Matheus Nachtergaele: ‘Sou alguém que viu o sofrimento, mas se empenhou para ficar mais feliz’


Ele está no teatro em ‘Molière’ e estará no cinema em ‘Auto da Compadecida 2′ e na TV em ‘Renascer’. Livre do álcool há 10 anos, ele conta como se isolou para ‘treinar sobriedade’ e diz: ‘Minha pessoa física não é nada admirável, bonitos são os personagens’

Por Dirceu Alves Jr.
Atualização:

Desde que estreou, em abril de 2018, no Teatro do Sesi, em São Paulo, a comédia Molière, escrita pela dramaturga mexicana Sabina Berman e dirigida por Diego Fortes, instiga o público com uma pergunta: “É mais nobre fazer rir ou chorar?”.

O ator Matheus Nachtergaele, de 55 anos, que interpreta o autor francês Jean-Baptiste Poquelin, o Molière, defende o humor como a mais elevada salvação da humanidade. “É preciso apostar na comédia, mas só é possível fazê-la com o conhecimento da dor”, justifica.

“Eu sou alguém que viu o sofrimento, mas se empenhou para ficar mais feliz.”

Matheus Nachtergaele

continua após a publicidade

O espetáculo, que voltou ao cartaz no Teatro Liberdade no dia 3, propõe um embate entre a comédia, representada por Molière, e a tragédia, personificada pelo poeta francês Jean Racine (vivido por Elcio Nogueira Seixas).

Ator Matheus Nachtergaele, abaixo, volta aos palcos na comédia 'Molière' Foto: Aloysio Araripe

Nem um minuto de trégua

continua após a publicidade

Na corte do Luis XIV (papel da atriz Josie Antello), os dois disputam a preferência do Rei, enquanto Monsenhor Péréfixe (interpretado por Renato Borghi), entusiasta da guerra, se aproveita da luta de egos para liquidar com o prestígio dos artistas e colocar a França no obscurantismo.

“Eu não imaginava que essa peça pudesse ser lida de tantas formas, como nestes últimos anos, foi a ascensão do fundamentalismo religioso, a eleição de Jair Bolsonaro, os horrores da pandemia, está tudo lá”, observa Nachtergaele. “Agora, ela ganha novo significado com conflitos entre Israel e o Hamas porque, mesmo sendo uma comédia, fala de nós o tempo inteiro.”

Nachtergaele encontra dificuldade para relaxar diante da realidade. Durante a entrevista, no quarto do hotel em que se hospeda em São Paulo, a televisão ficou ligada em volume baixo com as notícias ininterruptas sobre Israel. “A gente não tem um minuto de trégua, não é?”, pergunta, olhando para a xícara de café.

continua após a publicidade

Sem rancores, ele sabe o que fala e já lidou com muitos de seus traumas, inclusive diante do público. O suicídio de sua mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele, quando ele tinha apenas três meses de vida, rendeu o monólogo Processo de Conscerto do Desejo, protagonizado por ele desde 2015 entre idas e vindas. “Foi um trabalho para me salvar, mas o Molière veio me resgatar para a alegria, o humor sempre leva para a vida.”

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: TABA BENEDICTO

Controle de dependência e trabalho

continua após a publicidade

O gosto pela bebida pesou como vício e, há dez anos, Nachtergaele não encosta em um copo de álcool. Exilado por seis meses na casa que mantém em Tiradentes, em Minas Gerais, ele ficou longe de tudo e todos em 2013, inclusive de amigos que ama, por proteção.

Em meio a essa travessia para a lucidez, o artista só se misturou para dirigir uma peça, O País do Desejo e do Coração, de William Yeats, com um grupo teatral da cidade mineira. “Eu me isolei para treinar a minha sobriedade e nunca mais tomei um gole, embora, na pandemia, tenha pensado em beber, mas vi que não valia a pena voltar”, justifica.

“A minha pessoa física não é nada admirável, bonitos são os personagens”,

completa, desviando a conversa novamente para a carreira.

continua após a publicidade

Sendo o trabalho porto seguro, o artista assume um permanente cansaço – o que não o impede de emendar um projeto no outro compulsivamente. “Ser ator me deixa vivo, adia a minha deterioração”, diz ele.

