Espetáculo retrata um Freud passional, desafiado por um mundo que não admite contradições


‘Freud e o Visitante’, com o Grupo Tapa, busca uma conexão entre a Viena antiga e a atualidade

Por Dirceu Alves Jr.

Sucesso há um ano na cidade, A Última Sessão de Freud, montagem dirigida por Elias Andreato com os atores Odilon Wagner e Claudio Fontana, mostra um confronto de ideias entre o pai da psicanálise (1856-1939) e o professor e teólogo C. S. Lewis (1898-1963). Ali, o Freud intelectual, como é mostrado na maioria das vezes em que inspira dramaturgia, impõe seu pensamento e pouco se abala com as discordâncias.

Claro que este perfil está presente em Freud e o Visitante, peça do belga Éric-Emmanuel Schmitt, que está em cartaz no Teatro Aliança Francesa, sob a direção de Eduardo Tolentino de Araujo, do Grupo Tapa. No texto de Schmitt, porém, Sigmund Freud (interpretado por Brian Penido Ross) enfrenta aquele que talvez seja o pior dia de sua vida.

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Elenco da peça 'Freud e o Visitante', do Grupo Tapa, com direção de Eduardo Tolentino Foto: Ronaldo Gutierrez

Em março de 1938, os alemães invadem a Áustria, perseguem judeus e Anna Freud (papel de Anna Cecília Junqueira), sua filha querida, é intimada por um nazista (o ator Adriano Bedin) a prestar depoimento. Na sequência, uma estranha figura invade o seu consultório e o leva a um desafiador mergulho no próprio inconsciente.

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Um homem (representado por Bruno Barchesi) pula a janela do gabinete do psicanalista e começa a desafiá-lo com provocações que, à medida que são respondidas, parecem enredá-lo ainda mais. Seria um louco? Um fugitivo? Uma manifestação do próprio inconsciente? Quem sabe, Deus?

PASSIONAL

A última hipótese é a mais rechaçada por Freud, mas, diante do medo de perder a filha, ele, aos poucos, busca a própria humanidade. “Sem dúvida, é um Freud mais sentimental e até passional, não carrega aquela secura que nós nos acostumamos a ver”, afirma Brian Penido Ross.

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O protagonista revela que esse visitante pode ser o grande analista de Freud, encarregado de fazer a psique daquele homem tão exato balançar um pouco. “É interessante perceber que toda vez que ele tenta racionalizar uma situação se torna vítima de nova rasteira e, assim, temos um Freud inseguro, que se confunde o tempo inteiro”, complementa o ator.

Como diretor, Tolentino ressalta que Schmitt fez um recorte particular ao transformar em teatro essa situação hipotética. Freud sabia que em pouco tempo seria derrotado por um câncer e, mesmo sem ser apaixonado por Viena, não enxergava sentido em deixar a Áustria na sua velhice.

A escalada meteórica do nazismo no país, no entanto, o assustou e, diante do desconhecido invasor, instaura-se uma profunda crise pessoal que traz à tona até sua reflexão sobre o ateísmo. “O centro da peça é quem seria o responsável por tudo o que está acontecendo no mundo e se existe um Deus que permitiu tudo isso só pode ser um medíocre ou um canalha”, conta o diretor.

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Admirador do pai da psicanálise, Tolentino leu sua obra integral na década de 1980 e, somente para esse trabalho, buscou biografias para melhor entender o pensamento de Freud. Não são poucas as conexões estabelecidas entre a época em que se passa a peça e a atualidade.

CONVULSÃO

Para Tolentino, o mundo vive uma convulsão, reforçada por acontecimentos como a pandemia e a guerra da Ucrânia, mas também por estruturas que se mostram abaladas ou em transformação. “Assim como a cultura, as questões do inconsciente se tornaram inimigas de uma parte da sociedade, porque estamos em um mundo que não admite as próprias contradições.”

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O teatro, entretanto, depois do baque pandêmico, na visão de Tolentino, parece ter recebido uma chacoalhada. “Os artistas voltaram a fazer teatro pensando no público, não só na classe, e isso é uma quebra de paradigmas”, afirma. Uma prova desta constatação, diz, é a recente temporada de verão paulistana, repleta de espetáculos elogiados e com plateias lotadas. “Eu não via algo assim há uns dez anos. Claro que a retomada colaborou para isso, mas acho que voltamos a buscar uma outra qualidade.”

