Musical ‘Elis’ continua ótimo, mas Elis Regina não é mais a mesma de uma década atrás; leia crítica


Espetáculo protagonizado por Laila Garin e dirigido por Dennis Carvalho está em cartaz em São Paulo para comemorar 10 anos de sua estreia. Mas ele ainda representa a cantora?

Por Danilo Casaletti

É paradoxal dizer que Elis Regina, morta há mais de 40 anos, não é mais a mesma pessoa e artista de 10 anos atrás, ano em que o espetáculo Elis – A Musical estreou no Rio de Janeiro, mexeu com o mercado brasileiro de musicais, colocou o nome da cantora em evidência e conquistou inúmeros prêmios.

Porém, é verdade. Escrito por Nelson Motta, que foi amigo e namorado da cantora, e Patrícia Andrade, Elis manteve, nessa reestreia comemorativa, praticamente o mesmo roteiro e texto da montagem original – algumas cenas foram cortadas; outras, aglutinadas.

É justamente nisso que o espetáculo parece, não superado, mas desconectado do que Elis tem se tornado de lá para cá. E das inúmeras possibilidades que ela ainda deve oferecer como artista, mulher e cidadã.

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A atriz Laila Garin em cena do musical 'Elis' Foto: Caio Galucci

Vejamos. Passada a estreia de 2013, Elis ganhou mais uma biografia, Nada Será Como Antes (2015), escrita pelo jornalista Julio Maria e publicada em 2015. Nela, Maria avança em questões pessoais – sem nunca confundir o que é relevante com o que é fofoca – para dar uma dimensão mais humana de Elis, para além de sua obra gravada, essa totalmente disponível nas plataformas de streaming (isso é importante ressaltar, pois há herdeiros que não chegam em acordo para que isso ocorra, o que gera um apagamento do trabalho do artista) e dos vídeos de suas apresentações espalhados em plataformas de vídeo.

João Marcello Bôscoli, filho mais velho de Elis, também aproximou a mãe do público ao publicar o livro Elis e Eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe, um relato emocionante do que viveu ao lado da mãe, inclusive relatando, pela primeira vez sob seu ponto de vista, como teria sido o contato de Elis com a cocaína e, sobretudo, o que a levou a procurar a droga.

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João Marcello, ao lado dos irmãos, Pedro Mariano e Maria Rita, sabem administrar muito bem o legado da mãe. Há sempre um produto novo sobre Elis no mercado, muitas vezes, até mais de um por ano.

Isso alimenta, inclusive, os fãs da cantora que, ao contrário dos seguidores antigos, não esperam acontecer. Está nas mãos deles, que pulverizam pelas redes sociais, áudios de entrevistas que Elis concedeu, sobretudo a partir dos anos 1970, quando sua obra adquiriu maior caráter social e político.

Em uma dessas entrevistas, Elis, furiosa, diz que não canta em festa do dia do trabalhador em que se cobra ingresso dos operários, como muitos artistas fizeram à época. “Quero cantar no chão de fábrica”, disse ela, em 1980, no auge das greves no País. “No meu ninguém vai mais botar. Estou com os três olhos abertos”, completou, logo em seguida.

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O documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, do diretor Roberto de Oliveira, em cartaz atualmente, avança no relato do que então se conhecia do encontro entre Elis e Tom Jobim, em 1974. A cena do musical, de fato, mostra um resumo do que foi o estranhamento inicial entre dois dos maiores gênios da música brasileira, mas perde de lavada em emoção para a vida real retratada no filme.

Elis Regina e Tom Jobim em show realizado em 1974. Foto: Autor não identificado/Estadão

A própria relação de Elis com os maridos Ronaldo Bôscoli (entre 1967 e 1971) e Cesar Camargo Mariano (entre 1971 e 1981) também já se afastou da representação trazida pelo musical ou, por vezes, exageradamente dramatizada pela direção de Dennis Carvalho, um dos gênios da teledramaturgia brasileira.

