‘Nunca devemos esquecer que a nossa mente pode adoecer’, diz Kiko Mascarenhas sobre depressão


O ator, conhecido por novelas da Globo e pelas séries ‘Tapas e Beijos’ e ‘Mister Braun’, protagoniza a peça ‘Todas as Coisas Maravilhosas’, em cartaz em SP. Espetáculo explora marcas da doença que ele próprio enfrentou durante a pandemia

Por Dirceu Alves Jr

Na peça Todas as Coisas Maravilhosas, um menino de sete anos descobre que a mãe foi derrubada pela tristeza e perdeu o interesse em continuar viva. Para fazê-la mudar de ideia, o garoto espalha mensagens pelos cantos da casa para que ela enxergue as delícias do cotidiano, como o sabor refrescante de um sorvete ou a beleza do sol e da cor amarela.

O texto dos ingleses Duncan MacMillan e Joe Donahue caiu nas mãos do ator carioca Kiko Mascarenhas, de 59 anos, em 2016, e sua reação foi de negação, um tanto reativa: “Essa peça trata de depressão, de suicídio, não tenho a menor vontade em falar disso no palco”.

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O tradutor, adaptador e pesquisador Diego Teza rebateu de imediato, alegando que não era nada disso. “É uma história de resistência e esperança”, justificou. Nesta hora, a cabeça de Mascarenhas deu um giro e ele enxergou o enredo com um outro olhar, com o jeito que passou a interpretá-lo desde a estreia no Rio de Janeiro, em 2019.

Kiko Mascarenhas protagoniza o solo 'Todas as Coisas Maravilhosas' no Tucarena, em SP. Foto: Gab Lara/Divulgação

Cinco anos depois e atravessada por uma pandemia que a ressignificou, inclusive para o protagonista, Todas as Coisas Maravilhosas chega a São Paulo em temporada, em cartaz no Tucarena desde a última sexta, 8, sob a direção de Fernando Philbert.

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No decorrer da trama, o garoto cresce, entra na faculdade, começa a trabalhar, se apaixona, vibra com o casamento e sofre com a separação, sempre lidando com a depressão materna e escrevendo listas para aproveitar um dia de cada vez.

Até a hora em que descobre que estas anotações servem de estímulo para ele mesmo – seja aos sete anos, aos 17, depois dos 30 ou aos 59, não por coincidência a idade de seu intérprete hoje. “A peça fala de como a gente pode seguir adiante e, se usarmos a imaginação, viveremos melhor o presente e conseguiremos olhar para o futuro”, conta Mascarenhas, que, em quatro décadas de carreira, faz o primeiro monólogo.

Depressão

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O intérprete que estreou Todas as Coisas Maravilhosas em 2019 é bastante diferente do que entra em cartaz na capital paulista essa semana. Mascarenhas, que sempre foi um sujeito tranquilo, otimista e pouco afeito à melancolia, sentiu na pele a barra pesada da depressão na reta final da pandemia de covid-19.

Kiko Mascarenhas passou por uma depressão durante a pandemia de covid-19. A doença é tema da peça 'Todas as Coisas Maravilhosas'. Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Em março de 2020, quando o mundo parou, ele sofria com o fim de um longo relacionamento decretado poucos meses antes, e o isolamento social serviu como um movimento de salvação, uma reconstrução de si mesmo para, novamente solteiro, tocar adiante o seu barco.

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O ator pegava sol na varanda, cozinhava muito, aprendeu a fazer pão e desenhava, desenhava feito louco. “Minha casa virou um ateliê”, brinca. Deixou o trabalho de lado em 2020 e 2021 e só percebeu o quanto estava mal quando voltou a um estúdio de televisão para novamente enfrentar a rotina de nove ou dez meses de gravações de um projeto e tremeu com o medo de não dar conta da responsabilidade.

As crises constantes de ansiedade e pânico foram diagnosticadas como depressão, e Mascarenhas só pensava que podia morrer a qualquer momento. “Eu não conseguia me levantar da cama, não atendia telefone e, quando saí de casa, ainda peguei covid e fiquei mais desestruturado”, lembra. “Neste momento, veio o tratamento com psiquiatra, a medicação, a terapia e fui me reerguendo aos poucos.”