Sucesso há um ano na cidade, A Última Sessão de Freud, montagem dirigida por Elias Andreato com os atores Odilon Wagner e Claudio Fontana, mostra um confronto de ideias entre o pai da psicanálise (1856-1939) e o professor e teólogo C. S. Lewis (1898-1963). Ali, o Freud intelectual, como é mostrado na maioria das vezes em que inspira dramaturgia, impõe seu pensamento e pouco se abala com as discordâncias.

Claro que este perfil está presente em Freud e o Visitante, peça do belga Éric-Emmanuel Schmitt, que está em cartaz no Teatro Aliança Francesa, sob a direção de Eduardo Tolentino de Araujo, do Grupo Tapa. No texto de Schmitt, porém, Sigmund Freud (interpretado por Brian Penido Ross) enfrenta aquele que talvez seja o pior dia de sua vida.

Elenco da peça 'Freud e o Visitante', do Grupo Tapa, com direção de Eduardo Tolentino Foto: Ronaldo Gutierrez

Em março de 1938, os alemães invadem a Áustria, perseguem judeus e Anna Freud (papel de Anna Cecília Junqueira), sua filha querida, é intimada por um nazista (o ator Adriano Bedin) a prestar depoimento. Na sequência, uma estranha figura invade o seu consultório e o leva a um desafiador mergulho no próprio inconsciente.

Um homem (representado por Bruno Barchesi) pula a janela do gabinete do psicanalista e começa a desafiá-lo com provocações que, à medida que são respondidas, parecem enredá-lo ainda mais. Seria um louco? Um fugitivo? Uma manifestação do próprio inconsciente? Quem sabe, Deus?

PASSIONAL

A última hipótese é a mais rechaçada por Freud, mas, diante do medo de perder a filha, ele, aos poucos, busca a própria humanidade. “Sem dúvida, é um Freud mais sentimental e até passional, não carrega aquela secura que nós nos acostumamos a ver”, afirma Brian Penido Ross.

O protagonista revela que esse visitante pode ser o grande analista de Freud, encarregado de fazer a psique daquele homem tão exato balançar um pouco. “É interessante perceber que toda vez que ele tenta racionalizar uma situação se torna vítima de nova rasteira e, assim, temos um Freud inseguro, que se confunde o tempo inteiro”, complementa o ator.

Como diretor, Tolentino ressalta que Schmitt fez um recorte particular ao transformar em teatro essa situação hipotética. Freud sabia que em pouco tempo seria derrotado por um câncer e, mesmo sem ser apaixonado por Viena, não enxergava sentido em deixar a Áustria na sua velhice.

A escalada meteórica do nazismo no país, no entanto, o assustou e, diante do desconhecido invasor, instaura-se uma profunda crise pessoal que traz à tona até sua reflexão sobre o ateísmo. “O centro da peça é quem seria o responsável por tudo o que está acontecendo no mundo e se existe um Deus que permitiu tudo isso só pode ser um medíocre ou um canalha”, conta o diretor.

Admirador do pai da psicanálise, Tolentino leu sua obra integral na década de 1980 e, somente para esse trabalho, buscou biografias para melhor entender o pensamento de Freud. Não são poucas as conexões estabelecidas entre a época em que se passa a peça e a atualidade.

CONVULSÃO

Para Tolentino, o mundo vive uma convulsão, reforçada por acontecimentos como a pandemia e a guerra da Ucrânia, mas também por estruturas que se mostram abaladas ou em transformação. “Assim como a cultura, as questões do inconsciente se tornaram inimigas de uma parte da sociedade, porque estamos em um mundo que não admite as próprias contradições.”

O teatro, entretanto, depois do baque pandêmico, na visão de Tolentino, parece ter recebido uma chacoalhada. “Os artistas voltaram a fazer teatro pensando no público, não só na classe, e isso é uma quebra de paradigmas”, afirma. Uma prova desta constatação, diz, é a recente temporada de verão paulistana, repleta de espetáculos elogiados e com plateias lotadas. “Eu não via algo assim há uns dez anos. Claro que a retomada colaborou para isso, mas acho que voltamos a buscar uma outra qualidade.”