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Bôscoli, o cafajeste. Mariano, o compreensivo. Recentemente, uma reportagem do Estadão mostrou que Mariano pode ter implodido o que seria um dos grandes álbuns da música mundial: o encontro entre Elis e Wayne Shorter. Na real, Elis sempre esteve sozinha – e pode ter se dado conta disso muito tarde.

Há ainda a história da Elis do comercial da Volkswagen, em que ela foi a primeira artista no Brasil a ser recriada com o uso da Inteligência Artificial. A história de Elis, de forma impressionante, sempre avança – possivelmente, apenas Rita Lee terá esse mesmo poder aqui no Brasil.

Nesse sentido, Elis – A Musical, parou no tempo. Não como um espetáculo antiquado, pois ele, dentro de três horas de duração, faz um apanhado geral da imagem de Elis. Entretanto, o musical ficou, para usar o nome de uma canção que João Bosco e Aldir Blanc fizeram para Elis – e que virou nome de um dos seus espetáculos de carreira – na Transversal do Tempo...da cantora.

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Talvez fosse o momento não apenas de comemorar, mas de autores e diretor entenderem quem é a Elis de 2023 e contemplá-la no roteiro. Estender, por exemplo, a cena final em que Elis, sozinha no palco, sentada em uma cadeira, em uma imaginária entrevista, desnuda seus pensamentos acerca de temas como família e cenário musical brasileiro. Quais são seus ‘novos’ pensamentos? Basta uma corrida por seus fãs clubes em redes sociais.

Em tempo: Laila Garin, que fez Elis na primeira versão e volta agora nessa remontagem, continua como destaque no espetáculo. Além disso, é muito mais segura em ser, em alguns momentos, sobretudo ao cantar, menos Elis e mais ela, o que traz um ganho na emoção. Claudio Lins, como Cesar Camargo Mariano, tem em seu momento solo no palco sua grande cena no musical.

É paradoxal dizer que Elis Regina, morta há mais de 40 anos, não é mais a mesma pessoa e artista de 10 anos atrás, ano em que o espetáculo Elis – A Musical estreou no Rio de Janeiro, mexeu com o mercado brasileiro de musicais, colocou o nome da cantora em evidência e conquistou inúmeros prêmios.

Porém, é verdade. Escrito por Nelson Motta, que foi amigo e namorado da cantora, e Patrícia Andrade, Elis manteve, nessa reestreia comemorativa, praticamente o mesmo roteiro e texto da montagem original – algumas cenas foram cortadas; outras, aglutinadas.

É justamente nisso que o espetáculo parece, não superado, mas desconectado do que Elis tem se tornado de lá para cá. E das inúmeras possibilidades que ela ainda deve oferecer como artista, mulher e cidadã.

A atriz Laila Garin em cena do musical 'Elis' Foto: Caio Galucci

Vejamos. Passada a estreia de 2013, Elis ganhou mais uma biografia, Nada Será Como Antes (2015), escrita pelo jornalista Julio Maria e publicada em 2015. Nela, Maria avança em questões pessoais – sem nunca confundir o que é relevante com o que é fofoca – para dar uma dimensão mais humana de Elis, para além de sua obra gravada, essa totalmente disponível nas plataformas de streaming (isso é importante ressaltar, pois há herdeiros que não chegam em acordo para que isso ocorra, o que gera um apagamento do trabalho do artista) e dos vídeos de suas apresentações espalhados em plataformas de vídeo.

João Marcello Bôscoli, filho mais velho de Elis, também aproximou a mãe do público ao publicar o livro Elis e Eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe, um relato emocionante do que viveu ao lado da mãe, inclusive relatando, pela primeira vez sob seu ponto de vista, como teria sido o contato de Elis com a cocaína e, sobretudo, o que a levou a procurar a droga.

João Marcello, ao lado dos irmãos, Pedro Mariano e Maria Rita, sabem administrar muito bem o legado da mãe. Há sempre um produto novo sobre Elis no mercado, muitas vezes, até mais de um por ano.

