Aos 21 anos, Vitor Rocha é revelação no palco dos musicais


O ator e dramaturgo ganhou todas as principais distinções do ano

Por Ubiratan Brasil

Um balde metálico foi o grande amuleto do ator e dramaturgo Vitor Rocha em 2018. Foi acompanhado desse objeto, seja fisicamente ou mesmo em pensamento, que ele recebeu os principais prêmios de revelação do teatro musical no ano. Nada surpreendente, pois o balde é um importante personagem de Cargas D’Água – Um Musical de Bolso, que nasceu tímido, com modestas pretensões, mas terminou conquistando plateia e crítica. “Quando se faz um espetáculo 100% independente e autoral, é muito difícil chegar até o público”, comenta ele. “A nossa jornada, com toda certeza, teria se encerrado logo após as 5 sessões previstas se não fossem os sites, blogs e canais especializados em teatro musical.”

O que torna esse espetáculo tão especial, a ponto de ter conquistado prêmios como Bibi Ferreira e Destaque Imprensa Digital, entre outros, foi sua bem dosada mistura de originalidade com simplicidade. A história se passa no sertão mineiro, onde um menino perde a mãe e é obrigado a viver com o padrasto, um homem egoísta, mandão. Despreza o garoto, tratando-o apenas por “moleque”, a ponto de o menino se esquecer do próprio nome e responder apenas por Moleque. O consolo, ele encontra em um peixe que, depois de se recusar a matá-lo, torna-se seu principal amigo. Vivendo em um balde, o bichinho ganha o nome de Cargas D’Água, expressão que Moleque escuta do padrasto e que imediatamente cai no seu agrado. Carregando o balde pela imensidão do sertão, Moleque quer chegar até o mar, onde finalmente dará a liberdade para o amigo. No caminho, ele encontra personagens peculiares, como o homem que oferece lágrimas em pequenas garrafas – a primeira foi preenchida justamente a partir de seu próprio choro. 

Projetos. Ele já pretende estrear três espetáculos Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
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Inicialmente, Rocha planejava escrever um monólogo, com apenas Moleque e o balde. “Mas, aos poucos, percebi que a jornada até o mar exigia a presença de outros personagens”, conta ele, cuja imensidão do talento contrasta com sua pouca idade: 21 anos. Assim, além do vendedor de lágrimas, Moleque, ao longo de sua jornada, conhece Charles e Pepita, casal que comanda um circo em decadência – os demais atores abandonaram a companhia à medida que o público minguava.

Aceito pelo casal, Moleque ganha uma função artística; mais que isso: finalmente toma o rumo do mar. Com dez músicas compostas por Rocha (que também assina a direção), Cargas D’Água conquista a adesão do público já em seus primeiros minutos, quando sua limitação técnica (cenário reduzido a caixotes, ausência de música ao vivo, figurinos suntuosos) é derrotada pela qualidade graças à imaginação criativa. Rocha se divide em vários papéis, como o Padrasto, o vendedor de lágrimas e, finalmente, em Charles – na primeira montagem, Moleque foi vivido pelo versátil André Torquato e Pepita, por Ana Paula Villar.

Não bastasse o interesse despertado pelo fio condutor da trama, o encanto vem justamente da forma como Vitor Rocha alinhavou os diálogos – nascido em Pouso Alegre, município mineiro próximo da fronteira com São Paulo, ele se valeu da prosódia que se acostumou a ouvir em sua cidade ao longo da juventude, uma forma peculiar de falar em que a poesia ornamenta naturalmente as palavras. Tal vocabulário marca seus dois primeiros livros: O Mágico Di Ó, lançado em 2015 e cuja adaptação para o teatro será um de seus próximos trabalhos (informações, mais adiante), e Casusbelli, de 2017, a história de um circo que inspirou um projeto social que visa arrecadar fundos para material escolar para crianças carentes.

