Senhoras à beira de um ataque de nervos e de riso: Conheça ‘Radojka’, a nova comédia com Marisa Orth


Atriz divide o palco com Tânia Bondezan nesta peça sobre duas mulheres que se revezam nos cuidados de uma idosa, que morre em casa. Diante da iminência de perder o emprego, elas entram em desespero e inventam planos mirabolantes para que os filhos de Radojka não descubram sua morte

Por Dirceu Alves Jr

Em 1986, a atriz Tânia Bondezan contracenava com o ator Elias Andreato na peça O Corpo Estrangeiro, de Marguerite Duras, no Espaço Off. Misto de teatro e bar, o Off ditava as tendências vanguardistas paulistanas dos anos de 1980 e, por lá, o Grupo Luni, banda que tinha como vocalista a jovem atriz e cantora Marisa Orth, recém-saída da Escola de Arte da Dramática (EAD), fez alguns dos primeiros espetáculos.

“Foi no Off, depois de um show do Luni, que conheci a Marisa, mas ouvia falar nela pelo diretor José Possi Neto”, conta Tânia. “Possi me dizia: ‘Você precisa ser apresentada a essa menina, vocês se parecem, têm a mesma energia, a diferença é que ela é mais atirada, fez EAD e você estudou geografia.’”

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Marisa se surpreende com a memória da colega e não se lembre dos detalhes da conversa. Ela tinha visto Tânia no espetáculo Artaud, O Espírito do Teatro, texto de José Rubens Siqueira, dirigido por Francisco Medeiros, um ano antes desse primeiro encontro. “O Zé Rubens e o Chiquinho comentavam sobre esse papo da energia parecida, devia ser por causa dessa flexibilidade natural para transitar entre o drama e a comédia, de uma ironia que carregamos”, explica Marisa.

As décadas de passaram, encontros rápidos através de amigos comuns continuaram acontecendo até que, em 2001, as duas se cruzaram nas filmagens de Durval Discos, longa de Anna Muylaert. “Eram poucas cenas, eu fazia a dona de uma confeitaria, e Marisa era a minha funcionária, não ficamos amigas, só fui ter o celular dela agora”, provoca Tânia.

Marisa Orth e Tânia Bondezan dividem o palco em 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada', em cartaz no Teatro Faap. Foto: Joao Caldas / Divulgação
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Finalmente, quase quatro décadas depois do primeiro contato, Tânia, hoje com 70 anos, e Marisa, aos 60, vão dividir o palco em Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada, peça escrita pelos uruguaios Fernando Schmidt e Christian Ibarzabal e dirigida por Odilon Wagner, em cartaz no Teatro Faap desde a terça, dia 19.

Na história, já encenada em doze países, elas interpretam duas cuidadoras de idosos, Glória e Lúcia, responsáveis, em turnos diferentes, por Radojka, uma senhora de origem sérvia, que, vítima de um acidente doméstico, morre. Diante da iminência de perder o emprego, a dupla entra em desespero e inventa os planos mais mirabolantes para que seus patrões, que moram fora do país, não descubram a tragédia.

Recebo muitas comédias para ler e não acho a menor graça, desta vez, morria de rir, porque o divertido está nas situações, nas palavras e nas pausas.

Marisa Orth sobre a peça 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada'

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Tânia é uma observadora atenta da dramaturgia latino-americana e, por quatro anos, fez sucesso como o solo Como Ter Sexo a Vida Toda com a mesma Pessoa, da argentina Mónica Salvador. “São histórias de fundo social, muito mais próximas da realidade brasileira porque somos países vizinhos que sofrem as com mesmas dificuldades e, por mais que as situações pareçam absurdas, temos duas mulheres, que, na idade delas, vai ser difícil mesmo arrumar outro trabalho”, declara.

