Renato Aragão: ‘Didi é uma criança engraçada e trapalhona. Renato é tímido e observador’


Comediante participará do musical ‘O Adorável Trapalhão’, que estreia em São Paulo para contar sua história e celebrar sua atuação em ‘Os Trapalhões’; ao ‘Estadão’, ele diz, aos 89 anos, que sente falta de fazer TV e que segue com sua missão de divertir crianças e adultos

Por Danilo Casaletti
Atualização:
Foto: Pedro Dimitrow
Entrevista comRenato AragãoComediante

Renato Aragão, 89 anos, quer agora conquistar o “da poltrona” do teatro. Um dos mais importantes comediantes brasileiros estreia nesta sexta-feira, 19, no musical O Adorável Trapalhão, no Teatro VillaLobos, em São Paulo.

Concebida pela ator Rafael Aragão e dirigida por José Possi Neto, a comédia musical, descrita como uma “festa de palhaços”, vai percorrer a trajetória de Renato desde sua infância no Ceará até chegar ao personagem Didi, sua maior criação, que ganhou fama no programa Os Trapalhões ao lado de Dedé, Mussum e Zacarias.

Ao Estadão, Renato disse que recebe o musical como uma “homenagem muito especial”. O comediante diz que tudo o que fez durante a carreira sempre foi para agradar o público e que foi salvo por seus admiradores quando os críticos classificaram seu humor como “de sarjeta”. “O povo estava sempre lá para me dar força, coragem e me aplaudir”, diz.

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Renato deixou a TV Globo em 2020, após 44 anos de atuação na emissora. Desde 2012 ele não era mais o apresentador do Criança Esperança, projeto ligado à Unesco que ajudou a implementar ao lado dos colegas de Os Trapalhões. Em 2023, ficou definitivamente fora da atração. O comediante diz que sente falta de estar na TV. " É algo da minha essência, que amo fazer”, diz.

Rafael Aragão e Renato Aragão no espetáculo 'O Adorável Trapalhão' Foto: Pedro Dimitrow

A participação de Renato no musical O Adorável Trapalhão se dará em momentos pontuais do espetáculo, como Renato e Didi, ambos interpretados por Rafael, recebem elogios justamente pela ajuda dada às crianças brasileiras por meio do Criança Esperança.

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“Nesse momento, eu peço licença e o convido ao palco, já que ele é o verdadeiro merecedor dessas palavras de afeto. Essa é a primeira aparição de Renato no espetáculo e promete comover toda a plateia”, adianta Rafael, idealizador do projeto, à reportagem do Estadão.

Rafael, aliás, que, apesar do sobrenome e de ser cearense, não é parente de Renato. “Essa foi a pergunta que mais escutei na minha vida. Passei mais de 30 anos respondendo ‘não’”, diz o ator.

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“Quando nos encontramos pela primeira vez, foi inevitável a abordagem do tema. A família Aragão é uma só. Então, automaticamente, a Lilian e o Renato começaram a me chamar carinhosamente de sobrinho, e lógico que todos os meus 30 anos negando foram por terra. Logo comecei a chamá-los de tios”, conta Rafael, que fez sua carreira principalmente no teatro, com atuações em O Musical Mamonas, Uma Noite na Broadway e Silvio Santos Vem Aí.

Confira a entrevista com Renato Aragão

O musical vai abordar sua infância em Sobral, no Ceará, nas décadas de 1930 e 1940. Gostaria de saber o que, naquela época, despertou no senhor o desejo de ser um artista, roteirista e produtor. Foi o rádio, o cinema, a literatura, o circo? De que maneira a arte o atingiu naquela época?

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Eu era muito criança [quando vivia em Sobral], mas, desde a adolescência, eu me apaixonei pelos filmes do Oscarito. O jeito dele, a maneira como fazia rir, como cativar a audiência...Simplesmente me encantou e me capturou para essa magia do cinema.

O circo sempre esteve presente em sua carreira, em apresentações, nos filmes, no programa na TV, e, agora, também nesse musical. O circo, expressão essencialmente popular e democrática, foi essencial para a formação da comédia brasileira?

O circo é extremamente importante para a cultura brasileira. Atinge a todos, consegue falar com todos. É importantíssimo não apenas para a arte brasileira, mas para a universal.

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O senhor é formado em Direito, apesar de não ter exercido a profissão. Encontrou alguma resistência da família quando anunciou que seria artista?

De jeito nenhum. Meus pais sempre me educaram e me compreenderam. Eles sempre foram o meu apoio em tudo o que eu desejei fazer.

O senhor, muitas vezes, se define como um “palhaço”, algo empático e popular. Mas, no início, o humor que o senhor fazia era chamado de “sarjeta”. Sofreu com esse tipo de preconceito e o que fez para superá-lo?

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Eram pessoas que de alguma maneira queriam me atingir. Mas, graças a Deus, não conseguiram. Isso porque o meu público, o povo, estava sempre lá para me dar força, coragem e me aplaudir.

Sempre quis agradar o público, fazer as crianças sorrir. Nunca fiz nada pensando em atacar quem quer que fosse

Esse musical, assim como muitas outras produções, sobretudo no cinema, fizeram do senhor também um grande realizador. De onde veio esse talento e a vontade para realizar, mesmo, às vezes, em condições adversas, principalmente no início de carreira?