Isso alimenta, inclusive, os fãs da cantora que, ao contrário dos seguidores antigos, não esperam acontecer. Está nas mãos deles, que pulverizam pelas redes sociais, áudios de entrevistas que Elis concedeu, sobretudo a partir dos anos 1970, quando sua obra adquiriu maior caráter social e político.

Em uma dessas entrevistas, Elis, furiosa, diz que não canta em festa do dia do trabalhador em que se cobra ingresso dos operários, como muitos artistas fizeram à época. “Quero cantar no chão de fábrica”, disse ela, em 1980, no auge das greves no País. “No meu ninguém vai mais botar. Estou com os três olhos abertos”, completou, logo em seguida.

O documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, do diretor Roberto de Oliveira, em cartaz atualmente, avança no relato do que então se conhecia do encontro entre Elis e Tom Jobim, em 1974. A cena do musical, de fato, mostra um resumo do que foi o estranhamento inicial entre dois dos maiores gênios da música brasileira, mas perde de lavada em emoção para a vida real retratada no filme.

Elis Regina e Tom Jobim em show realizado em 1974. Foto: Autor não identificado/Estadão

A própria relação de Elis com os maridos Ronaldo Bôscoli (entre 1967 e 1971) e Cesar Camargo Mariano (entre 1971 e 1981) também já se afastou da representação trazida pelo musical ou, por vezes, exageradamente dramatizada pela direção de Dennis Carvalho, um dos gênios da teledramaturgia brasileira.

Bôscoli, o cafajeste. Mariano, o compreensivo. Recentemente, uma reportagem do Estadão mostrou que Mariano pode ter implodido o que seria um dos grandes álbuns da música mundial: o encontro entre Elis e Wayne Shorter. Na real, Elis sempre esteve sozinha – e pode ter se dado conta disso muito tarde.

Há ainda a história da Elis do comercial da Volkswagen, em que ela foi a primeira artista no Brasil a ser recriada com o uso da Inteligência Artificial. A história de Elis, de forma impressionante, sempre avança – possivelmente, apenas Rita Lee terá esse mesmo poder aqui no Brasil.

Nesse sentido, Elis – A Musical, parou no tempo. Não como um espetáculo antiquado, pois ele, dentro de três horas de duração, faz um apanhado geral da imagem de Elis. Entretanto, o musical ficou, para usar o nome de uma canção que João Bosco e Aldir Blanc fizeram para Elis – e que virou nome de um dos seus espetáculos de carreira – na Transversal do Tempo...da cantora.

Talvez fosse o momento não apenas de comemorar, mas de autores e diretor entenderem quem é a Elis de 2023 e contemplá-la no roteiro. Estender, por exemplo, a cena final em que Elis, sozinha no palco, sentada em uma cadeira, em uma imaginária entrevista, desnuda seus pensamentos acerca de temas como família e cenário musical brasileiro. Quais são seus ‘novos’ pensamentos? Basta uma corrida por seus fãs clubes em redes sociais.

Em tempo: Laila Garin, que fez Elis na primeira versão e volta agora nessa remontagem, continua como destaque no espetáculo. Além disso, é muito mais segura em ser, em alguns momentos, sobretudo ao cantar, menos Elis e mais ela, o que traz um ganho na emoção. Claudio Lins, como Cesar Camargo Mariano, tem em seu momento solo no palco sua grande cena no musical.

É paradoxal dizer que Elis Regina, morta há mais de 40 anos, não é mais a mesma pessoa e artista de 10 anos atrás, ano em que o espetáculo Elis – A Musical estreou no Rio de Janeiro, mexeu com o mercado brasileiro de musicais, colocou o nome da cantora em evidência e conquistou inúmeros prêmios.

Porém, é verdade. Escrito por Nelson Motta, que foi amigo e namorado da cantora, e Patrícia Andrade, Elis manteve, nessa reestreia comemorativa, praticamente o mesmo roteiro e texto da montagem original – algumas cenas foram cortadas; outras, aglutinadas.