Marisa também descarta qualquer exagero na dramaturgia cômica de Radojka. “Se Lúcia e Glória fossem duas senhoras europeias, elas ainda teriam direito a alguma subvenção do governo, mas, aqui na América Latina, mulher velha é mulher morta, então precisam defender a própria sobrevivência a qualquer preço”, completa

Para Tânia, a intérprete de Lúcia, a sua personagem parece mais ingênua, aquele tipo um tanto maluco que embarca nas armações de Glória, mais decidida, ardilosa e responsável pela movimentação da trama. A atriz – e coprodutora junto de Odilon Wagner – afirma que busca inspiração em duplas clássicas de opostos como o Gordo e o Magro do cinema.

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Marisa puxa outra referência das telas, desta vez Um Estranho Casal, filme com Jack Lemmon e Walter Matthau, sobre dois amigos, um metódico e outro desorganizado, que dividem um apartamento. “Eu me espelho no Matthau para criar uma Glória mais subterrânea, meio corcunda, arrastando os chinelos”, diz. “É uma comédia que não cabe improvisar, colocar cacos, porque pode deformar, o humor está na relação destas mulheres.”

Marisa Orth e Tânia Bondezan dividem o palco em 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada', em cartaz no Teatro Faap. Foto: João Caldas/Divulgação

Com a estreia de Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada, Marisa confessa a realização de sonho de viver unicamente de teatro e descansar apenas nas segundas-feiras, como era comum aos artistas de gerações anteriores a sua. Se, de terça a quinta, ela interpreta Glória, de sextas a domingos, pode ser vista no Teatro Bravos como Bárbara, peça de Michelle Ferreira dirigida por Bruno Guida, com base no livro A Saideira, da jornalista Barbara Gancia e sua relação com o alcoolismo. “Eu me sinto em uma companhia de repertório, até porque são dois trabalhos totalmente distintos, um é um monólogo denso e o outro um pingue-pongue, um jogo de tênis de mesa”, compara.

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A instabilidade do sustento, velha conhecida dos profissionais dos palcos, não assusta mais a dupla e muito menos o etarismo. “Eu faço teatro para ser feliz, firmar boas parcerias e emendei Como Ter Sexo a Vida Toda com a mesma Pessoa com outra peça de sucesso, A Golondrina, e, agora, Radojka, sempre encontramos meios para exercer o nosso ofício”, diz Tânia, que, por A Golondrina, venceu o Prêmio Shell de melhor atriz de 2019.

Marisa, que, de acordo com a atual política da Rede Globo, ficou sem contrato fixo com a emissora, valoriza a nova fase para, inclusive, investir em projetos de longa duração. “Já criei meu filho, a minha casa é própria e a gente conseguiu segurar Bárbara em cartaz por muito tempo, mesmo sem patrocínio, para, agora, fazer temporadas maiores e enxergar os resultados, então está tudo certo.”

Serviço

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Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada. Teatro Faap. Rua Alagoas, 903, Higienópolis. Terça a quinta, 20h. R$ 120. Até 23 de maio.

Em 1986, a atriz Tânia Bondezan contracenava com o ator Elias Andreato na peça O Corpo Estrangeiro, de Marguerite Duras, no Espaço Off. Misto de teatro e bar, o Off ditava as tendências vanguardistas paulistanas dos anos de 1980 e, por lá, o Grupo Luni, banda que tinha como vocalista a jovem atriz e cantora Marisa Orth, recém-saída da Escola de Arte da Dramática (EAD), fez alguns dos primeiros espetáculos.

“Foi no Off, depois de um show do Luni, que conheci a Marisa, mas ouvia falar nela pelo diretor José Possi Neto”, conta Tânia. “Possi me dizia: ‘Você precisa ser apresentada a essa menina, vocês se parecem, têm a mesma energia, a diferença é que ela é mais atirada, fez EAD e você estudou geografia.’”

Marisa se surpreende com a memória da colega e não se lembre dos detalhes da conversa. Ela tinha visto Tânia no espetáculo Artaud, O Espírito do Teatro, texto de José Rubens Siqueira, dirigido por Francisco Medeiros, um ano antes desse primeiro encontro. “O Zé Rubens e o Chiquinho comentavam sobre esse papo da energia parecida, devia ser por causa dessa flexibilidade natural para transitar entre o drama e a comédia, de uma ironia que carregamos”, explica Marisa.

