Felipe Hirsch usa canções inéditas de Tom Zé para desvendar os mitos formadores do idioma


Na peça ‘Língua Brasileira’, o diretor pretende fazer um passeio pelo inconsciente do Português Brasileiro com suas graças e tragédias; montagem estreia no dia 19 de março, no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação

Por Ubiratan Brasil

Tudo começou com a canção Língua Brasileira, do álbum Imprensa Cantada (2003), de Tom Zé – versos como “Quando me sorris / Visigoda e celta / Dama culta e bela / Língua de Aviz” inspiraram o diretor Felipe Hirsch e o coletivo Ultralíricos a enfrentar um desafio: desbravar a epopeia dos povos que formaram a língua falada no Brasil, com seus mitos e cosmogonias, desde as remotas origens ibéricas, passando por romanos, bárbaros e árabes, pela África e América Nativa até chegar aos dias de hoje. “Tornou-se uma epopeia poética e a canção de Tom Zé teve uma influência decisiva”, comenta Hirsch, que finaliza a peça Língua Brasileira, um passeio pelo inconsciente do Português Brasileiro com suas graças e tragédias, e que estreia no dia 19, no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação.

O espetáculo terá trilha sonora criada por Arthur de Faria, mas também contará com duas canções especialmente compostas por Tom Zé. A primeira, Hy Brasil, foi recebida por Hirsch e o elenco (Amanda Lyra, Caco Ciocler, Danilo Grangheia, Fernando Catatau, Georgette Fadel, Laís Lacorte e Pascoal da Conceição) na semana passada, causando um impacto – em seu característico estilo experimental, Tom Zé partiu do mito irlandês sobre uma misteriosa ilha (leia mais abaixo) para criar uma canção que se quebra em diversos ritmos e que traz versos como “Uma ilha sem fuzil / Sem ba ba ba ba bala civil”.

Parceria. Felipe Hirsch e Tom Zé Foto: Juuar
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Essa nova criação mantém a lógica da canção Língua Brasileira que, segundo o poeta e crítico Carlos Rennó, “é a culminância poética de toda uma obra” e traz “um olhar cheio de densidade e profundidade dirigido para o que somos e para o processo que nos levou a nos tornarmos o que somos, em versos elaborados com cuidado formal”. 

“Tom Zé foi nosso ponto de partida para um espetáculo que mostre tanto a exuberância da origem da língua portuguesa como sua ação nociva, de contribuir para a extinção de outras – atualmente, no Brasil, cerca de 190 idiomas (a maioria indígenas) estão em vias de acabar. Algumas sobrevivem graças à existência de apenas uma pessoa que a domina. É o encontro do esplendor com a sepultura”, continua Hirsch que, em sua viagem linguística, contou com a colaboração de diversos pesquisadores para estruturar o espetáculo.

A começar pelo escritor e tradutor Caetano Galindo, com quem o encenador mantém conversas diárias sobre as diversas interferências que ajudaram a moldar a língua hoje falada no Brasil. “Uma das coisas que a gente está sondando são os substratos mais distantes da formação do português na Europa, desde bem antes do latim”, conta Galindo, em seu blog. Ele confessa seu fascínio, por exemplo, pelas palavras que resistiram a séculos de tentativas de modificação, mas que continuam da mesma forma nos dias atuais.

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São as que ele chama de “palavras-guerreiras”, que sobreviveram às ondas de invasores na Península Ibérica e chegaram ao outro lado do oceano, no Brasil. “Algumas das palavras que empregamos todo dia dão demonstrações impressionantes de resiliência”, escreve Galindo, citando “sapo” e “barro”.

O espetáculo vai começar com um prólogo, Cosmogonia, que vai tratar de tudo o que existia em terras ibéricas e brasileiras antes do surgimento da ideia de nação – o momento será marcado pela execução de Nave Maria, canção que Tom Zé lançou em 1984 e que relata a experiência do nascimento como algo traumático. Começa, em seguida, o primeiro ato intitulado Península Ibérica, em que o latim vulgar dá indícios do que se tornará o idioma brasileiro.

“São três momentos, em que destaco o grafiteiro Kadu Ori”, conta o encenador, referindo-se ao rapaz que, em 2016, pichou um dos símbolos do Rio de Janeiro: o relógio da Central do Brasil. “Sem entrar na questão do crime, a frase que ele pichou, ‘Nossa pátria está onde somos amados’, se conecta com o pensamento do espetáculo.”

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Outro momento expressivo e que foi incorporado à peça foi a ocupação que índios guaranis fizeram no Pico do Jaraguá, em 2017, em protesto pela revogação de uma portaria que dava a eles a posse de uma porção de terra. Foram três dias de tensão. “Os índios ocuparam as torres de transmissão de energia e ameaçaram desligar uma antena de comunicação de trens”, relembra Hirsch. “Novamente, uma ação de urgência para que os índios pudessem sobreviver independente do que acontece no momento atual.”

