Marília Gabriela e filho passam a vida a limpo no palco: ‘Honestidade chocante’


Na peça ‘A Última Entrevista de Marília Gabriela’, a jornalista e Theodoro Cochrane revolvem traumas, culpas e afetos e falam sobre Reynaldo Gianecchini e Madonna. ‘Para rir e chorar dessa história, era preciso chacoalhar tudo’, diz o ator afirmando que é ‘um saco’ ser filho dela

Por Ubiratan Brasil
Atualização:
Foto: Bob Wolfenson/Divulgação
Entrevista comMarília Gabriela e Theodoro CochraneJornalista e apresentadora; ator, figurinista e apresentador

No filme Sonata de Outono (1978), o cineasta Ingmar Bergman retrata o difícil reencontro de uma renomada pianista com suas filhas, uma delas com problemas mentais. Mãe ausente, a personagem é confrontada de uma maneira definitiva pela mais velha, também pianista e que sempre viveu à sua sombra. “Eu sei como é difícil viver à sombra de uma mãe famosa”, comenta o ator, figurinista e apresentador Theodoro Cochrane, de 45 anos, filho caçula da jornalista e apresentadora Marília Gabriela, prestes a completar 76.

Detalhes dessa relação inspiraram a peça A Última Entrevista de Marília Gabriela, que estreia no Teatro Unimed, em São Paulo, na sexta-feira, 3. Escrito por Michelle Ferreira a partir de conversas com mãe e filho e dirigido por Bruno Guida, o espetáculo é uma comédia, mas o espectador muitas vezes ri de nervoso ao presenciar o excesso de sinceridade entre Marília e Theodoro que, simulando uma entrevista para TV, desafiam traumas de infância, injustiças profissionais, fofocas maldosas, mas também situações engraçadas e até carinhosas.

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Intérpretes de si mesmos em cena, mãe e filho já revelam, no prólogo, que não vão esconder temas ávidos pelo público, como a relação de Marília com o ator Reynaldo Gianecchini, com quem esteve casada de 1999 a 2006. A união provocou boatos maldosos de que o verdadeiro par era formado por Theodoro e Reynaldo.

Também é lembrada a entrevista feita pela jornalista com a cantora Madonna, em 1998, cujo evidente descaso da artista foi creditado a uma provável falta de preparo de Marília, o que gerou muitas críticas. “E seu inglês também era ruim”, dispara Theodoro, dando o tom das provocações trocadas com a mãe, nas quais ele se autodenomina como simplesmente o “filho da Marília Gabriela”.

Marília Gabriela estreia 'A Última Entrevista de Marília Gabriela' no Teatro Unimed, em São Paulo. Foto: Bob Wolfenson/Divulgação
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O Estadão acompanhou o ensaio de um trecho da peça, em que Marília reclama da idade (“Envelhecer é uma m****”) e Theodoro revela segredos, como o de que os dois vão ler suas falas o tempo todo. Por quê? “Ela, por idade, e eu, por covid. Não temos mais memória para decorar tantas páginas”. Em seguida, eles conversaram com a reportagem.

O título da peça traz uma verdade ou é uma fake news?

Marília Gabriela - Engraçado como ninguém tinha se interessado pelo título... É uma verdade, porque eu gostaria que a minha última entrevista fosse no palco e ao lado do Theodoro para realizar uma parceria que nunca fizemos.

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Theodoro Cochrane - E, dependendo de quem lê, o título pode até ser mórbido, significando a última coisa que ela vai fazer antes de morrer, o último encontro antes do despedir das luzes (“Theo!”, reage ela, dando-lhe um pequeno empurrão). Mas promete ser algo bonito, pois antes não tínhamos coragem de fazer algo juntos.

Gabriela - E a coragem veio por ser uma boa ocasião. Vou fazer 76 anos [em 31 de maio]. Os tempos agora são outros. Virei uma velha chata (risos). Outro dia, pensei em ir para o Japão para ver a natureza na primavera, mas desisti só de pensar na canseira que é aeroporto (“A pessoa fala de ir ao Japão como se fosse na esquina...”, desdenha Theo). Mas eu queria ter esse prazer de ter o Theodoro comigo em cena em uma peça que traz uma honestidade chocante sobre uma relação.