As décadas de passaram, encontros rápidos através de amigos comuns continuaram acontecendo até que, em 2001, as duas se cruzaram nas filmagens de Durval Discos, longa de Anna Muylaert. “Eram poucas cenas, eu fazia a dona de uma confeitaria, e Marisa era a minha funcionária, não ficamos amigas, só fui ter o celular dela agora”, provoca Tânia.

Marisa Orth e Tânia Bondezan dividem o palco em 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada', em cartaz no Teatro Faap. Foto: Joao Caldas / Divulgação

Finalmente, quase quatro décadas depois do primeiro contato, Tânia, hoje com 70 anos, e Marisa, aos 60, vão dividir o palco em Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada, peça escrita pelos uruguaios Fernando Schmidt e Christian Ibarzabal e dirigida por Odilon Wagner, em cartaz no Teatro Faap desde a terça, dia 19.

Na história, já encenada em doze países, elas interpretam duas cuidadoras de idosos, Glória e Lúcia, responsáveis, em turnos diferentes, por Radojka, uma senhora de origem sérvia, que, vítima de um acidente doméstico, morre. Diante da iminência de perder o emprego, a dupla entra em desespero e inventa os planos mais mirabolantes para que seus patrões, que moram fora do país, não descubram a tragédia.

Recebo muitas comédias para ler e não acho a menor graça, desta vez, morria de rir, porque o divertido está nas situações, nas palavras e nas pausas.

Marisa Orth sobre a peça 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada'

Tânia é uma observadora atenta da dramaturgia latino-americana e, por quatro anos, fez sucesso como o solo Como Ter Sexo a Vida Toda com a mesma Pessoa, da argentina Mónica Salvador. “São histórias de fundo social, muito mais próximas da realidade brasileira porque somos países vizinhos que sofrem as com mesmas dificuldades e, por mais que as situações pareçam absurdas, temos duas mulheres, que, na idade delas, vai ser difícil mesmo arrumar outro trabalho”, declara.

Marisa também descarta qualquer exagero na dramaturgia cômica de Radojka. “Se Lúcia e Glória fossem duas senhoras europeias, elas ainda teriam direito a alguma subvenção do governo, mas, aqui na América Latina, mulher velha é mulher morta, então precisam defender a própria sobrevivência a qualquer preço”, completa

Para Tânia, a intérprete de Lúcia, a sua personagem parece mais ingênua, aquele tipo um tanto maluco que embarca nas armações de Glória, mais decidida, ardilosa e responsável pela movimentação da trama. A atriz – e coprodutora junto de Odilon Wagner – afirma que busca inspiração em duplas clássicas de opostos como o Gordo e o Magro do cinema.

Marisa puxa outra referência das telas, desta vez Um Estranho Casal, filme com Jack Lemmon e Walter Matthau, sobre dois amigos, um metódico e outro desorganizado, que dividem um apartamento. “Eu me espelho no Matthau para criar uma Glória mais subterrânea, meio corcunda, arrastando os chinelos”, diz. “É uma comédia que não cabe improvisar, colocar cacos, porque pode deformar, o humor está na relação destas mulheres.”

Marisa Orth e Tânia Bondezan dividem o palco em 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada', em cartaz no Teatro Faap. Foto: João Caldas/Divulgação

Com a estreia de Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada, Marisa confessa a realização de sonho de viver unicamente de teatro e descansar apenas nas segundas-feiras, como era comum aos artistas de gerações anteriores a sua. Se, de terça a quinta, ela interpreta Glória, de sextas a domingos, pode ser vista no Teatro Bravos como Bárbara, peça de Michelle Ferreira dirigida por Bruno Guida, com base no livro A Saideira, da jornalista Barbara Gancia e sua relação com o alcoolismo. “Eu me sinto em uma companhia de repertório, até porque são dois trabalhos totalmente distintos, um é um monólogo denso e o outro um pingue-pongue, um jogo de tênis de mesa”, compara.