Eu trabalhei muito para concretizar os meus sonhos, especialmente o de ser um incentivador do cinema nacional. Sempre quis agradar o público, fazer as crianças sorrir. Nunca fiz nada pensando em atacar quem quer que fosse.

Por falar em cinema, diversos filmes de Os Trapalhões estão entre as maiores bilheterias do cinema nacional de todos os tempos. O senhor tem a dimensão desse feito?

Na verdade, eu nem tenho ideia dessa importância. Meu foco sempre foi o público mesmo. Queria agradar as pessoas que gostavam do meu trabalho.

Consta que o senhor é um cinéfilo. Conhece a fundo a obra dos grandes diretores mundiais. O que tem gostado de assistir atualmente? Também aderiu às maratonas de séries ofertadas pelo streaming?

Tenho gostado de assistir a filmes infantis, aqueles que são bons e edificantes para as crianças. Há muitos filmes bons, mas não vou citar nenhum para não ser injusto com ninguém.

O programa Os Trapalhões ainda é uma das grandes referências do humor brasileiro. E deu muito certo por conta de seus quatro protagonistas: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Com o distanciamento do tempo desde que o programa acabou, o senhor já conseguiu uma explicação para uma trupe conseguir entrosamento tão especial?

Penso que Deus nos uniu na missão de trazer alegria, diversão e muito amor para as crianças e para as famílias. Esse é o segredo e a explicação [para ter dado certo]. Nós sempre estimamos, respeitamos e gostamos de fazer o que fazíamos.

Mussum, Didi, Dedé e Zacarias, Os Trapalhões, em cena do filme 'Os Saltimbancos' Foto: Arquivo/Estadão

Por ser esse sucesso todo, Os Trapalhões despertam a curiosidade de fãs e estudiosos até hoje. Há livros e debates em podcasts. Muitas histórias pessoais de seus integrantes são contadas, como bastidores nem sempre harmoniosos e supostas brigas. Como o senhor vê esse tipo de especulação que, muitas vezes, não o coloca em uma boa posição?

As pessoas têm o hábito de contar uma história da qual não fizeram parte, que não viveram. Algumas até com boas intenções. Outras, com a vontade apenas de aparecer. Eu tenho a vivência! A lembrança de tudo o que vivemos, do que passamos. Para mim, foi uma trajetória digna, que motiva muita gratidão.

O Renato é muito diferente do Didi? Ou o Didi, com o tempo, foi tomando conta do Renato?

O Didi e o Renato se completam. Cada um em sua particularidade e singularidade. Mas, amalgamados, sim. Não é possível saber onde um começa e o outro termina. O Didi é uma criança engraçada, brincalhona e trapalhona. O Renato é tímido, introvertido e observador.

Como o senhor analisa a comédia no Brasil atualmente, com formatos que não passam pela TV, como o stand up, os podcasts e as redes sociais?

Cada humor tem seu tempo. Para falar com as pessoas, é preciso se adaptar, se atualizar. De outra forma, não é possível alcançar a finalidade de fazer rir e divertir o público.

O senhor sente falta de estar na TV? Acha que teria espaço na televisão de hoje?

Sinto muita falta de estar na televisão. É algo da minha essência, que amo fazer. Sim, acredito que ainda hoje eu teria espaço.

Há algo que o senhor ainda gostaria de realizar?

Deixa eu pensar... Quero continuar a fazer o que amo: cinema, televisão…onde eu puder fazer rir crianças e adultos.

Serviço

O Adorável Trapalhão, O Musical

Onde: Teatro VillaLobos. Av. Drª Ruth Cardoso, 4.777, Jd. Universidade Pinheiros.

Quando: De 19/4 a 26/5. 6ªs, 20h; sábados e domingos, 16h e 20h.

Quanto: R$ 39,60/R$ 280.

Renato Aragão, 89 anos, quer agora conquistar o “da poltrona” do teatro. Um dos mais importantes comediantes brasileiros estreia nesta sexta-feira, 19, no musical O Adorável Trapalhão, no Teatro VillaLobos, em São Paulo.

Concebida pela ator Rafael Aragão e dirigida por José Possi Neto, a comédia musical, descrita como uma “festa de palhaços”, vai percorrer a trajetória de Renato desde sua infância no Ceará até chegar ao personagem Didi, sua maior criação, que ganhou fama no programa Os Trapalhões ao lado de Dedé, Mussum e Zacarias.

Ao Estadão, Renato disse que recebe o musical como uma “homenagem muito especial”. O comediante diz que tudo o que fez durante a carreira sempre foi para agradar o público e que foi salvo por seus admiradores quando os críticos classificaram seu humor como “de sarjeta”. “O povo estava sempre lá para me dar força, coragem e me aplaudir”, diz.

Renato deixou a TV Globo em 2020, após 44 anos de atuação na emissora. Desde 2012 ele não era mais o apresentador do Criança Esperança, projeto ligado à Unesco que ajudou a implementar ao lado dos colegas de Os Trapalhões. Em 2023, ficou definitivamente fora da atração. O comediante diz que sente falta de estar na TV. " É algo da minha essência, que amo fazer”, diz.

Rafael Aragão e Renato Aragão no espetáculo 'O Adorável Trapalhão' Foto: Pedro Dimitrow

A participação de Renato no musical O Adorável Trapalhão se dará em momentos pontuais do espetáculo, como Renato e Didi, ambos interpretados por Rafael, recebem elogios justamente pela ajuda dada às crianças brasileiras por meio do Criança Esperança.

