Isabel Teixeira dá vida a último texto de Jandira Martini no teatro enquanto faz 3ª novela seguida


Atriz que ganhou fama e conquistou o público como Maria Bruaca de ‘Pantanal’ e está no ar em ‘Volta Por Cima’ protagoniza o solo ‘Jandira – Em Busca do Bonde Perdido’. Peça traz reflexões sobre a finitude da autora e intérprete que morreu no início do ano

Por Dirceu Alves Jr

Em 29 de janeiro, uma segunda-feira, a atriz Isabel Teixeira, de 50 anos, enfrentava o quinto mês de gravações da novela Elas por Elas no Rio de Janeiro. Sua personagem, a vilã Helena, era filha do empresário Sérgio Aranha (papel de Marcos Caruso), um lobo em pele de cordeiro, capaz de tudo para agradá-la. O roteiro enviado pela produção ocuparia Isabel das 13h às 21h, com raras pausas. “Era um dia daqueles que adoro: quanto mais cenas e trocas de roupa, mais fico feliz no estúdio”, comenta ela, que, antes de sair para o trabalho, soube da morte da atriz e dramaturga Jandira Martini.

Isabel Teixeira se desdobra entre as gravações no Rio e peça no Tucarena, em São Paulo Foto: Flora Negri/Divulgação

“Olha, eu devo voltar mais cedo”, avisou Isabel para Flora, sua filha caçula, de 13 anos, que passava as férias no Rio. A maioria das cenas era com Caruso e, certamente, ele, quase um irmão de Jandira, teria embarcado para São Paulo assim que recebeu a notícia. Ao pisar no estúdio, Isabel teve uma surpresa. Caruso estava lá, triste, abalado, mas, com a escala de gravação reorganizada, para viajar assim que possível para o velório. “Jandira era uma operária, jamais me perdoaria se eu não se não cumprisse as obrigações antes de me despedir dela”, justificou o colega.

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Isabel ficou sem palavras, tocada e, diante deste comportamento, entendeu o que movia a relação de Caruso e Jandira, dois opostos – ele, sentimental, divagador; ela, metódica, racional – que, juntos, escreveram peças marcantes, fenômenos de bilheteria, como Sua Excelência, o Candidato e Porca Miséria. “Quando vi Porca Miséria, era aluna da Escola de Arte Dramática (EAD) e fiquei impressionada ao perceber como uma dramaturgia de alta qualidade se comunicava com tantos espectadores”, lembra Isabel. “Eu passei, então, a prestar atenção na capacidade de realização do Caruso e de Jandira.”

Isabel Teixeira não chegou a conhecer Jandira Martini, mas foi escolhida para encenar seu último texto Foto: Roberto Setton/Divulgação
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Desde agosto, Isabel é Jandira Martini ou, melhor, é a protagonista do solo Jandira – Em Busca do Bonde Perdido, que, depois de estrear no Rio em agosto, chega a São Paulo nesta sexta, 11, para temporada no Tucarena. Sob a direção de Caruso, ela dá corpo e voz ao último texto escrito pela dramaturga, um relato forte, por vezes irônico e bastante reflexivo sobre a finitude e os seus últimos oito anos, aqueles em que lutou contra o câncer de pulmão que tiraria a sua vida em janeiro. “Caruso me chamou para ler a peça na casa dele e avisou: ‘Jandira nunca escreveu uma linha sobre ela, estabelecia um distanciamento até para os amigos, então temos na mão algo importante’”, conta.

A afinidade estabelecida entre os dois naqueles meses da novela Elas por Elas fazia de Isabel, segundo Caruso, a portadora ideal para entregar aquelas palavras ao público. “Terminei de ler aos prantos. ‘Quero fazer essa peça’, disse para ele”, lembra. “Só tive essa sensação duas vezes na vida, com a Stella de Um Bonde Chamado Desejo e a Mary Stuart de Rainhas, dois espetáculos fundamentais na minha carreira.”

