Reynaldo Gianecchini estreia em musical com ‘Priscilla’: ‘Vejo um paralelo comigo’


Ator revela ter se sentido deslocado no início: ‘Cheguei muito intimidado. Nunca tive a experiência de cantar, dançar e atuar. Aí veio o paralelo da vida com a arte: eu estava em uma peça sobre pertencimento, mas não me sentia assim’; ‘Priscilla’ estreia em São Paulo

Por Ubiratan Brasil
Atualização:
Foto: Pedro Dimitrow / Divulgação
Entrevista comReynaldo GianecchiniAtor

Reynaldo Gianecchini viveu personagens diversos desde que iniciou a carreira em 1999, de homens pobres e humildes a vilões ambiciosos. Mas é como a drag queen Mitzi Mitosis que ele mais se identifica. Trata-se da protagonista de Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical, que estreia 7 de junho no Teatro Bradesco, em São Paulo. “Sempre percebi um paralelo entre minha vida pessoal e a dos personagens que acabo atraindo. Mas esse realmente foi mais forte”, conta o ator de 51 anos, em entrevista ao Estadão. O ponto em comum entre realidade e ficção é o do homem cuja sexualidade, embora bem resolvida pessoalmente, ainda desperte críticas.

Mitzi é a identidade artística de Anthony “Tick” Belrose, uma drag queen que é a melhor do mundo artístico, mas que vive temerosa de não ser aceita pelo filho Benjamin, de 6 anos, com quem nunca teve contato. Gianecchini foi durante anos um galã de telenovelas e agora vive a plena liberdade de exercer sua sexualidade fluida. E tanto ele como Anthony usam o palco como espaço de liberdade de expressão.

O musical, dirigido por Mariano Detry, é baseado no filme de mesmo título lançado em 1994, e conta a história de duas drag queens e uma mulher transexual contratadas para fazer um show em pleno deserto australiano. A viagem, a bordo do ônibus intitulado Priscilla, serve de metáfora para o percurso de todos aqueles que estão em busca de pertencimento. Além de Mitzi, viajam a jovem Felicia (Diego Martins, ator com extensa carreira como drag queen) e a veterana Bernadette, papel que será revezado por Verónica Valenttino e Wallie Ruy.

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Enquanto Mitzi teme a rejeição do filho, Gianecchini logo sofreu críticas quando anunciado como intérprete do personagem - novamente sua sexualidade foi colocada em xeque, sendo que, desde que estrelou a peça A Herança (2023) em que viveu um homossexual conservador (apoiador do Partido Republicano americano), ele direciona sua carreira segundo a liberdade de ser o que revela sua autenticidade. Sobre o assunto, ele concedeu a seguinte entrevista.

É possível dizer que esse papel no musical veio em um bom momento?

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Sempre acreditei que meus personagens chegam em boa hora, pois eles têm o mesmo movimento interno meu, trabalhando com questões parecidas. Sempre percebi um paralelo entre minha vida pessoal e a dos personagens que acabo atraindo. Mas esse realmente foi mais forte. Não foi uma escolha pensada, mas aceitei porque eu me desafiei a viver um processo tanto artístico, que me permitiria ampliar meus recursos artísticos, como pessoal. Eu sabia que seria forte. Quando fiz Herança, já foi uma entrada nesse universo LGBTQIAP+, mas aqui eu vivo uma drag, que é do mesmo universo, mas que amplia a discussão além da sexualidade para falar de arte que permite, por exemplo, uma mulher interpretar uma drag. Ou seja, estamos falando sobre a liberdade de ser. De você ser livre, sentir-se potente, autêntico. Autenticidade é ser quem você é e descobrir beleza nisso.

E a sexualidade?

A sexualidade é também uma potência de expressão. A potência de ser livre das amarras, das expectativas, livre de todas as construções sociais que me impuseram e às quais eu quis corresponder, construindo uma vida inteira tentando me encaixar ou corresponder ao que esperavam de mim. Então, estou no momento de perceber como as diferenças são boas, bonitas, que mostram o ser único que cada um é. O musical me toca nesse sentido, a ponto de, quando canto True Colors (de Cyndi Lauper), eu me emociono muito. A canção fala da beleza de você mostrar as suas cores, que são belas como são. As três personagens do musical fazem uma jornada de autoconhecimento, de como se integrar na sociedade mantendo o orgulho próprio.

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'Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical' estreia na sexta, 7, em São Paulo, com Reynaldo Giannechini Foto: Tiago Queiroz/Estadão

É uma busca de pertencimento?

Exato. Isso também mexe muito comigo porque, por incrível que pareça, sinto dificuldade de me sentir pertencente em alguns ambientes. Aqui mesmo. Cheguei muito intimidado pela turma do musical, que não é a minha, nunca tive a experiência deles de cantar, dançar e atuar. Aí veio o paralelo da vida com a arte: eu estava em uma peça sobre pertencimento, mas não me sentia assim. E, no início dos ensaios, fui muito gongado por alguma pessoas do teatro musical reclamando que eu estava tomando o trabalho deles. Outras que eu não sou drag, então não posso viver uma. E ainda membros da comunidade LGBTQIAP+ dizendo que não represento a sigla. Não sei de onde tiraram isso porque já falei abertamente inúmeras vezes que sou a letrinha P, de pansexual (pessoas atraídas por indivíduos de todos os gêneros e identidades de gênero).