No primeiro semestre, ele apresentou Molière nas capitais do Nordeste, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, gravou a série Chabadabadá, comandada pelo cineasta Cláudio Assis para o Canal Brasil e viu o filme Mais Pesado que Céu, de Petrus Cariry, ficar pronto para correr o circuito de festivais. “É a história linda de um casal que encontra um bebê no meio de uma estrada e pensa se o cotidiano vai permitir que eles formem uma família.”

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: TABA BENEDICTO
continua após a publicidade

O retorno da ‘Compadecida’

Faz duas semanas que Nachtergaele encerrou as filmagens de O Auto da Compadecida 2, longa dirigido por Guel Arraes e Flávia Lacerda, que lhe devolveu o seu personagem mais famoso, João Grilo. “Questionei muito toda equipe se deveríamos mesmo fazer essa continuação, mas entendi que precisávamos dar uma nova injeção de ânimo no povo e em nós mesmos”, declara, emocionado com o projeto.

Em 1999, Nachtergaele e Selton Mello interpretaram a dupla de malandros João Grilo e Chicó para uma série da Rede Globo adaptada da peça de Ariano Suassuna que, editada, levou aos cinemas 2 milhões de espectadores. “Com o João Grilo, fui colocado nos braços do povo e encarar de novo esse palhaço com um corpo envelhecido 25 anos me assustou, porque, entre tantos motivos, aquele pulo que dava com facilidade não rola mais, sabe?”, comenta.

Se o tempo passou para Nachtergaele e Mello, a ficção também dá um salto, e a ação, antes ambientada na década de 1930, se passa nos anos de 1950. João Grilo volta na condição de um mito que causa um rebuliço na cidade de Taperoá, na Paraíba. “Não é mais o texto do Suassuna, mas tudo foi escrito de acordo com os princípios dele pelo mesmo time maravilhoso de roteiristas do primeiro filme”, adianta sobre o longa-metragem, que deve ser lançado no segundo semestre do ano que vem.

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: Taba Benedicto/Estadão

Nova rodada em novela e na direção

O artista em tempo integral não se permite realmente o descanso. Mal consegue pisar em sua casa, no Jardim Botânico, no Rio, onde vive com oito cachorros. Em dezembro, começa a gravar o remake da novela Renascer, a próxima das nove da Globo, na pele do amistoso Norberto, um comerciante, meio bebum, que sofre com a perda do amor de Jacutinga (a atriz Juliana Paes).

“Quero pela primeira vez fazer um personagem com calma, domar minha fúria criativa porque acabo exausto esses trabalhos tão extensos”, diz. “Gravo cada cena de televisão com a dedicação de um curta-metragem e isso me desgasta demais”, afirma.

Antes de deixar São Paulo, porém, Nachtergaele pretende deixar alinhavada a sua segunda investida como cineasta, quinze anos depois da badalada estreia com A Festa da Menina Morta. Trata-se de uma adaptação da peça Woyzeck, do alemão Georg Büchner, protagonizada por ele no teatro duas vezes, primeiro na Escola de Arte Dramática (EAD) e, depois, em 2003, sob o comando de Cibele Forjaz. “Vou abrir um espaço ao diretor porque acho urgente falar de Woyzeck, aquele homem que sempre estará onde estiver o mais fraco.”

Serviço

Molière

  • Teatro Liberdade. Rua São Joaquim, 129, Liberdade.
  • Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h. Até o dia 26.
  • R$ 70,00 a R$ 120,00.

Desde que estreou, em abril de 2018, no Teatro do Sesi, em São Paulo, a comédia Molière, escrita pela dramaturga mexicana Sabina Berman e dirigida por Diego Fortes, instiga o público com uma pergunta: “É mais nobre fazer rir ou chorar?”.

O ator Matheus Nachtergaele, de 55 anos, que interpreta o autor francês Jean-Baptiste Poquelin, o Molière, defende o humor como a mais elevada salvação da humanidade. “É preciso apostar na comédia, mas só é possível fazê-la com o conhecimento da dor”, justifica.

