Nova peça de Renato Borghi levanta no palco a bandeira da esperança


‘O Que nos Mantém Vivos?’, peça que estreia no Teatro Anchieta, conecta textos de Brecht ao Brasil de Bolsonaro

Por Dirceu Alves Jr.

Em uma cena inicial de O Que nos Mantém Vivos?, o ator Renato Borghi, de 85 anos, pisa no palco do Teatro Anchieta com o seu coração nas mãos e o deposita em cima de uma mesa. O órgão é representado por um tijolo e faz referência à cirurgia cardíaca enfrentada pelo artista em janeiro. Borghi estava no meio da elaboração deste trabalho, baseado em textos do alemão Bertolt Brecht (1898-1956), que estreia neste sábado, 12, e não foram poucas as vezes em que ele duvidou da viabilidade de colocá-lo em cena.

A idade pesa nas costas do intérprete, que, em 2023, celebra 65 anos de uma carreira iniciada quando frequentava a faculdade de direito do Largo São Francisco e, logo, seria um dos fundadores do Teatro Oficina. “Estou andando mal, como um velhinho, as operações de coluna que fiz cobram um preço alto, mas tudo ok para quem beira os 90″, reconhece.

Nova peça de Renato Borghi, 'O que nos mantém vivos?', estreia no Teatro Anchieta. Foto: Bob Sousa
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O Que nos Mantém Vivos? revisita a essência de um espetáculo emblemático, O Que Mantém o Homem Vivo?, encenado por ele três vezes, em 1973, 1982 e 2019. “Em 1973, foi o momento mais violento da nossa história, todo mundo desaparecia, morria, em 1982, veio um alívio por causa da anistia, mas todos os torturadores foram perdoados e, em 2019, a ameaça de golpe tomou conta, o ódio aos artistas, tudo o que vivemos hoje”, explica Borghi. “Mudamos a pergunta do título para saber o que nos faz resistir a tanto desacato, o que, no meu caso, é o teatro.”

Cemitério

Durante a pandemia, Borghi e Elcio Nogueira Seixas, também idealizador e adaptador dos textos, recuperaram as dramaturgias das versões anteriores. “A construção deste novo roteiro parte da ideia de que o Brasil virou um cemitério e precisamos compartilhar o que vivemos e aprendemos para entender algo disso tudo”, afirma Seixas.

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O diretor da montagem, Rogério Tarifa, quando começou o seu processo, em março, encontrou Borghi e Seixas tensos, indignados com situação do país, e pensou que, com aquela energia pesada, não teria um bom resultado. “Minha veia é trazer a poesia para aliviar o tom mais duro e vi que seria esse o caminho”, diz Tarifa, que coloca em meio às cenas de Brecht intervenções musicais e até teatro de bonecos.

'O que nos mantém vivos?' concilia textos de Bertold Brecht com a situação do Brasil atual em que a religião é usada como arma política e as armas são esperança de segurança.  Foto: Bob Sousa

Com Borghi, Seixas, a atriz Débora Duboc e os músicos Cristiano Meirelles e Nath Calan no elenco, O Que nos Mantém Vivos? foi dividido em duas unidades, batizadas de Deus Acima de Tudo, sobre a manipulação política da religião, e Pátria Armada, em torno da militarização da sociedade. Nestes blocos, os atores representam o poema A Cruzada das Crianças e fragmentos da peça Santa Joana dos Matadouros. Na abordagem de A Resistível Ascensão de Arturo Ui, obra de 1941, porém, vem a grande provocação. Borghi, Seixas e Tarifa criaram um encontro em um camarim entre o ditador nazista da peça de Brecht (interpretado por Seixas) e um ator que representa Abelardo I, o personagem de O Rei da Vela, clássico de Oswald de Andrade consagrado por Borghi em 1967.

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“O objetivo de Arturo Ui é matar esse ator como símbolo de todos os boicotes contra os artistas e a cultura”, revela Tarifa. “Se o Bolsonaro fosse reeleito teria dúvidas de como a gente faria essa peça”, completa o diretor. Seixas, no entanto, rebate de pronto ao ver o projeto concretizado, às vésperas da estreia. “Essa peça é a prova da nossa esperança porque sempre acreditamos que ele perderia a eleição.”