Em 'Todas as Coisas Maravilhosas', Kiko Mascarenhas vive homem cuja vida foi marcada pela depressão da mãe.  Foto: Luciana Mesquita/Divulgação
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Mascarenhas entendeu que aquele espetáculo sobre resistência e esperança ganhou outro sentido para o artista e para o ser humano. “Depois de atravessar essa experiência, fui para o palco com outra mentalidade porque, agora, falo de mim mesmo, eu me identifico e me dilacero com as dores do personagem”, reconhece.

As próprias listas

Antes de retomar a montagem, em julho do ano passado, o ator começou a elaborar as próprias listas de motivação. Fez uma longa viagem para Portugal e Espanha, comeu e bebeu bem, usufruiu de dias ensolarados e deu risadas com os amigos.

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“A medicação surtiu efeito e me senti capaz de tomar decisões, como a de voltar ao cartaz com a peça”, diz. “Pode aparecer bobagem, mas valorizei a beleza de ver a chuva caindo e de sentir o cheiro de um café fresquinho.”

'Todas as Coisas Maravilhosas' é o primeiro monólogo da Kiko Mascarenhas em quatro décadas de carreira. Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Para a temporada paulistana, o artista tem uma lista pronta que deve ditar os seus passos nos próximos quatro meses. Ele, que morou em São Paulo na década de 1990, pretende reencontrar os amigos e conhecer gente nova, caminhar no Parque do Ibirapuera e no Minhocão, descobrir restaurantes recém-inaugurados e trocar ideias com quem for assistir ao espetáculo.

“Eu nunca fui de me abater, sempre fui o cara que botava uma música, dançava sozinho no meio da sala de casa e ficava bem com o que me acontecia, até que, um dia, eu me vi paralisado e sem condições de reagir”, declara. “A gente nunca deve esquecer que a nossa mente pode adoecer e essa peça me levantou de novo.”

Serviço

Todas as Coisas Maravilhosas. Tucarena. Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 100,00. Até 30 de junho. A partir de 8 de março.

Na peça Todas as Coisas Maravilhosas, um menino de sete anos descobre que a mãe foi derrubada pela tristeza e perdeu o interesse em continuar viva. Para fazê-la mudar de ideia, o garoto espalha mensagens pelos cantos da casa para que ela enxergue as delícias do cotidiano, como o sabor refrescante de um sorvete ou a beleza do sol e da cor amarela.

O texto dos ingleses Duncan MacMillan e Joe Donahue caiu nas mãos do ator carioca Kiko Mascarenhas, de 59 anos, em 2016, e sua reação foi de negação, um tanto reativa: “Essa peça trata de depressão, de suicídio, não tenho a menor vontade em falar disso no palco”.

O tradutor, adaptador e pesquisador Diego Teza rebateu de imediato, alegando que não era nada disso. “É uma história de resistência e esperança”, justificou. Nesta hora, a cabeça de Mascarenhas deu um giro e ele enxergou o enredo com um outro olhar, com o jeito que passou a interpretá-lo desde a estreia no Rio de Janeiro, em 2019.

Kiko Mascarenhas protagoniza o solo 'Todas as Coisas Maravilhosas' no Tucarena, em SP. Foto: Gab Lara/Divulgação

Cinco anos depois e atravessada por uma pandemia que a ressignificou, inclusive para o protagonista, Todas as Coisas Maravilhosas chega a São Paulo em temporada, em cartaz no Tucarena desde a última sexta, 8, sob a direção de Fernando Philbert.

No decorrer da trama, o garoto cresce, entra na faculdade, começa a trabalhar, se apaixona, vibra com o casamento e sofre com a separação, sempre lidando com a depressão materna e escrevendo listas para aproveitar um dia de cada vez.

Até a hora em que descobre que estas anotações servem de estímulo para ele mesmo – seja aos sete anos, aos 17, depois dos 30 ou aos 59, não por coincidência a idade de seu intérprete hoje. “A peça fala de como a gente pode seguir adiante e, se usarmos a imaginação, viveremos melhor o presente e conseguiremos olhar para o futuro”, conta Mascarenhas, que, em quatro décadas de carreira, faz o primeiro monólogo.