“Eu sou alguém que viu o sofrimento, mas se empenhou para ficar mais feliz.”

Matheus Nachtergaele

O espetáculo, que voltou ao cartaz no Teatro Liberdade no dia 3, propõe um embate entre a comédia, representada por Molière, e a tragédia, personificada pelo poeta francês Jean Racine (vivido por Elcio Nogueira Seixas).

Ator Matheus Nachtergaele, abaixo, volta aos palcos na comédia 'Molière' Foto: Aloysio Araripe

Nem um minuto de trégua

Na corte do Luis XIV (papel da atriz Josie Antello), os dois disputam a preferência do Rei, enquanto Monsenhor Péréfixe (interpretado por Renato Borghi), entusiasta da guerra, se aproveita da luta de egos para liquidar com o prestígio dos artistas e colocar a França no obscurantismo.

“Eu não imaginava que essa peça pudesse ser lida de tantas formas, como nestes últimos anos, foi a ascensão do fundamentalismo religioso, a eleição de Jair Bolsonaro, os horrores da pandemia, está tudo lá”, observa Nachtergaele. “Agora, ela ganha novo significado com conflitos entre Israel e o Hamas porque, mesmo sendo uma comédia, fala de nós o tempo inteiro.”

Nachtergaele encontra dificuldade para relaxar diante da realidade. Durante a entrevista, no quarto do hotel em que se hospeda em São Paulo, a televisão ficou ligada em volume baixo com as notícias ininterruptas sobre Israel. “A gente não tem um minuto de trégua, não é?”, pergunta, olhando para a xícara de café.

Sem rancores, ele sabe o que fala e já lidou com muitos de seus traumas, inclusive diante do público. O suicídio de sua mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele, quando ele tinha apenas três meses de vida, rendeu o monólogo Processo de Conscerto do Desejo, protagonizado por ele desde 2015 entre idas e vindas. “Foi um trabalho para me salvar, mas o Molière veio me resgatar para a alegria, o humor sempre leva para a vida.”

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: TABA BENEDICTO

Controle de dependência e trabalho

O gosto pela bebida pesou como vício e, há dez anos, Nachtergaele não encosta em um copo de álcool. Exilado por seis meses na casa que mantém em Tiradentes, em Minas Gerais, ele ficou longe de tudo e todos em 2013, inclusive de amigos que ama, por proteção.

Em meio a essa travessia para a lucidez, o artista só se misturou para dirigir uma peça, O País do Desejo e do Coração, de William Yeats, com um grupo teatral da cidade mineira. “Eu me isolei para treinar a minha sobriedade e nunca mais tomei um gole, embora, na pandemia, tenha pensado em beber, mas vi que não valia a pena voltar”, justifica.

“A minha pessoa física não é nada admirável, bonitos são os personagens”,

completa, desviando a conversa novamente para a carreira.

Sendo o trabalho porto seguro, o artista assume um permanente cansaço – o que não o impede de emendar um projeto no outro compulsivamente. “Ser ator me deixa vivo, adia a minha deterioração”, diz ele.

No primeiro semestre, ele apresentou Molière nas capitais do Nordeste, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, gravou a série Chabadabadá, comandada pelo cineasta Cláudio Assis para o Canal Brasil e viu o filme Mais Pesado que Céu, de Petrus Cariry, ficar pronto para correr o circuito de festivais. “É a história linda de um casal que encontra um bebê no meio de uma estrada e pensa se o cotidiano vai permitir que eles formem uma família.”

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: TABA BENEDICTO

O retorno da ‘Compadecida’

Faz duas semanas que Nachtergaele encerrou as filmagens de O Auto da Compadecida 2, longa dirigido por Guel Arraes e Flávia Lacerda, que lhe devolveu o seu personagem mais famoso, João Grilo. “Questionei muito toda equipe se deveríamos mesmo fazer essa continuação, mas entendi que precisávamos dar uma nova injeção de ânimo no povo e em nós mesmos”, declara, emocionado com o projeto.