Como não conheceu Jandira, nem de vista, Isabel criou uma personagem apoiada nas descrições de Caruso na sala de ensaios. Ele levantava da mesa e mostrava como Jandira acenaria para um táxi, qual seria o tom de voz se contrariada e como agiria em determinadas situações, como uma consulta médica ou a abordagem de um fã das suas novelas. “Eu vi Caruso escrevendo um novo texto em cima daquele deixado por ela e me deixei ser dirigida nas menores coisas, em cada gesto.”

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Na encenação limpa de Jandira – Em Busca do Bonde Perdido, a intérprete se apoia em apenas dois acessórios – uma cadeira de praia e uma bolsa – e não precisa de mais nada. “Não conto só a história de Jandira, mas de uma geração inteira, que tem o Caruso, a Cláudia Mello, a Regina Braga, artistas que batalharam pelo teatro naquelas décadas de 1970, 1980 e 1990″, explica. “Tem um pouco também da minha mãe [a atriz Alexandra Corrêa (1950-2006)], mas em outro lugar, porque ela morreu por causa de um câncer.”

Marcos Caruso e Jandira Martini em cena de 'Operação Abafa' Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

A estreia do espetáculo em São Paulo não ameniza a rotina da artista. Pelo contrário, ficará mais intensa. Desde julho, Isabel se ocupa das gravações de Volta por Cima, a terceira novela seguida que emplaca na Globo, contando o grande sucesso alcançado na pele da Maria Bruaca de Pantanal em 2022. Na nova trama das sete, que estreou no dia 30, ela interpreta Violeta Castilho, a viúva de um contraventor, que, depois de anos de submissão ao marido, vive controlada pelo filho (papel de Rodrigo García).

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É uma personagem diferente de Bruaca e Helena, com uma pegada mais cômica, mas que, mesmo assim, desafia constantemente a atriz, que, reconhece, ainda decifra os códigos da televisão. “Estou aprendendo, ganhando musculatura e comparo com uma maratona a rotina de gravações”, diz. “Eu corro bem uns 15 quilômetros, mas quero adquirir fôlego para superar os 40, como fazem o Marcos Palmeira, a Dira Paes e o Caruso, por exemplo.”

'Jandira – Em Busca do Bonde Perdido' fica em cartaz em São Paulo até o início de dezembro Foto: Roberto Setton/Divulgação

O excesso de trabalho não assusta a artista, que é uma das raras contratações de longo prazo recentes da Globo. No encerramento de Pantanal, ela assinou um vínculo de três anos, que se estende até o fim de 2025, e aproveita ao máximo a boa fase profissional. “Eu acho importante fazer novela e peça ao mesmo tempo, porque são coisas totalmente distintas; no teatro, o artista repete e, na televisão, olha para frente”, declara. “A teledramaturgia é democrática, você tem o artista formado no teatro, aquele que mal pisou no palco, mas sabe tudo de TV, o modelo e o influencer, todo mundo junto, e é o público quem determina quem será excluído ou não.”

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A estabilidade permitiu a Isabel se livrar do aluguel e entrar no financiamento do primeiro imóvel próprio, um apartamento em Santa Cecília, em que mora com Flora. O filho mais velho, Diego, de 21 anos, também de seu casamento com o fotógrafo Roberto Setton, passa uma temporada de estudos nos Estados Unidos.

Na sala do imóvel, Isabel encontrou espaço para os equipamentos da editora Fora de Esquadro, projeto desenvolvido por ela desde 2009, que, agora, deve ganhar força na publicação de livros. “Trabalho de domingo a domingo, não janto fora e a única coisa que sinto falta é de fugir para o mato, tomar um banho de cachoeira”, afirma. “Já briguei com o meu pai [o cantor e compositor Renato Teixeira], porque ele vive sem tréguas, é show, viagem, gravação, mas eu entendo que ele não cansa porque se encaixou no que que gosta de fazer.”