“Nesse momento, eu peço licença e o convido ao palco, já que ele é o verdadeiro merecedor dessas palavras de afeto. Essa é a primeira aparição de Renato no espetáculo e promete comover toda a plateia”, adianta Rafael, idealizador do projeto, à reportagem do Estadão.

Rafael, aliás, que, apesar do sobrenome e de ser cearense, não é parente de Renato. “Essa foi a pergunta que mais escutei na minha vida. Passei mais de 30 anos respondendo ‘não’”, diz o ator.

“Quando nos encontramos pela primeira vez, foi inevitável a abordagem do tema. A família Aragão é uma só. Então, automaticamente, a Lilian e o Renato começaram a me chamar carinhosamente de sobrinho, e lógico que todos os meus 30 anos negando foram por terra. Logo comecei a chamá-los de tios”, conta Rafael, que fez sua carreira principalmente no teatro, com atuações em O Musical Mamonas, Uma Noite na Broadway e Silvio Santos Vem Aí.

Confira a entrevista com Renato Aragão

O musical vai abordar sua infância em Sobral, no Ceará, nas décadas de 1930 e 1940. Gostaria de saber o que, naquela época, despertou no senhor o desejo de ser um artista, roteirista e produtor. Foi o rádio, o cinema, a literatura, o circo? De que maneira a arte o atingiu naquela época?

Eu era muito criança [quando vivia em Sobral], mas, desde a adolescência, eu me apaixonei pelos filmes do Oscarito. O jeito dele, a maneira como fazia rir, como cativar a audiência...Simplesmente me encantou e me capturou para essa magia do cinema.

O circo sempre esteve presente em sua carreira, em apresentações, nos filmes, no programa na TV, e, agora, também nesse musical. O circo, expressão essencialmente popular e democrática, foi essencial para a formação da comédia brasileira?

O circo é extremamente importante para a cultura brasileira. Atinge a todos, consegue falar com todos. É importantíssimo não apenas para a arte brasileira, mas para a universal.

O senhor é formado em Direito, apesar de não ter exercido a profissão. Encontrou alguma resistência da família quando anunciou que seria artista?

De jeito nenhum. Meus pais sempre me educaram e me compreenderam. Eles sempre foram o meu apoio em tudo o que eu desejei fazer.

O senhor, muitas vezes, se define como um “palhaço”, algo empático e popular. Mas, no início, o humor que o senhor fazia era chamado de “sarjeta”. Sofreu com esse tipo de preconceito e o que fez para superá-lo?

Eram pessoas que de alguma maneira queriam me atingir. Mas, graças a Deus, não conseguiram. Isso porque o meu público, o povo, estava sempre lá para me dar força, coragem e me aplaudir.

Sempre quis agradar o público, fazer as crianças sorrir. Nunca fiz nada pensando em atacar quem quer que fosse

Esse musical, assim como muitas outras produções, sobretudo no cinema, fizeram do senhor também um grande realizador. De onde veio esse talento e a vontade para realizar, mesmo, às vezes, em condições adversas, principalmente no início de carreira?

Eu trabalhei muito para concretizar os meus sonhos, especialmente o de ser um incentivador do cinema nacional. Sempre quis agradar o público, fazer as crianças sorrir. Nunca fiz nada pensando em atacar quem quer que fosse.

Por falar em cinema, diversos filmes de Os Trapalhões estão entre as maiores bilheterias do cinema nacional de todos os tempos. O senhor tem a dimensão desse feito?

Na verdade, eu nem tenho ideia dessa importância. Meu foco sempre foi o público mesmo. Queria agradar as pessoas que gostavam do meu trabalho.

Consta que o senhor é um cinéfilo. Conhece a fundo a obra dos grandes diretores mundiais. O que tem gostado de assistir atualmente? Também aderiu às maratonas de séries ofertadas pelo streaming?

Tenho gostado de assistir a filmes infantis, aqueles que são bons e edificantes para as crianças. Há muitos filmes bons, mas não vou citar nenhum para não ser injusto com ninguém.

O programa Os Trapalhões ainda é uma das grandes referências do humor brasileiro. E deu muito certo por conta de seus quatro protagonistas: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Com o distanciamento do tempo desde que o programa acabou, o senhor já conseguiu uma explicação para uma trupe conseguir entrosamento tão especial?

Penso que Deus nos uniu na missão de trazer alegria, diversão e muito amor para as crianças e para as famílias. Esse é o segredo e a explicação [para ter dado certo]. Nós sempre estimamos, respeitamos e gostamos de fazer o que fazíamos.

Mussum, Didi, Dedé e Zacarias, Os Trapalhões, em cena do filme 'Os Saltimbancos' Foto: Arquivo/Estadão

Por ser esse sucesso todo, Os Trapalhões despertam a curiosidade de fãs e estudiosos até hoje. Há livros e debates em podcasts. Muitas histórias pessoais de seus integrantes são contadas, como bastidores nem sempre harmoniosos e supostas brigas. Como o senhor vê esse tipo de especulação que, muitas vezes, não o coloca em uma boa posição?

As pessoas têm o hábito de contar uma história da qual não fizeram parte, que não viveram. Algumas até com boas intenções. Outras, com a vontade apenas de aparecer. Eu tenho a vivência! A lembrança de tudo o que vivemos, do que passamos. Para mim, foi uma trajetória digna, que motiva muita gratidão.

O Renato é muito diferente do Didi? Ou o Didi, com o tempo, foi tomando conta do Renato?