Em 1999, Nachtergaele e Selton Mello interpretaram a dupla de malandros João Grilo e Chicó para uma série da Rede Globo adaptada da peça de Ariano Suassuna que, editada, levou aos cinemas 2 milhões de espectadores. “Com o João Grilo, fui colocado nos braços do povo e encarar de novo esse palhaço com um corpo envelhecido 25 anos me assustou, porque, entre tantos motivos, aquele pulo que dava com facilidade não rola mais, sabe?”, comenta.

Se o tempo passou para Nachtergaele e Mello, a ficção também dá um salto, e a ação, antes ambientada na década de 1930, se passa nos anos de 1950. João Grilo volta na condição de um mito que causa um rebuliço na cidade de Taperoá, na Paraíba. “Não é mais o texto do Suassuna, mas tudo foi escrito de acordo com os princípios dele pelo mesmo time maravilhoso de roteiristas do primeiro filme”, adianta sobre o longa-metragem, que deve ser lançado no segundo semestre do ano que vem.

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: Taba Benedicto/Estadão

Nova rodada em novela e na direção

O artista em tempo integral não se permite realmente o descanso. Mal consegue pisar em sua casa, no Jardim Botânico, no Rio, onde vive com oito cachorros. Em dezembro, começa a gravar o remake da novela Renascer, a próxima das nove da Globo, na pele do amistoso Norberto, um comerciante, meio bebum, que sofre com a perda do amor de Jacutinga (a atriz Juliana Paes).

“Quero pela primeira vez fazer um personagem com calma, domar minha fúria criativa porque acabo exausto esses trabalhos tão extensos”, diz. “Gravo cada cena de televisão com a dedicação de um curta-metragem e isso me desgasta demais”, afirma.

Antes de deixar São Paulo, porém, Nachtergaele pretende deixar alinhavada a sua segunda investida como cineasta, quinze anos depois da badalada estreia com A Festa da Menina Morta. Trata-se de uma adaptação da peça Woyzeck, do alemão Georg Büchner, protagonizada por ele no teatro duas vezes, primeiro na Escola de Arte Dramática (EAD) e, depois, em 2003, sob o comando de Cibele Forjaz. “Vou abrir um espaço ao diretor porque acho urgente falar de Woyzeck, aquele homem que sempre estará onde estiver o mais fraco.”

Serviço

Molière

  • Teatro Liberdade. Rua São Joaquim, 129, Liberdade.
  • Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h. Até o dia 26.
  • R$ 70,00 a R$ 120,00.

Desde que estreou, em abril de 2018, no Teatro do Sesi, em São Paulo, a comédia Molière, escrita pela dramaturga mexicana Sabina Berman e dirigida por Diego Fortes, instiga o público com uma pergunta: “É mais nobre fazer rir ou chorar?”.

O ator Matheus Nachtergaele, de 55 anos, que interpreta o autor francês Jean-Baptiste Poquelin, o Molière, defende o humor como a mais elevada salvação da humanidade. “É preciso apostar na comédia, mas só é possível fazê-la com o conhecimento da dor”, justifica.

“Eu sou alguém que viu o sofrimento, mas se empenhou para ficar mais feliz.”

Matheus Nachtergaele

O espetáculo, que voltou ao cartaz no Teatro Liberdade no dia 3, propõe um embate entre a comédia, representada por Molière, e a tragédia, personificada pelo poeta francês Jean Racine (vivido por Elcio Nogueira Seixas).

Ator Matheus Nachtergaele, abaixo, volta aos palcos na comédia 'Molière' Foto: Aloysio Araripe

Nem um minuto de trégua

Na corte do Luis XIV (papel da atriz Josie Antello), os dois disputam a preferência do Rei, enquanto Monsenhor Péréfixe (interpretado por Renato Borghi), entusiasta da guerra, se aproveita da luta de egos para liquidar com o prestígio dos artistas e colocar a França no obscurantismo.

“Eu não imaginava que essa peça pudesse ser lida de tantas formas, como nestes últimos anos, foi a ascensão do fundamentalismo religioso, a eleição de Jair Bolsonaro, os horrores da pandemia, está tudo lá”, observa Nachtergaele. “Agora, ela ganha novo significado com conflitos entre Israel e o Hamas porque, mesmo sendo uma comédia, fala de nós o tempo inteiro.”