É justamente nisso que o espetáculo parece, não superado, mas desconectado do que Elis tem se tornado de lá para cá. E das inúmeras possibilidades que ela ainda deve oferecer como artista, mulher e cidadã.

A atriz Laila Garin em cena do musical 'Elis' Foto: Caio Galucci

Vejamos. Passada a estreia de 2013, Elis ganhou mais uma biografia, Nada Será Como Antes (2015), escrita pelo jornalista Julio Maria e publicada em 2015. Nela, Maria avança em questões pessoais – sem nunca confundir o que é relevante com o que é fofoca – para dar uma dimensão mais humana de Elis, para além de sua obra gravada, essa totalmente disponível nas plataformas de streaming (isso é importante ressaltar, pois há herdeiros que não chegam em acordo para que isso ocorra, o que gera um apagamento do trabalho do artista) e dos vídeos de suas apresentações espalhados em plataformas de vídeo.

João Marcello Bôscoli, filho mais velho de Elis, também aproximou a mãe do público ao publicar o livro Elis e Eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe, um relato emocionante do que viveu ao lado da mãe, inclusive relatando, pela primeira vez sob seu ponto de vista, como teria sido o contato de Elis com a cocaína e, sobretudo, o que a levou a procurar a droga.

João Marcello, ao lado dos irmãos, Pedro Mariano e Maria Rita, sabem administrar muito bem o legado da mãe. Há sempre um produto novo sobre Elis no mercado, muitas vezes, até mais de um por ano.

Isso alimenta, inclusive, os fãs da cantora que, ao contrário dos seguidores antigos, não esperam acontecer. Está nas mãos deles, que pulverizam pelas redes sociais, áudios de entrevistas que Elis concedeu, sobretudo a partir dos anos 1970, quando sua obra adquiriu maior caráter social e político.

Em uma dessas entrevistas, Elis, furiosa, diz que não canta em festa do dia do trabalhador em que se cobra ingresso dos operários, como muitos artistas fizeram à época. “Quero cantar no chão de fábrica”, disse ela, em 1980, no auge das greves no País. “No meu ninguém vai mais botar. Estou com os três olhos abertos”, completou, logo em seguida.

O documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, do diretor Roberto de Oliveira, em cartaz atualmente, avança no relato do que então se conhecia do encontro entre Elis e Tom Jobim, em 1974. A cena do musical, de fato, mostra um resumo do que foi o estranhamento inicial entre dois dos maiores gênios da música brasileira, mas perde de lavada em emoção para a vida real retratada no filme.

Elis Regina e Tom Jobim em show realizado em 1974. Foto: Autor não identificado/Estadão

A própria relação de Elis com os maridos Ronaldo Bôscoli (entre 1967 e 1971) e Cesar Camargo Mariano (entre 1971 e 1981) também já se afastou da representação trazida pelo musical ou, por vezes, exageradamente dramatizada pela direção de Dennis Carvalho, um dos gênios da teledramaturgia brasileira.

Bôscoli, o cafajeste. Mariano, o compreensivo. Recentemente, uma reportagem do Estadão mostrou que Mariano pode ter implodido o que seria um dos grandes álbuns da música mundial: o encontro entre Elis e Wayne Shorter. Na real, Elis sempre esteve sozinha – e pode ter se dado conta disso muito tarde.

Há ainda a história da Elis do comercial da Volkswagen, em que ela foi a primeira artista no Brasil a ser recriada com o uso da Inteligência Artificial. A história de Elis, de forma impressionante, sempre avança – possivelmente, apenas Rita Lee terá esse mesmo poder aqui no Brasil.

Nesse sentido, Elis – A Musical, parou no tempo. Não como um espetáculo antiquado, pois ele, dentro de três horas de duração, faz um apanhado geral da imagem de Elis. Entretanto, o musical ficou, para usar o nome de uma canção que João Bosco e Aldir Blanc fizeram para Elis – e que virou nome de um dos seus espetáculos de carreira – na Transversal do Tempo...da cantora.