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Como enfrentou essa torcida gigante?

Isso me estimulou a brigar e a enfrentar essa corrente contrária. Claro que fico apavorado com a possibilidade de fracassar, pois a expectativa de muitos é essa. Mas sei que quero vencer meus medos, fazer um trabalho lindo e honrar essa arte drag. Como já não tenho mais contrato fixo com nenhuma emissora, tenho liberdade para escolher meus projetos e esse é um daqueles em que aposto muito por ser um ponto forte de virada na minha vida.

Seu personagem, Mitzi, teme ser rejeitado pelo filho pelo fato de ser drag queen. Você percebe esse temor de rejeição também em você?

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Mitzi enfrenta um grande dualismo sobre sua sexualidade e vejo um paralelo comigo. Fui muito cobrado. Minha sexualidade sempre foi... Nem era questionada, só era motivo de falatório, de cobrança para sair do armário. Sempre achei que tenho uma sexualidade fluida, isso é que mais me define, realmente. Ou seja, minha orientação pode variar mil vezes: depende da época, dos encontros da vida. Para mim, tudo é possível. Mas era difícil encarar isso no passado. Eu tinha medo. E ainda estava preso no rótulo do galã. Ao mesmo tempo, eu estava muito feliz em um casamento com uma mulher (a jornalista Marília Gabriela). Vivi plenamente aquilo. E, depois que terminou, pude olhar melhor para minha sexualidade fluida. Agora, já mais maduro, tenho tranquilidade para falar sobre isso, mas não tenho mais o que dizer. Já disse o que precisava. Talvez queiram detalhes, mas não vou dar detalhes da minha sexualidade, são detalhes íntimos que não cabem a ninguém saber.

O elenco que protagoniza esta versão do musical 'Priscilla, a Rainha do Deserto: Diego Martins, Veronica Valenttino, Wallie Ruy e Reynaldo Gianecchini Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Você sente, então, que sua carreira agora segue um caminho diferente?

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Acho que sim. Eu me sinto muito mais livre comigo. E essa liberdade pessoal influencia muito o artista. Acredito que sou um artista muito mais interessante com essa liberdade que conquistei. Claro que enfrento diversas barreiras, nosso País ainda é super preconceituoso, que se manifesta até nos momentos mais inesperados. No Dia Internacional contra a Homofobia (17 de maio), fiz um post que mostrava eu me vestindo de drag, que é meu personagem no musical. Foi impressionante a quantidade de comentários homofóbicos que recebi. Algo como “nossa, que decepção, prefiro você como um galã”. Claro que minha felicidade de poder influenciar muitas pessoas é maior, mas, no fim, não agradei quase ninguém com essa minha escolha.

Mas agradou a você, certo?

Exato. Enfrento um desafio grande até para abrir a minha cabeça artisticamente. Esse processo serve para lidar com meus medos, para enxergar mais amplamente as coisas.

Cena do filme 'Priscilla, A Rainha do Deserto', lançado em 1994  Foto: PolyGram Filmed Entertainment

Você chegou a buscar apoio na terapia?

Com certeza, voltei a fazer. Fiquei mais fortalecido. Para viver um processo tão intenso, você aciona muitos gatilhos internos - de medos, principalmente. Nossa... Enfrentei uma época muito difícil. O mundo é muito cruel, é impressionante.

Sobre o musical, quando você se percebeu seguro para cantar?

(Abre um sorriso) Acho que ontem. Ou vai ser amanhã? (risos). Esse aspecto do canto me aterrorizava muito. Todos aqui estão muito bem preparados. O bom é que meu personagem não exige alguém que seja virtuoso do canto, não precisa ter aquela voz. É uma boa forma para se começar, pois ele canta menorzinho. Mesmo assim, eu me preparei muito, iniciei os estudos em janeiro. Desde aquela época, não fiquei um dia sem cantar, sem me exercitar.

Há alguns meses, você postou um vídeo dizendo que se inspiraria na Xuxa para construir seu personagem. Era brincadeira?

(Rindo) Foi brincadeira, sim. Eu tinha acabado de estar com ela e estava emocionado. Adoro a Xuxa, ela sempre foi exuberante no palco, com vestidos coloridos, e isso é inspirador para uma drag. Ter autenticidade na forma como se veste. Não à toa seus figurinos, que lhe deram uma identidade, foram sempre muito copiados. Acho que esse é o mundo das drags. Xuxa, como a Claudia Raia, são inspirações para as drags. E, de uma certa forma, também me inspiraram para construir esse personagem. Principalmente a Claudia, que é do musical, que me ajuda muito.

E como é dançar montado?