O segundo ato vem em seguida, privilegiando as navegações, centralizadas em um dos maiores textos em língua portuguesa, Os Lusíadas, de Camões. “É onde queremos sentir o mar, pois foram as viagens de navios que trouxeram o sotaque até o Brasil.”

Até a chegada do oitavo e último ato, Língua Brasileira passeia ainda por diversas línguas que interferiram diretamente na construção do português, como o tupi, africanas como o bantô e iorubá, até chegar aos dias atuais, quando predominam a polifonia e também a selvageria. “Será um contraponto à famosa frase de Fernando Pessoa, ‘Minha Pátria é minha língua’”, observa Hirsch, que abre espaço para as novas imigrações que carregam sua própria poética e que trouxeram, por exemplo, o rap.

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A pesquisa para a peça reuniu a colaboração preciosa de especialistas como Ieda Maria Alves, Mamede Jarouche e Eduardo Viveiros de Castro, entre outros. E, o texto dramatúrgico, envolveu ainda Vinicius Calderoni.

Entrevista — TOM ZÉ, compositor

‘Busco algo no passado quando componho’

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Pergunta: O espetáculo nasceu de uma canção sua, Língua Brasileira.

Tom Zé: Sim, fiquei muito feliz com isso. Nós, que nascemos no Nordeste, tínhamos outra concepção de mundo, que não é aristotélica. Lembro que Alain Resnais fez um filme (Meu Tio da América) no qual dizia que o ser humano aprende mais de 0 a 2 anos, quando não sabe nem a língua. Foi assim comigo.

Fale do mito da ilha Hy-Brasil.

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É o mito que ajuda a explicar o nome do nosso País, que tem origem também no pau-brasil. É uma ilha que se vê apenas a cada sete anos e, assim como a Terra Sem Mal, da mitologia tupi, é um lugar que temos esperança de encontrar.

E as canções feitas para a peça?

Quando faço música, busco algo consistente em meu passado, coisas míticas, como a música caipira. Trabalho muito, experimento muito. 

Ilha Hy-Brasil é local paradisíaco, onde as pessoas viviam felizes

Mito irlandês, que inspirou Tom Zé, mostra uma região envolta em nevoeiro e que só era vista a cada sete anos

A primeira aparição cartográfica foi em um mapa de 1325. Ali, Hy-Brasil surgia como uma pequena ilha na costa da Irlanda, um local recheado de muitos mitos. Segundo a lenda irlandesa, a região vivia envolta por uma névoa impenetrável, que só desaparecia em um dia a cada sete anos, único momento em que a ilha se tornava visível. Acredita-se que a tradição era fruto de uma miragem, mas acabou incorporada pela cultura dos povos celtas, que circularam pela Europa há cerca de três mil anos.

Não se tratava de uma ilha comum – a Hy-Brasil era um lugar mitológico, mágico, sagrado, considerado a morada de fadas e divindades. O nome, aliás, foi inspirado em um semideus, Breasal, considerado o grande rei do mundo e que vivia no país chamado Hy-Brasil (“Hy” vem de “í”, abreviação de ‘island’, ou ilha). Para estudiosos, a ilha é vista hoje como uma representação simbólica do chamado “Outro Mundo”, expressão cunhada pelos celtas para explicar o inexplicável. Segundo eles, a morte não significava uma interrupção, pois a vida continuaria em outro lugar do planeta, como a Hy-Brasil.

No mapa. A ilha, a oeste da Irlanda, visualizada em 1588 Foto:

No século 7, um monge irlandês chamado São Brandão foi um dos primeiros a sair da Irlanda em busca da tal ilha. Os relatos da sua viagem estão hoje na biblioteca do Trinity College e estudiosos acreditam que ele possa ter chegado na América alguns séculos antes dos outros europeus.

Outro manuscrito, de 1636, narra a história de um certo capitão Rich e seus marinheiros que teriam avistado uma ilha a oeste do litoral, com cais e promontório, antes de ela sumir na névoa. Já em 1675, a suposta história do “descobrimento” da Hy-Brasil inspirou um livro que se tornou best-seller na Inglaterra: O’Brazile ou A Ilha Encantada.

De todas as versões, a mais divertida está no filme As Aventuras de Erik, o Viking, que Terry Jones (do grupo Monty Python) dirigiu em 1989. Na trama, Erik (Tim Robbins) parte em busca de Hy-Brasil depois de matar acidentalmente uma jovem. Lá, reza a lenda, é um local paradisíaco, onde o sol sempre brilha, não existe violência e mesmo nas piores crises as pessoas vivem felizes e despreocupadas. Ao chegar lá, porém, a situação é outra: o rei é incompetente, a música é horrorosa e os habitantes são absolutamente incapazes de enxergar a realidade.