Talvez fosse o momento não apenas de comemorar, mas de autores e diretor entenderem quem é a Elis de 2023 e contemplá-la no roteiro. Estender, por exemplo, a cena final em que Elis, sozinha no palco, sentada em uma cadeira, em uma imaginária entrevista, desnuda seus pensamentos acerca de temas como família e cenário musical brasileiro. Quais são seus ‘novos’ pensamentos? Basta uma corrida por seus fãs clubes em redes sociais.

Em tempo: Laila Garin, que fez Elis na primeira versão e volta agora nessa remontagem, continua como destaque no espetáculo. Além disso, é muito mais segura em ser, em alguns momentos, sobretudo ao cantar, menos Elis e mais ela, o que traz um ganho na emoção. Claudio Lins, como Cesar Camargo Mariano, tem em seu momento solo no palco sua grande cena no musical.

É paradoxal dizer que Elis Regina, morta há mais de 40 anos, não é mais a mesma pessoa e artista de 10 anos atrás, ano em que o espetáculo Elis – A Musical estreou no Rio de Janeiro, mexeu com o mercado brasileiro de musicais, colocou o nome da cantora em evidência e conquistou inúmeros prêmios.

Porém, é verdade. Escrito por Nelson Motta, que foi amigo e namorado da cantora, e Patrícia Andrade, Elis manteve, nessa reestreia comemorativa, praticamente o mesmo roteiro e texto da montagem original – algumas cenas foram cortadas; outras, aglutinadas.

É justamente nisso que o espetáculo parece, não superado, mas desconectado do que Elis tem se tornado de lá para cá. E das inúmeras possibilidades que ela ainda deve oferecer como artista, mulher e cidadã.

A atriz Laila Garin em cena do musical 'Elis' Foto: Caio Galucci

Vejamos. Passada a estreia de 2013, Elis ganhou mais uma biografia, Nada Será Como Antes (2015), escrita pelo jornalista Julio Maria e publicada em 2015. Nela, Maria avança em questões pessoais – sem nunca confundir o que é relevante com o que é fofoca – para dar uma dimensão mais humana de Elis, para além de sua obra gravada, essa totalmente disponível nas plataformas de streaming (isso é importante ressaltar, pois há herdeiros que não chegam em acordo para que isso ocorra, o que gera um apagamento do trabalho do artista) e dos vídeos de suas apresentações espalhados em plataformas de vídeo.

João Marcello Bôscoli, filho mais velho de Elis, também aproximou a mãe do público ao publicar o livro Elis e Eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe, um relato emocionante do que viveu ao lado da mãe, inclusive relatando, pela primeira vez sob seu ponto de vista, como teria sido o contato de Elis com a cocaína e, sobretudo, o que a levou a procurar a droga.

João Marcello, ao lado dos irmãos, Pedro Mariano e Maria Rita, sabem administrar muito bem o legado da mãe. Há sempre um produto novo sobre Elis no mercado, muitas vezes, até mais de um por ano.

Isso alimenta, inclusive, os fãs da cantora que, ao contrário dos seguidores antigos, não esperam acontecer. Está nas mãos deles, que pulverizam pelas redes sociais, áudios de entrevistas que Elis concedeu, sobretudo a partir dos anos 1970, quando sua obra adquiriu maior caráter social e político.

Em uma dessas entrevistas, Elis, furiosa, diz que não canta em festa do dia do trabalhador em que se cobra ingresso dos operários, como muitos artistas fizeram à época. “Quero cantar no chão de fábrica”, disse ela, em 1980, no auge das greves no País. “No meu ninguém vai mais botar. Estou com os três olhos abertos”, completou, logo em seguida.

O documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, do diretor Roberto de Oliveira, em cartaz atualmente, avança no relato do que então se conhecia do encontro entre Elis e Tom Jobim, em 1974. A cena do musical, de fato, mostra um resumo do que foi o estranhamento inicial entre dois dos maiores gênios da música brasileira, mas perde de lavada em emoção para a vida real retratada no filme.