Menino, é um desafio que não acaba. Para começar, dançar com um salto 15, algo que nunca usei na vida. Mas, quando você bota um salto alto e se veste com um figurino exuberante, o quadril praticamente já vai para outro lugar (risos).

Serviço

Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical

  • Teatro Bradesco. Shopping Bourbon. R. Palestra Itália, 500. 5ª e 6ª, 20h. Sábado e domingo, 16h e 20h. R$ 95 / R$ 200. Até 1º de setembro

Reynaldo Gianecchini viveu personagens diversos desde que iniciou a carreira em 1999, de homens pobres e humildes a vilões ambiciosos. Mas é como a drag queen Mitzi Mitosis que ele mais se identifica. Trata-se da protagonista de Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical, que estreia 7 de junho no Teatro Bradesco, em São Paulo. “Sempre percebi um paralelo entre minha vida pessoal e a dos personagens que acabo atraindo. Mas esse realmente foi mais forte”, conta o ator de 51 anos, em entrevista ao Estadão. O ponto em comum entre realidade e ficção é o do homem cuja sexualidade, embora bem resolvida pessoalmente, ainda desperte críticas.

Mitzi é a identidade artística de Anthony “Tick” Belrose, uma drag queen que é a melhor do mundo artístico, mas que vive temerosa de não ser aceita pelo filho Benjamin, de 6 anos, com quem nunca teve contato. Gianecchini foi durante anos um galã de telenovelas e agora vive a plena liberdade de exercer sua sexualidade fluida. E tanto ele como Anthony usam o palco como espaço de liberdade de expressão.

O musical, dirigido por Mariano Detry, é baseado no filme de mesmo título lançado em 1994, e conta a história de duas drag queens e uma mulher transexual contratadas para fazer um show em pleno deserto australiano. A viagem, a bordo do ônibus intitulado Priscilla, serve de metáfora para o percurso de todos aqueles que estão em busca de pertencimento. Além de Mitzi, viajam a jovem Felicia (Diego Martins, ator com extensa carreira como drag queen) e a veterana Bernadette, papel que será revezado por Verónica Valenttino e Wallie Ruy.

Enquanto Mitzi teme a rejeição do filho, Gianecchini logo sofreu críticas quando anunciado como intérprete do personagem - novamente sua sexualidade foi colocada em xeque, sendo que, desde que estrelou a peça A Herança (2023) em que viveu um homossexual conservador (apoiador do Partido Republicano americano), ele direciona sua carreira segundo a liberdade de ser o que revela sua autenticidade. Sobre o assunto, ele concedeu a seguinte entrevista.

É possível dizer que esse papel no musical veio em um bom momento?

Sempre acreditei que meus personagens chegam em boa hora, pois eles têm o mesmo movimento interno meu, trabalhando com questões parecidas. Sempre percebi um paralelo entre minha vida pessoal e a dos personagens que acabo atraindo. Mas esse realmente foi mais forte. Não foi uma escolha pensada, mas aceitei porque eu me desafiei a viver um processo tanto artístico, que me permitiria ampliar meus recursos artísticos, como pessoal. Eu sabia que seria forte. Quando fiz Herança, já foi uma entrada nesse universo LGBTQIAP+, mas aqui eu vivo uma drag, que é do mesmo universo, mas que amplia a discussão além da sexualidade para falar de arte que permite, por exemplo, uma mulher interpretar uma drag. Ou seja, estamos falando sobre a liberdade de ser. De você ser livre, sentir-se potente, autêntico. Autenticidade é ser quem você é e descobrir beleza nisso.

E a sexualidade?

A sexualidade é também uma potência de expressão. A potência de ser livre das amarras, das expectativas, livre de todas as construções sociais que me impuseram e às quais eu quis corresponder, construindo uma vida inteira tentando me encaixar ou corresponder ao que esperavam de mim. Então, estou no momento de perceber como as diferenças são boas, bonitas, que mostram o ser único que cada um é. O musical me toca nesse sentido, a ponto de, quando canto True Colors (de Cyndi Lauper), eu me emociono muito. A canção fala da beleza de você mostrar as suas cores, que são belas como são. As três personagens do musical fazem uma jornada de autoconhecimento, de como se integrar na sociedade mantendo o orgulho próprio.

'Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical' estreia na sexta, 7, em São Paulo, com Reynaldo Giannechini Foto: Tiago Queiroz/Estadão

É uma busca de pertencimento?

Exato. Isso também mexe muito comigo porque, por incrível que pareça, sinto dificuldade de me sentir pertencente em alguns ambientes. Aqui mesmo. Cheguei muito intimidado pela turma do musical, que não é a minha, nunca tive a experiência deles de cantar, dançar e atuar. Aí veio o paralelo da vida com a arte: eu estava em uma peça sobre pertencimento, mas não me sentia assim. E, no início dos ensaios, fui muito gongado por alguma pessoas do teatro musical reclamando que eu estava tomando o trabalho deles. Outras que eu não sou drag, então não posso viver uma. E ainda membros da comunidade LGBTQIAP+ dizendo que não represento a sigla. Não sei de onde tiraram isso porque já falei abertamente inúmeras vezes que sou a letrinha P, de pansexual (pessoas atraídas por indivíduos de todos os gêneros e identidades de gênero).