Theodoro - Sim, a peça é uma metalinguagem que trabalha no limiar da ficção com a realidade pública e privada que sempre permeou a nossa biografia. Para rir e chorar dessa história, era preciso chacoalhar tudo.

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A peça nasceu a partir da entrevista que a Gabi fez com você para o programa no YouTube chamado Gabi de Frente de Novo?

Theodoro - Começou antes, em 2021, depois da morte do meu pai [o astrólogo Zeca Cochrane]. Fui a Portugal ajudar a montar o apartamento da minha mãe, que vivia lá, mas antes eu tinha escolhido o caixão do meu pai, as flores, a roupa dele. Até mexi na iluminação do velório, que estava muito fria. Em Portugal, voltei a morar com minha mãe depois de 25 anos. Éramos duas pessoas maduras e com mais manias, aí veio o impacto: caí em depressão profunda, não conseguia sair do apartamento. Começamos a ter discussões sem filtro, algo bergmaniano, eu dizia coisas horrorosas para ela, passando nossa vida a limpo. Ela respondia dizendo que era culpada de tudo aquilo, pois desde o início da sua carreira, em 1970, sempre colocou a profissão em primeiro lugar.

Gabriela - Resumindo: foi um cotidiano subitamente transformador no sentido de que passamos por muito sofrimento, muita dor, muita decisão. Tudo de uma vez. Foi quando pensei em levar isso para o palco junto com o Theodoro.

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A dramaturgia está bem estruturada, mas há a possibilidade de algum improviso, no calor da hora?

Gabriela - Não. Seguimos à risca o texto, pois está tudo lá. Improviso só quando respondo às perguntas escritas pela plateia antes do início da peça...

Theodoro (interrompendo) - Nesse momento, independente do que escrever a plateia, vou sempre fazer três perguntas: sobre a relação como Gianecchini, a entrevista com a Madonna e se ela teve problemas com a própria mãe.

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Gabriela - Isso mesmo. Mais improviso vai acontecer quando eu escolher alguém do público para subir ao palco e ser entrevistado, no final do espetáculo. Terminada a temporada, tchau e bênção, vou ficar em casa lendo, tenho muitos livros. Quem sabe fazer algumas boas viagens.

Theodoro - Não é fácil ser filho da Marília Gabriela. É o mesmo que ter uma sombra imensa sobre você da qual você não consegue se livrar. É um saco ser filho da Marília Gabriela. Assim, tenho um canal no YouTube [Téte a Theo] no qual exponho o que sinto, meus demônios, meus distúrbios e discuto muito sobre um assunto considerado tabu, que é a saúde mental.

'A Última Entrevista de Marília Gabriela' traz excesso de sinceridade entre Marília e Theodoro. Foto: Bob Wolfenson/Divulgação

A peça serve também para vocês darem um ponto final em histórias como a relação com Gianecchini.

Theodoro - E a parte mais conhecida é ficção. Sim, eu fui modelo, mas nunca trabalhei em Paris, nem fiquei lá durante oito anos. Muito menos fiquei viciado em heroína nem namorei com um modelo mais velho, o Gianne, que me afastou da droga e que depois se relacionou com a minha mãe.

Gabriela - A verdade é que, durante esses oito anos, eu fiz muito sexo com o Gianne (risos). As pessoas nunca entenderam que sempre gostei de homens mais novos, que namorei muito e fui uma legítima pegadora. Mas amar mesmo, aquele amor completo, só mesmo o Zeca, pai dos meus filhos. Mesmo depois de separados, continuamos grande amigos.

Madonna está no Brasil, para o show no Rio de Janeiro. Se fosse possível, você a entrevistaria novamente?

Gabriela - Olha, isso nunca me passou pela cabeça, que pergunta fantástica. (Faz uma pausa) Acho que sim, e eu contaria a ela como fui massacrada por aquela outra entrevista que, seguramente, ela nem se lembra. E acho que nós, por sermos agora mais maduras, iríamos rir muito daquela situação.

