Em paralelo, jamais ficou fora dos palcos e formou, junto de Yara e do produtor Gabriel Fontes Paiva, uma companhia, o Grupo 3 de Teatro, que levou à cena os espetáculos A Serpente, Contrações, Love, Love, Love e Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante, entre outros. “O teatro é uma escolha de vida e não tinha como ser diferente, então sempre fiz tudo junto, mesmo que vários momentos tenham sido exaustivos”, assume. “Gravei novela ensaiando peça e estreei sem férias, mas tudo era possível porque não pensávamos em pausar nossos trabalhos.”

O Grupo 3 encerrou as atividades no ano passado, com cada um dos integrantes buscando novos caminhos. Fontes Paiva precisou se dedicar a produções maiores e Yara viu ampliada a oferta como intérprete no audiovisual. “Foram 19 anos maravilhosos e isso é mais duradouro que muito casamento, mas o fim do grupo não significa que deixaremos de firmar parcerias futuras”, diz Débora.

Até porque Yara é a diretora de Prima Facie, e as duas dão sequência a uma troca profissional iniciada em 1996. Naquela época, em Belo Horizonte, Yara e Débora contracenaram no espetáculo infantil A Família Addams, como as personagens Mortícia e Wandinha, respectivamente. Em 2004, Yara a dirigiu pela primeira vez na peça Noites Brancas, versão da obra de Dostoiévski (1821-1881), um ano antes da fundação da companhia. “Hoje é muito visível a formação e a habilitação da Débora para a cena em qualquer papel”, elogia a diretora. “Fico feliz que o seu teatro não seja uma extensão da linguagem desenvolvida na televisão e ela faça do teatro um lugar de imaginação e invenção.”

Débora Falabella vive advogada que sofre abuso sexual no monólogo 'Prima Facie'. Foto: Annelize Tozetto/Divulgação

Diante de tamanha experiência, Débora prepara o salto para assumir um papel inédito e ambicioso. Ela vai estrear como diretora de cinema com o filme Mantenha Fora do Alcance do Bebê, adaptação da peça de Silvia Gomez lançada em 2015. A trama surrealista, protagonizada por ela no palco, mostra uma mulher envolvida no processo de adoção de uma criança. O roteiro passa pela terceira versão, e as filmagens devem acontecer somente no início de 2026. “Tudo no cinema é demorado, caro e trabalhoso, por isso só vamos começar a rodar quando tudo estiver mesmo pronto”, conta. “Sempre tive medo, receio de falar, de parecer aquela atriz que quer dirigir, mas agora eu tenho mais coragem de fazer coisas que me interessam.”

Serviço ‘Prima Facie’

  • Teatro Vivo: Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460, Morumbi
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