SERVIÇO — LÍNGUA BRASILEIRA

TEATRO ANCHIETA. SESC CONSOLAÇÃO. RUA DR. VILA NOVA, 245. TEL. 3234-3000. 5ª A SÁB., 21H. DOM., 18H. R$ 40. ATÉ 26/4

Tudo começou com a canção Língua Brasileira, do álbum Imprensa Cantada (2003), de Tom Zé – versos como “Quando me sorris / Visigoda e celta / Dama culta e bela / Língua de Aviz” inspiraram o diretor Felipe Hirsch e o coletivo Ultralíricos a enfrentar um desafio: desbravar a epopeia dos povos que formaram a língua falada no Brasil, com seus mitos e cosmogonias, desde as remotas origens ibéricas, passando por romanos, bárbaros e árabes, pela África e América Nativa até chegar aos dias de hoje. “Tornou-se uma epopeia poética e a canção de Tom Zé teve uma influência decisiva”, comenta Hirsch, que finaliza a peça Língua Brasileira, um passeio pelo inconsciente do Português Brasileiro com suas graças e tragédias, e que estreia no dia 19, no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação.

O espetáculo terá trilha sonora criada por Arthur de Faria, mas também contará com duas canções especialmente compostas por Tom Zé. A primeira, Hy Brasil, foi recebida por Hirsch e o elenco (Amanda Lyra, Caco Ciocler, Danilo Grangheia, Fernando Catatau, Georgette Fadel, Laís Lacorte e Pascoal da Conceição) na semana passada, causando um impacto – em seu característico estilo experimental, Tom Zé partiu do mito irlandês sobre uma misteriosa ilha (leia mais abaixo) para criar uma canção que se quebra em diversos ritmos e que traz versos como “Uma ilha sem fuzil / Sem ba ba ba ba bala civil”.

Parceria. Felipe Hirsch e Tom Zé Foto: Juuar

Essa nova criação mantém a lógica da canção Língua Brasileira que, segundo o poeta e crítico Carlos Rennó, “é a culminância poética de toda uma obra” e traz “um olhar cheio de densidade e profundidade dirigido para o que somos e para o processo que nos levou a nos tornarmos o que somos, em versos elaborados com cuidado formal”. 

“Tom Zé foi nosso ponto de partida para um espetáculo que mostre tanto a exuberância da origem da língua portuguesa como sua ação nociva, de contribuir para a extinção de outras – atualmente, no Brasil, cerca de 190 idiomas (a maioria indígenas) estão em vias de acabar. Algumas sobrevivem graças à existência de apenas uma pessoa que a domina. É o encontro do esplendor com a sepultura”, continua Hirsch que, em sua viagem linguística, contou com a colaboração de diversos pesquisadores para estruturar o espetáculo.

A começar pelo escritor e tradutor Caetano Galindo, com quem o encenador mantém conversas diárias sobre as diversas interferências que ajudaram a moldar a língua hoje falada no Brasil. “Uma das coisas que a gente está sondando são os substratos mais distantes da formação do português na Europa, desde bem antes do latim”, conta Galindo, em seu blog. Ele confessa seu fascínio, por exemplo, pelas palavras que resistiram a séculos de tentativas de modificação, mas que continuam da mesma forma nos dias atuais.

São as que ele chama de “palavras-guerreiras”, que sobreviveram às ondas de invasores na Península Ibérica e chegaram ao outro lado do oceano, no Brasil. “Algumas das palavras que empregamos todo dia dão demonstrações impressionantes de resiliência”, escreve Galindo, citando “sapo” e “barro”.

O espetáculo vai começar com um prólogo, Cosmogonia, que vai tratar de tudo o que existia em terras ibéricas e brasileiras antes do surgimento da ideia de nação – o momento será marcado pela execução de Nave Maria, canção que Tom Zé lançou em 1984 e que relata a experiência do nascimento como algo traumático. Começa, em seguida, o primeiro ato intitulado Península Ibérica, em que o latim vulgar dá indícios do que se tornará o idioma brasileiro.

“São três momentos, em que destaco o grafiteiro Kadu Ori”, conta o encenador, referindo-se ao rapaz que, em 2016, pichou um dos símbolos do Rio de Janeiro: o relógio da Central do Brasil. “Sem entrar na questão do crime, a frase que ele pichou, ‘Nossa pátria está onde somos amados’, se conecta com o pensamento do espetáculo.”

Outro momento expressivo e que foi incorporado à peça foi a ocupação que índios guaranis fizeram no Pico do Jaraguá, em 2017, em protesto pela revogação de uma portaria que dava a eles a posse de uma porção de terra. Foram três dias de tensão. “Os índios ocuparam as torres de transmissão de energia e ameaçaram desligar uma antena de comunicação de trens”, relembra Hirsch. “Novamente, uma ação de urgência para que os índios pudessem sobreviver independente do que acontece no momento atual.”