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O exercício da escrita, porém, começou antes, com Comitiva Esperança, musical que marcou sua formatura como ator no Teatro Escola Macunaíma. “Foi um dos primeiros textos que escrevi e conta a história real da minha mãe, filha de uma analfabeta que queria ser médica, e de mais quatro sonhadores do sertão do Brasil.” O texto foi encenado no meio do ano, graças a um grupo de pesquisa formado por 25 novos atores.

Apesar dos prêmios e de agora ser reconhecido, Vitor Rocha não pretende abandonar sua forma artesanal de trabalho. Assim, para 2019, ele prepara dois musicais autorais. “Um deles é O Mágico Di Ó (é preciso ler com sotaque), uma versão em cordel do clássico O Mágico de Oz, que ressignifica toda a história e a transporta para o sertão nordestino”, conta. “Lá, é impossível a protagonista sonhar em ver ‘além do arco-íris’, uma vez que ela vive na seca. Assim, a longa caminhada em busca do poderoso mágico sofre algumas atualizações e ganha novas mensagens. Também deixei os personagens (o Mamulengo, o Cabra-de-Lata e o Leão) mais ‘brasileiros’ e com novas motivações.” Doroteia será vivida por Luiza Porto e Ivan Parente vai assinar a direção.

Já o musical Se Essa Lua Fosse Minha contará a história de amor entre Leila e Iago, que vai tratar também de preconceito e vai utilizar ditos populares, lendas e cantigas folclóricas. Finalmente, a primeira a estrear será Uma das Bailarinas, escrita com Mariana Barros. “Vai falar sobre esse universo quase à parte, em um espetáculo que se passa todinho dentro de uma pirueta.”

Um balde metálico foi o grande amuleto do ator e dramaturgo Vitor Rocha em 2018. Foi acompanhado desse objeto, seja fisicamente ou mesmo em pensamento, que ele recebeu os principais prêmios de revelação do teatro musical no ano. Nada surpreendente, pois o balde é um importante personagem de Cargas D’Água – Um Musical de Bolso, que nasceu tímido, com modestas pretensões, mas terminou conquistando plateia e crítica. “Quando se faz um espetáculo 100% independente e autoral, é muito difícil chegar até o público”, comenta ele. “A nossa jornada, com toda certeza, teria se encerrado logo após as 5 sessões previstas se não fossem os sites, blogs e canais especializados em teatro musical.”

O que torna esse espetáculo tão especial, a ponto de ter conquistado prêmios como Bibi Ferreira e Destaque Imprensa Digital, entre outros, foi sua bem dosada mistura de originalidade com simplicidade. A história se passa no sertão mineiro, onde um menino perde a mãe e é obrigado a viver com o padrasto, um homem egoísta, mandão. Despreza o garoto, tratando-o apenas por “moleque”, a ponto de o menino se esquecer do próprio nome e responder apenas por Moleque. O consolo, ele encontra em um peixe que, depois de se recusar a matá-lo, torna-se seu principal amigo. Vivendo em um balde, o bichinho ganha o nome de Cargas D’Água, expressão que Moleque escuta do padrasto e que imediatamente cai no seu agrado. Carregando o balde pela imensidão do sertão, Moleque quer chegar até o mar, onde finalmente dará a liberdade para o amigo. No caminho, ele encontra personagens peculiares, como o homem que oferece lágrimas em pequenas garrafas – a primeira foi preenchida justamente a partir de seu próprio choro. 

Projetos. Ele já pretende estrear três espetáculos Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Inicialmente, Rocha planejava escrever um monólogo, com apenas Moleque e o balde. “Mas, aos poucos, percebi que a jornada até o mar exigia a presença de outros personagens”, conta ele, cuja imensidão do talento contrasta com sua pouca idade: 21 anos. Assim, além do vendedor de lágrimas, Moleque, ao longo de sua jornada, conhece Charles e Pepita, casal que comanda um circo em decadência – os demais atores abandonaram a companhia à medida que o público minguava.