Sucesso há um ano na cidade, A Última Sessão de Freud, montagem dirigida por Elias Andreato com os atores Odilon Wagner e Claudio Fontana, mostra um confronto de ideias entre o pai da psicanálise (1856-1939) e o professor e teólogo C. S. Lewis (1898-1963). Ali, o Freud intelectual, como é mostrado na maioria das vezes em que inspira dramaturgia, impõe seu pensamento e pouco se abala com as discordâncias.

Claro que este perfil está presente em Freud e o Visitante, peça do belga Éric-Emmanuel Schmitt, que está em cartaz no Teatro Aliança Francesa, sob a direção de Eduardo Tolentino de Araujo, do Grupo Tapa. No texto de Schmitt, porém, Sigmund Freud (interpretado por Brian Penido Ross) enfrenta aquele que talvez seja o pior dia de sua vida.

Elenco da peça 'Freud e o Visitante', do Grupo Tapa, com direção de Eduardo Tolentino Foto: Ronaldo Gutierrez

Em março de 1938, os alemães invadem a Áustria, perseguem judeus e Anna Freud (papel de Anna Cecília Junqueira), sua filha querida, é intimada por um nazista (o ator Adriano Bedin) a prestar depoimento. Na sequência, uma estranha figura invade o seu consultório e o leva a um desafiador mergulho no próprio inconsciente.

Um homem (representado por Bruno Barchesi) pula a janela do gabinete do psicanalista e começa a desafiá-lo com provocações que, à medida que são respondidas, parecem enredá-lo ainda mais. Seria um louco? Um fugitivo? Uma manifestação do próprio inconsciente? Quem sabe, Deus?

PASSIONAL

A última hipótese é a mais rechaçada por Freud, mas, diante do medo de perder a filha, ele, aos poucos, busca a própria humanidade. “Sem dúvida, é um Freud mais sentimental e até passional, não carrega aquela secura que nós nos acostumamos a ver”, afirma Brian Penido Ross.

O protagonista revela que esse visitante pode ser o grande analista de Freud, encarregado de fazer a psique daquele homem tão exato balançar um pouco. “É interessante perceber que toda vez que ele tenta racionalizar uma situação se torna vítima de nova rasteira e, assim, temos um Freud inseguro, que se confunde o tempo inteiro”, complementa o ator.

Como diretor, Tolentino ressalta que Schmitt fez um recorte particular ao transformar em teatro essa situação hipotética. Freud sabia que em pouco tempo seria derrotado por um câncer e, mesmo sem ser apaixonado por Viena, não enxergava sentido em deixar a Áustria na sua velhice.

A escalada meteórica do nazismo no país, no entanto, o assustou e, diante do desconhecido invasor, instaura-se uma profunda crise pessoal que traz à tona até sua reflexão sobre o ateísmo. “O centro da peça é quem seria o responsável por tudo o que está acontecendo no mundo e se existe um Deus que permitiu tudo isso só pode ser um medíocre ou um canalha”, conta o diretor.

Admirador do pai da psicanálise, Tolentino leu sua obra integral na década de 1980 e, somente para esse trabalho, buscou biografias para melhor entender o pensamento de Freud. Não são poucas as conexões estabelecidas entre a época em que se passa a peça e a atualidade.

CONVULSÃO

Para Tolentino, o mundo vive uma convulsão, reforçada por acontecimentos como a pandemia e a guerra da Ucrânia, mas também por estruturas que se mostram abaladas ou em transformação. “Assim como a cultura, as questões do inconsciente se tornaram inimigas de uma parte da sociedade, porque estamos em um mundo que não admite as próprias contradições.”

O teatro, entretanto, depois do baque pandêmico, na visão de Tolentino, parece ter recebido uma chacoalhada. “Os artistas voltaram a fazer teatro pensando no público, não só na classe, e isso é uma quebra de paradigmas”, afirma. Uma prova desta constatação, diz, é a recente temporada de verão paulistana, repleta de espetáculos elogiados e com plateias lotadas. “Eu não via algo assim há uns dez anos. Claro que a retomada colaborou para isso, mas acho que voltamos a buscar uma outra qualidade.”