Serviço - ‘Jandira – Em Busca do Bonde Perdido’

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  • Onde: Tucarena - Rua Bartira, 347, Perdizes.
  • Quando: De 11/10 a 8/12. Sextas, 21h; sábados, 19h; domingos, 17h.
  • Quanto: R$ 100.

Em 29 de janeiro, uma segunda-feira, a atriz Isabel Teixeira, de 50 anos, enfrentava o quinto mês de gravações da novela Elas por Elas no Rio de Janeiro. Sua personagem, a vilã Helena, era filha do empresário Sérgio Aranha (papel de Marcos Caruso), um lobo em pele de cordeiro, capaz de tudo para agradá-la. O roteiro enviado pela produção ocuparia Isabel das 13h às 21h, com raras pausas. “Era um dia daqueles que adoro: quanto mais cenas e trocas de roupa, mais fico feliz no estúdio”, comenta ela, que, antes de sair para o trabalho, soube da morte da atriz e dramaturga Jandira Martini.

Isabel Teixeira se desdobra entre as gravações no Rio e peça no Tucarena, em São Paulo Foto: Flora Negri/Divulgação

“Olha, eu devo voltar mais cedo”, avisou Isabel para Flora, sua filha caçula, de 13 anos, que passava as férias no Rio. A maioria das cenas era com Caruso e, certamente, ele, quase um irmão de Jandira, teria embarcado para São Paulo assim que recebeu a notícia. Ao pisar no estúdio, Isabel teve uma surpresa. Caruso estava lá, triste, abalado, mas, com a escala de gravação reorganizada, para viajar assim que possível para o velório. “Jandira era uma operária, jamais me perdoaria se eu não se não cumprisse as obrigações antes de me despedir dela”, justificou o colega.

Isabel ficou sem palavras, tocada e, diante deste comportamento, entendeu o que movia a relação de Caruso e Jandira, dois opostos – ele, sentimental, divagador; ela, metódica, racional – que, juntos, escreveram peças marcantes, fenômenos de bilheteria, como Sua Excelência, o Candidato e Porca Miséria. “Quando vi Porca Miséria, era aluna da Escola de Arte Dramática (EAD) e fiquei impressionada ao perceber como uma dramaturgia de alta qualidade se comunicava com tantos espectadores”, lembra Isabel. “Eu passei, então, a prestar atenção na capacidade de realização do Caruso e de Jandira.”

Isabel Teixeira não chegou a conhecer Jandira Martini, mas foi escolhida para encenar seu último texto Foto: Roberto Setton/Divulgação

Desde agosto, Isabel é Jandira Martini ou, melhor, é a protagonista do solo Jandira – Em Busca do Bonde Perdido, que, depois de estrear no Rio em agosto, chega a São Paulo nesta sexta, 11, para temporada no Tucarena. Sob a direção de Caruso, ela dá corpo e voz ao último texto escrito pela dramaturga, um relato forte, por vezes irônico e bastante reflexivo sobre a finitude e os seus últimos oito anos, aqueles em que lutou contra o câncer de pulmão que tiraria a sua vida em janeiro. “Caruso me chamou para ler a peça na casa dele e avisou: ‘Jandira nunca escreveu uma linha sobre ela, estabelecia um distanciamento até para os amigos, então temos na mão algo importante’”, conta.

A afinidade estabelecida entre os dois naqueles meses da novela Elas por Elas fazia de Isabel, segundo Caruso, a portadora ideal para entregar aquelas palavras ao público. “Terminei de ler aos prantos. ‘Quero fazer essa peça’, disse para ele”, lembra. “Só tive essa sensação duas vezes na vida, com a Stella de Um Bonde Chamado Desejo e a Mary Stuart de Rainhas, dois espetáculos fundamentais na minha carreira.”