Aceito pelo casal, Moleque ganha uma função artística; mais que isso: finalmente toma o rumo do mar. Com dez músicas compostas por Rocha (que também assina a direção), Cargas D’Água conquista a adesão do público já em seus primeiros minutos, quando sua limitação técnica (cenário reduzido a caixotes, ausência de música ao vivo, figurinos suntuosos) é derrotada pela qualidade graças à imaginação criativa. Rocha se divide em vários papéis, como o Padrasto, o vendedor de lágrimas e, finalmente, em Charles – na primeira montagem, Moleque foi vivido pelo versátil André Torquato e Pepita, por Ana Paula Villar.

Não bastasse o interesse despertado pelo fio condutor da trama, o encanto vem justamente da forma como Vitor Rocha alinhavou os diálogos – nascido em Pouso Alegre, município mineiro próximo da fronteira com São Paulo, ele se valeu da prosódia que se acostumou a ouvir em sua cidade ao longo da juventude, uma forma peculiar de falar em que a poesia ornamenta naturalmente as palavras. Tal vocabulário marca seus dois primeiros livros: O Mágico Di Ó, lançado em 2015 e cuja adaptação para o teatro será um de seus próximos trabalhos (informações, mais adiante), e Casusbelli, de 2017, a história de um circo que inspirou um projeto social que visa arrecadar fundos para material escolar para crianças carentes.

O exercício da escrita, porém, começou antes, com Comitiva Esperança, musical que marcou sua formatura como ator no Teatro Escola Macunaíma. “Foi um dos primeiros textos que escrevi e conta a história real da minha mãe, filha de uma analfabeta que queria ser médica, e de mais quatro sonhadores do sertão do Brasil.” O texto foi encenado no meio do ano, graças a um grupo de pesquisa formado por 25 novos atores.

Apesar dos prêmios e de agora ser reconhecido, Vitor Rocha não pretende abandonar sua forma artesanal de trabalho. Assim, para 2019, ele prepara dois musicais autorais. “Um deles é O Mágico Di Ó (é preciso ler com sotaque), uma versão em cordel do clássico O Mágico de Oz, que ressignifica toda a história e a transporta para o sertão nordestino”, conta. “Lá, é impossível a protagonista sonhar em ver ‘além do arco-íris’, uma vez que ela vive na seca. Assim, a longa caminhada em busca do poderoso mágico sofre algumas atualizações e ganha novas mensagens. Também deixei os personagens (o Mamulengo, o Cabra-de-Lata e o Leão) mais ‘brasileiros’ e com novas motivações.” Doroteia será vivida por Luiza Porto e Ivan Parente vai assinar a direção.

Já o musical Se Essa Lua Fosse Minha contará a história de amor entre Leila e Iago, que vai tratar também de preconceito e vai utilizar ditos populares, lendas e cantigas folclóricas. Finalmente, a primeira a estrear será Uma das Bailarinas, escrita com Mariana Barros. “Vai falar sobre esse universo quase à parte, em um espetáculo que se passa todinho dentro de uma pirueta.”

Um balde metálico foi o grande amuleto do ator e dramaturgo Vitor Rocha em 2018. Foi acompanhado desse objeto, seja fisicamente ou mesmo em pensamento, que ele recebeu os principais prêmios de revelação do teatro musical no ano. Nada surpreendente, pois o balde é um importante personagem de Cargas D’Água – Um Musical de Bolso, que nasceu tímido, com modestas pretensões, mas terminou conquistando plateia e crítica. “Quando se faz um espetáculo 100% independente e autoral, é muito difícil chegar até o público”, comenta ele. “A nossa jornada, com toda certeza, teria se encerrado logo após as 5 sessões previstas se não fossem os sites, blogs e canais especializados em teatro musical.”

O que torna esse espetáculo tão especial, a ponto de ter conquistado prêmios como Bibi Ferreira e Destaque Imprensa Digital, entre outros, foi sua bem dosada mistura de originalidade com simplicidade. A história se passa no sertão mineiro, onde um menino perde a mãe e é obrigado a viver com o padrasto, um homem egoísta, mandão. Despreza o garoto, tratando-o apenas por “moleque”, a ponto de o menino se esquecer do próprio nome e responder apenas por Moleque. O consolo, ele encontra em um peixe que, depois de se recusar a matá-lo, torna-se seu principal amigo. Vivendo em um balde, o bichinho ganha o nome de Cargas D’Água, expressão que Moleque escuta do padrasto e que imediatamente cai no seu agrado. Carregando o balde pela imensidão do sertão, Moleque quer chegar até o mar, onde finalmente dará a liberdade para o amigo. No caminho, ele encontra personagens peculiares, como o homem que oferece lágrimas em pequenas garrafas – a primeira foi preenchida justamente a partir de seu próprio choro. 