Depressão

O intérprete que estreou Todas as Coisas Maravilhosas em 2019 é bastante diferente do que entra em cartaz na capital paulista essa semana. Mascarenhas, que sempre foi um sujeito tranquilo, otimista e pouco afeito à melancolia, sentiu na pele a barra pesada da depressão na reta final da pandemia de covid-19.

Kiko Mascarenhas passou por uma depressão durante a pandemia de covid-19. A doença é tema da peça 'Todas as Coisas Maravilhosas'. Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Em março de 2020, quando o mundo parou, ele sofria com o fim de um longo relacionamento decretado poucos meses antes, e o isolamento social serviu como um movimento de salvação, uma reconstrução de si mesmo para, novamente solteiro, tocar adiante o seu barco.

O ator pegava sol na varanda, cozinhava muito, aprendeu a fazer pão e desenhava, desenhava feito louco. “Minha casa virou um ateliê”, brinca. Deixou o trabalho de lado em 2020 e 2021 e só percebeu o quanto estava mal quando voltou a um estúdio de televisão para novamente enfrentar a rotina de nove ou dez meses de gravações de um projeto e tremeu com o medo de não dar conta da responsabilidade.

As crises constantes de ansiedade e pânico foram diagnosticadas como depressão, e Mascarenhas só pensava que podia morrer a qualquer momento. “Eu não conseguia me levantar da cama, não atendia telefone e, quando saí de casa, ainda peguei covid e fiquei mais desestruturado”, lembra. “Neste momento, veio o tratamento com psiquiatra, a medicação, a terapia e fui me reerguendo aos poucos.”

Em 'Todas as Coisas Maravilhosas', Kiko Mascarenhas vive homem cuja vida foi marcada pela depressão da mãe.  Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Mascarenhas entendeu que aquele espetáculo sobre resistência e esperança ganhou outro sentido para o artista e para o ser humano. “Depois de atravessar essa experiência, fui para o palco com outra mentalidade porque, agora, falo de mim mesmo, eu me identifico e me dilacero com as dores do personagem”, reconhece.

As próprias listas

Antes de retomar a montagem, em julho do ano passado, o ator começou a elaborar as próprias listas de motivação. Fez uma longa viagem para Portugal e Espanha, comeu e bebeu bem, usufruiu de dias ensolarados e deu risadas com os amigos.

“A medicação surtiu efeito e me senti capaz de tomar decisões, como a de voltar ao cartaz com a peça”, diz. “Pode aparecer bobagem, mas valorizei a beleza de ver a chuva caindo e de sentir o cheiro de um café fresquinho.”

'Todas as Coisas Maravilhosas' é o primeiro monólogo da Kiko Mascarenhas em quatro décadas de carreira. Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Para a temporada paulistana, o artista tem uma lista pronta que deve ditar os seus passos nos próximos quatro meses. Ele, que morou em São Paulo na década de 1990, pretende reencontrar os amigos e conhecer gente nova, caminhar no Parque do Ibirapuera e no Minhocão, descobrir restaurantes recém-inaugurados e trocar ideias com quem for assistir ao espetáculo.

“Eu nunca fui de me abater, sempre fui o cara que botava uma música, dançava sozinho no meio da sala de casa e ficava bem com o que me acontecia, até que, um dia, eu me vi paralisado e sem condições de reagir”, declara. “A gente nunca deve esquecer que a nossa mente pode adoecer e essa peça me levantou de novo.”

Serviço

Todas as Coisas Maravilhosas. Tucarena. Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 100,00. Até 30 de junho. A partir de 8 de março.

Na peça Todas as Coisas Maravilhosas, um menino de sete anos descobre que a mãe foi derrubada pela tristeza e perdeu o interesse em continuar viva. Para fazê-la mudar de ideia, o garoto espalha mensagens pelos cantos da casa para que ela enxergue as delícias do cotidiano, como o sabor refrescante de um sorvete ou a beleza do sol e da cor amarela.