Como não conheceu Jandira, nem de vista, Isabel criou uma personagem apoiada nas descrições de Caruso na sala de ensaios. Ele levantava da mesa e mostrava como Jandira acenaria para um táxi, qual seria o tom de voz se contrariada e como agiria em determinadas situações, como uma consulta médica ou a abordagem de um fã das suas novelas. “Eu vi Caruso escrevendo um novo texto em cima daquele deixado por ela e me deixei ser dirigida nas menores coisas, em cada gesto.”

Na encenação limpa de Jandira – Em Busca do Bonde Perdido, a intérprete se apoia em apenas dois acessórios – uma cadeira de praia e uma bolsa – e não precisa de mais nada. “Não conto só a história de Jandira, mas de uma geração inteira, que tem o Caruso, a Cláudia Mello, a Regina Braga, artistas que batalharam pelo teatro naquelas décadas de 1970, 1980 e 1990″, explica. “Tem um pouco também da minha mãe [a atriz Alexandra Corrêa (1950-2006)], mas em outro lugar, porque ela morreu por causa de um câncer.”

Marcos Caruso e Jandira Martini em cena de 'Operação Abafa' Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

A estreia do espetáculo em São Paulo não ameniza a rotina da artista. Pelo contrário, ficará mais intensa. Desde julho, Isabel se ocupa das gravações de Volta por Cima, a terceira novela seguida que emplaca na Globo, contando o grande sucesso alcançado na pele da Maria Bruaca de Pantanal em 2022. Na nova trama das sete, que estreou no dia 30, ela interpreta Violeta Castilho, a viúva de um contraventor, que, depois de anos de submissão ao marido, vive controlada pelo filho (papel de Rodrigo García).

É uma personagem diferente de Bruaca e Helena, com uma pegada mais cômica, mas que, mesmo assim, desafia constantemente a atriz, que, reconhece, ainda decifra os códigos da televisão. “Estou aprendendo, ganhando musculatura e comparo com uma maratona a rotina de gravações”, diz. “Eu corro bem uns 15 quilômetros, mas quero adquirir fôlego para superar os 40, como fazem o Marcos Palmeira, a Dira Paes e o Caruso, por exemplo.”

'Jandira – Em Busca do Bonde Perdido' fica em cartaz em São Paulo até o início de dezembro Foto: Roberto Setton/Divulgação

O excesso de trabalho não assusta a artista, que é uma das raras contratações de longo prazo recentes da Globo. No encerramento de Pantanal, ela assinou um vínculo de três anos, que se estende até o fim de 2025, e aproveita ao máximo a boa fase profissional. “Eu acho importante fazer novela e peça ao mesmo tempo, porque são coisas totalmente distintas; no teatro, o artista repete e, na televisão, olha para frente”, declara. “A teledramaturgia é democrática, você tem o artista formado no teatro, aquele que mal pisou no palco, mas sabe tudo de TV, o modelo e o influencer, todo mundo junto, e é o público quem determina quem será excluído ou não.”

A estabilidade permitiu a Isabel se livrar do aluguel e entrar no financiamento do primeiro imóvel próprio, um apartamento em Santa Cecília, em que mora com Flora. O filho mais velho, Diego, de 21 anos, também de seu casamento com o fotógrafo Roberto Setton, passa uma temporada de estudos nos Estados Unidos.

Na sala do imóvel, Isabel encontrou espaço para os equipamentos da editora Fora de Esquadro, projeto desenvolvido por ela desde 2009, que, agora, deve ganhar força na publicação de livros. “Trabalho de domingo a domingo, não janto fora e a única coisa que sinto falta é de fugir para o mato, tomar um banho de cachoeira”, afirma. “Já briguei com o meu pai [o cantor e compositor Renato Teixeira], porque ele vive sem tréguas, é show, viagem, gravação, mas eu entendo que ele não cansa porque se encaixou no que que gosta de fazer.”