  • Leia também: Marília Gabriela revela suas entrevistas preferidas e conta quem ela ainda gostaria de entrevistar

Serviço - A Última Entrevista de Marília Gabriela

  • Teatro Unimed: Ed. Santos Augusta, Al. Santos, 2159, Jardins, São Paulo
  • Horário: Sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 18h. Até 30/6
  • Valores: Inteira - R$ 180 (plateia), R$ 120 (balcão). Meia-entrada - R$ 90 (plateia) e R$ 60 (balcão). Clientes Unimed têm 50% de desconto com apresentação da carteirinha. Descontos não cumulativos. Ingressos à venda aqui.
  • Duração: 70 minutos
  • Classificação: 14 anos

No filme Sonata de Outono (1978), o cineasta Ingmar Bergman retrata o difícil reencontro de uma renomada pianista com suas filhas, uma delas com problemas mentais. Mãe ausente, a personagem é confrontada de uma maneira definitiva pela mais velha, também pianista e que sempre viveu à sua sombra. “Eu sei como é difícil viver à sombra de uma mãe famosa”, comenta o ator, figurinista e apresentador Theodoro Cochrane, de 45 anos, filho caçula da jornalista e apresentadora Marília Gabriela, prestes a completar 76.

Detalhes dessa relação inspiraram a peça A Última Entrevista de Marília Gabriela, que estreia no Teatro Unimed, em São Paulo, na sexta-feira, 3. Escrito por Michelle Ferreira a partir de conversas com mãe e filho e dirigido por Bruno Guida, o espetáculo é uma comédia, mas o espectador muitas vezes ri de nervoso ao presenciar o excesso de sinceridade entre Marília e Theodoro que, simulando uma entrevista para TV, desafiam traumas de infância, injustiças profissionais, fofocas maldosas, mas também situações engraçadas e até carinhosas.

Intérpretes de si mesmos em cena, mãe e filho já revelam, no prólogo, que não vão esconder temas ávidos pelo público, como a relação de Marília com o ator Reynaldo Gianecchini, com quem esteve casada de 1999 a 2006. A união provocou boatos maldosos de que o verdadeiro par era formado por Theodoro e Reynaldo.

Também é lembrada a entrevista feita pela jornalista com a cantora Madonna, em 1998, cujo evidente descaso da artista foi creditado a uma provável falta de preparo de Marília, o que gerou muitas críticas. “E seu inglês também era ruim”, dispara Theodoro, dando o tom das provocações trocadas com a mãe, nas quais ele se autodenomina como simplesmente o “filho da Marília Gabriela”.

Marília Gabriela estreia 'A Última Entrevista de Marília Gabriela' no Teatro Unimed, em São Paulo. Foto: Bob Wolfenson/Divulgação

O Estadão acompanhou o ensaio de um trecho da peça, em que Marília reclama da idade (“Envelhecer é uma m****”) e Theodoro revela segredos, como o de que os dois vão ler suas falas o tempo todo. Por quê? “Ela, por idade, e eu, por covid. Não temos mais memória para decorar tantas páginas”. Em seguida, eles conversaram com a reportagem.

O título da peça traz uma verdade ou é uma fake news?

Marília Gabriela - Engraçado como ninguém tinha se interessado pelo título... É uma verdade, porque eu gostaria que a minha última entrevista fosse no palco e ao lado do Theodoro para realizar uma parceria que nunca fizemos.

Theodoro Cochrane - E, dependendo de quem lê, o título pode até ser mórbido, significando a última coisa que ela vai fazer antes de morrer, o último encontro antes do despedir das luzes (“Theo!”, reage ela, dando-lhe um pequeno empurrão). Mas promete ser algo bonito, pois antes não tínhamos coragem de fazer algo juntos.

Gabriela - E a coragem veio por ser uma boa ocasião. Vou fazer 76 anos [em 31 de maio]. Os tempos agora são outros. Virei uma velha chata (risos). Outro dia, pensei em ir para o Japão para ver a natureza na primavera, mas desisti só de pensar na canseira que é aeroporto (“A pessoa fala de ir ao Japão como se fosse na esquina...”, desdenha Theo). Mas eu queria ter esse prazer de ter o Theodoro comigo em cena em uma peça que traz uma honestidade chocante sobre uma relação.

Theodoro - Sim, a peça é uma metalinguagem que trabalha no limiar da ficção com a realidade pública e privada que sempre permeou a nossa biografia. Para rir e chorar dessa história, era preciso chacoalhar tudo.

A peça nasceu a partir da entrevista que a Gabi fez com você para o programa no YouTube chamado Gabi de Frente de Novo?