Elis Regina e Tom Jobim em show realizado em 1974. Foto: Autor não identificado/Estadão

A própria relação de Elis com os maridos Ronaldo Bôscoli (entre 1967 e 1971) e Cesar Camargo Mariano (entre 1971 e 1981) também já se afastou da representação trazida pelo musical ou, por vezes, exageradamente dramatizada pela direção de Dennis Carvalho, um dos gênios da teledramaturgia brasileira.

Bôscoli, o cafajeste. Mariano, o compreensivo. Recentemente, uma reportagem do Estadão mostrou que Mariano pode ter implodido o que seria um dos grandes álbuns da música mundial: o encontro entre Elis e Wayne Shorter. Na real, Elis sempre esteve sozinha – e pode ter se dado conta disso muito tarde.

Há ainda a história da Elis do comercial da Volkswagen, em que ela foi a primeira artista no Brasil a ser recriada com o uso da Inteligência Artificial. A história de Elis, de forma impressionante, sempre avança – possivelmente, apenas Rita Lee terá esse mesmo poder aqui no Brasil.

Nesse sentido, Elis – A Musical, parou no tempo. Não como um espetáculo antiquado, pois ele, dentro de três horas de duração, faz um apanhado geral da imagem de Elis. Entretanto, o musical ficou, para usar o nome de uma canção que João Bosco e Aldir Blanc fizeram para Elis – e que virou nome de um dos seus espetáculos de carreira – na Transversal do Tempo...da cantora.

Talvez fosse o momento não apenas de comemorar, mas de autores e diretor entenderem quem é a Elis de 2023 e contemplá-la no roteiro. Estender, por exemplo, a cena final em que Elis, sozinha no palco, sentada em uma cadeira, em uma imaginária entrevista, desnuda seus pensamentos acerca de temas como família e cenário musical brasileiro. Quais são seus ‘novos’ pensamentos? Basta uma corrida por seus fãs clubes em redes sociais.

Em tempo: Laila Garin, que fez Elis na primeira versão e volta agora nessa remontagem, continua como destaque no espetáculo. Além disso, é muito mais segura em ser, em alguns momentos, sobretudo ao cantar, menos Elis e mais ela, o que traz um ganho na emoção. Claudio Lins, como Cesar Camargo Mariano, tem em seu momento solo no palco sua grande cena no musical.

É paradoxal dizer que Elis Regina, morta há mais de 40 anos, não é mais a mesma pessoa e artista de 10 anos atrás, ano em que o espetáculo Elis – A Musical estreou no Rio de Janeiro, mexeu com o mercado brasileiro de musicais, colocou o nome da cantora em evidência e conquistou inúmeros prêmios.

Porém, é verdade. Escrito por Nelson Motta, que foi amigo e namorado da cantora, e Patrícia Andrade, Elis manteve, nessa reestreia comemorativa, praticamente o mesmo roteiro e texto da montagem original – algumas cenas foram cortadas; outras, aglutinadas.

É justamente nisso que o espetáculo parece, não superado, mas desconectado do que Elis tem se tornado de lá para cá. E das inúmeras possibilidades que ela ainda deve oferecer como artista, mulher e cidadã.

A atriz Laila Garin em cena do musical 'Elis' Foto: Caio Galucci

Vejamos. Passada a estreia de 2013, Elis ganhou mais uma biografia, Nada Será Como Antes (2015), escrita pelo jornalista Julio Maria e publicada em 2015. Nela, Maria avança em questões pessoais – sem nunca confundir o que é relevante com o que é fofoca – para dar uma dimensão mais humana de Elis, para além de sua obra gravada, essa totalmente disponível nas plataformas de streaming (isso é importante ressaltar, pois há herdeiros que não chegam em acordo para que isso ocorra, o que gera um apagamento do trabalho do artista) e dos vídeos de suas apresentações espalhados em plataformas de vídeo.