O Didi e o Renato se completam. Cada um em sua particularidade e singularidade. Mas, amalgamados, sim. Não é possível saber onde um começa e o outro termina. O Didi é uma criança engraçada, brincalhona e trapalhona. O Renato é tímido, introvertido e observador.

Como o senhor analisa a comédia no Brasil atualmente, com formatos que não passam pela TV, como o stand up, os podcasts e as redes sociais?

Cada humor tem seu tempo. Para falar com as pessoas, é preciso se adaptar, se atualizar. De outra forma, não é possível alcançar a finalidade de fazer rir e divertir o público.

O senhor sente falta de estar na TV? Acha que teria espaço na televisão de hoje?

Sinto muita falta de estar na televisão. É algo da minha essência, que amo fazer. Sim, acredito que ainda hoje eu teria espaço.

Há algo que o senhor ainda gostaria de realizar?

Deixa eu pensar... Quero continuar a fazer o que amo: cinema, televisão…onde eu puder fazer rir crianças e adultos.

Serviço

O Adorável Trapalhão, O Musical

Onde: Teatro VillaLobos. Av. Drª Ruth Cardoso, 4.777, Jd. Universidade Pinheiros.

Quando: De 19/4 a 26/5. 6ªs, 20h; sábados e domingos, 16h e 20h.

Quanto: R$ 39,60/R$ 280.

Renato Aragão, 89 anos, quer agora conquistar o “da poltrona” do teatro. Um dos mais importantes comediantes brasileiros estreia nesta sexta-feira, 19, no musical O Adorável Trapalhão, no Teatro VillaLobos, em São Paulo.

Concebida pela ator Rafael Aragão e dirigida por José Possi Neto, a comédia musical, descrita como uma “festa de palhaços”, vai percorrer a trajetória de Renato desde sua infância no Ceará até chegar ao personagem Didi, sua maior criação, que ganhou fama no programa Os Trapalhões ao lado de Dedé, Mussum e Zacarias.

Ao Estadão, Renato disse que recebe o musical como uma “homenagem muito especial”. O comediante diz que tudo o que fez durante a carreira sempre foi para agradar o público e que foi salvo por seus admiradores quando os críticos classificaram seu humor como “de sarjeta”. “O povo estava sempre lá para me dar força, coragem e me aplaudir”, diz.

Renato deixou a TV Globo em 2020, após 44 anos de atuação na emissora. Desde 2012 ele não era mais o apresentador do Criança Esperança, projeto ligado à Unesco que ajudou a implementar ao lado dos colegas de Os Trapalhões. Em 2023, ficou definitivamente fora da atração. O comediante diz que sente falta de estar na TV. " É algo da minha essência, que amo fazer”, diz.

Rafael Aragão e Renato Aragão no espetáculo 'O Adorável Trapalhão' Foto: Pedro Dimitrow

A participação de Renato no musical O Adorável Trapalhão se dará em momentos pontuais do espetáculo, como Renato e Didi, ambos interpretados por Rafael, recebem elogios justamente pela ajuda dada às crianças brasileiras por meio do Criança Esperança.

“Nesse momento, eu peço licença e o convido ao palco, já que ele é o verdadeiro merecedor dessas palavras de afeto. Essa é a primeira aparição de Renato no espetáculo e promete comover toda a plateia”, adianta Rafael, idealizador do projeto, à reportagem do Estadão.

Rafael, aliás, que, apesar do sobrenome e de ser cearense, não é parente de Renato. “Essa foi a pergunta que mais escutei na minha vida. Passei mais de 30 anos respondendo ‘não’”, diz o ator.

“Quando nos encontramos pela primeira vez, foi inevitável a abordagem do tema. A família Aragão é uma só. Então, automaticamente, a Lilian e o Renato começaram a me chamar carinhosamente de sobrinho, e lógico que todos os meus 30 anos negando foram por terra. Logo comecei a chamá-los de tios”, conta Rafael, que fez sua carreira principalmente no teatro, com atuações em O Musical Mamonas, Uma Noite na Broadway e Silvio Santos Vem Aí.

Confira a entrevista com Renato Aragão

O musical vai abordar sua infância em Sobral, no Ceará, nas décadas de 1930 e 1940. Gostaria de saber o que, naquela época, despertou no senhor o desejo de ser um artista, roteirista e produtor. Foi o rádio, o cinema, a literatura, o circo? De que maneira a arte o atingiu naquela época?

Eu era muito criança [quando vivia em Sobral], mas, desde a adolescência, eu me apaixonei pelos filmes do Oscarito. O jeito dele, a maneira como fazia rir, como cativar a audiência...Simplesmente me encantou e me capturou para essa magia do cinema.

O circo sempre esteve presente em sua carreira, em apresentações, nos filmes, no programa na TV, e, agora, também nesse musical. O circo, expressão essencialmente popular e democrática, foi essencial para a formação da comédia brasileira?

O circo é extremamente importante para a cultura brasileira. Atinge a todos, consegue falar com todos. É importantíssimo não apenas para a arte brasileira, mas para a universal.

O senhor é formado em Direito, apesar de não ter exercido a profissão. Encontrou alguma resistência da família quando anunciou que seria artista?

De jeito nenhum. Meus pais sempre me educaram e me compreenderam. Eles sempre foram o meu apoio em tudo o que eu desejei fazer.