O segundo ato vem em seguida, privilegiando as navegações, centralizadas em um dos maiores textos em língua portuguesa, Os Lusíadas, de Camões. “É onde queremos sentir o mar, pois foram as viagens de navios que trouxeram o sotaque até o Brasil.”

Até a chegada do oitavo e último ato, Língua Brasileira passeia ainda por diversas línguas que interferiram diretamente na construção do português, como o tupi, africanas como o bantô e iorubá, até chegar aos dias atuais, quando predominam a polifonia e também a selvageria. “Será um contraponto à famosa frase de Fernando Pessoa, ‘Minha Pátria é minha língua’”, observa Hirsch, que abre espaço para as novas imigrações que carregam sua própria poética e que trouxeram, por exemplo, o rap.

A pesquisa para a peça reuniu a colaboração preciosa de especialistas como Ieda Maria Alves, Mamede Jarouche e Eduardo Viveiros de Castro, entre outros. E, o texto dramatúrgico, envolveu ainda Vinicius Calderoni.

Entrevista — TOM ZÉ, compositor

‘Busco algo no passado quando componho’

Pergunta: O espetáculo nasceu de uma canção sua, Língua Brasileira.

Tom Zé: Sim, fiquei muito feliz com isso. Nós, que nascemos no Nordeste, tínhamos outra concepção de mundo, que não é aristotélica. Lembro que Alain Resnais fez um filme (Meu Tio da América) no qual dizia que o ser humano aprende mais de 0 a 2 anos, quando não sabe nem a língua. Foi assim comigo.

Fale do mito da ilha Hy-Brasil.

É o mito que ajuda a explicar o nome do nosso País, que tem origem também no pau-brasil. É uma ilha que se vê apenas a cada sete anos e, assim como a Terra Sem Mal, da mitologia tupi, é um lugar que temos esperança de encontrar.

E as canções feitas para a peça?

Quando faço música, busco algo consistente em meu passado, coisas míticas, como a música caipira. Trabalho muito, experimento muito. 

Ilha Hy-Brasil é local paradisíaco, onde as pessoas viviam felizes

Mito irlandês, que inspirou Tom Zé, mostra uma região envolta em nevoeiro e que só era vista a cada sete anos

A primeira aparição cartográfica foi em um mapa de 1325. Ali, Hy-Brasil surgia como uma pequena ilha na costa da Irlanda, um local recheado de muitos mitos. Segundo a lenda irlandesa, a região vivia envolta por uma névoa impenetrável, que só desaparecia em um dia a cada sete anos, único momento em que a ilha se tornava visível. Acredita-se que a tradição era fruto de uma miragem, mas acabou incorporada pela cultura dos povos celtas, que circularam pela Europa há cerca de três mil anos.

Não se tratava de uma ilha comum – a Hy-Brasil era um lugar mitológico, mágico, sagrado, considerado a morada de fadas e divindades. O nome, aliás, foi inspirado em um semideus, Breasal, considerado o grande rei do mundo e que vivia no país chamado Hy-Brasil (“Hy” vem de “í”, abreviação de ‘island’, ou ilha). Para estudiosos, a ilha é vista hoje como uma representação simbólica do chamado “Outro Mundo”, expressão cunhada pelos celtas para explicar o inexplicável. Segundo eles, a morte não significava uma interrupção, pois a vida continuaria em outro lugar do planeta, como a Hy-Brasil.

No mapa. A ilha, a oeste da Irlanda, visualizada em 1588 Foto:

No século 7, um monge irlandês chamado São Brandão foi um dos primeiros a sair da Irlanda em busca da tal ilha. Os relatos da sua viagem estão hoje na biblioteca do Trinity College e estudiosos acreditam que ele possa ter chegado na América alguns séculos antes dos outros europeus.

Outro manuscrito, de 1636, narra a história de um certo capitão Rich e seus marinheiros que teriam avistado uma ilha a oeste do litoral, com cais e promontório, antes de ela sumir na névoa. Já em 1675, a suposta história do “descobrimento” da Hy-Brasil inspirou um livro que se tornou best-seller na Inglaterra: O’Brazile ou A Ilha Encantada.

De todas as versões, a mais divertida está no filme As Aventuras de Erik, o Viking, que Terry Jones (do grupo Monty Python) dirigiu em 1989. Na trama, Erik (Tim Robbins) parte em busca de Hy-Brasil depois de matar acidentalmente uma jovem. Lá, reza a lenda, é um local paradisíaco, onde o sol sempre brilha, não existe violência e mesmo nas piores crises as pessoas vivem felizes e despreocupadas. Ao chegar lá, porém, a situação é outra: o rei é incompetente, a música é horrorosa e os habitantes são absolutamente incapazes de enxergar a realidade.