Projetos. Ele já pretende estrear três espetáculos Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Inicialmente, Rocha planejava escrever um monólogo, com apenas Moleque e o balde. “Mas, aos poucos, percebi que a jornada até o mar exigia a presença de outros personagens”, conta ele, cuja imensidão do talento contrasta com sua pouca idade: 21 anos. Assim, além do vendedor de lágrimas, Moleque, ao longo de sua jornada, conhece Charles e Pepita, casal que comanda um circo em decadência – os demais atores abandonaram a companhia à medida que o público minguava.

Aceito pelo casal, Moleque ganha uma função artística; mais que isso: finalmente toma o rumo do mar. Com dez músicas compostas por Rocha (que também assina a direção), Cargas D’Água conquista a adesão do público já em seus primeiros minutos, quando sua limitação técnica (cenário reduzido a caixotes, ausência de música ao vivo, figurinos suntuosos) é derrotada pela qualidade graças à imaginação criativa. Rocha se divide em vários papéis, como o Padrasto, o vendedor de lágrimas e, finalmente, em Charles – na primeira montagem, Moleque foi vivido pelo versátil André Torquato e Pepita, por Ana Paula Villar.

Não bastasse o interesse despertado pelo fio condutor da trama, o encanto vem justamente da forma como Vitor Rocha alinhavou os diálogos – nascido em Pouso Alegre, município mineiro próximo da fronteira com São Paulo, ele se valeu da prosódia que se acostumou a ouvir em sua cidade ao longo da juventude, uma forma peculiar de falar em que a poesia ornamenta naturalmente as palavras. Tal vocabulário marca seus dois primeiros livros: O Mágico Di Ó, lançado em 2015 e cuja adaptação para o teatro será um de seus próximos trabalhos (informações, mais adiante), e Casusbelli, de 2017, a história de um circo que inspirou um projeto social que visa arrecadar fundos para material escolar para crianças carentes.

O exercício da escrita, porém, começou antes, com Comitiva Esperança, musical que marcou sua formatura como ator no Teatro Escola Macunaíma. “Foi um dos primeiros textos que escrevi e conta a história real da minha mãe, filha de uma analfabeta que queria ser médica, e de mais quatro sonhadores do sertão do Brasil.” O texto foi encenado no meio do ano, graças a um grupo de pesquisa formado por 25 novos atores.

Apesar dos prêmios e de agora ser reconhecido, Vitor Rocha não pretende abandonar sua forma artesanal de trabalho. Assim, para 2019, ele prepara dois musicais autorais. “Um deles é O Mágico Di Ó (é preciso ler com sotaque), uma versão em cordel do clássico O Mágico de Oz, que ressignifica toda a história e a transporta para o sertão nordestino”, conta. “Lá, é impossível a protagonista sonhar em ver ‘além do arco-íris’, uma vez que ela vive na seca. Assim, a longa caminhada em busca do poderoso mágico sofre algumas atualizações e ganha novas mensagens. Também deixei os personagens (o Mamulengo, o Cabra-de-Lata e o Leão) mais ‘brasileiros’ e com novas motivações.” Doroteia será vivida por Luiza Porto e Ivan Parente vai assinar a direção.

Já o musical Se Essa Lua Fosse Minha contará a história de amor entre Leila e Iago, que vai tratar também de preconceito e vai utilizar ditos populares, lendas e cantigas folclóricas. Finalmente, a primeira a estrear será Uma das Bailarinas, escrita com Mariana Barros. “Vai falar sobre esse universo quase à parte, em um espetáculo que se passa todinho dentro de uma pirueta.”

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