Nachtergaele encontra dificuldade para relaxar diante da realidade. Durante a entrevista, no quarto do hotel em que se hospeda em São Paulo, a televisão ficou ligada em volume baixo com as notícias ininterruptas sobre Israel. “A gente não tem um minuto de trégua, não é?”, pergunta, olhando para a xícara de café.

Sem rancores, ele sabe o que fala e já lidou com muitos de seus traumas, inclusive diante do público. O suicídio de sua mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele, quando ele tinha apenas três meses de vida, rendeu o monólogo Processo de Conscerto do Desejo, protagonizado por ele desde 2015 entre idas e vindas. “Foi um trabalho para me salvar, mas o Molière veio me resgatar para a alegria, o humor sempre leva para a vida.”

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: TABA BENEDICTO

Controle de dependência e trabalho

O gosto pela bebida pesou como vício e, há dez anos, Nachtergaele não encosta em um copo de álcool. Exilado por seis meses na casa que mantém em Tiradentes, em Minas Gerais, ele ficou longe de tudo e todos em 2013, inclusive de amigos que ama, por proteção.

Em meio a essa travessia para a lucidez, o artista só se misturou para dirigir uma peça, O País do Desejo e do Coração, de William Yeats, com um grupo teatral da cidade mineira. “Eu me isolei para treinar a minha sobriedade e nunca mais tomei um gole, embora, na pandemia, tenha pensado em beber, mas vi que não valia a pena voltar”, justifica.

“A minha pessoa física não é nada admirável, bonitos são os personagens”,

completa, desviando a conversa novamente para a carreira.

Sendo o trabalho porto seguro, o artista assume um permanente cansaço – o que não o impede de emendar um projeto no outro compulsivamente. “Ser ator me deixa vivo, adia a minha deterioração”, diz ele.

No primeiro semestre, ele apresentou Molière nas capitais do Nordeste, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, gravou a série Chabadabadá, comandada pelo cineasta Cláudio Assis para o Canal Brasil e viu o filme Mais Pesado que Céu, de Petrus Cariry, ficar pronto para correr o circuito de festivais. “É a história linda de um casal que encontra um bebê no meio de uma estrada e pensa se o cotidiano vai permitir que eles formem uma família.”

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: TABA BENEDICTO

O retorno da ‘Compadecida’

Faz duas semanas que Nachtergaele encerrou as filmagens de O Auto da Compadecida 2, longa dirigido por Guel Arraes e Flávia Lacerda, que lhe devolveu o seu personagem mais famoso, João Grilo. “Questionei muito toda equipe se deveríamos mesmo fazer essa continuação, mas entendi que precisávamos dar uma nova injeção de ânimo no povo e em nós mesmos”, declara, emocionado com o projeto.

Em 1999, Nachtergaele e Selton Mello interpretaram a dupla de malandros João Grilo e Chicó para uma série da Rede Globo adaptada da peça de Ariano Suassuna que, editada, levou aos cinemas 2 milhões de espectadores. “Com o João Grilo, fui colocado nos braços do povo e encarar de novo esse palhaço com um corpo envelhecido 25 anos me assustou, porque, entre tantos motivos, aquele pulo que dava com facilidade não rola mais, sabe?”, comenta.

Se o tempo passou para Nachtergaele e Mello, a ficção também dá um salto, e a ação, antes ambientada na década de 1930, se passa nos anos de 1950. João Grilo volta na condição de um mito que causa um rebuliço na cidade de Taperoá, na Paraíba. “Não é mais o texto do Suassuna, mas tudo foi escrito de acordo com os princípios dele pelo mesmo time maravilhoso de roteiristas do primeiro filme”, adianta sobre o longa-metragem, que deve ser lançado no segundo semestre do ano que vem.

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: Taba Benedicto/Estadão

Nova rodada em novela e na direção

O artista em tempo integral não se permite realmente o descanso. Mal consegue pisar em sua casa, no Jardim Botânico, no Rio, onde vive com oito cachorros. Em dezembro, começa a gravar o remake da novela Renascer, a próxima das nove da Globo, na pele do amistoso Norberto, um comerciante, meio bebum, que sofre com a perda do amor de Jacutinga (a atriz Juliana Paes).