O Que nos Mantém Vivos?

Teatro Anchieta - Sesc Consolação.

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Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque.

Sextas e sábado, 20h; domingo, 18h. Até 17 de dezembro. R$ 40,00.

Em uma cena inicial de O Que nos Mantém Vivos?, o ator Renato Borghi, de 85 anos, pisa no palco do Teatro Anchieta com o seu coração nas mãos e o deposita em cima de uma mesa. O órgão é representado por um tijolo e faz referência à cirurgia cardíaca enfrentada pelo artista em janeiro. Borghi estava no meio da elaboração deste trabalho, baseado em textos do alemão Bertolt Brecht (1898-1956), que estreia neste sábado, 12, e não foram poucas as vezes em que ele duvidou da viabilidade de colocá-lo em cena.

A idade pesa nas costas do intérprete, que, em 2023, celebra 65 anos de uma carreira iniciada quando frequentava a faculdade de direito do Largo São Francisco e, logo, seria um dos fundadores do Teatro Oficina. “Estou andando mal, como um velhinho, as operações de coluna que fiz cobram um preço alto, mas tudo ok para quem beira os 90″, reconhece.

Nova peça de Renato Borghi, 'O que nos mantém vivos?', estreia no Teatro Anchieta. Foto: Bob Sousa

O Que nos Mantém Vivos? revisita a essência de um espetáculo emblemático, O Que Mantém o Homem Vivo?, encenado por ele três vezes, em 1973, 1982 e 2019. “Em 1973, foi o momento mais violento da nossa história, todo mundo desaparecia, morria, em 1982, veio um alívio por causa da anistia, mas todos os torturadores foram perdoados e, em 2019, a ameaça de golpe tomou conta, o ódio aos artistas, tudo o que vivemos hoje”, explica Borghi. “Mudamos a pergunta do título para saber o que nos faz resistir a tanto desacato, o que, no meu caso, é o teatro.”

Cemitério

Durante a pandemia, Borghi e Elcio Nogueira Seixas, também idealizador e adaptador dos textos, recuperaram as dramaturgias das versões anteriores. “A construção deste novo roteiro parte da ideia de que o Brasil virou um cemitério e precisamos compartilhar o que vivemos e aprendemos para entender algo disso tudo”, afirma Seixas.

O diretor da montagem, Rogério Tarifa, quando começou o seu processo, em março, encontrou Borghi e Seixas tensos, indignados com situação do país, e pensou que, com aquela energia pesada, não teria um bom resultado. “Minha veia é trazer a poesia para aliviar o tom mais duro e vi que seria esse o caminho”, diz Tarifa, que coloca em meio às cenas de Brecht intervenções musicais e até teatro de bonecos.

'O que nos mantém vivos?' concilia textos de Bertold Brecht com a situação do Brasil atual em que a religião é usada como arma política e as armas são esperança de segurança.  Foto: Bob Sousa

Com Borghi, Seixas, a atriz Débora Duboc e os músicos Cristiano Meirelles e Nath Calan no elenco, O Que nos Mantém Vivos? foi dividido em duas unidades, batizadas de Deus Acima de Tudo, sobre a manipulação política da religião, e Pátria Armada, em torno da militarização da sociedade. Nestes blocos, os atores representam o poema A Cruzada das Crianças e fragmentos da peça Santa Joana dos Matadouros. Na abordagem de A Resistível Ascensão de Arturo Ui, obra de 1941, porém, vem a grande provocação. Borghi, Seixas e Tarifa criaram um encontro em um camarim entre o ditador nazista da peça de Brecht (interpretado por Seixas) e um ator que representa Abelardo I, o personagem de O Rei da Vela, clássico de Oswald de Andrade consagrado por Borghi em 1967.

“O objetivo de Arturo Ui é matar esse ator como símbolo de todos os boicotes contra os artistas e a cultura”, revela Tarifa. “Se o Bolsonaro fosse reeleito teria dúvidas de como a gente faria essa peça”, completa o diretor. Seixas, no entanto, rebate de pronto ao ver o projeto concretizado, às vésperas da estreia. “Essa peça é a prova da nossa esperança porque sempre acreditamos que ele perderia a eleição.”

O Que nos Mantém Vivos?