O senhor, muitas vezes, se define como um “palhaço”, algo empático e popular. Mas, no início, o humor que o senhor fazia era chamado de “sarjeta”. Sofreu com esse tipo de preconceito e o que fez para superá-lo?

Eram pessoas que de alguma maneira queriam me atingir. Mas, graças a Deus, não conseguiram. Isso porque o meu público, o povo, estava sempre lá para me dar força, coragem e me aplaudir.

Sempre quis agradar o público, fazer as crianças sorrir. Nunca fiz nada pensando em atacar quem quer que fosse

Esse musical, assim como muitas outras produções, sobretudo no cinema, fizeram do senhor também um grande realizador. De onde veio esse talento e a vontade para realizar, mesmo, às vezes, em condições adversas, principalmente no início de carreira?

Eu trabalhei muito para concretizar os meus sonhos, especialmente o de ser um incentivador do cinema nacional. Sempre quis agradar o público, fazer as crianças sorrir. Nunca fiz nada pensando em atacar quem quer que fosse.

Por falar em cinema, diversos filmes de Os Trapalhões estão entre as maiores bilheterias do cinema nacional de todos os tempos. O senhor tem a dimensão desse feito?

Na verdade, eu nem tenho ideia dessa importância. Meu foco sempre foi o público mesmo. Queria agradar as pessoas que gostavam do meu trabalho.

Consta que o senhor é um cinéfilo. Conhece a fundo a obra dos grandes diretores mundiais. O que tem gostado de assistir atualmente? Também aderiu às maratonas de séries ofertadas pelo streaming?

Tenho gostado de assistir a filmes infantis, aqueles que são bons e edificantes para as crianças. Há muitos filmes bons, mas não vou citar nenhum para não ser injusto com ninguém.

O programa Os Trapalhões ainda é uma das grandes referências do humor brasileiro. E deu muito certo por conta de seus quatro protagonistas: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Com o distanciamento do tempo desde que o programa acabou, o senhor já conseguiu uma explicação para uma trupe conseguir entrosamento tão especial?

Penso que Deus nos uniu na missão de trazer alegria, diversão e muito amor para as crianças e para as famílias. Esse é o segredo e a explicação [para ter dado certo]. Nós sempre estimamos, respeitamos e gostamos de fazer o que fazíamos.

Mussum, Didi, Dedé e Zacarias, Os Trapalhões, em cena do filme 'Os Saltimbancos' Foto: Arquivo/Estadão

Por ser esse sucesso todo, Os Trapalhões despertam a curiosidade de fãs e estudiosos até hoje. Há livros e debates em podcasts. Muitas histórias pessoais de seus integrantes são contadas, como bastidores nem sempre harmoniosos e supostas brigas. Como o senhor vê esse tipo de especulação que, muitas vezes, não o coloca em uma boa posição?

As pessoas têm o hábito de contar uma história da qual não fizeram parte, que não viveram. Algumas até com boas intenções. Outras, com a vontade apenas de aparecer. Eu tenho a vivência! A lembrança de tudo o que vivemos, do que passamos. Para mim, foi uma trajetória digna, que motiva muita gratidão.

O Renato é muito diferente do Didi? Ou o Didi, com o tempo, foi tomando conta do Renato?

O Didi e o Renato se completam. Cada um em sua particularidade e singularidade. Mas, amalgamados, sim. Não é possível saber onde um começa e o outro termina. O Didi é uma criança engraçada, brincalhona e trapalhona. O Renato é tímido, introvertido e observador.

Como o senhor analisa a comédia no Brasil atualmente, com formatos que não passam pela TV, como o stand up, os podcasts e as redes sociais?

Cada humor tem seu tempo. Para falar com as pessoas, é preciso se adaptar, se atualizar. De outra forma, não é possível alcançar a finalidade de fazer rir e divertir o público.

O senhor sente falta de estar na TV? Acha que teria espaço na televisão de hoje?

Sinto muita falta de estar na televisão. É algo da minha essência, que amo fazer. Sim, acredito que ainda hoje eu teria espaço.

Há algo que o senhor ainda gostaria de realizar?

Deixa eu pensar... Quero continuar a fazer o que amo: cinema, televisão…onde eu puder fazer rir crianças e adultos.

Serviço

O Adorável Trapalhão, O Musical

Onde: Teatro VillaLobos. Av. Drª Ruth Cardoso, 4.777, Jd. Universidade Pinheiros.

Quando: De 19/4 a 26/5. 6ªs, 20h; sábados e domingos, 16h e 20h.

Quanto: R$ 39,60/R$ 280.

Renato Aragão, 89 anos, quer agora conquistar o “da poltrona” do teatro. Um dos mais importantes comediantes brasileiros estreia nesta sexta-feira, 19, no musical O Adorável Trapalhão, no Teatro VillaLobos, em São Paulo.

Concebida pela ator Rafael Aragão e dirigida por José Possi Neto, a comédia musical, descrita como uma “festa de palhaços”, vai percorrer a trajetória de Renato desde sua infância no Ceará até chegar ao personagem Didi, sua maior criação, que ganhou fama no programa Os Trapalhões ao lado de Dedé, Mussum e Zacarias.

Ao Estadão, Renato disse que recebe o musical como uma “homenagem muito especial”. O comediante diz que tudo o que fez durante a carreira sempre foi para agradar o público e que foi salvo por seus admiradores quando os críticos classificaram seu humor como “de sarjeta”. “O povo estava sempre lá para me dar força, coragem e me aplaudir”, diz.