A instabilidade do sustento, velha conhecida dos profissionais dos palcos, não assusta mais a dupla e muito menos o etarismo. “Eu faço teatro para ser feliz, firmar boas parcerias e emendei Como Ter Sexo a Vida Toda com a mesma Pessoa com outra peça de sucesso, A Golondrina, e, agora, Radojka, sempre encontramos meios para exercer o nosso ofício”, diz Tânia, que, por A Golondrina, venceu o Prêmio Shell de melhor atriz de 2019.

Marisa, que, de acordo com a atual política da Rede Globo, ficou sem contrato fixo com a emissora, valoriza a nova fase para, inclusive, investir em projetos de longa duração. “Já criei meu filho, a minha casa é própria e a gente conseguiu segurar Bárbara em cartaz por muito tempo, mesmo sem patrocínio, para, agora, fazer temporadas maiores e enxergar os resultados, então está tudo certo.”

Serviço

Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada. Teatro Faap. Rua Alagoas, 903, Higienópolis. Terça a quinta, 20h. R$ 120. Até 23 de maio.

Em 1986, a atriz Tânia Bondezan contracenava com o ator Elias Andreato na peça O Corpo Estrangeiro, de Marguerite Duras, no Espaço Off. Misto de teatro e bar, o Off ditava as tendências vanguardistas paulistanas dos anos de 1980 e, por lá, o Grupo Luni, banda que tinha como vocalista a jovem atriz e cantora Marisa Orth, recém-saída da Escola de Arte da Dramática (EAD), fez alguns dos primeiros espetáculos.

“Foi no Off, depois de um show do Luni, que conheci a Marisa, mas ouvia falar nela pelo diretor José Possi Neto”, conta Tânia. “Possi me dizia: ‘Você precisa ser apresentada a essa menina, vocês se parecem, têm a mesma energia, a diferença é que ela é mais atirada, fez EAD e você estudou geografia.’”

Marisa se surpreende com a memória da colega e não se lembre dos detalhes da conversa. Ela tinha visto Tânia no espetáculo Artaud, O Espírito do Teatro, texto de José Rubens Siqueira, dirigido por Francisco Medeiros, um ano antes desse primeiro encontro. “O Zé Rubens e o Chiquinho comentavam sobre esse papo da energia parecida, devia ser por causa dessa flexibilidade natural para transitar entre o drama e a comédia, de uma ironia que carregamos”, explica Marisa.

As décadas de passaram, encontros rápidos através de amigos comuns continuaram acontecendo até que, em 2001, as duas se cruzaram nas filmagens de Durval Discos, longa de Anna Muylaert. “Eram poucas cenas, eu fazia a dona de uma confeitaria, e Marisa era a minha funcionária, não ficamos amigas, só fui ter o celular dela agora”, provoca Tânia.

Marisa Orth e Tânia Bondezan dividem o palco em 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada', em cartaz no Teatro Faap. Foto: Joao Caldas / Divulgação

Finalmente, quase quatro décadas depois do primeiro contato, Tânia, hoje com 70 anos, e Marisa, aos 60, vão dividir o palco em Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada, peça escrita pelos uruguaios Fernando Schmidt e Christian Ibarzabal e dirigida por Odilon Wagner, em cartaz no Teatro Faap desde a terça, dia 19.

Na história, já encenada em doze países, elas interpretam duas cuidadoras de idosos, Glória e Lúcia, responsáveis, em turnos diferentes, por Radojka, uma senhora de origem sérvia, que, vítima de um acidente doméstico, morre. Diante da iminência de perder o emprego, a dupla entra em desespero e inventa os planos mais mirabolantes para que seus patrões, que moram fora do país, não descubram a tragédia.

Recebo muitas comédias para ler e não acho a menor graça, desta vez, morria de rir, porque o divertido está nas situações, nas palavras e nas pausas.