Theodoro - Começou antes, em 2021, depois da morte do meu pai [o astrólogo Zeca Cochrane]. Fui a Portugal ajudar a montar o apartamento da minha mãe, que vivia lá, mas antes eu tinha escolhido o caixão do meu pai, as flores, a roupa dele. Até mexi na iluminação do velório, que estava muito fria. Em Portugal, voltei a morar com minha mãe depois de 25 anos. Éramos duas pessoas maduras e com mais manias, aí veio o impacto: caí em depressão profunda, não conseguia sair do apartamento. Começamos a ter discussões sem filtro, algo bergmaniano, eu dizia coisas horrorosas para ela, passando nossa vida a limpo. Ela respondia dizendo que era culpada de tudo aquilo, pois desde o início da sua carreira, em 1970, sempre colocou a profissão em primeiro lugar.

Gabriela - Resumindo: foi um cotidiano subitamente transformador no sentido de que passamos por muito sofrimento, muita dor, muita decisão. Tudo de uma vez. Foi quando pensei em levar isso para o palco junto com o Theodoro.

A dramaturgia está bem estruturada, mas há a possibilidade de algum improviso, no calor da hora?

Gabriela - Não. Seguimos à risca o texto, pois está tudo lá. Improviso só quando respondo às perguntas escritas pela plateia antes do início da peça...

Theodoro (interrompendo) - Nesse momento, independente do que escrever a plateia, vou sempre fazer três perguntas: sobre a relação como Gianecchini, a entrevista com a Madonna e se ela teve problemas com a própria mãe.

Gabriela - Isso mesmo. Mais improviso vai acontecer quando eu escolher alguém do público para subir ao palco e ser entrevistado, no final do espetáculo. Terminada a temporada, tchau e bênção, vou ficar em casa lendo, tenho muitos livros. Quem sabe fazer algumas boas viagens.

Theodoro - Não é fácil ser filho da Marília Gabriela. É o mesmo que ter uma sombra imensa sobre você da qual você não consegue se livrar. É um saco ser filho da Marília Gabriela. Assim, tenho um canal no YouTube [Téte a Theo] no qual exponho o que sinto, meus demônios, meus distúrbios e discuto muito sobre um assunto considerado tabu, que é a saúde mental.

'A Última Entrevista de Marília Gabriela' traz excesso de sinceridade entre Marília e Theodoro. Foto: Bob Wolfenson/Divulgação

A peça serve também para vocês darem um ponto final em histórias como a relação com Gianecchini.

Theodoro - E a parte mais conhecida é ficção. Sim, eu fui modelo, mas nunca trabalhei em Paris, nem fiquei lá durante oito anos. Muito menos fiquei viciado em heroína nem namorei com um modelo mais velho, o Gianne, que me afastou da droga e que depois se relacionou com a minha mãe.

Gabriela - A verdade é que, durante esses oito anos, eu fiz muito sexo com o Gianne (risos). As pessoas nunca entenderam que sempre gostei de homens mais novos, que namorei muito e fui uma legítima pegadora. Mas amar mesmo, aquele amor completo, só mesmo o Zeca, pai dos meus filhos. Mesmo depois de separados, continuamos grande amigos.

Madonna está no Brasil, para o show no Rio de Janeiro. Se fosse possível, você a entrevistaria novamente?

Gabriela - Olha, isso nunca me passou pela cabeça, que pergunta fantástica. (Faz uma pausa) Acho que sim, e eu contaria a ela como fui massacrada por aquela outra entrevista que, seguramente, ela nem se lembra. E acho que nós, por sermos agora mais maduras, iríamos rir muito daquela situação.