O texto dos ingleses Duncan MacMillan e Joe Donahue caiu nas mãos do ator carioca Kiko Mascarenhas, de 59 anos, em 2016, e sua reação foi de negação, um tanto reativa: “Essa peça trata de depressão, de suicídio, não tenho a menor vontade em falar disso no palco”.

O tradutor, adaptador e pesquisador Diego Teza rebateu de imediato, alegando que não era nada disso. “É uma história de resistência e esperança”, justificou. Nesta hora, a cabeça de Mascarenhas deu um giro e ele enxergou o enredo com um outro olhar, com o jeito que passou a interpretá-lo desde a estreia no Rio de Janeiro, em 2019.

Kiko Mascarenhas protagoniza o solo 'Todas as Coisas Maravilhosas' no Tucarena, em SP. Foto: Gab Lara/Divulgação

Cinco anos depois e atravessada por uma pandemia que a ressignificou, inclusive para o protagonista, Todas as Coisas Maravilhosas chega a São Paulo em temporada, em cartaz no Tucarena desde a última sexta, 8, sob a direção de Fernando Philbert.

No decorrer da trama, o garoto cresce, entra na faculdade, começa a trabalhar, se apaixona, vibra com o casamento e sofre com a separação, sempre lidando com a depressão materna e escrevendo listas para aproveitar um dia de cada vez.

Até a hora em que descobre que estas anotações servem de estímulo para ele mesmo – seja aos sete anos, aos 17, depois dos 30 ou aos 59, não por coincidência a idade de seu intérprete hoje. “A peça fala de como a gente pode seguir adiante e, se usarmos a imaginação, viveremos melhor o presente e conseguiremos olhar para o futuro”, conta Mascarenhas, que, em quatro décadas de carreira, faz o primeiro monólogo.

Depressão

O intérprete que estreou Todas as Coisas Maravilhosas em 2019 é bastante diferente do que entra em cartaz na capital paulista essa semana. Mascarenhas, que sempre foi um sujeito tranquilo, otimista e pouco afeito à melancolia, sentiu na pele a barra pesada da depressão na reta final da pandemia de covid-19.

Kiko Mascarenhas passou por uma depressão durante a pandemia de covid-19. A doença é tema da peça 'Todas as Coisas Maravilhosas'. Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Em março de 2020, quando o mundo parou, ele sofria com o fim de um longo relacionamento decretado poucos meses antes, e o isolamento social serviu como um movimento de salvação, uma reconstrução de si mesmo para, novamente solteiro, tocar adiante o seu barco.

O ator pegava sol na varanda, cozinhava muito, aprendeu a fazer pão e desenhava, desenhava feito louco. “Minha casa virou um ateliê”, brinca. Deixou o trabalho de lado em 2020 e 2021 e só percebeu o quanto estava mal quando voltou a um estúdio de televisão para novamente enfrentar a rotina de nove ou dez meses de gravações de um projeto e tremeu com o medo de não dar conta da responsabilidade.

As crises constantes de ansiedade e pânico foram diagnosticadas como depressão, e Mascarenhas só pensava que podia morrer a qualquer momento. “Eu não conseguia me levantar da cama, não atendia telefone e, quando saí de casa, ainda peguei covid e fiquei mais desestruturado”, lembra. “Neste momento, veio o tratamento com psiquiatra, a medicação, a terapia e fui me reerguendo aos poucos.”

Em 'Todas as Coisas Maravilhosas', Kiko Mascarenhas vive homem cuja vida foi marcada pela depressão da mãe.  Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Mascarenhas entendeu que aquele espetáculo sobre resistência e esperança ganhou outro sentido para o artista e para o ser humano. “Depois de atravessar essa experiência, fui para o palco com outra mentalidade porque, agora, falo de mim mesmo, eu me identifico e me dilacero com as dores do personagem”, reconhece.

As próprias listas

Antes de retomar a montagem, em julho do ano passado, o ator começou a elaborar as próprias listas de motivação. Fez uma longa viagem para Portugal e Espanha, comeu e bebeu bem, usufruiu de dias ensolarados e deu risadas com os amigos.

“A medicação surtiu efeito e me senti capaz de tomar decisões, como a de voltar ao cartaz com a peça”, diz. “Pode aparecer bobagem, mas valorizei a beleza de ver a chuva caindo e de sentir o cheiro de um café fresquinho.”