Marisa Orth sobre a peça 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada'

Tânia é uma observadora atenta da dramaturgia latino-americana e, por quatro anos, fez sucesso como o solo Como Ter Sexo a Vida Toda com a mesma Pessoa, da argentina Mónica Salvador. “São histórias de fundo social, muito mais próximas da realidade brasileira porque somos países vizinhos que sofrem as com mesmas dificuldades e, por mais que as situações pareçam absurdas, temos duas mulheres, que, na idade delas, vai ser difícil mesmo arrumar outro trabalho”, declara.

Marisa também descarta qualquer exagero na dramaturgia cômica de Radojka. “Se Lúcia e Glória fossem duas senhoras europeias, elas ainda teriam direito a alguma subvenção do governo, mas, aqui na América Latina, mulher velha é mulher morta, então precisam defender a própria sobrevivência a qualquer preço”, completa

Para Tânia, a intérprete de Lúcia, a sua personagem parece mais ingênua, aquele tipo um tanto maluco que embarca nas armações de Glória, mais decidida, ardilosa e responsável pela movimentação da trama. A atriz – e coprodutora junto de Odilon Wagner – afirma que busca inspiração em duplas clássicas de opostos como o Gordo e o Magro do cinema.

Marisa puxa outra referência das telas, desta vez Um Estranho Casal, filme com Jack Lemmon e Walter Matthau, sobre dois amigos, um metódico e outro desorganizado, que dividem um apartamento. “Eu me espelho no Matthau para criar uma Glória mais subterrânea, meio corcunda, arrastando os chinelos”, diz. “É uma comédia que não cabe improvisar, colocar cacos, porque pode deformar, o humor está na relação destas mulheres.”

Marisa Orth e Tânia Bondezan dividem o palco em 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada', em cartaz no Teatro Faap. Foto: João Caldas/Divulgação

Com a estreia de Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada, Marisa confessa a realização de sonho de viver unicamente de teatro e descansar apenas nas segundas-feiras, como era comum aos artistas de gerações anteriores a sua. Se, de terça a quinta, ela interpreta Glória, de sextas a domingos, pode ser vista no Teatro Bravos como Bárbara, peça de Michelle Ferreira dirigida por Bruno Guida, com base no livro A Saideira, da jornalista Barbara Gancia e sua relação com o alcoolismo. “Eu me sinto em uma companhia de repertório, até porque são dois trabalhos totalmente distintos, um é um monólogo denso e o outro um pingue-pongue, um jogo de tênis de mesa”, compara.

A instabilidade do sustento, velha conhecida dos profissionais dos palcos, não assusta mais a dupla e muito menos o etarismo. “Eu faço teatro para ser feliz, firmar boas parcerias e emendei Como Ter Sexo a Vida Toda com a mesma Pessoa com outra peça de sucesso, A Golondrina, e, agora, Radojka, sempre encontramos meios para exercer o nosso ofício”, diz Tânia, que, por A Golondrina, venceu o Prêmio Shell de melhor atriz de 2019.

Marisa, que, de acordo com a atual política da Rede Globo, ficou sem contrato fixo com a emissora, valoriza a nova fase para, inclusive, investir em projetos de longa duração. “Já criei meu filho, a minha casa é própria e a gente conseguiu segurar Bárbara em cartaz por muito tempo, mesmo sem patrocínio, para, agora, fazer temporadas maiores e enxergar os resultados, então está tudo certo.”

Serviço

Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada. Teatro Faap. Rua Alagoas, 903, Higienópolis. Terça a quinta, 20h. R$ 120. Até 23 de maio.

Em 1986, a atriz Tânia Bondezan contracenava com o ator Elias Andreato na peça O Corpo Estrangeiro, de Marguerite Duras, no Espaço Off. Misto de teatro e bar, o Off ditava as tendências vanguardistas paulistanas dos anos de 1980 e, por lá, o Grupo Luni, banda que tinha como vocalista a jovem atriz e cantora Marisa Orth, recém-saída da Escola de Arte da Dramática (EAD), fez alguns dos primeiros espetáculos.