Renato deixou a TV Globo em 2020, após 44 anos de atuação na emissora. Desde 2012 ele não era mais o apresentador do Criança Esperança, projeto ligado à Unesco que ajudou a implementar ao lado dos colegas de Os Trapalhões. Em 2023, ficou definitivamente fora da atração. O comediante diz que sente falta de estar na TV. " É algo da minha essência, que amo fazer”, diz.

Rafael Aragão e Renato Aragão no espetáculo 'O Adorável Trapalhão' Foto: Pedro Dimitrow

A participação de Renato no musical O Adorável Trapalhão se dará em momentos pontuais do espetáculo, como Renato e Didi, ambos interpretados por Rafael, recebem elogios justamente pela ajuda dada às crianças brasileiras por meio do Criança Esperança.

“Nesse momento, eu peço licença e o convido ao palco, já que ele é o verdadeiro merecedor dessas palavras de afeto. Essa é a primeira aparição de Renato no espetáculo e promete comover toda a plateia”, adianta Rafael, idealizador do projeto, à reportagem do Estadão.

Rafael, aliás, que, apesar do sobrenome e de ser cearense, não é parente de Renato. “Essa foi a pergunta que mais escutei na minha vida. Passei mais de 30 anos respondendo ‘não’”, diz o ator.

“Quando nos encontramos pela primeira vez, foi inevitável a abordagem do tema. A família Aragão é uma só. Então, automaticamente, a Lilian e o Renato começaram a me chamar carinhosamente de sobrinho, e lógico que todos os meus 30 anos negando foram por terra. Logo comecei a chamá-los de tios”, conta Rafael, que fez sua carreira principalmente no teatro, com atuações em O Musical Mamonas, Uma Noite na Broadway e Silvio Santos Vem Aí.

Confira a entrevista com Renato Aragão

O musical vai abordar sua infância em Sobral, no Ceará, nas décadas de 1930 e 1940. Gostaria de saber o que, naquela época, despertou no senhor o desejo de ser um artista, roteirista e produtor. Foi o rádio, o cinema, a literatura, o circo? De que maneira a arte o atingiu naquela época?

Eu era muito criança [quando vivia em Sobral], mas, desde a adolescência, eu me apaixonei pelos filmes do Oscarito. O jeito dele, a maneira como fazia rir, como cativar a audiência...Simplesmente me encantou e me capturou para essa magia do cinema.

O circo sempre esteve presente em sua carreira, em apresentações, nos filmes, no programa na TV, e, agora, também nesse musical. O circo, expressão essencialmente popular e democrática, foi essencial para a formação da comédia brasileira?

O circo é extremamente importante para a cultura brasileira. Atinge a todos, consegue falar com todos. É importantíssimo não apenas para a arte brasileira, mas para a universal.

O senhor é formado em Direito, apesar de não ter exercido a profissão. Encontrou alguma resistência da família quando anunciou que seria artista?

De jeito nenhum. Meus pais sempre me educaram e me compreenderam. Eles sempre foram o meu apoio em tudo o que eu desejei fazer.

O senhor, muitas vezes, se define como um “palhaço”, algo empático e popular. Mas, no início, o humor que o senhor fazia era chamado de “sarjeta”. Sofreu com esse tipo de preconceito e o que fez para superá-lo?

Eram pessoas que de alguma maneira queriam me atingir. Mas, graças a Deus, não conseguiram. Isso porque o meu público, o povo, estava sempre lá para me dar força, coragem e me aplaudir.

Sempre quis agradar o público, fazer as crianças sorrir. Nunca fiz nada pensando em atacar quem quer que fosse

Esse musical, assim como muitas outras produções, sobretudo no cinema, fizeram do senhor também um grande realizador. De onde veio esse talento e a vontade para realizar, mesmo, às vezes, em condições adversas, principalmente no início de carreira?

Eu trabalhei muito para concretizar os meus sonhos, especialmente o de ser um incentivador do cinema nacional. Sempre quis agradar o público, fazer as crianças sorrir. Nunca fiz nada pensando em atacar quem quer que fosse.

Por falar em cinema, diversos filmes de Os Trapalhões estão entre as maiores bilheterias do cinema nacional de todos os tempos. O senhor tem a dimensão desse feito?

Na verdade, eu nem tenho ideia dessa importância. Meu foco sempre foi o público mesmo. Queria agradar as pessoas que gostavam do meu trabalho.

Consta que o senhor é um cinéfilo. Conhece a fundo a obra dos grandes diretores mundiais. O que tem gostado de assistir atualmente? Também aderiu às maratonas de séries ofertadas pelo streaming?

Tenho gostado de assistir a filmes infantis, aqueles que são bons e edificantes para as crianças. Há muitos filmes bons, mas não vou citar nenhum para não ser injusto com ninguém.

O programa Os Trapalhões ainda é uma das grandes referências do humor brasileiro. E deu muito certo por conta de seus quatro protagonistas: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Com o distanciamento do tempo desde que o programa acabou, o senhor já conseguiu uma explicação para uma trupe conseguir entrosamento tão especial?

Penso que Deus nos uniu na missão de trazer alegria, diversão e muito amor para as crianças e para as famílias. Esse é o segredo e a explicação [para ter dado certo]. Nós sempre estimamos, respeitamos e gostamos de fazer o que fazíamos.