'Todas as Coisas Maravilhosas' é o primeiro monólogo da Kiko Mascarenhas em quatro décadas de carreira. Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Para a temporada paulistana, o artista tem uma lista pronta que deve ditar os seus passos nos próximos quatro meses. Ele, que morou em São Paulo na década de 1990, pretende reencontrar os amigos e conhecer gente nova, caminhar no Parque do Ibirapuera e no Minhocão, descobrir restaurantes recém-inaugurados e trocar ideias com quem for assistir ao espetáculo.

“Eu nunca fui de me abater, sempre fui o cara que botava uma música, dançava sozinho no meio da sala de casa e ficava bem com o que me acontecia, até que, um dia, eu me vi paralisado e sem condições de reagir”, declara. “A gente nunca deve esquecer que a nossa mente pode adoecer e essa peça me levantou de novo.”

Serviço

Todas as Coisas Maravilhosas. Tucarena. Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 100,00. Até 30 de junho. A partir de 8 de março.

Na peça Todas as Coisas Maravilhosas, um menino de sete anos descobre que a mãe foi derrubada pela tristeza e perdeu o interesse em continuar viva. Para fazê-la mudar de ideia, o garoto espalha mensagens pelos cantos da casa para que ela enxergue as delícias do cotidiano, como o sabor refrescante de um sorvete ou a beleza do sol e da cor amarela.

O texto dos ingleses Duncan MacMillan e Joe Donahue caiu nas mãos do ator carioca Kiko Mascarenhas, de 59 anos, em 2016, e sua reação foi de negação, um tanto reativa: “Essa peça trata de depressão, de suicídio, não tenho a menor vontade em falar disso no palco”.

O tradutor, adaptador e pesquisador Diego Teza rebateu de imediato, alegando que não era nada disso. “É uma história de resistência e esperança”, justificou. Nesta hora, a cabeça de Mascarenhas deu um giro e ele enxergou o enredo com um outro olhar, com o jeito que passou a interpretá-lo desde a estreia no Rio de Janeiro, em 2019.

Kiko Mascarenhas protagoniza o solo 'Todas as Coisas Maravilhosas' no Tucarena, em SP. Foto: Gab Lara/Divulgação

Cinco anos depois e atravessada por uma pandemia que a ressignificou, inclusive para o protagonista, Todas as Coisas Maravilhosas chega a São Paulo em temporada, em cartaz no Tucarena desde a última sexta, 8, sob a direção de Fernando Philbert.

No decorrer da trama, o garoto cresce, entra na faculdade, começa a trabalhar, se apaixona, vibra com o casamento e sofre com a separação, sempre lidando com a depressão materna e escrevendo listas para aproveitar um dia de cada vez.

Até a hora em que descobre que estas anotações servem de estímulo para ele mesmo – seja aos sete anos, aos 17, depois dos 30 ou aos 59, não por coincidência a idade de seu intérprete hoje. “A peça fala de como a gente pode seguir adiante e, se usarmos a imaginação, viveremos melhor o presente e conseguiremos olhar para o futuro”, conta Mascarenhas, que, em quatro décadas de carreira, faz o primeiro monólogo.

Depressão

O intérprete que estreou Todas as Coisas Maravilhosas em 2019 é bastante diferente do que entra em cartaz na capital paulista essa semana. Mascarenhas, que sempre foi um sujeito tranquilo, otimista e pouco afeito à melancolia, sentiu na pele a barra pesada da depressão na reta final da pandemia de covid-19.

Kiko Mascarenhas passou por uma depressão durante a pandemia de covid-19. A doença é tema da peça 'Todas as Coisas Maravilhosas'. Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Em março de 2020, quando o mundo parou, ele sofria com o fim de um longo relacionamento decretado poucos meses antes, e o isolamento social serviu como um movimento de salvação, uma reconstrução de si mesmo para, novamente solteiro, tocar adiante o seu barco.