Como enfrentou essa torcida gigante?

Isso me estimulou a brigar e a enfrentar essa corrente contrária. Claro que fico apavorado com a possibilidade de fracassar, pois a expectativa de muitos é essa. Mas sei que quero vencer meus medos, fazer um trabalho lindo e honrar essa arte drag. Como já não tenho mais contrato fixo com nenhuma emissora, tenho liberdade para escolher meus projetos e esse é um daqueles em que aposto muito por ser um ponto forte de virada na minha vida.

Seu personagem, Mitzi, teme ser rejeitado pelo filho pelo fato de ser drag queen. Você percebe esse temor de rejeição também em você?

Mitzi enfrenta um grande dualismo sobre sua sexualidade e vejo um paralelo comigo. Fui muito cobrado. Minha sexualidade sempre foi... Nem era questionada, só era motivo de falatório, de cobrança para sair do armário. Sempre achei que tenho uma sexualidade fluida, isso é que mais me define, realmente. Ou seja, minha orientação pode variar mil vezes: depende da época, dos encontros da vida. Para mim, tudo é possível. Mas era difícil encarar isso no passado. Eu tinha medo. E ainda estava preso no rótulo do galã. Ao mesmo tempo, eu estava muito feliz em um casamento com uma mulher (a jornalista Marília Gabriela). Vivi plenamente aquilo. E, depois que terminou, pude olhar melhor para minha sexualidade fluida. Agora, já mais maduro, tenho tranquilidade para falar sobre isso, mas não tenho mais o que dizer. Já disse o que precisava. Talvez queiram detalhes, mas não vou dar detalhes da minha sexualidade, são detalhes íntimos que não cabem a ninguém saber.

O elenco que protagoniza esta versão do musical 'Priscilla, a Rainha do Deserto: Diego Martins, Veronica Valenttino, Wallie Ruy e Reynaldo Gianecchini Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Você sente, então, que sua carreira agora segue um caminho diferente?

Acho que sim. Eu me sinto muito mais livre comigo. E essa liberdade pessoal influencia muito o artista. Acredito que sou um artista muito mais interessante com essa liberdade que conquistei. Claro que enfrento diversas barreiras, nosso País ainda é super preconceituoso, que se manifesta até nos momentos mais inesperados. No Dia Internacional contra a Homofobia (17 de maio), fiz um post que mostrava eu me vestindo de drag, que é meu personagem no musical. Foi impressionante a quantidade de comentários homofóbicos que recebi. Algo como “nossa, que decepção, prefiro você como um galã”. Claro que minha felicidade de poder influenciar muitas pessoas é maior, mas, no fim, não agradei quase ninguém com essa minha escolha.

Mas agradou a você, certo?

Exato. Enfrento um desafio grande até para abrir a minha cabeça artisticamente. Esse processo serve para lidar com meus medos, para enxergar mais amplamente as coisas.

Cena do filme 'Priscilla, A Rainha do Deserto', lançado em 1994  Foto: PolyGram Filmed Entertainment

Você chegou a buscar apoio na terapia?

Com certeza, voltei a fazer. Fiquei mais fortalecido. Para viver um processo tão intenso, você aciona muitos gatilhos internos - de medos, principalmente. Nossa... Enfrentei uma época muito difícil. O mundo é muito cruel, é impressionante.

Sobre o musical, quando você se percebeu seguro para cantar?

(Abre um sorriso) Acho que ontem. Ou vai ser amanhã? (risos). Esse aspecto do canto me aterrorizava muito. Todos aqui estão muito bem preparados. O bom é que meu personagem não exige alguém que seja virtuoso do canto, não precisa ter aquela voz. É uma boa forma para se começar, pois ele canta menorzinho. Mesmo assim, eu me preparei muito, iniciei os estudos em janeiro. Desde aquela época, não fiquei um dia sem cantar, sem me exercitar.

Há alguns meses, você postou um vídeo dizendo que se inspiraria na Xuxa para construir seu personagem. Era brincadeira?

(Rindo) Foi brincadeira, sim. Eu tinha acabado de estar com ela e estava emocionado. Adoro a Xuxa, ela sempre foi exuberante no palco, com vestidos coloridos, e isso é inspirador para uma drag. Ter autenticidade na forma como se veste. Não à toa seus figurinos, que lhe deram uma identidade, foram sempre muito copiados. Acho que esse é o mundo das drags. Xuxa, como a Claudia Raia, são inspirações para as drags. E, de uma certa forma, também me inspiraram para construir esse personagem. Principalmente a Claudia, que é do musical, que me ajuda muito.

E como é dançar montado?

Menino, é um desafio que não acaba. Para começar, dançar com um salto 15, algo que nunca usei na vida. Mas, quando você bota um salto alto e se veste com um figurino exuberante, o quadril praticamente já vai para outro lugar (risos).