Mussum, Didi, Dedé e Zacarias, Os Trapalhões, em cena do filme 'Os Saltimbancos' Foto: Arquivo/Estadão

Por ser esse sucesso todo, Os Trapalhões despertam a curiosidade de fãs e estudiosos até hoje. Há livros e debates em podcasts. Muitas histórias pessoais de seus integrantes são contadas, como bastidores nem sempre harmoniosos e supostas brigas. Como o senhor vê esse tipo de especulação que, muitas vezes, não o coloca em uma boa posição?

As pessoas têm o hábito de contar uma história da qual não fizeram parte, que não viveram. Algumas até com boas intenções. Outras, com a vontade apenas de aparecer. Eu tenho a vivência! A lembrança de tudo o que vivemos, do que passamos. Para mim, foi uma trajetória digna, que motiva muita gratidão.

O Renato é muito diferente do Didi? Ou o Didi, com o tempo, foi tomando conta do Renato?

O Didi e o Renato se completam. Cada um em sua particularidade e singularidade. Mas, amalgamados, sim. Não é possível saber onde um começa e o outro termina. O Didi é uma criança engraçada, brincalhona e trapalhona. O Renato é tímido, introvertido e observador.

Como o senhor analisa a comédia no Brasil atualmente, com formatos que não passam pela TV, como o stand up, os podcasts e as redes sociais?

Cada humor tem seu tempo. Para falar com as pessoas, é preciso se adaptar, se atualizar. De outra forma, não é possível alcançar a finalidade de fazer rir e divertir o público.

O senhor sente falta de estar na TV? Acha que teria espaço na televisão de hoje?

Sinto muita falta de estar na televisão. É algo da minha essência, que amo fazer. Sim, acredito que ainda hoje eu teria espaço.

Há algo que o senhor ainda gostaria de realizar?

Deixa eu pensar... Quero continuar a fazer o que amo: cinema, televisão…onde eu puder fazer rir crianças e adultos.

Serviço

O Adorável Trapalhão, O Musical

Onde: Teatro VillaLobos. Av. Drª Ruth Cardoso, 4.777, Jd. Universidade Pinheiros.

Quando: De 19/4 a 26/5. 6ªs, 20h; sábados e domingos, 16h e 20h.

Quanto: R$ 39,60/R$ 280.

Renato Aragão, 89 anos, quer agora conquistar o “da poltrona” do teatro. Um dos mais importantes comediantes brasileiros estreia nesta sexta-feira, 19, no musical O Adorável Trapalhão, no Teatro VillaLobos, em São Paulo.

Concebida pela ator Rafael Aragão e dirigida por José Possi Neto, a comédia musical, descrita como uma “festa de palhaços”, vai percorrer a trajetória de Renato desde sua infância no Ceará até chegar ao personagem Didi, sua maior criação, que ganhou fama no programa Os Trapalhões ao lado de Dedé, Mussum e Zacarias.

Ao Estadão, Renato disse que recebe o musical como uma “homenagem muito especial”. O comediante diz que tudo o que fez durante a carreira sempre foi para agradar o público e que foi salvo por seus admiradores quando os críticos classificaram seu humor como “de sarjeta”. “O povo estava sempre lá para me dar força, coragem e me aplaudir”, diz.

Renato deixou a TV Globo em 2020, após 44 anos de atuação na emissora. Desde 2012 ele não era mais o apresentador do Criança Esperança, projeto ligado à Unesco que ajudou a implementar ao lado dos colegas de Os Trapalhões. Em 2023, ficou definitivamente fora da atração. O comediante diz que sente falta de estar na TV. " É algo da minha essência, que amo fazer”, diz.

Rafael Aragão e Renato Aragão no espetáculo 'O Adorável Trapalhão' Foto: Pedro Dimitrow

A participação de Renato no musical O Adorável Trapalhão se dará em momentos pontuais do espetáculo, como Renato e Didi, ambos interpretados por Rafael, recebem elogios justamente pela ajuda dada às crianças brasileiras por meio do Criança Esperança.

“Nesse momento, eu peço licença e o convido ao palco, já que ele é o verdadeiro merecedor dessas palavras de afeto. Essa é a primeira aparição de Renato no espetáculo e promete comover toda a plateia”, adianta Rafael, idealizador do projeto, à reportagem do Estadão.

Rafael, aliás, que, apesar do sobrenome e de ser cearense, não é parente de Renato. “Essa foi a pergunta que mais escutei na minha vida. Passei mais de 30 anos respondendo ‘não’”, diz o ator.

“Quando nos encontramos pela primeira vez, foi inevitável a abordagem do tema. A família Aragão é uma só. Então, automaticamente, a Lilian e o Renato começaram a me chamar carinhosamente de sobrinho, e lógico que todos os meus 30 anos negando foram por terra. Logo comecei a chamá-los de tios”, conta Rafael, que fez sua carreira principalmente no teatro, com atuações em O Musical Mamonas, Uma Noite na Broadway e Silvio Santos Vem Aí.

Confira a entrevista com Renato Aragão

O musical vai abordar sua infância em Sobral, no Ceará, nas décadas de 1930 e 1940. Gostaria de saber o que, naquela época, despertou no senhor o desejo de ser um artista, roteirista e produtor. Foi o rádio, o cinema, a literatura, o circo? De que maneira a arte o atingiu naquela época?

Eu era muito criança [quando vivia em Sobral], mas, desde a adolescência, eu me apaixonei pelos filmes do Oscarito. O jeito dele, a maneira como fazia rir, como cativar a audiência...Simplesmente me encantou e me capturou para essa magia do cinema.