Serviço - ‘Jandira – Em Busca do Bonde Perdido’

  • Onde: Tucarena - Rua Bartira, 347, Perdizes.
  • Quando: De 11/10 a 8/12. Sextas, 21h; sábados, 19h; domingos, 17h.
  • Quanto: R$ 100.

Em 29 de janeiro, uma segunda-feira, a atriz Isabel Teixeira, de 50 anos, enfrentava o quinto mês de gravações da novela Elas por Elas no Rio de Janeiro. Sua personagem, a vilã Helena, era filha do empresário Sérgio Aranha (papel de Marcos Caruso), um lobo em pele de cordeiro, capaz de tudo para agradá-la. O roteiro enviado pela produção ocuparia Isabel das 13h às 21h, com raras pausas. “Era um dia daqueles que adoro: quanto mais cenas e trocas de roupa, mais fico feliz no estúdio”, comenta ela, que, antes de sair para o trabalho, soube da morte da atriz e dramaturga Jandira Martini.

Isabel Teixeira se desdobra entre as gravações no Rio e peça no Tucarena, em São Paulo Foto: Flora Negri/Divulgação

“Olha, eu devo voltar mais cedo”, avisou Isabel para Flora, sua filha caçula, de 13 anos, que passava as férias no Rio. A maioria das cenas era com Caruso e, certamente, ele, quase um irmão de Jandira, teria embarcado para São Paulo assim que recebeu a notícia. Ao pisar no estúdio, Isabel teve uma surpresa. Caruso estava lá, triste, abalado, mas, com a escala de gravação reorganizada, para viajar assim que possível para o velório. “Jandira era uma operária, jamais me perdoaria se eu não se não cumprisse as obrigações antes de me despedir dela”, justificou o colega.

Isabel ficou sem palavras, tocada e, diante deste comportamento, entendeu o que movia a relação de Caruso e Jandira, dois opostos – ele, sentimental, divagador; ela, metódica, racional – que, juntos, escreveram peças marcantes, fenômenos de bilheteria, como Sua Excelência, o Candidato e Porca Miséria. “Quando vi Porca Miséria, era aluna da Escola de Arte Dramática (EAD) e fiquei impressionada ao perceber como uma dramaturgia de alta qualidade se comunicava com tantos espectadores”, lembra Isabel. “Eu passei, então, a prestar atenção na capacidade de realização do Caruso e de Jandira.”

Isabel Teixeira não chegou a conhecer Jandira Martini, mas foi escolhida para encenar seu último texto Foto: Roberto Setton/Divulgação

Desde agosto, Isabel é Jandira Martini ou, melhor, é a protagonista do solo Jandira – Em Busca do Bonde Perdido, que, depois de estrear no Rio em agosto, chega a São Paulo nesta sexta, 11, para temporada no Tucarena. Sob a direção de Caruso, ela dá corpo e voz ao último texto escrito pela dramaturga, um relato forte, por vezes irônico e bastante reflexivo sobre a finitude e os seus últimos oito anos, aqueles em que lutou contra o câncer de pulmão que tiraria a sua vida em janeiro. “Caruso me chamou para ler a peça na casa dele e avisou: ‘Jandira nunca escreveu uma linha sobre ela, estabelecia um distanciamento até para os amigos, então temos na mão algo importante’”, conta.

A afinidade estabelecida entre os dois naqueles meses da novela Elas por Elas fazia de Isabel, segundo Caruso, a portadora ideal para entregar aquelas palavras ao público. “Terminei de ler aos prantos. ‘Quero fazer essa peça’, disse para ele”, lembra. “Só tive essa sensação duas vezes na vida, com a Stella de Um Bonde Chamado Desejo e a Mary Stuart de Rainhas, dois espetáculos fundamentais na minha carreira.”