Serviço

Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical

  • Teatro Bradesco. Shopping Bourbon. R. Palestra Itália, 500. 5ª e 6ª, 20h. Sábado e domingo, 16h e 20h. R$ 95 / R$ 200. Até 1º de setembro

Reynaldo Gianecchini viveu personagens diversos desde que iniciou a carreira em 1999, de homens pobres e humildes a vilões ambiciosos. Mas é como a drag queen Mitzi Mitosis que ele mais se identifica. Trata-se da protagonista de Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical, que estreia 7 de junho no Teatro Bradesco, em São Paulo. “Sempre percebi um paralelo entre minha vida pessoal e a dos personagens que acabo atraindo. Mas esse realmente foi mais forte”, conta o ator de 51 anos, em entrevista ao Estadão. O ponto em comum entre realidade e ficção é o do homem cuja sexualidade, embora bem resolvida pessoalmente, ainda desperte críticas.

Mitzi é a identidade artística de Anthony “Tick” Belrose, uma drag queen que é a melhor do mundo artístico, mas que vive temerosa de não ser aceita pelo filho Benjamin, de 6 anos, com quem nunca teve contato. Gianecchini foi durante anos um galã de telenovelas e agora vive a plena liberdade de exercer sua sexualidade fluida. E tanto ele como Anthony usam o palco como espaço de liberdade de expressão.

O musical, dirigido por Mariano Detry, é baseado no filme de mesmo título lançado em 1994, e conta a história de duas drag queens e uma mulher transexual contratadas para fazer um show em pleno deserto australiano. A viagem, a bordo do ônibus intitulado Priscilla, serve de metáfora para o percurso de todos aqueles que estão em busca de pertencimento. Além de Mitzi, viajam a jovem Felicia (Diego Martins, ator com extensa carreira como drag queen) e a veterana Bernadette, papel que será revezado por Verónica Valenttino e Wallie Ruy.

Enquanto Mitzi teme a rejeição do filho, Gianecchini logo sofreu críticas quando anunciado como intérprete do personagem - novamente sua sexualidade foi colocada em xeque, sendo que, desde que estrelou a peça A Herança (2023) em que viveu um homossexual conservador (apoiador do Partido Republicano americano), ele direciona sua carreira segundo a liberdade de ser o que revela sua autenticidade. Sobre o assunto, ele concedeu a seguinte entrevista.

É possível dizer que esse papel no musical veio em um bom momento?

Sempre acreditei que meus personagens chegam em boa hora, pois eles têm o mesmo movimento interno meu, trabalhando com questões parecidas. Sempre percebi um paralelo entre minha vida pessoal e a dos personagens que acabo atraindo. Mas esse realmente foi mais forte. Não foi uma escolha pensada, mas aceitei porque eu me desafiei a viver um processo tanto artístico, que me permitiria ampliar meus recursos artísticos, como pessoal. Eu sabia que seria forte. Quando fiz Herança, já foi uma entrada nesse universo LGBTQIAP+, mas aqui eu vivo uma drag, que é do mesmo universo, mas que amplia a discussão além da sexualidade para falar de arte que permite, por exemplo, uma mulher interpretar uma drag. Ou seja, estamos falando sobre a liberdade de ser. De você ser livre, sentir-se potente, autêntico. Autenticidade é ser quem você é e descobrir beleza nisso.

E a sexualidade?

A sexualidade é também uma potência de expressão. A potência de ser livre das amarras, das expectativas, livre de todas as construções sociais que me impuseram e às quais eu quis corresponder, construindo uma vida inteira tentando me encaixar ou corresponder ao que esperavam de mim. Então, estou no momento de perceber como as diferenças são boas, bonitas, que mostram o ser único que cada um é. O musical me toca nesse sentido, a ponto de, quando canto True Colors (de Cyndi Lauper), eu me emociono muito. A canção fala da beleza de você mostrar as suas cores, que são belas como são. As três personagens do musical fazem uma jornada de autoconhecimento, de como se integrar na sociedade mantendo o orgulho próprio.

'Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical' estreia na sexta, 7, em São Paulo, com Reynaldo Giannechini Foto: Tiago Queiroz/Estadão

É uma busca de pertencimento?

Exato. Isso também mexe muito comigo porque, por incrível que pareça, sinto dificuldade de me sentir pertencente em alguns ambientes. Aqui mesmo. Cheguei muito intimidado pela turma do musical, que não é a minha, nunca tive a experiência deles de cantar, dançar e atuar. Aí veio o paralelo da vida com a arte: eu estava em uma peça sobre pertencimento, mas não me sentia assim. E, no início dos ensaios, fui muito gongado por alguma pessoas do teatro musical reclamando que eu estava tomando o trabalho deles. Outras que eu não sou drag, então não posso viver uma. E ainda membros da comunidade LGBTQIAP+ dizendo que não represento a sigla. Não sei de onde tiraram isso porque já falei abertamente inúmeras vezes que sou a letrinha P, de pansexual (pessoas atraídas por indivíduos de todos os gêneros e identidades de gênero).

Como enfrentou essa torcida gigante?

