Depois da polêmica causada pelo espetáculo 4, de 2016, que trazia quatro galos vivos ao palco, o Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas, o Mirada, deixou as controvérsias de lado para assumir uma programação menos combativa, com espaço para reflexão histórica e dramas familiares. De 5 a 15/9, a mostra reúne na Baixada Santista 41 produções de teatro e dança, de países da América Latina, Portugal e Espanha.Fusão de linguagens marca o Festival Mirada A Colômbia é a homenageada dessa 5.ª edição, que começa com Labio de Liebre, do Teatro Petra, grupo com mais de 30 anos de trajetória. A dramaturgia de Fabio Rubiano situa a peça no período pós-guerrilha do país, quando um assassino é condenado à prisão domiciliar em uma aldeia que em nada se parece com sua terra natal. O grupo traz ainda a peça Cuando Estallan las Paredes.
Também da Colômbia, o celebrado Mapa Teatro, que, no ano passado, fez temporada no Sesc Pinheiros, com Los Incontados, encerra estudo sobre a violência no país. Na peça, o grupo fundado em Paris, em 1984, encarou o debate sobre narcotráfico com ironia em cenário que lembrava uma floresta equatorial. Em uma das cenas, uma banda de crianças tocava canções típicas e ao fim, a personagem principal, um pé de coca, explicava em seu monólogo os mecanismo de produção e consumo da droga no mundo. De volta ao país, em La Despedida, o grupo faz um balanço depois do acordo de paz selado em 2016, entre o governo colombiano e as Farc.
Entres os destaques nacionais, está a nova montagem do diretor Antunes Filho, e seu Centro de Pesquisa Teatral. Em Eu Estava em Minha Casa e Esperava Que a Chuva Chegasse, o encenador paulistano de 88 anos se inspira no texto do dramaturgo francês Jean-Luc Lagarce. Na história, a vida de cinco mulheres de uma mesma família é transformada após o retorno do filho de uma delas. Em 2007, o texto estreou no Brasil, estrelado por Miriam Mehler.
Quem participa do festival pela primeira vez é a Nicarágua, com La Ciudad Vacía, inédito no Brasil. Na montagem, a atriz e diretora Lucero Millán resgata histórias de pessoas que viveram na capital, Manágua, atingida por terremoto em 1972. Antes mesmo de se recuperar da tragédia, o país enfrentou a Revolução Sandinista, em 1978, movimento de resistência à ocupação dos EUA na Nicarágua, liderado por Augusto César Sandino, e que ainda motiva a crise política do país.