SERVIÇO — LÍNGUA BRASILEIRA

TEATRO ANCHIETA. SESC CONSOLAÇÃO. RUA DR. VILA NOVA, 245. TEL. 3234-3000. 5ª A SÁB., 21H. DOM., 18H. R$ 40. ATÉ 26/4

Tudo começou com a canção Língua Brasileira, do álbum Imprensa Cantada (2003), de Tom Zé – versos como “Quando me sorris / Visigoda e celta / Dama culta e bela / Língua de Aviz” inspiraram o diretor Felipe Hirsch e o coletivo Ultralíricos a enfrentar um desafio: desbravar a epopeia dos povos que formaram a língua falada no Brasil, com seus mitos e cosmogonias, desde as remotas origens ibéricas, passando por romanos, bárbaros e árabes, pela África e América Nativa até chegar aos dias de hoje. “Tornou-se uma epopeia poética e a canção de Tom Zé teve uma influência decisiva”, comenta Hirsch, que finaliza a peça Língua Brasileira, um passeio pelo inconsciente do Português Brasileiro com suas graças e tragédias, e que estreia no dia 19, no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação.

O espetáculo terá trilha sonora criada por Arthur de Faria, mas também contará com duas canções especialmente compostas por Tom Zé. A primeira, Hy Brasil, foi recebida por Hirsch e o elenco (Amanda Lyra, Caco Ciocler, Danilo Grangheia, Fernando Catatau, Georgette Fadel, Laís Lacorte e Pascoal da Conceição) na semana passada, causando um impacto – em seu característico estilo experimental, Tom Zé partiu do mito irlandês sobre uma misteriosa ilha (leia mais abaixo) para criar uma canção que se quebra em diversos ritmos e que traz versos como “Uma ilha sem fuzil / Sem ba ba ba ba bala civil”.

Parceria. Felipe Hirsch e Tom Zé Foto: Juuar

Essa nova criação mantém a lógica da canção Língua Brasileira que, segundo o poeta e crítico Carlos Rennó, “é a culminância poética de toda uma obra” e traz “um olhar cheio de densidade e profundidade dirigido para o que somos e para o processo que nos levou a nos tornarmos o que somos, em versos elaborados com cuidado formal”. 

“Tom Zé foi nosso ponto de partida para um espetáculo que mostre tanto a exuberância da origem da língua portuguesa como sua ação nociva, de contribuir para a extinção de outras – atualmente, no Brasil, cerca de 190 idiomas (a maioria indígenas) estão em vias de acabar. Algumas sobrevivem graças à existência de apenas uma pessoa que a domina. É o encontro do esplendor com a sepultura”, continua Hirsch que, em sua viagem linguística, contou com a colaboração de diversos pesquisadores para estruturar o espetáculo.

A começar pelo escritor e tradutor Caetano Galindo, com quem o encenador mantém conversas diárias sobre as diversas interferências que ajudaram a moldar a língua hoje falada no Brasil. “Uma das coisas que a gente está sondando são os substratos mais distantes da formação do português na Europa, desde bem antes do latim”, conta Galindo, em seu blog. Ele confessa seu fascínio, por exemplo, pelas palavras que resistiram a séculos de tentativas de modificação, mas que continuam da mesma forma nos dias atuais.

São as que ele chama de “palavras-guerreiras”, que sobreviveram às ondas de invasores na Península Ibérica e chegaram ao outro lado do oceano, no Brasil. “Algumas das palavras que empregamos todo dia dão demonstrações impressionantes de resiliência”, escreve Galindo, citando “sapo” e “barro”.

O espetáculo vai começar com um prólogo, Cosmogonia, que vai tratar de tudo o que existia em terras ibéricas e brasileiras antes do surgimento da ideia de nação – o momento será marcado pela execução de Nave Maria, canção que Tom Zé lançou em 1984 e que relata a experiência do nascimento como algo traumático. Começa, em seguida, o primeiro ato intitulado Península Ibérica, em que o latim vulgar dá indícios do que se tornará o idioma brasileiro.

“São três momentos, em que destaco o grafiteiro Kadu Ori”, conta o encenador, referindo-se ao rapaz que, em 2016, pichou um dos símbolos do Rio de Janeiro: o relógio da Central do Brasil. “Sem entrar na questão do crime, a frase que ele pichou, ‘Nossa pátria está onde somos amados’, se conecta com o pensamento do espetáculo.”

Outro momento expressivo e que foi incorporado à peça foi a ocupação que índios guaranis fizeram no Pico do Jaraguá, em 2017, em protesto pela revogação de uma portaria que dava a eles a posse de uma porção de terra. Foram três dias de tensão. “Os índios ocuparam as torres de transmissão de energia e ameaçaram desligar uma antena de comunicação de trens”, relembra Hirsch. “Novamente, uma ação de urgência para que os índios pudessem sobreviver independente do que acontece no momento atual.”