Isso me estimulou a brigar e a enfrentar essa corrente contrária. Claro que fico apavorado com a possibilidade de fracassar, pois a expectativa de muitos é essa. Mas sei que quero vencer meus medos, fazer um trabalho lindo e honrar essa arte drag. Como já não tenho mais contrato fixo com nenhuma emissora, tenho liberdade para escolher meus projetos e esse é um daqueles em que aposto muito por ser um ponto forte de virada na minha vida.

Seu personagem, Mitzi, teme ser rejeitado pelo filho pelo fato de ser drag queen. Você percebe esse temor de rejeição também em você?

Mitzi enfrenta um grande dualismo sobre sua sexualidade e vejo um paralelo comigo. Fui muito cobrado. Minha sexualidade sempre foi... Nem era questionada, só era motivo de falatório, de cobrança para sair do armário. Sempre achei que tenho uma sexualidade fluida, isso é que mais me define, realmente. Ou seja, minha orientação pode variar mil vezes: depende da época, dos encontros da vida. Para mim, tudo é possível. Mas era difícil encarar isso no passado. Eu tinha medo. E ainda estava preso no rótulo do galã. Ao mesmo tempo, eu estava muito feliz em um casamento com uma mulher (a jornalista Marília Gabriela). Vivi plenamente aquilo. E, depois que terminou, pude olhar melhor para minha sexualidade fluida. Agora, já mais maduro, tenho tranquilidade para falar sobre isso, mas não tenho mais o que dizer. Já disse o que precisava. Talvez queiram detalhes, mas não vou dar detalhes da minha sexualidade, são detalhes íntimos que não cabem a ninguém saber.

O elenco que protagoniza esta versão do musical 'Priscilla, a Rainha do Deserto: Diego Martins, Veronica Valenttino, Wallie Ruy e Reynaldo Gianecchini Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Você sente, então, que sua carreira agora segue um caminho diferente?

Acho que sim. Eu me sinto muito mais livre comigo. E essa liberdade pessoal influencia muito o artista. Acredito que sou um artista muito mais interessante com essa liberdade que conquistei. Claro que enfrento diversas barreiras, nosso País ainda é super preconceituoso, que se manifesta até nos momentos mais inesperados. No Dia Internacional contra a Homofobia (17 de maio), fiz um post que mostrava eu me vestindo de drag, que é meu personagem no musical. Foi impressionante a quantidade de comentários homofóbicos que recebi. Algo como “nossa, que decepção, prefiro você como um galã”. Claro que minha felicidade de poder influenciar muitas pessoas é maior, mas, no fim, não agradei quase ninguém com essa minha escolha.

Mas agradou a você, certo?

Exato. Enfrento um desafio grande até para abrir a minha cabeça artisticamente. Esse processo serve para lidar com meus medos, para enxergar mais amplamente as coisas.

Cena do filme 'Priscilla, A Rainha do Deserto', lançado em 1994  Foto: PolyGram Filmed Entertainment

Você chegou a buscar apoio na terapia?

Com certeza, voltei a fazer. Fiquei mais fortalecido. Para viver um processo tão intenso, você aciona muitos gatilhos internos - de medos, principalmente. Nossa... Enfrentei uma época muito difícil. O mundo é muito cruel, é impressionante.

Sobre o musical, quando você se percebeu seguro para cantar?

(Abre um sorriso) Acho que ontem. Ou vai ser amanhã? (risos). Esse aspecto do canto me aterrorizava muito. Todos aqui estão muito bem preparados. O bom é que meu personagem não exige alguém que seja virtuoso do canto, não precisa ter aquela voz. É uma boa forma para se começar, pois ele canta menorzinho. Mesmo assim, eu me preparei muito, iniciei os estudos em janeiro. Desde aquela época, não fiquei um dia sem cantar, sem me exercitar.

Há alguns meses, você postou um vídeo dizendo que se inspiraria na Xuxa para construir seu personagem. Era brincadeira?

(Rindo) Foi brincadeira, sim. Eu tinha acabado de estar com ela e estava emocionado. Adoro a Xuxa, ela sempre foi exuberante no palco, com vestidos coloridos, e isso é inspirador para uma drag. Ter autenticidade na forma como se veste. Não à toa seus figurinos, que lhe deram uma identidade, foram sempre muito copiados. Acho que esse é o mundo das drags. Xuxa, como a Claudia Raia, são inspirações para as drags. E, de uma certa forma, também me inspiraram para construir esse personagem. Principalmente a Claudia, que é do musical, que me ajuda muito.

E como é dançar montado?

Menino, é um desafio que não acaba. Para começar, dançar com um salto 15, algo que nunca usei na vida. Mas, quando você bota um salto alto e se veste com um figurino exuberante, o quadril praticamente já vai para outro lugar (risos).