  • Leia também: Marília Gabriela revela suas entrevistas preferidas e conta quem ela ainda gostaria de entrevistar

Serviço - A Última Entrevista de Marília Gabriela

  • Teatro Unimed: Ed. Santos Augusta, Al. Santos, 2159, Jardins, São Paulo
  • Horário: Sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 18h. Até 30/6
  • Valores: Inteira - R$ 180 (plateia), R$ 120 (balcão). Meia-entrada - R$ 90 (plateia) e R$ 60 (balcão). Clientes Unimed têm 50% de desconto com apresentação da carteirinha. Descontos não cumulativos. Ingressos à venda aqui.
  • Duração: 70 minutos
  • Classificação: 14 anos

No filme Sonata de Outono (1978), o cineasta Ingmar Bergman retrata o difícil reencontro de uma renomada pianista com suas filhas, uma delas com problemas mentais. Mãe ausente, a personagem é confrontada de uma maneira definitiva pela mais velha, também pianista e que sempre viveu à sua sombra. “Eu sei como é difícil viver à sombra de uma mãe famosa”, comenta o ator, figurinista e apresentador Theodoro Cochrane, de 45 anos, filho caçula da jornalista e apresentadora Marília Gabriela, prestes a completar 76.

Detalhes dessa relação inspiraram a peça A Última Entrevista de Marília Gabriela, que estreia no Teatro Unimed, em São Paulo, na sexta-feira, 3. Escrito por Michelle Ferreira a partir de conversas com mãe e filho e dirigido por Bruno Guida, o espetáculo é uma comédia, mas o espectador muitas vezes ri de nervoso ao presenciar o excesso de sinceridade entre Marília e Theodoro que, simulando uma entrevista para TV, desafiam traumas de infância, injustiças profissionais, fofocas maldosas, mas também situações engraçadas e até carinhosas.

Intérpretes de si mesmos em cena, mãe e filho já revelam, no prólogo, que não vão esconder temas ávidos pelo público, como a relação de Marília com o ator Reynaldo Gianecchini, com quem esteve casada de 1999 a 2006. A união provocou boatos maldosos de que o verdadeiro par era formado por Theodoro e Reynaldo.

Também é lembrada a entrevista feita pela jornalista com a cantora Madonna, em 1998, cujo evidente descaso da artista foi creditado a uma provável falta de preparo de Marília, o que gerou muitas críticas. “E seu inglês também era ruim”, dispara Theodoro, dando o tom das provocações trocadas com a mãe, nas quais ele se autodenomina como simplesmente o “filho da Marília Gabriela”.

Marília Gabriela estreia 'A Última Entrevista de Marília Gabriela' no Teatro Unimed, em São Paulo. Foto: Bob Wolfenson/Divulgação

O Estadão acompanhou o ensaio de um trecho da peça, em que Marília reclama da idade (“Envelhecer é uma m****”) e Theodoro revela segredos, como o de que os dois vão ler suas falas o tempo todo. Por quê? “Ela, por idade, e eu, por covid. Não temos mais memória para decorar tantas páginas”. Em seguida, eles conversaram com a reportagem.

O título da peça traz uma verdade ou é uma fake news?

Marília Gabriela - Engraçado como ninguém tinha se interessado pelo título... É uma verdade, porque eu gostaria que a minha última entrevista fosse no palco e ao lado do Theodoro para realizar uma parceria que nunca fizemos.

Theodoro Cochrane - E, dependendo de quem lê, o título pode até ser mórbido, significando a última coisa que ela vai fazer antes de morrer, o último encontro antes do despedir das luzes (“Theo!”, reage ela, dando-lhe um pequeno empurrão). Mas promete ser algo bonito, pois antes não tínhamos coragem de fazer algo juntos.

Gabriela - E a coragem veio por ser uma boa ocasião. Vou fazer 76 anos [em 31 de maio]. Os tempos agora são outros. Virei uma velha chata (risos). Outro dia, pensei em ir para o Japão para ver a natureza na primavera, mas desisti só de pensar na canseira que é aeroporto (“A pessoa fala de ir ao Japão como se fosse na esquina...”, desdenha Theo). Mas eu queria ter esse prazer de ter o Theodoro comigo em cena em uma peça que traz uma honestidade chocante sobre uma relação.

Theodoro - Sim, a peça é uma metalinguagem que trabalha no limiar da ficção com a realidade pública e privada que sempre permeou a nossa biografia. Para rir e chorar dessa história, era preciso chacoalhar tudo.

A peça nasceu a partir da entrevista que a Gabi fez com você para o programa no YouTube chamado Gabi de Frente de Novo?