O segundo ato vem em seguida, privilegiando as navegações, centralizadas em um dos maiores textos em língua portuguesa, Os Lusíadas, de Camões. “É onde queremos sentir o mar, pois foram as viagens de navios que trouxeram o sotaque até o Brasil.”

Até a chegada do oitavo e último ato, Língua Brasileira passeia ainda por diversas línguas que interferiram diretamente na construção do português, como o tupi, africanas como o bantô e iorubá, até chegar aos dias atuais, quando predominam a polifonia e também a selvageria. “Será um contraponto à famosa frase de Fernando Pessoa, ‘Minha Pátria é minha língua’”, observa Hirsch, que abre espaço para as novas imigrações que carregam sua própria poética e que trouxeram, por exemplo, o rap.

A pesquisa para a peça reuniu a colaboração preciosa de especialistas como Ieda Maria Alves, Mamede Jarouche e Eduardo Viveiros de Castro, entre outros. E, o texto dramatúrgico, envolveu ainda Vinicius Calderoni.

Entrevista — TOM ZÉ, compositor

‘Busco algo no passado quando componho’

Pergunta: O espetáculo nasceu de uma canção sua, Língua Brasileira.

Tom Zé: Sim, fiquei muito feliz com isso. Nós, que nascemos no Nordeste, tínhamos outra concepção de mundo, que não é aristotélica. Lembro que Alain Resnais fez um filme (Meu Tio da América) no qual dizia que o ser humano aprende mais de 0 a 2 anos, quando não sabe nem a língua. Foi assim comigo.

Fale do mito da ilha Hy-Brasil.

É o mito que ajuda a explicar o nome do nosso País, que tem origem também no pau-brasil. É uma ilha que se vê apenas a cada sete anos e, assim como a Terra Sem Mal, da mitologia tupi, é um lugar que temos esperança de encontrar.

E as canções feitas para a peça?

Quando faço música, busco algo consistente em meu passado, coisas míticas, como a música caipira. Trabalho muito, experimento muito. 

Ilha Hy-Brasil é local paradisíaco, onde as pessoas viviam felizes

Mito irlandês, que inspirou Tom Zé, mostra uma região envolta em nevoeiro e que só era vista a cada sete anos

A primeira aparição cartográfica foi em um mapa de 1325. Ali, Hy-Brasil surgia como uma pequena ilha na costa da Irlanda, um local recheado de muitos mitos. Segundo a lenda irlandesa, a região vivia envolta por uma névoa impenetrável, que só desaparecia em um dia a cada sete anos, único momento em que a ilha se tornava visível. Acredita-se que a tradição era fruto de uma miragem, mas acabou incorporada pela cultura dos povos celtas, que circularam pela Europa há cerca de três mil anos.

Não se tratava de uma ilha comum – a Hy-Brasil era um lugar mitológico, mágico, sagrado, considerado a morada de fadas e divindades. O nome, aliás, foi inspirado em um semideus, Breasal, considerado o grande rei do mundo e que vivia no país chamado Hy-Brasil (“Hy” vem de “í”, abreviação de ‘island’, ou ilha). Para estudiosos, a ilha é vista hoje como uma representação simbólica do chamado “Outro Mundo”, expressão cunhada pelos celtas para explicar o inexplicável. Segundo eles, a morte não significava uma interrupção, pois a vida continuaria em outro lugar do planeta, como a Hy-Brasil.

No mapa. A ilha, a oeste da Irlanda, visualizada em 1588 Foto:

No século 7, um monge irlandês chamado São Brandão foi um dos primeiros a sair da Irlanda em busca da tal ilha. Os relatos da sua viagem estão hoje na biblioteca do Trinity College e estudiosos acreditam que ele possa ter chegado na América alguns séculos antes dos outros europeus.

Outro manuscrito, de 1636, narra a história de um certo capitão Rich e seus marinheiros que teriam avistado uma ilha a oeste do litoral, com cais e promontório, antes de ela sumir na névoa. Já em 1675, a suposta história do “descobrimento” da Hy-Brasil inspirou um livro que se tornou best-seller na Inglaterra: O’Brazile ou A Ilha Encantada.

De todas as versões, a mais divertida está no filme As Aventuras de Erik, o Viking, que Terry Jones (do grupo Monty Python) dirigiu em 1989. Na trama, Erik (Tim Robbins) parte em busca de Hy-Brasil depois de matar acidentalmente uma jovem. Lá, reza a lenda, é um local paradisíaco, onde o sol sempre brilha, não existe violência e mesmo nas piores crises as pessoas vivem felizes e despreocupadas. Ao chegar lá, porém, a situação é outra: o rei é incompetente, a música é horrorosa e os habitantes são absolutamente incapazes de enxergar a realidade.