Serviço

Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical

  • Teatro Bradesco. Shopping Bourbon. R. Palestra Itália, 500. 5ª e 6ª, 20h. Sábado e domingo, 16h e 20h. R$ 95 / R$ 200. Até 1º de setembro

Reynaldo Gianecchini viveu personagens diversos desde que iniciou a carreira em 1999, de homens pobres e humildes a vilões ambiciosos. Mas é como a drag queen Mitzi Mitosis que ele mais se identifica. Trata-se da protagonista de Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical, que estreia 7 de junho no Teatro Bradesco, em São Paulo. “Sempre percebi um paralelo entre minha vida pessoal e a dos personagens que acabo atraindo. Mas esse realmente foi mais forte”, conta o ator de 51 anos, em entrevista ao Estadão. O ponto em comum entre realidade e ficção é o do homem cuja sexualidade, embora bem resolvida pessoalmente, ainda desperte críticas.

Mitzi é a identidade artística de Anthony “Tick” Belrose, uma drag queen que é a melhor do mundo artístico, mas que vive temerosa de não ser aceita pelo filho Benjamin, de 6 anos, com quem nunca teve contato. Gianecchini foi durante anos um galã de telenovelas e agora vive a plena liberdade de exercer sua sexualidade fluida. E tanto ele como Anthony usam o palco como espaço de liberdade de expressão.

O musical, dirigido por Mariano Detry, é baseado no filme de mesmo título lançado em 1994, e conta a história de duas drag queens e uma mulher transexual contratadas para fazer um show em pleno deserto australiano. A viagem, a bordo do ônibus intitulado Priscilla, serve de metáfora para o percurso de todos aqueles que estão em busca de pertencimento. Além de Mitzi, viajam a jovem Felicia (Diego Martins, ator com extensa carreira como drag queen) e a veterana Bernadette, papel que será revezado por Verónica Valenttino e Wallie Ruy.

Enquanto Mitzi teme a rejeição do filho, Gianecchini logo sofreu críticas quando anunciado como intérprete do personagem - novamente sua sexualidade foi colocada em xeque, sendo que, desde que estrelou a peça A Herança (2023) em que viveu um homossexual conservador (apoiador do Partido Republicano americano), ele direciona sua carreira segundo a liberdade de ser o que revela sua autenticidade. Sobre o assunto, ele concedeu a seguinte entrevista.

É possível dizer que esse papel no musical veio em um bom momento?

Sempre acreditei que meus personagens chegam em boa hora, pois eles têm o mesmo movimento interno meu, trabalhando com questões parecidas. Sempre percebi um paralelo entre minha vida pessoal e a dos personagens que acabo atraindo. Mas esse realmente foi mais forte. Não foi uma escolha pensada, mas aceitei porque eu me desafiei a viver um processo tanto artístico, que me permitiria ampliar meus recursos artísticos, como pessoal. Eu sabia que seria forte. Quando fiz Herança, já foi uma entrada nesse universo LGBTQIAP+, mas aqui eu vivo uma drag, que é do mesmo universo, mas que amplia a discussão além da sexualidade para falar de arte que permite, por exemplo, uma mulher interpretar uma drag. Ou seja, estamos falando sobre a liberdade de ser. De você ser livre, sentir-se potente, autêntico. Autenticidade é ser quem você é e descobrir beleza nisso.

E a sexualidade?

A sexualidade é também uma potência de expressão. A potência de ser livre das amarras, das expectativas, livre de todas as construções sociais que me impuseram e às quais eu quis corresponder, construindo uma vida inteira tentando me encaixar ou corresponder ao que esperavam de mim. Então, estou no momento de perceber como as diferenças são boas, bonitas, que mostram o ser único que cada um é. O musical me toca nesse sentido, a ponto de, quando canto True Colors (de Cyndi Lauper), eu me emociono muito. A canção fala da beleza de você mostrar as suas cores, que são belas como são. As três personagens do musical fazem uma jornada de autoconhecimento, de como se integrar na sociedade mantendo o orgulho próprio.

'Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical' estreia na sexta, 7, em São Paulo, com Reynaldo Giannechini Foto: Tiago Queiroz/Estadão

É uma busca de pertencimento?

Exato. Isso também mexe muito comigo porque, por incrível que pareça, sinto dificuldade de me sentir pertencente em alguns ambientes. Aqui mesmo. Cheguei muito intimidado pela turma do musical, que não é a minha, nunca tive a experiência deles de cantar, dançar e atuar. Aí veio o paralelo da vida com a arte: eu estava em uma peça sobre pertencimento, mas não me sentia assim. E, no início dos ensaios, fui muito gongado por alguma pessoas do teatro musical reclamando que eu estava tomando o trabalho deles. Outras que eu não sou drag, então não posso viver uma. E ainda membros da comunidade LGBTQIAP+ dizendo que não represento a sigla. Não sei de onde tiraram isso porque já falei abertamente inúmeras vezes que sou a letrinha P, de pansexual (pessoas atraídas por indivíduos de todos os gêneros e identidades de gênero).

Como enfrentou essa torcida gigante?