Theodoro - Começou antes, em 2021, depois da morte do meu pai [o astrólogo Zeca Cochrane]. Fui a Portugal ajudar a montar o apartamento da minha mãe, que vivia lá, mas antes eu tinha escolhido o caixão do meu pai, as flores, a roupa dele. Até mexi na iluminação do velório, que estava muito fria. Em Portugal, voltei a morar com minha mãe depois de 25 anos. Éramos duas pessoas maduras e com mais manias, aí veio o impacto: caí em depressão profunda, não conseguia sair do apartamento. Começamos a ter discussões sem filtro, algo bergmaniano, eu dizia coisas horrorosas para ela, passando nossa vida a limpo. Ela respondia dizendo que era culpada de tudo aquilo, pois desde o início da sua carreira, em 1970, sempre colocou a profissão em primeiro lugar.

Gabriela - Resumindo: foi um cotidiano subitamente transformador no sentido de que passamos por muito sofrimento, muita dor, muita decisão. Tudo de uma vez. Foi quando pensei em levar isso para o palco junto com o Theodoro.

A dramaturgia está bem estruturada, mas há a possibilidade de algum improviso, no calor da hora?

Gabriela - Não. Seguimos à risca o texto, pois está tudo lá. Improviso só quando respondo às perguntas escritas pela plateia antes do início da peça...

Theodoro (interrompendo) - Nesse momento, independente do que escrever a plateia, vou sempre fazer três perguntas: sobre a relação como Gianecchini, a entrevista com a Madonna e se ela teve problemas com a própria mãe.

Gabriela - Isso mesmo. Mais improviso vai acontecer quando eu escolher alguém do público para subir ao palco e ser entrevistado, no final do espetáculo. Terminada a temporada, tchau e bênção, vou ficar em casa lendo, tenho muitos livros. Quem sabe fazer algumas boas viagens.

Theodoro - Não é fácil ser filho da Marília Gabriela. É o mesmo que ter uma sombra imensa sobre você da qual você não consegue se livrar. É um saco ser filho da Marília Gabriela. Assim, tenho um canal no YouTube [Téte a Theo] no qual exponho o que sinto, meus demônios, meus distúrbios e discuto muito sobre um assunto considerado tabu, que é a saúde mental.

'A Última Entrevista de Marília Gabriela' traz excesso de sinceridade entre Marília e Theodoro. Foto: Bob Wolfenson/Divulgação

A peça serve também para vocês darem um ponto final em histórias como a relação com Gianecchini.

Theodoro - E a parte mais conhecida é ficção. Sim, eu fui modelo, mas nunca trabalhei em Paris, nem fiquei lá durante oito anos. Muito menos fiquei viciado em heroína nem namorei com um modelo mais velho, o Gianne, que me afastou da droga e que depois se relacionou com a minha mãe.

Gabriela - A verdade é que, durante esses oito anos, eu fiz muito sexo com o Gianne (risos). As pessoas nunca entenderam que sempre gostei de homens mais novos, que namorei muito e fui uma legítima pegadora. Mas amar mesmo, aquele amor completo, só mesmo o Zeca, pai dos meus filhos. Mesmo depois de separados, continuamos grande amigos.

Madonna está no Brasil, para o show no Rio de Janeiro. Se fosse possível, você a entrevistaria novamente?

Gabriela - Olha, isso nunca me passou pela cabeça, que pergunta fantástica. (Faz uma pausa) Acho que sim, e eu contaria a ela como fui massacrada por aquela outra entrevista que, seguramente, ela nem se lembra. E acho que nós, por sermos agora mais maduras, iríamos rir muito daquela situação.

  • Leia também: Marília Gabriela revela suas entrevistas preferidas e conta quem ela ainda gostaria de entrevistar

Serviço - A Última Entrevista de Marília Gabriela

  • Teatro Unimed: Ed. Santos Augusta, Al. Santos, 2159, Jardins, São Paulo
  • Horário: Sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 18h. Até 30/6
  • Valores: Inteira - R$ 180 (plateia), R$ 120 (balcão). Meia-entrada - R$ 90 (plateia) e R$ 60 (balcão). Clientes Unimed têm 50% de desconto com apresentação da carteirinha. Descontos não cumulativos. Ingressos à venda aqui.
  • Duração: 70 minutos
  • Classificação: 14 anos
Entrevista por Ubiratan Brasil

É jornalista que trabalha com cultura e esportes, mas apaixonado por musicais, na tela ou no palco, onde até o drama mais banal pode se transformar em um clássico

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