O circo sempre esteve presente em sua carreira, em apresentações, nos filmes, no programa na TV, e, agora, também nesse musical. O circo, expressão essencialmente popular e democrática, foi essencial para a formação da comédia brasileira?

O circo é extremamente importante para a cultura brasileira. Atinge a todos, consegue falar com todos. É importantíssimo não apenas para a arte brasileira, mas para a universal.

O senhor é formado em Direito, apesar de não ter exercido a profissão. Encontrou alguma resistência da família quando anunciou que seria artista?

De jeito nenhum. Meus pais sempre me educaram e me compreenderam. Eles sempre foram o meu apoio em tudo o que eu desejei fazer.

O senhor, muitas vezes, se define como um “palhaço”, algo empático e popular. Mas, no início, o humor que o senhor fazia era chamado de “sarjeta”. Sofreu com esse tipo de preconceito e o que fez para superá-lo?

Eram pessoas que de alguma maneira queriam me atingir. Mas, graças a Deus, não conseguiram. Isso porque o meu público, o povo, estava sempre lá para me dar força, coragem e me aplaudir.

Sempre quis agradar o público, fazer as crianças sorrir. Nunca fiz nada pensando em atacar quem quer que fosse

Esse musical, assim como muitas outras produções, sobretudo no cinema, fizeram do senhor também um grande realizador. De onde veio esse talento e a vontade para realizar, mesmo, às vezes, em condições adversas, principalmente no início de carreira?

Eu trabalhei muito para concretizar os meus sonhos, especialmente o de ser um incentivador do cinema nacional. Sempre quis agradar o público, fazer as crianças sorrir. Nunca fiz nada pensando em atacar quem quer que fosse.

Por falar em cinema, diversos filmes de Os Trapalhões estão entre as maiores bilheterias do cinema nacional de todos os tempos. O senhor tem a dimensão desse feito?

Na verdade, eu nem tenho ideia dessa importância. Meu foco sempre foi o público mesmo. Queria agradar as pessoas que gostavam do meu trabalho.

Consta que o senhor é um cinéfilo. Conhece a fundo a obra dos grandes diretores mundiais. O que tem gostado de assistir atualmente? Também aderiu às maratonas de séries ofertadas pelo streaming?

Tenho gostado de assistir a filmes infantis, aqueles que são bons e edificantes para as crianças. Há muitos filmes bons, mas não vou citar nenhum para não ser injusto com ninguém.

O programa Os Trapalhões ainda é uma das grandes referências do humor brasileiro. E deu muito certo por conta de seus quatro protagonistas: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Com o distanciamento do tempo desde que o programa acabou, o senhor já conseguiu uma explicação para uma trupe conseguir entrosamento tão especial?

Penso que Deus nos uniu na missão de trazer alegria, diversão e muito amor para as crianças e para as famílias. Esse é o segredo e a explicação [para ter dado certo]. Nós sempre estimamos, respeitamos e gostamos de fazer o que fazíamos.

Mussum, Didi, Dedé e Zacarias, Os Trapalhões, em cena do filme 'Os Saltimbancos' Foto: Arquivo/Estadão

Por ser esse sucesso todo, Os Trapalhões despertam a curiosidade de fãs e estudiosos até hoje. Há livros e debates em podcasts. Muitas histórias pessoais de seus integrantes são contadas, como bastidores nem sempre harmoniosos e supostas brigas. Como o senhor vê esse tipo de especulação que, muitas vezes, não o coloca em uma boa posição?

As pessoas têm o hábito de contar uma história da qual não fizeram parte, que não viveram. Algumas até com boas intenções. Outras, com a vontade apenas de aparecer. Eu tenho a vivência! A lembrança de tudo o que vivemos, do que passamos. Para mim, foi uma trajetória digna, que motiva muita gratidão.

O Renato é muito diferente do Didi? Ou o Didi, com o tempo, foi tomando conta do Renato?

O Didi e o Renato se completam. Cada um em sua particularidade e singularidade. Mas, amalgamados, sim. Não é possível saber onde um começa e o outro termina. O Didi é uma criança engraçada, brincalhona e trapalhona. O Renato é tímido, introvertido e observador.

Como o senhor analisa a comédia no Brasil atualmente, com formatos que não passam pela TV, como o stand up, os podcasts e as redes sociais?

Cada humor tem seu tempo. Para falar com as pessoas, é preciso se adaptar, se atualizar. De outra forma, não é possível alcançar a finalidade de fazer rir e divertir o público.

O senhor sente falta de estar na TV? Acha que teria espaço na televisão de hoje?

Sinto muita falta de estar na televisão. É algo da minha essência, que amo fazer. Sim, acredito que ainda hoje eu teria espaço.

Há algo que o senhor ainda gostaria de realizar?

Deixa eu pensar... Quero continuar a fazer o que amo: cinema, televisão…onde eu puder fazer rir crianças e adultos.

Serviço

O Adorável Trapalhão, O Musical

Onde: Teatro VillaLobos. Av. Drª Ruth Cardoso, 4.777, Jd. Universidade Pinheiros.

Quando: De 19/4 a 26/5. 6ªs, 20h; sábados e domingos, 16h e 20h.

Quanto: R$ 39,60/R$ 280.

Entrevista por Danilo Casaletti

Repórter de Cultura do Estadão

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