“Foi no Off, depois de um show do Luni, que conheci a Marisa, mas ouvia falar nela pelo diretor José Possi Neto”, conta Tânia. “Possi me dizia: ‘Você precisa ser apresentada a essa menina, vocês se parecem, têm a mesma energia, a diferença é que ela é mais atirada, fez EAD e você estudou geografia.’”

Marisa se surpreende com a memória da colega e não se lembre dos detalhes da conversa. Ela tinha visto Tânia no espetáculo Artaud, O Espírito do Teatro, texto de José Rubens Siqueira, dirigido por Francisco Medeiros, um ano antes desse primeiro encontro. “O Zé Rubens e o Chiquinho comentavam sobre esse papo da energia parecida, devia ser por causa dessa flexibilidade natural para transitar entre o drama e a comédia, de uma ironia que carregamos”, explica Marisa.

As décadas de passaram, encontros rápidos através de amigos comuns continuaram acontecendo até que, em 2001, as duas se cruzaram nas filmagens de Durval Discos, longa de Anna Muylaert. “Eram poucas cenas, eu fazia a dona de uma confeitaria, e Marisa era a minha funcionária, não ficamos amigas, só fui ter o celular dela agora”, provoca Tânia.

Marisa Orth e Tânia Bondezan dividem o palco em 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada', em cartaz no Teatro Faap. Foto: Joao Caldas / Divulgação

Finalmente, quase quatro décadas depois do primeiro contato, Tânia, hoje com 70 anos, e Marisa, aos 60, vão dividir o palco em Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada, peça escrita pelos uruguaios Fernando Schmidt e Christian Ibarzabal e dirigida por Odilon Wagner, em cartaz no Teatro Faap desde a terça, dia 19.

Na história, já encenada em doze países, elas interpretam duas cuidadoras de idosos, Glória e Lúcia, responsáveis, em turnos diferentes, por Radojka, uma senhora de origem sérvia, que, vítima de um acidente doméstico, morre. Diante da iminência de perder o emprego, a dupla entra em desespero e inventa os planos mais mirabolantes para que seus patrões, que moram fora do país, não descubram a tragédia.

Recebo muitas comédias para ler e não acho a menor graça, desta vez, morria de rir, porque o divertido está nas situações, nas palavras e nas pausas.

Marisa Orth sobre a peça 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada'

Tânia é uma observadora atenta da dramaturgia latino-americana e, por quatro anos, fez sucesso como o solo Como Ter Sexo a Vida Toda com a mesma Pessoa, da argentina Mónica Salvador. “São histórias de fundo social, muito mais próximas da realidade brasileira porque somos países vizinhos que sofrem as com mesmas dificuldades e, por mais que as situações pareçam absurdas, temos duas mulheres, que, na idade delas, vai ser difícil mesmo arrumar outro trabalho”, declara.

Marisa também descarta qualquer exagero na dramaturgia cômica de Radojka. “Se Lúcia e Glória fossem duas senhoras europeias, elas ainda teriam direito a alguma subvenção do governo, mas, aqui na América Latina, mulher velha é mulher morta, então precisam defender a própria sobrevivência a qualquer preço”, completa

Para Tânia, a intérprete de Lúcia, a sua personagem parece mais ingênua, aquele tipo um tanto maluco que embarca nas armações de Glória, mais decidida, ardilosa e responsável pela movimentação da trama. A atriz – e coprodutora junto de Odilon Wagner – afirma que busca inspiração em duplas clássicas de opostos como o Gordo e o Magro do cinema.

Marisa puxa outra referência das telas, desta vez Um Estranho Casal, filme com Jack Lemmon e Walter Matthau, sobre dois amigos, um metódico e outro desorganizado, que dividem um apartamento. “Eu me espelho no Matthau para criar uma Glória mais subterrânea, meio corcunda, arrastando os chinelos”, diz. “É uma comédia que não cabe improvisar, colocar cacos, porque pode deformar, o humor está na relação destas mulheres.”