“Quero pela primeira vez fazer um personagem com calma, domar minha fúria criativa porque acabo exausto esses trabalhos tão extensos”, diz. “Gravo cada cena de televisão com a dedicação de um curta-metragem e isso me desgasta demais”, afirma.

Antes de deixar São Paulo, porém, Nachtergaele pretende deixar alinhavada a sua segunda investida como cineasta, quinze anos depois da badalada estreia com A Festa da Menina Morta. Trata-se de uma adaptação da peça Woyzeck, do alemão Georg Büchner, protagonizada por ele no teatro duas vezes, primeiro na Escola de Arte Dramática (EAD) e, depois, em 2003, sob o comando de Cibele Forjaz. “Vou abrir um espaço ao diretor porque acho urgente falar de Woyzeck, aquele homem que sempre estará onde estiver o mais fraco.”

Serviço

Molière

  • Teatro Liberdade. Rua São Joaquim, 129, Liberdade.
  • Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h. Até o dia 26.
  • R$ 70,00 a R$ 120,00.

Desde que estreou, em abril de 2018, no Teatro do Sesi, em São Paulo, a comédia Molière, escrita pela dramaturga mexicana Sabina Berman e dirigida por Diego Fortes, instiga o público com uma pergunta: “É mais nobre fazer rir ou chorar?”.

O ator Matheus Nachtergaele, de 55 anos, que interpreta o autor francês Jean-Baptiste Poquelin, o Molière, defende o humor como a mais elevada salvação da humanidade. “É preciso apostar na comédia, mas só é possível fazê-la com o conhecimento da dor”, justifica.

“Eu sou alguém que viu o sofrimento, mas se empenhou para ficar mais feliz.”

Matheus Nachtergaele

O espetáculo, que voltou ao cartaz no Teatro Liberdade no dia 3, propõe um embate entre a comédia, representada por Molière, e a tragédia, personificada pelo poeta francês Jean Racine (vivido por Elcio Nogueira Seixas).

Ator Matheus Nachtergaele, abaixo, volta aos palcos na comédia 'Molière' Foto: Aloysio Araripe

Nem um minuto de trégua

Na corte do Luis XIV (papel da atriz Josie Antello), os dois disputam a preferência do Rei, enquanto Monsenhor Péréfixe (interpretado por Renato Borghi), entusiasta da guerra, se aproveita da luta de egos para liquidar com o prestígio dos artistas e colocar a França no obscurantismo.

“Eu não imaginava que essa peça pudesse ser lida de tantas formas, como nestes últimos anos, foi a ascensão do fundamentalismo religioso, a eleição de Jair Bolsonaro, os horrores da pandemia, está tudo lá”, observa Nachtergaele. “Agora, ela ganha novo significado com conflitos entre Israel e o Hamas porque, mesmo sendo uma comédia, fala de nós o tempo inteiro.”

Nachtergaele encontra dificuldade para relaxar diante da realidade. Durante a entrevista, no quarto do hotel em que se hospeda em São Paulo, a televisão ficou ligada em volume baixo com as notícias ininterruptas sobre Israel. “A gente não tem um minuto de trégua, não é?”, pergunta, olhando para a xícara de café.

Sem rancores, ele sabe o que fala e já lidou com muitos de seus traumas, inclusive diante do público. O suicídio de sua mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele, quando ele tinha apenas três meses de vida, rendeu o monólogo Processo de Conscerto do Desejo, protagonizado por ele desde 2015 entre idas e vindas. “Foi um trabalho para me salvar, mas o Molière veio me resgatar para a alegria, o humor sempre leva para a vida.”

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: TABA BENEDICTO

Controle de dependência e trabalho

O gosto pela bebida pesou como vício e, há dez anos, Nachtergaele não encosta em um copo de álcool. Exilado por seis meses na casa que mantém em Tiradentes, em Minas Gerais, ele ficou longe de tudo e todos em 2013, inclusive de amigos que ama, por proteção.