Como não conheceu Jandira, nem de vista, Isabel criou uma personagem apoiada nas descrições de Caruso na sala de ensaios. Ele levantava da mesa e mostrava como Jandira acenaria para um táxi, qual seria o tom de voz se contrariada e como agiria em determinadas situações, como uma consulta médica ou a abordagem de um fã das suas novelas. “Eu vi Caruso escrevendo um novo texto em cima daquele deixado por ela e me deixei ser dirigida nas menores coisas, em cada gesto.”

Na encenação limpa de Jandira – Em Busca do Bonde Perdido, a intérprete se apoia em apenas dois acessórios – uma cadeira de praia e uma bolsa – e não precisa de mais nada. “Não conto só a história de Jandira, mas de uma geração inteira, que tem o Caruso, a Cláudia Mello, a Regina Braga, artistas que batalharam pelo teatro naquelas décadas de 1970, 1980 e 1990″, explica. “Tem um pouco também da minha mãe [a atriz Alexandra Corrêa (1950-2006)], mas em outro lugar, porque ela morreu por causa de um câncer.”

Marcos Caruso e Jandira Martini em cena de 'Operação Abafa' Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

A estreia do espetáculo em São Paulo não ameniza a rotina da artista. Pelo contrário, ficará mais intensa. Desde julho, Isabel se ocupa das gravações de Volta por Cima, a terceira novela seguida que emplaca na Globo, contando o grande sucesso alcançado na pele da Maria Bruaca de Pantanal em 2022. Na nova trama das sete, que estreou no dia 30, ela interpreta Violeta Castilho, a viúva de um contraventor, que, depois de anos de submissão ao marido, vive controlada pelo filho (papel de Rodrigo García).

É uma personagem diferente de Bruaca e Helena, com uma pegada mais cômica, mas que, mesmo assim, desafia constantemente a atriz, que, reconhece, ainda decifra os códigos da televisão. “Estou aprendendo, ganhando musculatura e comparo com uma maratona a rotina de gravações”, diz. “Eu corro bem uns 15 quilômetros, mas quero adquirir fôlego para superar os 40, como fazem o Marcos Palmeira, a Dira Paes e o Caruso, por exemplo.”

'Jandira – Em Busca do Bonde Perdido' fica em cartaz em São Paulo até o início de dezembro Foto: Roberto Setton/Divulgação

O excesso de trabalho não assusta a artista, que é uma das raras contratações de longo prazo recentes da Globo. No encerramento de Pantanal, ela assinou um vínculo de três anos, que se estende até o fim de 2025, e aproveita ao máximo a boa fase profissional. “Eu acho importante fazer novela e peça ao mesmo tempo, porque são coisas totalmente distintas; no teatro, o artista repete e, na televisão, olha para frente”, declara. “A teledramaturgia é democrática, você tem o artista formado no teatro, aquele que mal pisou no palco, mas sabe tudo de TV, o modelo e o influencer, todo mundo junto, e é o público quem determina quem será excluído ou não.”

A estabilidade permitiu a Isabel se livrar do aluguel e entrar no financiamento do primeiro imóvel próprio, um apartamento em Santa Cecília, em que mora com Flora. O filho mais velho, Diego, de 21 anos, também de seu casamento com o fotógrafo Roberto Setton, passa uma temporada de estudos nos Estados Unidos.

Na sala do imóvel, Isabel encontrou espaço para os equipamentos da editora Fora de Esquadro, projeto desenvolvido por ela desde 2009, que, agora, deve ganhar força na publicação de livros. “Trabalho de domingo a domingo, não janto fora e a única coisa que sinto falta é de fugir para o mato, tomar um banho de cachoeira”, afirma. “Já briguei com o meu pai [o cantor e compositor Renato Teixeira], porque ele vive sem tréguas, é show, viagem, gravação, mas eu entendo que ele não cansa porque se encaixou no que que gosta de fazer.”

Serviço - ‘Jandira – Em Busca do Bonde Perdido’

  • Onde: Tucarena - Rua Bartira, 347, Perdizes.
  • Quando: De 11/10 a 8/12. Sextas, 21h; sábados, 19h; domingos, 17h.
  • Quanto: R$ 100.