SERVIÇO — LÍNGUA BRASILEIRA

TEATRO ANCHIETA. SESC CONSOLAÇÃO. RUA DR. VILA NOVA, 245. TEL. 3234-3000. 5ª A SÁB., 21H. DOM., 18H. R$ 40. ATÉ 26/4

Tudo começou com a canção Língua Brasileira, do álbum Imprensa Cantada (2003), de Tom Zé – versos como “Quando me sorris / Visigoda e celta / Dama culta e bela / Língua de Aviz” inspiraram o diretor Felipe Hirsch e o coletivo Ultralíricos a enfrentar um desafio: desbravar a epopeia dos povos que formaram a língua falada no Brasil, com seus mitos e cosmogonias, desde as remotas origens ibéricas, passando por romanos, bárbaros e árabes, pela África e América Nativa até chegar aos dias de hoje. “Tornou-se uma epopeia poética e a canção de Tom Zé teve uma influência decisiva”, comenta Hirsch, que finaliza a peça Língua Brasileira, um passeio pelo inconsciente do Português Brasileiro com suas graças e tragédias, e que estreia no dia 19, no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação.

O espetáculo terá trilha sonora criada por Arthur de Faria, mas também contará com duas canções especialmente compostas por Tom Zé. A primeira, Hy Brasil, foi recebida por Hirsch e o elenco (Amanda Lyra, Caco Ciocler, Danilo Grangheia, Fernando Catatau, Georgette Fadel, Laís Lacorte e Pascoal da Conceição) na semana passada, causando um impacto – em seu característico estilo experimental, Tom Zé partiu do mito irlandês sobre uma misteriosa ilha (leia mais abaixo) para criar uma canção que se quebra em diversos ritmos e que traz versos como “Uma ilha sem fuzil / Sem ba ba ba ba bala civil”.

Parceria. Felipe Hirsch e Tom Zé Foto: Juuar

Essa nova criação mantém a lógica da canção Língua Brasileira que, segundo o poeta e crítico Carlos Rennó, “é a culminância poética de toda uma obra” e traz “um olhar cheio de densidade e profundidade dirigido para o que somos e para o processo que nos levou a nos tornarmos o que somos, em versos elaborados com cuidado formal”. 

“Tom Zé foi nosso ponto de partida para um espetáculo que mostre tanto a exuberância da origem da língua portuguesa como sua ação nociva, de contribuir para a extinção de outras – atualmente, no Brasil, cerca de 190 idiomas (a maioria indígenas) estão em vias de acabar. Algumas sobrevivem graças à existência de apenas uma pessoa que a domina. É o encontro do esplendor com a sepultura”, continua Hirsch que, em sua viagem linguística, contou com a colaboração de diversos pesquisadores para estruturar o espetáculo.

A começar pelo escritor e tradutor Caetano Galindo, com quem o encenador mantém conversas diárias sobre as diversas interferências que ajudaram a moldar a língua hoje falada no Brasil. “Uma das coisas que a gente está sondando são os substratos mais distantes da formação do português na Europa, desde bem antes do latim”, conta Galindo, em seu blog. Ele confessa seu fascínio, por exemplo, pelas palavras que resistiram a séculos de tentativas de modificação, mas que continuam da mesma forma nos dias atuais.

São as que ele chama de “palavras-guerreiras”, que sobreviveram às ondas de invasores na Península Ibérica e chegaram ao outro lado do oceano, no Brasil. “Algumas das palavras que empregamos todo dia dão demonstrações impressionantes de resiliência”, escreve Galindo, citando “sapo” e “barro”.

O espetáculo vai começar com um prólogo, Cosmogonia, que vai tratar de tudo o que existia em terras ibéricas e brasileiras antes do surgimento da ideia de nação – o momento será marcado pela execução de Nave Maria, canção que Tom Zé lançou em 1984 e que relata a experiência do nascimento como algo traumático. Começa, em seguida, o primeiro ato intitulado Península Ibérica, em que o latim vulgar dá indícios do que se tornará o idioma brasileiro.

“São três momentos, em que destaco o grafiteiro Kadu Ori”, conta o encenador, referindo-se ao rapaz que, em 2016, pichou um dos símbolos do Rio de Janeiro: o relógio da Central do Brasil. “Sem entrar na questão do crime, a frase que ele pichou, ‘Nossa pátria está onde somos amados’, se conecta com o pensamento do espetáculo.”

Outro momento expressivo e que foi incorporado à peça foi a ocupação que índios guaranis fizeram no Pico do Jaraguá, em 2017, em protesto pela revogação de uma portaria que dava a eles a posse de uma porção de terra. Foram três dias de tensão. “Os índios ocuparam as torres de transmissão de energia e ameaçaram desligar uma antena de comunicação de trens”, relembra Hirsch. “Novamente, uma ação de urgência para que os índios pudessem sobreviver independente do que acontece no momento atual.”

O segundo ato vem em seguida, privilegiando as navegações, centralizadas em um dos maiores textos em língua portuguesa, Os Lusíadas, de Camões. “É onde queremos sentir o mar, pois foram as viagens de navios que trouxeram o sotaque até o Brasil.”