Teatro Anchieta - Sesc Consolação.

Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque.

Sextas e sábado, 20h; domingo, 18h. Até 17 de dezembro. R$ 40,00.

Em uma cena inicial de O Que nos Mantém Vivos?, o ator Renato Borghi, de 85 anos, pisa no palco do Teatro Anchieta com o seu coração nas mãos e o deposita em cima de uma mesa. O órgão é representado por um tijolo e faz referência à cirurgia cardíaca enfrentada pelo artista em janeiro. Borghi estava no meio da elaboração deste trabalho, baseado em textos do alemão Bertolt Brecht (1898-1956), que estreia neste sábado, 12, e não foram poucas as vezes em que ele duvidou da viabilidade de colocá-lo em cena.

A idade pesa nas costas do intérprete, que, em 2023, celebra 65 anos de uma carreira iniciada quando frequentava a faculdade de direito do Largo São Francisco e, logo, seria um dos fundadores do Teatro Oficina. “Estou andando mal, como um velhinho, as operações de coluna que fiz cobram um preço alto, mas tudo ok para quem beira os 90″, reconhece.

Nova peça de Renato Borghi, 'O que nos mantém vivos?', estreia no Teatro Anchieta. Foto: Bob Sousa

O Que nos Mantém Vivos? revisita a essência de um espetáculo emblemático, O Que Mantém o Homem Vivo?, encenado por ele três vezes, em 1973, 1982 e 2019. “Em 1973, foi o momento mais violento da nossa história, todo mundo desaparecia, morria, em 1982, veio um alívio por causa da anistia, mas todos os torturadores foram perdoados e, em 2019, a ameaça de golpe tomou conta, o ódio aos artistas, tudo o que vivemos hoje”, explica Borghi. “Mudamos a pergunta do título para saber o que nos faz resistir a tanto desacato, o que, no meu caso, é o teatro.”

Cemitério

Durante a pandemia, Borghi e Elcio Nogueira Seixas, também idealizador e adaptador dos textos, recuperaram as dramaturgias das versões anteriores. “A construção deste novo roteiro parte da ideia de que o Brasil virou um cemitério e precisamos compartilhar o que vivemos e aprendemos para entender algo disso tudo”, afirma Seixas.

O diretor da montagem, Rogério Tarifa, quando começou o seu processo, em março, encontrou Borghi e Seixas tensos, indignados com situação do país, e pensou que, com aquela energia pesada, não teria um bom resultado. “Minha veia é trazer a poesia para aliviar o tom mais duro e vi que seria esse o caminho”, diz Tarifa, que coloca em meio às cenas de Brecht intervenções musicais e até teatro de bonecos.

'O que nos mantém vivos?' concilia textos de Bertold Brecht com a situação do Brasil atual em que a religião é usada como arma política e as armas são esperança de segurança.  Foto: Bob Sousa

Com Borghi, Seixas, a atriz Débora Duboc e os músicos Cristiano Meirelles e Nath Calan no elenco, O Que nos Mantém Vivos? foi dividido em duas unidades, batizadas de Deus Acima de Tudo, sobre a manipulação política da religião, e Pátria Armada, em torno da militarização da sociedade. Nestes blocos, os atores representam o poema A Cruzada das Crianças e fragmentos da peça Santa Joana dos Matadouros. Na abordagem de A Resistível Ascensão de Arturo Ui, obra de 1941, porém, vem a grande provocação. Borghi, Seixas e Tarifa criaram um encontro em um camarim entre o ditador nazista da peça de Brecht (interpretado por Seixas) e um ator que representa Abelardo I, o personagem de O Rei da Vela, clássico de Oswald de Andrade consagrado por Borghi em 1967.

“O objetivo de Arturo Ui é matar esse ator como símbolo de todos os boicotes contra os artistas e a cultura”, revela Tarifa. “Se o Bolsonaro fosse reeleito teria dúvidas de como a gente faria essa peça”, completa o diretor. Seixas, no entanto, rebate de pronto ao ver o projeto concretizado, às vésperas da estreia. “Essa peça é a prova da nossa esperança porque sempre acreditamos que ele perderia a eleição.”

O Que nos Mantém Vivos?

Teatro Anchieta - Sesc Consolação.

Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque.

Sextas e sábado, 20h; domingo, 18h. Até 17 de dezembro. R$ 40,00.

Em uma cena inicial de O Que nos Mantém Vivos?, o ator Renato Borghi, de 85 anos, pisa no palco do Teatro Anchieta com o seu coração nas mãos e o deposita em cima de uma mesa. O órgão é representado por um tijolo e faz referência à cirurgia cardíaca enfrentada pelo artista em janeiro. Borghi estava no meio da elaboração deste trabalho, baseado em textos do alemão Bertolt Brecht (1898-1956), que estreia neste sábado, 12, e não foram poucas as vezes em que ele duvidou da viabilidade de colocá-lo em cena.

A idade pesa nas costas do intérprete, que, em 2023, celebra 65 anos de uma carreira iniciada quando frequentava a faculdade de direito do Largo São Francisco e, logo, seria um dos fundadores do Teatro Oficina. “Estou andando mal, como um velhinho, as operações de coluna que fiz cobram um preço alto, mas tudo ok para quem beira os 90″, reconhece.

Nova peça de Renato Borghi, 'O que nos mantém vivos?', estreia no Teatro Anchieta. Foto: Bob Sousa

O Que nos Mantém Vivos? revisita a essência de um espetáculo emblemático, O Que Mantém o Homem Vivo?, encenado por ele três vezes, em 1973, 1982 e 2019. “Em 1973, foi o momento mais violento da nossa história, todo mundo desaparecia, morria, em 1982, veio um alívio por causa da anistia, mas todos os torturadores foram perdoados e, em 2019, a ameaça de golpe tomou conta, o ódio aos artistas, tudo o que vivemos hoje”, explica Borghi. “Mudamos a pergunta do título para saber o que nos faz resistir a tanto desacato, o que, no meu caso, é o teatro.”

Cemitério

Durante a pandemia, Borghi e Elcio Nogueira Seixas, também idealizador e adaptador dos textos, recuperaram as dramaturgias das versões anteriores. “A construção deste novo roteiro parte da ideia de que o Brasil virou um cemitério e precisamos compartilhar o que vivemos e aprendemos para entender algo disso tudo”, afirma Seixas.

O diretor da montagem, Rogério Tarifa, quando começou o seu processo, em março, encontrou Borghi e Seixas tensos, indignados com situação do país, e pensou que, com aquela energia pesada, não teria um bom resultado. “Minha veia é trazer a poesia para aliviar o tom mais duro e vi que seria esse o caminho”, diz Tarifa, que coloca em meio às cenas de Brecht intervenções musicais e até teatro de bonecos.

'O que nos mantém vivos?' concilia textos de Bertold Brecht com a situação do Brasil atual em que a religião é usada como arma política e as armas são esperança de segurança.  Foto: Bob Sousa

Com Borghi, Seixas, a atriz Débora Duboc e os músicos Cristiano Meirelles e Nath Calan no elenco, O Que nos Mantém Vivos? foi dividido em duas unidades, batizadas de Deus Acima de Tudo, sobre a manipulação política da religião, e Pátria Armada, em torno da militarização da sociedade. Nestes blocos, os atores representam o poema A Cruzada das Crianças e fragmentos da peça Santa Joana dos Matadouros. Na abordagem de A Resistível Ascensão de Arturo Ui, obra de 1941, porém, vem a grande provocação. Borghi, Seixas e Tarifa criaram um encontro em um camarim entre o ditador nazista da peça de Brecht (interpretado por Seixas) e um ator que representa Abelardo I, o personagem de O Rei da Vela, clássico de Oswald de Andrade consagrado por Borghi em 1967.

“O objetivo de Arturo Ui é matar esse ator como símbolo de todos os boicotes contra os artistas e a cultura”, revela Tarifa. “Se o Bolsonaro fosse reeleito teria dúvidas de como a gente faria essa peça”, completa o diretor. Seixas, no entanto, rebate de pronto ao ver o projeto concretizado, às vésperas da estreia. “Essa peça é a prova da nossa esperança porque sempre acreditamos que ele perderia a eleição.”

O Que nos Mantém Vivos?

Teatro Anchieta - Sesc Consolação.

Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque.