Em 29 de janeiro, uma segunda-feira, a atriz Isabel Teixeira, de 50 anos, enfrentava o quinto mês de gravações da novela Elas por Elas no Rio de Janeiro. Sua personagem, a vilã Helena, era filha do empresário Sérgio Aranha (papel de Marcos Caruso), um lobo em pele de cordeiro, capaz de tudo para agradá-la. O roteiro enviado pela produção ocuparia Isabel das 13h às 21h, com raras pausas. “Era um dia daqueles que adoro: quanto mais cenas e trocas de roupa, mais fico feliz no estúdio”, comenta ela, que, antes de sair para o trabalho, soube da morte da atriz e dramaturga Jandira Martini.

Isabel Teixeira se desdobra entre as gravações no Rio e peça no Tucarena, em São Paulo Foto: Flora Negri/Divulgação

“Olha, eu devo voltar mais cedo”, avisou Isabel para Flora, sua filha caçula, de 13 anos, que passava as férias no Rio. A maioria das cenas era com Caruso e, certamente, ele, quase um irmão de Jandira, teria embarcado para São Paulo assim que recebeu a notícia. Ao pisar no estúdio, Isabel teve uma surpresa. Caruso estava lá, triste, abalado, mas, com a escala de gravação reorganizada, para viajar assim que possível para o velório. “Jandira era uma operária, jamais me perdoaria se eu não se não cumprisse as obrigações antes de me despedir dela”, justificou o colega.

Isabel ficou sem palavras, tocada e, diante deste comportamento, entendeu o que movia a relação de Caruso e Jandira, dois opostos – ele, sentimental, divagador; ela, metódica, racional – que, juntos, escreveram peças marcantes, fenômenos de bilheteria, como Sua Excelência, o Candidato e Porca Miséria. “Quando vi Porca Miséria, era aluna da Escola de Arte Dramática (EAD) e fiquei impressionada ao perceber como uma dramaturgia de alta qualidade se comunicava com tantos espectadores”, lembra Isabel. “Eu passei, então, a prestar atenção na capacidade de realização do Caruso e de Jandira.”

Isabel Teixeira não chegou a conhecer Jandira Martini, mas foi escolhida para encenar seu último texto Foto: Roberto Setton/Divulgação

Desde agosto, Isabel é Jandira Martini ou, melhor, é a protagonista do solo Jandira – Em Busca do Bonde Perdido, que, depois de estrear no Rio em agosto, chega a São Paulo nesta sexta, 11, para temporada no Tucarena. Sob a direção de Caruso, ela dá corpo e voz ao último texto escrito pela dramaturga, um relato forte, por vezes irônico e bastante reflexivo sobre a finitude e os seus últimos oito anos, aqueles em que lutou contra o câncer de pulmão que tiraria a sua vida em janeiro. “Caruso me chamou para ler a peça na casa dele e avisou: ‘Jandira nunca escreveu uma linha sobre ela, estabelecia um distanciamento até para os amigos, então temos na mão algo importante’”, conta.

A afinidade estabelecida entre os dois naqueles meses da novela Elas por Elas fazia de Isabel, segundo Caruso, a portadora ideal para entregar aquelas palavras ao público. “Terminei de ler aos prantos. ‘Quero fazer essa peça’, disse para ele”, lembra. “Só tive essa sensação duas vezes na vida, com a Stella de Um Bonde Chamado Desejo e a Mary Stuart de Rainhas, dois espetáculos fundamentais na minha carreira.”

Como não conheceu Jandira, nem de vista, Isabel criou uma personagem apoiada nas descrições de Caruso na sala de ensaios. Ele levantava da mesa e mostrava como Jandira acenaria para um táxi, qual seria o tom de voz se contrariada e como agiria em determinadas situações, como uma consulta médica ou a abordagem de um fã das suas novelas. “Eu vi Caruso escrevendo um novo texto em cima daquele deixado por ela e me deixei ser dirigida nas menores coisas, em cada gesto.”