Até a chegada do oitavo e último ato, Língua Brasileira passeia ainda por diversas línguas que interferiram diretamente na construção do português, como o tupi, africanas como o bantô e iorubá, até chegar aos dias atuais, quando predominam a polifonia e também a selvageria. “Será um contraponto à famosa frase de Fernando Pessoa, ‘Minha Pátria é minha língua’”, observa Hirsch, que abre espaço para as novas imigrações que carregam sua própria poética e que trouxeram, por exemplo, o rap.

A pesquisa para a peça reuniu a colaboração preciosa de especialistas como Ieda Maria Alves, Mamede Jarouche e Eduardo Viveiros de Castro, entre outros. E, o texto dramatúrgico, envolveu ainda Vinicius Calderoni.

Entrevista — TOM ZÉ, compositor

‘Busco algo no passado quando componho’

Pergunta: O espetáculo nasceu de uma canção sua, Língua Brasileira.

Tom Zé: Sim, fiquei muito feliz com isso. Nós, que nascemos no Nordeste, tínhamos outra concepção de mundo, que não é aristotélica. Lembro que Alain Resnais fez um filme (Meu Tio da América) no qual dizia que o ser humano aprende mais de 0 a 2 anos, quando não sabe nem a língua. Foi assim comigo.

Fale do mito da ilha Hy-Brasil.

É o mito que ajuda a explicar o nome do nosso País, que tem origem também no pau-brasil. É uma ilha que se vê apenas a cada sete anos e, assim como a Terra Sem Mal, da mitologia tupi, é um lugar que temos esperança de encontrar.

E as canções feitas para a peça?

Quando faço música, busco algo consistente em meu passado, coisas míticas, como a música caipira. Trabalho muito, experimento muito. 

Ilha Hy-Brasil é local paradisíaco, onde as pessoas viviam felizes

Mito irlandês, que inspirou Tom Zé, mostra uma região envolta em nevoeiro e que só era vista a cada sete anos

A primeira aparição cartográfica foi em um mapa de 1325. Ali, Hy-Brasil surgia como uma pequena ilha na costa da Irlanda, um local recheado de muitos mitos. Segundo a lenda irlandesa, a região vivia envolta por uma névoa impenetrável, que só desaparecia em um dia a cada sete anos, único momento em que a ilha se tornava visível. Acredita-se que a tradição era fruto de uma miragem, mas acabou incorporada pela cultura dos povos celtas, que circularam pela Europa há cerca de três mil anos.

Não se tratava de uma ilha comum – a Hy-Brasil era um lugar mitológico, mágico, sagrado, considerado a morada de fadas e divindades. O nome, aliás, foi inspirado em um semideus, Breasal, considerado o grande rei do mundo e que vivia no país chamado Hy-Brasil (“Hy” vem de “í”, abreviação de ‘island’, ou ilha). Para estudiosos, a ilha é vista hoje como uma representação simbólica do chamado “Outro Mundo”, expressão cunhada pelos celtas para explicar o inexplicável. Segundo eles, a morte não significava uma interrupção, pois a vida continuaria em outro lugar do planeta, como a Hy-Brasil.

No mapa. A ilha, a oeste da Irlanda, visualizada em 1588 Foto:

No século 7, um monge irlandês chamado São Brandão foi um dos primeiros a sair da Irlanda em busca da tal ilha. Os relatos da sua viagem estão hoje na biblioteca do Trinity College e estudiosos acreditam que ele possa ter chegado na América alguns séculos antes dos outros europeus.

Outro manuscrito, de 1636, narra a história de um certo capitão Rich e seus marinheiros que teriam avistado uma ilha a oeste do litoral, com cais e promontório, antes de ela sumir na névoa. Já em 1675, a suposta história do “descobrimento” da Hy-Brasil inspirou um livro que se tornou best-seller na Inglaterra: O’Brazile ou A Ilha Encantada.

De todas as versões, a mais divertida está no filme As Aventuras de Erik, o Viking, que Terry Jones (do grupo Monty Python) dirigiu em 1989. Na trama, Erik (Tim Robbins) parte em busca de Hy-Brasil depois de matar acidentalmente uma jovem. Lá, reza a lenda, é um local paradisíaco, onde o sol sempre brilha, não existe violência e mesmo nas piores crises as pessoas vivem felizes e despreocupadas. Ao chegar lá, porém, a situação é outra: o rei é incompetente, a música é horrorosa e os habitantes são absolutamente incapazes de enxergar a realidade.

SERVIÇO — LÍNGUA BRASILEIRA

TEATRO ANCHIETA. SESC CONSOLAÇÃO. RUA DR. VILA NOVA, 245. TEL. 3234-3000. 5ª A SÁB., 21H. DOM., 18H. R$ 40. ATÉ 26/4

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