Em meio a essa travessia para a lucidez, o artista só se misturou para dirigir uma peça, O País do Desejo e do Coração, de William Yeats, com um grupo teatral da cidade mineira. “Eu me isolei para treinar a minha sobriedade e nunca mais tomei um gole, embora, na pandemia, tenha pensado em beber, mas vi que não valia a pena voltar”, justifica.

“A minha pessoa física não é nada admirável, bonitos são os personagens”,

completa, desviando a conversa novamente para a carreira.

Sendo o trabalho porto seguro, o artista assume um permanente cansaço – o que não o impede de emendar um projeto no outro compulsivamente. “Ser ator me deixa vivo, adia a minha deterioração”, diz ele.

No primeiro semestre, ele apresentou Molière nas capitais do Nordeste, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, gravou a série Chabadabadá, comandada pelo cineasta Cláudio Assis para o Canal Brasil e viu o filme Mais Pesado que Céu, de Petrus Cariry, ficar pronto para correr o circuito de festivais. “É a história linda de um casal que encontra um bebê no meio de uma estrada e pensa se o cotidiano vai permitir que eles formem uma família.”

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: TABA BENEDICTO

O retorno da ‘Compadecida’

Faz duas semanas que Nachtergaele encerrou as filmagens de O Auto da Compadecida 2, longa dirigido por Guel Arraes e Flávia Lacerda, que lhe devolveu o seu personagem mais famoso, João Grilo. “Questionei muito toda equipe se deveríamos mesmo fazer essa continuação, mas entendi que precisávamos dar uma nova injeção de ânimo no povo e em nós mesmos”, declara, emocionado com o projeto.

Em 1999, Nachtergaele e Selton Mello interpretaram a dupla de malandros João Grilo e Chicó para uma série da Rede Globo adaptada da peça de Ariano Suassuna que, editada, levou aos cinemas 2 milhões de espectadores. “Com o João Grilo, fui colocado nos braços do povo e encarar de novo esse palhaço com um corpo envelhecido 25 anos me assustou, porque, entre tantos motivos, aquele pulo que dava com facilidade não rola mais, sabe?”, comenta.

Se o tempo passou para Nachtergaele e Mello, a ficção também dá um salto, e a ação, antes ambientada na década de 1930, se passa nos anos de 1950. João Grilo volta na condição de um mito que causa um rebuliço na cidade de Taperoá, na Paraíba. “Não é mais o texto do Suassuna, mas tudo foi escrito de acordo com os princípios dele pelo mesmo time maravilhoso de roteiristas do primeiro filme”, adianta sobre o longa-metragem, que deve ser lançado no segundo semestre do ano que vem.

Matheus Nachtergaele em entrevista ao Estadão Foto: Taba Benedicto/Estadão

Nova rodada em novela e na direção

O artista em tempo integral não se permite realmente o descanso. Mal consegue pisar em sua casa, no Jardim Botânico, no Rio, onde vive com oito cachorros. Em dezembro, começa a gravar o remake da novela Renascer, a próxima das nove da Globo, na pele do amistoso Norberto, um comerciante, meio bebum, que sofre com a perda do amor de Jacutinga (a atriz Juliana Paes).

“Quero pela primeira vez fazer um personagem com calma, domar minha fúria criativa porque acabo exausto esses trabalhos tão extensos”, diz. “Gravo cada cena de televisão com a dedicação de um curta-metragem e isso me desgasta demais”, afirma.

Antes de deixar São Paulo, porém, Nachtergaele pretende deixar alinhavada a sua segunda investida como cineasta, quinze anos depois da badalada estreia com A Festa da Menina Morta. Trata-se de uma adaptação da peça Woyzeck, do alemão Georg Büchner, protagonizada por ele no teatro duas vezes, primeiro na Escola de Arte Dramática (EAD) e, depois, em 2003, sob o comando de Cibele Forjaz. “Vou abrir um espaço ao diretor porque acho urgente falar de Woyzeck, aquele homem que sempre estará onde estiver o mais fraco.”

Serviço

Molière

  • Teatro Liberdade. Rua São Joaquim, 129, Liberdade.
  • Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h. Até o dia 26.
  • R$ 70,00 a R$ 120,00.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.