O ator pegava sol na varanda, cozinhava muito, aprendeu a fazer pão e desenhava, desenhava feito louco. “Minha casa virou um ateliê”, brinca. Deixou o trabalho de lado em 2020 e 2021 e só percebeu o quanto estava mal quando voltou a um estúdio de televisão para novamente enfrentar a rotina de nove ou dez meses de gravações de um projeto e tremeu com o medo de não dar conta da responsabilidade.

As crises constantes de ansiedade e pânico foram diagnosticadas como depressão, e Mascarenhas só pensava que podia morrer a qualquer momento. “Eu não conseguia me levantar da cama, não atendia telefone e, quando saí de casa, ainda peguei covid e fiquei mais desestruturado”, lembra. “Neste momento, veio o tratamento com psiquiatra, a medicação, a terapia e fui me reerguendo aos poucos.”

Em 'Todas as Coisas Maravilhosas', Kiko Mascarenhas vive homem cuja vida foi marcada pela depressão da mãe.  Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Mascarenhas entendeu que aquele espetáculo sobre resistência e esperança ganhou outro sentido para o artista e para o ser humano. “Depois de atravessar essa experiência, fui para o palco com outra mentalidade porque, agora, falo de mim mesmo, eu me identifico e me dilacero com as dores do personagem”, reconhece.

As próprias listas

Antes de retomar a montagem, em julho do ano passado, o ator começou a elaborar as próprias listas de motivação. Fez uma longa viagem para Portugal e Espanha, comeu e bebeu bem, usufruiu de dias ensolarados e deu risadas com os amigos.

“A medicação surtiu efeito e me senti capaz de tomar decisões, como a de voltar ao cartaz com a peça”, diz. “Pode aparecer bobagem, mas valorizei a beleza de ver a chuva caindo e de sentir o cheiro de um café fresquinho.”

'Todas as Coisas Maravilhosas' é o primeiro monólogo da Kiko Mascarenhas em quatro décadas de carreira. Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Para a temporada paulistana, o artista tem uma lista pronta que deve ditar os seus passos nos próximos quatro meses. Ele, que morou em São Paulo na década de 1990, pretende reencontrar os amigos e conhecer gente nova, caminhar no Parque do Ibirapuera e no Minhocão, descobrir restaurantes recém-inaugurados e trocar ideias com quem for assistir ao espetáculo.

“Eu nunca fui de me abater, sempre fui o cara que botava uma música, dançava sozinho no meio da sala de casa e ficava bem com o que me acontecia, até que, um dia, eu me vi paralisado e sem condições de reagir”, declara. “A gente nunca deve esquecer que a nossa mente pode adoecer e essa peça me levantou de novo.”

Serviço

Todas as Coisas Maravilhosas. Tucarena. Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 100,00. Até 30 de junho. A partir de 8 de março.

Na peça Todas as Coisas Maravilhosas, um menino de sete anos descobre que a mãe foi derrubada pela tristeza e perdeu o interesse em continuar viva. Para fazê-la mudar de ideia, o garoto espalha mensagens pelos cantos da casa para que ela enxergue as delícias do cotidiano, como o sabor refrescante de um sorvete ou a beleza do sol e da cor amarela.

O texto dos ingleses Duncan MacMillan e Joe Donahue caiu nas mãos do ator carioca Kiko Mascarenhas, de 59 anos, em 2016, e sua reação foi de negação, um tanto reativa: “Essa peça trata de depressão, de suicídio, não tenho a menor vontade em falar disso no palco”.

O tradutor, adaptador e pesquisador Diego Teza rebateu de imediato, alegando que não era nada disso. “É uma história de resistência e esperança”, justificou. Nesta hora, a cabeça de Mascarenhas deu um giro e ele enxergou o enredo com um outro olhar, com o jeito que passou a interpretá-lo desde a estreia no Rio de Janeiro, em 2019.

Kiko Mascarenhas protagoniza o solo 'Todas as Coisas Maravilhosas' no Tucarena, em SP. Foto: Gab Lara/Divulgação

Cinco anos depois e atravessada por uma pandemia que a ressignificou, inclusive para o protagonista, Todas as Coisas Maravilhosas chega a São Paulo em temporada, em cartaz no Tucarena desde a última sexta, 8, sob a direção de Fernando Philbert.