Marisa Orth e Tânia Bondezan dividem o palco em 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada', em cartaz no Teatro Faap. Foto: João Caldas/Divulgação

Com a estreia de Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada, Marisa confessa a realização de sonho de viver unicamente de teatro e descansar apenas nas segundas-feiras, como era comum aos artistas de gerações anteriores a sua. Se, de terça a quinta, ela interpreta Glória, de sextas a domingos, pode ser vista no Teatro Bravos como Bárbara, peça de Michelle Ferreira dirigida por Bruno Guida, com base no livro A Saideira, da jornalista Barbara Gancia e sua relação com o alcoolismo. “Eu me sinto em uma companhia de repertório, até porque são dois trabalhos totalmente distintos, um é um monólogo denso e o outro um pingue-pongue, um jogo de tênis de mesa”, compara.

A instabilidade do sustento, velha conhecida dos profissionais dos palcos, não assusta mais a dupla e muito menos o etarismo. “Eu faço teatro para ser feliz, firmar boas parcerias e emendei Como Ter Sexo a Vida Toda com a mesma Pessoa com outra peça de sucesso, A Golondrina, e, agora, Radojka, sempre encontramos meios para exercer o nosso ofício”, diz Tânia, que, por A Golondrina, venceu o Prêmio Shell de melhor atriz de 2019.

Marisa, que, de acordo com a atual política da Rede Globo, ficou sem contrato fixo com a emissora, valoriza a nova fase para, inclusive, investir em projetos de longa duração. “Já criei meu filho, a minha casa é própria e a gente conseguiu segurar Bárbara em cartaz por muito tempo, mesmo sem patrocínio, para, agora, fazer temporadas maiores e enxergar os resultados, então está tudo certo.”

Serviço

Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada. Teatro Faap. Rua Alagoas, 903, Higienópolis. Terça a quinta, 20h. R$ 120. Até 23 de maio.

Em 1986, a atriz Tânia Bondezan contracenava com o ator Elias Andreato na peça O Corpo Estrangeiro, de Marguerite Duras, no Espaço Off. Misto de teatro e bar, o Off ditava as tendências vanguardistas paulistanas dos anos de 1980 e, por lá, o Grupo Luni, banda que tinha como vocalista a jovem atriz e cantora Marisa Orth, recém-saída da Escola de Arte da Dramática (EAD), fez alguns dos primeiros espetáculos.

“Foi no Off, depois de um show do Luni, que conheci a Marisa, mas ouvia falar nela pelo diretor José Possi Neto”, conta Tânia. “Possi me dizia: ‘Você precisa ser apresentada a essa menina, vocês se parecem, têm a mesma energia, a diferença é que ela é mais atirada, fez EAD e você estudou geografia.’”

Marisa se surpreende com a memória da colega e não se lembre dos detalhes da conversa. Ela tinha visto Tânia no espetáculo Artaud, O Espírito do Teatro, texto de José Rubens Siqueira, dirigido por Francisco Medeiros, um ano antes desse primeiro encontro. “O Zé Rubens e o Chiquinho comentavam sobre esse papo da energia parecida, devia ser por causa dessa flexibilidade natural para transitar entre o drama e a comédia, de uma ironia que carregamos”, explica Marisa.

As décadas de passaram, encontros rápidos através de amigos comuns continuaram acontecendo até que, em 2001, as duas se cruzaram nas filmagens de Durval Discos, longa de Anna Muylaert. “Eram poucas cenas, eu fazia a dona de uma confeitaria, e Marisa era a minha funcionária, não ficamos amigas, só fui ter o celular dela agora”, provoca Tânia.

Marisa Orth e Tânia Bondezan dividem o palco em 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada', em cartaz no Teatro Faap. Foto: Joao Caldas / Divulgação

Finalmente, quase quatro décadas depois do primeiro contato, Tânia, hoje com 70 anos, e Marisa, aos 60, vão dividir o palco em Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada, peça escrita pelos uruguaios Fernando Schmidt e Christian Ibarzabal e dirigida por Odilon Wagner, em cartaz no Teatro Faap desde a terça, dia 19.