Isso me estimulou a brigar e a enfrentar essa corrente contrária. Claro que fico apavorado com a possibilidade de fracassar, pois a expectativa de muitos é essa. Mas sei que quero vencer meus medos, fazer um trabalho lindo e honrar essa arte drag. Como já não tenho mais contrato fixo com nenhuma emissora, tenho liberdade para escolher meus projetos e esse é um daqueles em que aposto muito por ser um ponto forte de virada na minha vida.

Seu personagem, Mitzi, teme ser rejeitado pelo filho pelo fato de ser drag queen. Você percebe esse temor de rejeição também em você?

Mitzi enfrenta um grande dualismo sobre sua sexualidade e vejo um paralelo comigo. Fui muito cobrado. Minha sexualidade sempre foi... Nem era questionada, só era motivo de falatório, de cobrança para sair do armário. Sempre achei que tenho uma sexualidade fluida, isso é que mais me define, realmente. Ou seja, minha orientação pode variar mil vezes: depende da época, dos encontros da vida. Para mim, tudo é possível. Mas era difícil encarar isso no passado. Eu tinha medo. E ainda estava preso no rótulo do galã. Ao mesmo tempo, eu estava muito feliz em um casamento com uma mulher (a jornalista Marília Gabriela). Vivi plenamente aquilo. E, depois que terminou, pude olhar melhor para minha sexualidade fluida. Agora, já mais maduro, tenho tranquilidade para falar sobre isso, mas não tenho mais o que dizer. Já disse o que precisava. Talvez queiram detalhes, mas não vou dar detalhes da minha sexualidade, são detalhes íntimos que não cabem a ninguém saber.

O elenco que protagoniza esta versão do musical 'Priscilla, a Rainha do Deserto: Diego Martins, Veronica Valenttino, Wallie Ruy e Reynaldo Gianecchini Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Você sente, então, que sua carreira agora segue um caminho diferente?

Acho que sim. Eu me sinto muito mais livre comigo. E essa liberdade pessoal influencia muito o artista. Acredito que sou um artista muito mais interessante com essa liberdade que conquistei. Claro que enfrento diversas barreiras, nosso País ainda é super preconceituoso, que se manifesta até nos momentos mais inesperados. No Dia Internacional contra a Homofobia (17 de maio), fiz um post que mostrava eu me vestindo de drag, que é meu personagem no musical. Foi impressionante a quantidade de comentários homofóbicos que recebi. Algo como “nossa, que decepção, prefiro você como um galã”. Claro que minha felicidade de poder influenciar muitas pessoas é maior, mas, no fim, não agradei quase ninguém com essa minha escolha.

Mas agradou a você, certo?

Exato. Enfrento um desafio grande até para abrir a minha cabeça artisticamente. Esse processo serve para lidar com meus medos, para enxergar mais amplamente as coisas.

Cena do filme 'Priscilla, A Rainha do Deserto', lançado em 1994  Foto: PolyGram Filmed Entertainment

Você chegou a buscar apoio na terapia?

Com certeza, voltei a fazer. Fiquei mais fortalecido. Para viver um processo tão intenso, você aciona muitos gatilhos internos - de medos, principalmente. Nossa... Enfrentei uma época muito difícil. O mundo é muito cruel, é impressionante.

Sobre o musical, quando você se percebeu seguro para cantar?

(Abre um sorriso) Acho que ontem. Ou vai ser amanhã? (risos). Esse aspecto do canto me aterrorizava muito. Todos aqui estão muito bem preparados. O bom é que meu personagem não exige alguém que seja virtuoso do canto, não precisa ter aquela voz. É uma boa forma para se começar, pois ele canta menorzinho. Mesmo assim, eu me preparei muito, iniciei os estudos em janeiro. Desde aquela época, não fiquei um dia sem cantar, sem me exercitar.

Há alguns meses, você postou um vídeo dizendo que se inspiraria na Xuxa para construir seu personagem. Era brincadeira?

(Rindo) Foi brincadeira, sim. Eu tinha acabado de estar com ela e estava emocionado. Adoro a Xuxa, ela sempre foi exuberante no palco, com vestidos coloridos, e isso é inspirador para uma drag. Ter autenticidade na forma como se veste. Não à toa seus figurinos, que lhe deram uma identidade, foram sempre muito copiados. Acho que esse é o mundo das drags. Xuxa, como a Claudia Raia, são inspirações para as drags. E, de uma certa forma, também me inspiraram para construir esse personagem. Principalmente a Claudia, que é do musical, que me ajuda muito.

E como é dançar montado?

Menino, é um desafio que não acaba. Para começar, dançar com um salto 15, algo que nunca usei na vida. Mas, quando você bota um salto alto e se veste com um figurino exuberante, o quadril praticamente já vai para outro lugar (risos).

Serviço

Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical

  • Teatro Bradesco. Shopping Bourbon. R. Palestra Itália, 500. 5ª e 6ª, 20h. Sábado e domingo, 16h e 20h. R$ 95 / R$ 200. Até 1º de setembro
Entrevista por Ubiratan Brasil

É jornalista que trabalha com cultura e esportes, mas apaixonado por musicais, na tela ou no palco, onde até o drama mais banal pode se transformar em um clássico

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