No decorrer da trama, o garoto cresce, entra na faculdade, começa a trabalhar, se apaixona, vibra com o casamento e sofre com a separação, sempre lidando com a depressão materna e escrevendo listas para aproveitar um dia de cada vez.

Até a hora em que descobre que estas anotações servem de estímulo para ele mesmo – seja aos sete anos, aos 17, depois dos 30 ou aos 59, não por coincidência a idade de seu intérprete hoje. “A peça fala de como a gente pode seguir adiante e, se usarmos a imaginação, viveremos melhor o presente e conseguiremos olhar para o futuro”, conta Mascarenhas, que, em quatro décadas de carreira, faz o primeiro monólogo.

Depressão

O intérprete que estreou Todas as Coisas Maravilhosas em 2019 é bastante diferente do que entra em cartaz na capital paulista essa semana. Mascarenhas, que sempre foi um sujeito tranquilo, otimista e pouco afeito à melancolia, sentiu na pele a barra pesada da depressão na reta final da pandemia de covid-19.

Kiko Mascarenhas passou por uma depressão durante a pandemia de covid-19. A doença é tema da peça 'Todas as Coisas Maravilhosas'. Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Em março de 2020, quando o mundo parou, ele sofria com o fim de um longo relacionamento decretado poucos meses antes, e o isolamento social serviu como um movimento de salvação, uma reconstrução de si mesmo para, novamente solteiro, tocar adiante o seu barco.

O ator pegava sol na varanda, cozinhava muito, aprendeu a fazer pão e desenhava, desenhava feito louco. “Minha casa virou um ateliê”, brinca. Deixou o trabalho de lado em 2020 e 2021 e só percebeu o quanto estava mal quando voltou a um estúdio de televisão para novamente enfrentar a rotina de nove ou dez meses de gravações de um projeto e tremeu com o medo de não dar conta da responsabilidade.

As crises constantes de ansiedade e pânico foram diagnosticadas como depressão, e Mascarenhas só pensava que podia morrer a qualquer momento. “Eu não conseguia me levantar da cama, não atendia telefone e, quando saí de casa, ainda peguei covid e fiquei mais desestruturado”, lembra. “Neste momento, veio o tratamento com psiquiatra, a medicação, a terapia e fui me reerguendo aos poucos.”

Em 'Todas as Coisas Maravilhosas', Kiko Mascarenhas vive homem cuja vida foi marcada pela depressão da mãe.  Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Mascarenhas entendeu que aquele espetáculo sobre resistência e esperança ganhou outro sentido para o artista e para o ser humano. “Depois de atravessar essa experiência, fui para o palco com outra mentalidade porque, agora, falo de mim mesmo, eu me identifico e me dilacero com as dores do personagem”, reconhece.

As próprias listas

Antes de retomar a montagem, em julho do ano passado, o ator começou a elaborar as próprias listas de motivação. Fez uma longa viagem para Portugal e Espanha, comeu e bebeu bem, usufruiu de dias ensolarados e deu risadas com os amigos.

“A medicação surtiu efeito e me senti capaz de tomar decisões, como a de voltar ao cartaz com a peça”, diz. “Pode aparecer bobagem, mas valorizei a beleza de ver a chuva caindo e de sentir o cheiro de um café fresquinho.”

'Todas as Coisas Maravilhosas' é o primeiro monólogo da Kiko Mascarenhas em quatro décadas de carreira. Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

Para a temporada paulistana, o artista tem uma lista pronta que deve ditar os seus passos nos próximos quatro meses. Ele, que morou em São Paulo na década de 1990, pretende reencontrar os amigos e conhecer gente nova, caminhar no Parque do Ibirapuera e no Minhocão, descobrir restaurantes recém-inaugurados e trocar ideias com quem for assistir ao espetáculo.

“Eu nunca fui de me abater, sempre fui o cara que botava uma música, dançava sozinho no meio da sala de casa e ficava bem com o que me acontecia, até que, um dia, eu me vi paralisado e sem condições de reagir”, declara. “A gente nunca deve esquecer que a nossa mente pode adoecer e essa peça me levantou de novo.”

Serviço

Todas as Coisas Maravilhosas. Tucarena. Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 100,00. Até 30 de junho. A partir de 8 de março.

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