Sextas e sábado, 20h; domingo, 18h. Até 17 de dezembro. R$ 40,00.

Em uma cena inicial de O Que nos Mantém Vivos?, o ator Renato Borghi, de 85 anos, pisa no palco do Teatro Anchieta com o seu coração nas mãos e o deposita em cima de uma mesa. O órgão é representado por um tijolo e faz referência à cirurgia cardíaca enfrentada pelo artista em janeiro. Borghi estava no meio da elaboração deste trabalho, baseado em textos do alemão Bertolt Brecht (1898-1956), que estreia neste sábado, 12, e não foram poucas as vezes em que ele duvidou da viabilidade de colocá-lo em cena.

A idade pesa nas costas do intérprete, que, em 2023, celebra 65 anos de uma carreira iniciada quando frequentava a faculdade de direito do Largo São Francisco e, logo, seria um dos fundadores do Teatro Oficina. “Estou andando mal, como um velhinho, as operações de coluna que fiz cobram um preço alto, mas tudo ok para quem beira os 90″, reconhece.

Nova peça de Renato Borghi, 'O que nos mantém vivos?', estreia no Teatro Anchieta. Foto: Bob Sousa

O Que nos Mantém Vivos? revisita a essência de um espetáculo emblemático, O Que Mantém o Homem Vivo?, encenado por ele três vezes, em 1973, 1982 e 2019. “Em 1973, foi o momento mais violento da nossa história, todo mundo desaparecia, morria, em 1982, veio um alívio por causa da anistia, mas todos os torturadores foram perdoados e, em 2019, a ameaça de golpe tomou conta, o ódio aos artistas, tudo o que vivemos hoje”, explica Borghi. “Mudamos a pergunta do título para saber o que nos faz resistir a tanto desacato, o que, no meu caso, é o teatro.”

Cemitério

Durante a pandemia, Borghi e Elcio Nogueira Seixas, também idealizador e adaptador dos textos, recuperaram as dramaturgias das versões anteriores. “A construção deste novo roteiro parte da ideia de que o Brasil virou um cemitério e precisamos compartilhar o que vivemos e aprendemos para entender algo disso tudo”, afirma Seixas.

O diretor da montagem, Rogério Tarifa, quando começou o seu processo, em março, encontrou Borghi e Seixas tensos, indignados com situação do país, e pensou que, com aquela energia pesada, não teria um bom resultado. “Minha veia é trazer a poesia para aliviar o tom mais duro e vi que seria esse o caminho”, diz Tarifa, que coloca em meio às cenas de Brecht intervenções musicais e até teatro de bonecos.

'O que nos mantém vivos?' concilia textos de Bertold Brecht com a situação do Brasil atual em que a religião é usada como arma política e as armas são esperança de segurança.  Foto: Bob Sousa

Com Borghi, Seixas, a atriz Débora Duboc e os músicos Cristiano Meirelles e Nath Calan no elenco, O Que nos Mantém Vivos? foi dividido em duas unidades, batizadas de Deus Acima de Tudo, sobre a manipulação política da religião, e Pátria Armada, em torno da militarização da sociedade. Nestes blocos, os atores representam o poema A Cruzada das Crianças e fragmentos da peça Santa Joana dos Matadouros. Na abordagem de A Resistível Ascensão de Arturo Ui, obra de 1941, porém, vem a grande provocação. Borghi, Seixas e Tarifa criaram um encontro em um camarim entre o ditador nazista da peça de Brecht (interpretado por Seixas) e um ator que representa Abelardo I, o personagem de O Rei da Vela, clássico de Oswald de Andrade consagrado por Borghi em 1967.

“O objetivo de Arturo Ui é matar esse ator como símbolo de todos os boicotes contra os artistas e a cultura”, revela Tarifa. “Se o Bolsonaro fosse reeleito teria dúvidas de como a gente faria essa peça”, completa o diretor. Seixas, no entanto, rebate de pronto ao ver o projeto concretizado, às vésperas da estreia. “Essa peça é a prova da nossa esperança porque sempre acreditamos que ele perderia a eleição.”

O Que nos Mantém Vivos?

Teatro Anchieta - Sesc Consolação.

Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque.

Sextas e sábado, 20h; domingo, 18h. Até 17 de dezembro. R$ 40,00.

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