João Marcello Bôscoli, filho mais velho de Elis, também aproximou a mãe do público ao publicar o livro Elis e Eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe, um relato emocionante do que viveu ao lado da mãe, inclusive relatando, pela primeira vez sob seu ponto de vista, como teria sido o contato de Elis com a cocaína e, sobretudo, o que a levou a procurar a droga.

João Marcello, ao lado dos irmãos, Pedro Mariano e Maria Rita, sabem administrar muito bem o legado da mãe. Há sempre um produto novo sobre Elis no mercado, muitas vezes, até mais de um por ano.

Isso alimenta, inclusive, os fãs da cantora que, ao contrário dos seguidores antigos, não esperam acontecer. Está nas mãos deles, que pulverizam pelas redes sociais, áudios de entrevistas que Elis concedeu, sobretudo a partir dos anos 1970, quando sua obra adquiriu maior caráter social e político.

Em uma dessas entrevistas, Elis, furiosa, diz que não canta em festa do dia do trabalhador em que se cobra ingresso dos operários, como muitos artistas fizeram à época. “Quero cantar no chão de fábrica”, disse ela, em 1980, no auge das greves no País. “No meu ninguém vai mais botar. Estou com os três olhos abertos”, completou, logo em seguida.

O documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, do diretor Roberto de Oliveira, em cartaz atualmente, avança no relato do que então se conhecia do encontro entre Elis e Tom Jobim, em 1974. A cena do musical, de fato, mostra um resumo do que foi o estranhamento inicial entre dois dos maiores gênios da música brasileira, mas perde de lavada em emoção para a vida real retratada no filme.

Elis Regina e Tom Jobim em show realizado em 1974. Foto: Autor não identificado/Estadão

A própria relação de Elis com os maridos Ronaldo Bôscoli (entre 1967 e 1971) e Cesar Camargo Mariano (entre 1971 e 1981) também já se afastou da representação trazida pelo musical ou, por vezes, exageradamente dramatizada pela direção de Dennis Carvalho, um dos gênios da teledramaturgia brasileira.

Bôscoli, o cafajeste. Mariano, o compreensivo. Recentemente, uma reportagem do Estadão mostrou que Mariano pode ter implodido o que seria um dos grandes álbuns da música mundial: o encontro entre Elis e Wayne Shorter. Na real, Elis sempre esteve sozinha – e pode ter se dado conta disso muito tarde.

Há ainda a história da Elis do comercial da Volkswagen, em que ela foi a primeira artista no Brasil a ser recriada com o uso da Inteligência Artificial. A história de Elis, de forma impressionante, sempre avança – possivelmente, apenas Rita Lee terá esse mesmo poder aqui no Brasil.

Nesse sentido, Elis – A Musical, parou no tempo. Não como um espetáculo antiquado, pois ele, dentro de três horas de duração, faz um apanhado geral da imagem de Elis. Entretanto, o musical ficou, para usar o nome de uma canção que João Bosco e Aldir Blanc fizeram para Elis – e que virou nome de um dos seus espetáculos de carreira – na Transversal do Tempo...da cantora.

Talvez fosse o momento não apenas de comemorar, mas de autores e diretor entenderem quem é a Elis de 2023 e contemplá-la no roteiro. Estender, por exemplo, a cena final em que Elis, sozinha no palco, sentada em uma cadeira, em uma imaginária entrevista, desnuda seus pensamentos acerca de temas como família e cenário musical brasileiro. Quais são seus ‘novos’ pensamentos? Basta uma corrida por seus fãs clubes em redes sociais.

Em tempo: Laila Garin, que fez Elis na primeira versão e volta agora nessa remontagem, continua como destaque no espetáculo. Além disso, é muito mais segura em ser, em alguns momentos, sobretudo ao cantar, menos Elis e mais ela, o que traz um ganho na emoção. Claudio Lins, como Cesar Camargo Mariano, tem em seu momento solo no palco sua grande cena no musical.

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