Na encenação limpa de Jandira – Em Busca do Bonde Perdido, a intérprete se apoia em apenas dois acessórios – uma cadeira de praia e uma bolsa – e não precisa de mais nada. “Não conto só a história de Jandira, mas de uma geração inteira, que tem o Caruso, a Cláudia Mello, a Regina Braga, artistas que batalharam pelo teatro naquelas décadas de 1970, 1980 e 1990″, explica. “Tem um pouco também da minha mãe [a atriz Alexandra Corrêa (1950-2006)], mas em outro lugar, porque ela morreu por causa de um câncer.”

Marcos Caruso e Jandira Martini em cena de 'Operação Abafa' Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

A estreia do espetáculo em São Paulo não ameniza a rotina da artista. Pelo contrário, ficará mais intensa. Desde julho, Isabel se ocupa das gravações de Volta por Cima, a terceira novela seguida que emplaca na Globo, contando o grande sucesso alcançado na pele da Maria Bruaca de Pantanal em 2022. Na nova trama das sete, que estreou no dia 30, ela interpreta Violeta Castilho, a viúva de um contraventor, que, depois de anos de submissão ao marido, vive controlada pelo filho (papel de Rodrigo García).

É uma personagem diferente de Bruaca e Helena, com uma pegada mais cômica, mas que, mesmo assim, desafia constantemente a atriz, que, reconhece, ainda decifra os códigos da televisão. “Estou aprendendo, ganhando musculatura e comparo com uma maratona a rotina de gravações”, diz. “Eu corro bem uns 15 quilômetros, mas quero adquirir fôlego para superar os 40, como fazem o Marcos Palmeira, a Dira Paes e o Caruso, por exemplo.”

'Jandira – Em Busca do Bonde Perdido' fica em cartaz em São Paulo até o início de dezembro Foto: Roberto Setton/Divulgação

O excesso de trabalho não assusta a artista, que é uma das raras contratações de longo prazo recentes da Globo. No encerramento de Pantanal, ela assinou um vínculo de três anos, que se estende até o fim de 2025, e aproveita ao máximo a boa fase profissional. “Eu acho importante fazer novela e peça ao mesmo tempo, porque são coisas totalmente distintas; no teatro, o artista repete e, na televisão, olha para frente”, declara. “A teledramaturgia é democrática, você tem o artista formado no teatro, aquele que mal pisou no palco, mas sabe tudo de TV, o modelo e o influencer, todo mundo junto, e é o público quem determina quem será excluído ou não.”

A estabilidade permitiu a Isabel se livrar do aluguel e entrar no financiamento do primeiro imóvel próprio, um apartamento em Santa Cecília, em que mora com Flora. O filho mais velho, Diego, de 21 anos, também de seu casamento com o fotógrafo Roberto Setton, passa uma temporada de estudos nos Estados Unidos.

Na sala do imóvel, Isabel encontrou espaço para os equipamentos da editora Fora de Esquadro, projeto desenvolvido por ela desde 2009, que, agora, deve ganhar força na publicação de livros. “Trabalho de domingo a domingo, não janto fora e a única coisa que sinto falta é de fugir para o mato, tomar um banho de cachoeira”, afirma. “Já briguei com o meu pai [o cantor e compositor Renato Teixeira], porque ele vive sem tréguas, é show, viagem, gravação, mas eu entendo que ele não cansa porque se encaixou no que que gosta de fazer.”

Serviço - ‘Jandira – Em Busca do Bonde Perdido’

  • Onde: Tucarena - Rua Bartira, 347, Perdizes.
  • Quando: De 11/10 a 8/12. Sextas, 21h; sábados, 19h; domingos, 17h.
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