Na história, já encenada em doze países, elas interpretam duas cuidadoras de idosos, Glória e Lúcia, responsáveis, em turnos diferentes, por Radojka, uma senhora de origem sérvia, que, vítima de um acidente doméstico, morre. Diante da iminência de perder o emprego, a dupla entra em desespero e inventa os planos mais mirabolantes para que seus patrões, que moram fora do país, não descubram a tragédia.

Recebo muitas comédias para ler e não acho a menor graça, desta vez, morria de rir, porque o divertido está nas situações, nas palavras e nas pausas.

Marisa Orth sobre a peça 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada'

Tânia é uma observadora atenta da dramaturgia latino-americana e, por quatro anos, fez sucesso como o solo Como Ter Sexo a Vida Toda com a mesma Pessoa, da argentina Mónica Salvador. “São histórias de fundo social, muito mais próximas da realidade brasileira porque somos países vizinhos que sofrem as com mesmas dificuldades e, por mais que as situações pareçam absurdas, temos duas mulheres, que, na idade delas, vai ser difícil mesmo arrumar outro trabalho”, declara.

Marisa também descarta qualquer exagero na dramaturgia cômica de Radojka. “Se Lúcia e Glória fossem duas senhoras europeias, elas ainda teriam direito a alguma subvenção do governo, mas, aqui na América Latina, mulher velha é mulher morta, então precisam defender a própria sobrevivência a qualquer preço”, completa

Para Tânia, a intérprete de Lúcia, a sua personagem parece mais ingênua, aquele tipo um tanto maluco que embarca nas armações de Glória, mais decidida, ardilosa e responsável pela movimentação da trama. A atriz – e coprodutora junto de Odilon Wagner – afirma que busca inspiração em duplas clássicas de opostos como o Gordo e o Magro do cinema.

Marisa puxa outra referência das telas, desta vez Um Estranho Casal, filme com Jack Lemmon e Walter Matthau, sobre dois amigos, um metódico e outro desorganizado, que dividem um apartamento. “Eu me espelho no Matthau para criar uma Glória mais subterrânea, meio corcunda, arrastando os chinelos”, diz. “É uma comédia que não cabe improvisar, colocar cacos, porque pode deformar, o humor está na relação destas mulheres.”

Marisa Orth e Tânia Bondezan dividem o palco em 'Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada', em cartaz no Teatro Faap. Foto: João Caldas/Divulgação

Com a estreia de Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada, Marisa confessa a realização de sonho de viver unicamente de teatro e descansar apenas nas segundas-feiras, como era comum aos artistas de gerações anteriores a sua. Se, de terça a quinta, ela interpreta Glória, de sextas a domingos, pode ser vista no Teatro Bravos como Bárbara, peça de Michelle Ferreira dirigida por Bruno Guida, com base no livro A Saideira, da jornalista Barbara Gancia e sua relação com o alcoolismo. “Eu me sinto em uma companhia de repertório, até porque são dois trabalhos totalmente distintos, um é um monólogo denso e o outro um pingue-pongue, um jogo de tênis de mesa”, compara.

A instabilidade do sustento, velha conhecida dos profissionais dos palcos, não assusta mais a dupla e muito menos o etarismo. “Eu faço teatro para ser feliz, firmar boas parcerias e emendei Como Ter Sexo a Vida Toda com a mesma Pessoa com outra peça de sucesso, A Golondrina, e, agora, Radojka, sempre encontramos meios para exercer o nosso ofício”, diz Tânia, que, por A Golondrina, venceu o Prêmio Shell de melhor atriz de 2019.

Marisa, que, de acordo com a atual política da Rede Globo, ficou sem contrato fixo com a emissora, valoriza a nova fase para, inclusive, investir em projetos de longa duração. “Já criei meu filho, a minha casa é própria e a gente conseguiu segurar Bárbara em cartaz por muito tempo, mesmo sem patrocínio, para, agora, fazer temporadas maiores e enxergar os resultados, então está tudo certo.”

Serviço

Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada. Teatro Faap. Rua Alagoas, 903, Higienópolis. Terça a quinta, 20h. R$ 120. Até 23 de maio.

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