Sucesso há um ano na cidade, A Última Sessão de Freud, montagem dirigida por Elias Andreato com os atores Odilon Wagner e Claudio Fontana, mostra um confronto de ideias entre o pai da psicanálise (1856-1939) e o professor e teólogo C. S. Lewis (1898-1963). Ali, o Freud intelectual, como é mostrado na maioria das vezes em que inspira dramaturgia, impõe seu pensamento e pouco se abala com as discordâncias.

Claro que este perfil está presente em Freud e o Visitante, peça do belga Éric-Emmanuel Schmitt, que está em cartaz no Teatro Aliança Francesa, sob a direção de Eduardo Tolentino de Araujo, do Grupo Tapa. No texto de Schmitt, porém, Sigmund Freud (interpretado por Brian Penido Ross) enfrenta aquele que talvez seja o pior dia de sua vida.

Elenco da peça 'Freud e o Visitante', do Grupo Tapa, com direção de Eduardo Tolentino Foto: Ronaldo Gutierrez

Em março de 1938, os alemães invadem a Áustria, perseguem judeus e Anna Freud (papel de Anna Cecília Junqueira), sua filha querida, é intimada por um nazista (o ator Adriano Bedin) a prestar depoimento. Na sequência, uma estranha figura invade o seu consultório e o leva a um desafiador mergulho no próprio inconsciente.

Um homem (representado por Bruno Barchesi) pula a janela do gabinete do psicanalista e começa a desafiá-lo com provocações que, à medida que são respondidas, parecem enredá-lo ainda mais. Seria um louco? Um fugitivo? Uma manifestação do próprio inconsciente? Quem sabe, Deus?

PASSIONAL

A última hipótese é a mais rechaçada por Freud, mas, diante do medo de perder a filha, ele, aos poucos, busca a própria humanidade. “Sem dúvida, é um Freud mais sentimental e até passional, não carrega aquela secura que nós nos acostumamos a ver”, afirma Brian Penido Ross.

O protagonista revela que esse visitante pode ser o grande analista de Freud, encarregado de fazer a psique daquele homem tão exato balançar um pouco. “É interessante perceber que toda vez que ele tenta racionalizar uma situação se torna vítima de nova rasteira e, assim, temos um Freud inseguro, que se confunde o tempo inteiro”, complementa o ator.

Como diretor, Tolentino ressalta que Schmitt fez um recorte particular ao transformar em teatro essa situação hipotética. Freud sabia que em pouco tempo seria derrotado por um câncer e, mesmo sem ser apaixonado por Viena, não enxergava sentido em deixar a Áustria na sua velhice.

A escalada meteórica do nazismo no país, no entanto, o assustou e, diante do desconhecido invasor, instaura-se uma profunda crise pessoal que traz à tona até sua reflexão sobre o ateísmo. “O centro da peça é quem seria o responsável por tudo o que está acontecendo no mundo e se existe um Deus que permitiu tudo isso só pode ser um medíocre ou um canalha”, conta o diretor.

Admirador do pai da psicanálise, Tolentino leu sua obra integral na década de 1980 e, somente para esse trabalho, buscou biografias para melhor entender o pensamento de Freud. Não são poucas as conexões estabelecidas entre a época em que se passa a peça e a atualidade.

CONVULSÃO

Para Tolentino, o mundo vive uma convulsão, reforçada por acontecimentos como a pandemia e a guerra da Ucrânia, mas também por estruturas que se mostram abaladas ou em transformação. “Assim como a cultura, as questões do inconsciente se tornaram inimigas de uma parte da sociedade, porque estamos em um mundo que não admite as próprias contradições.”

O teatro, entretanto, depois do baque pandêmico, na visão de Tolentino, parece ter recebido uma chacoalhada. “Os artistas voltaram a fazer teatro pensando no público, não só na classe, e isso é uma quebra de paradigmas”, afirma. Uma prova desta constatação, diz, é a recente temporada de verão paulistana, repleta de espetáculos elogiados e com plateias lotadas. “Eu não via algo assim há uns dez anos. Claro que a retomada colaborou para isso, mas acho que voltamos a buscar uma outra qualidade.”

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