Grupo Carmin, de Natal, une história privada, política brasileira e ficção em novo espetáculo


Na montagem, a vida de uma mulher se embaralha ao panorama do Brasil no século 20, sua biografia abre espaço para contar as transformações de uma cidade, que saltou de província esquecida a metrópole caótica

Por Maria Eugenia de Menezes

História é uma palavra simples. Mas são muitos os seus significados. Pode-se usar o termo para falar de fatos grandiosos: de uma época, do passado de um povo e de um país. Serve também para dar conta de miudezas: a trajetória de um único indivíduo, uma aventura particular, a narrativa de fatos fictícios ou não. Todas essas acepções de história entram em jogo em Jacy, espetáculo do Grupo Carmin, de Natal, Rio Grande do Norte. Na montagem, a vida de uma mulher se embaralha ao panorama do Brasil no século 20, sua biografia abre espaço para contar as transformações de uma cidade, que saltou de província esquecida a metrópole caótica. 

Grupo Carmin faz temporada no Sesc Pinheiros Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO TIRADA COM MOTO Z PLAY + HASSELBLAD TRUE ZOOM

A realidade alimenta essa obra. Para criá-la, a companhia partiu de objetos abandonados. Dentro de uma pequena maleta, deixada no lixo de uma avenida de Natal, os atores encontraram um cartão com o telefone de um motorista de táxi, recibos dos Correios, próteses dentárias, a radiografia de uma clavícula quebrada. Vestígios de uma desconhecida que foram sendo recompostos em uma teia que combina relatos, cartas, depoimentos gravados e, o mais importante, suposições. 

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São antigas e bem conhecidas as práticas documentais utilizadas nos palcos. Remontam pelo menos ao século 19 e encontraram consistência no trabalho do encenador alemão Erwin Piscator, o primeiro a escrever sobre um teatro documental. O que Jacy faz é valer-se de todo esse conhecimento acumulado sobre o uso de arquivos e fontes verídicas em cena, mas sem abrir mão da possibilidade de imaginar. 

Conhecemos os nomes dos pais, avós e irmãos de Jacy Lisboa Lucena. Sabemos que nasceu em Ceará Mirim, em 1920, que viveu em Natal durante a 2.ª Guerra, que se apaixonou por um capitão do exército americano. Depois, foi para o Rio, assistiu à ascensão do regime militar, reencontrou o namorado da juventude – passados 20 anos – e com ele se casou. Aposentada, voltou a Natal, encontrou tudo mudado, e morreu após uma queda, aos 90 anos. 

Mas o que essa menina criada em um engenho de açúcar pensava do amor, da morte, da política? Sabemos isso? Os filósofos Pablo Capistrano e Iracema Macedo escreveram textos que alimentam a dramaturgia, assinada em conjunto com o também ator e diretor Henrique Fontes. Ali, a ficção vem cimentar as fendas deixadas pelo real. O que não se explica pode ser imaginado. Mas o território da imprecisão é maior. O que se conhece sobre essa personagem também não é neutro. Invariavelmente, há um mediador que se interpõe em cada carta e depoimento. Qual é a historiografia possível? Há muitas camadas a recobrir o real. 

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Tão importante quanto o que se criou foi o caminho para fazê-lo. Ao manter os rastros da sua escritura, o projeto do Carmin descola-se de formatos conhecidos, embaralha gêneros e entrega ao espectador a função de arqueólogo desse inventário de fragmentos. O que se construiu é uma peça sobre uma mulher, mas também sobre uma cidade, sobre envelhecer, sobre o teatro. Uma fantástica pequena história que contém todas as outras. 

Com suas hesitações calculadas, os intérpretes parecem nos dizer que aceitaram aquilo que não entenderam. Poderíamos ter ido por aqui, mas fomos por ali. Ninguém sabe, de fato. A atriz Quitéria Kelly até se arrisca a representar Jacy, imitar como seriam seus gestos, sua voz, mas não se demora muito na personagem. Narração, representação e comentário se intercalam constantemente. 

Nesse contexto, tudo aquilo que se diz ocupa papel central. Estamos diante de uma encenação calcada nas palavras e nos mundos que apenas as palavras podem revelar. Mas as imagens não foram, por isso, esvaziadas. A cenografia é erigida diante do público. Elege objetos prosaicos projetados em tela grande, flagra o efeito surpreendente das coisas mais modestas. Como se desse corpo e materialidade ao mistério que atravessa o texto. 

História é uma palavra simples. Mas são muitos os seus significados. Pode-se usar o termo para falar de fatos grandiosos: de uma época, do passado de um povo e de um país. Serve também para dar conta de miudezas: a trajetória de um único indivíduo, uma aventura particular, a narrativa de fatos fictícios ou não. Todas essas acepções de história entram em jogo em Jacy, espetáculo do Grupo Carmin, de Natal, Rio Grande do Norte. Na montagem, a vida de uma mulher se embaralha ao panorama do Brasil no século 20, sua biografia abre espaço para contar as transformações de uma cidade, que saltou de província esquecida a metrópole caótica. 

Grupo Carmin faz temporada no Sesc Pinheiros Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO TIRADA COM MOTO Z PLAY + HASSELBLAD TRUE ZOOM

A realidade alimenta essa obra. Para criá-la, a companhia partiu de objetos abandonados. Dentro de uma pequena maleta, deixada no lixo de uma avenida de Natal, os atores encontraram um cartão com o telefone de um motorista de táxi, recibos dos Correios, próteses dentárias, a radiografia de uma clavícula quebrada. Vestígios de uma desconhecida que foram sendo recompostos em uma teia que combina relatos, cartas, depoimentos gravados e, o mais importante, suposições. 

São antigas e bem conhecidas as práticas documentais utilizadas nos palcos. Remontam pelo menos ao século 19 e encontraram consistência no trabalho do encenador alemão Erwin Piscator, o primeiro a escrever sobre um teatro documental. O que Jacy faz é valer-se de todo esse conhecimento acumulado sobre o uso de arquivos e fontes verídicas em cena, mas sem abrir mão da possibilidade de imaginar. 

Conhecemos os nomes dos pais, avós e irmãos de Jacy Lisboa Lucena. Sabemos que nasceu em Ceará Mirim, em 1920, que viveu em Natal durante a 2.ª Guerra, que se apaixonou por um capitão do exército americano. Depois, foi para o Rio, assistiu à ascensão do regime militar, reencontrou o namorado da juventude – passados 20 anos – e com ele se casou. Aposentada, voltou a Natal, encontrou tudo mudado, e morreu após uma queda, aos 90 anos. 

Mas o que essa menina criada em um engenho de açúcar pensava do amor, da morte, da política? Sabemos isso? Os filósofos Pablo Capistrano e Iracema Macedo escreveram textos que alimentam a dramaturgia, assinada em conjunto com o também ator e diretor Henrique Fontes. Ali, a ficção vem cimentar as fendas deixadas pelo real. O que não se explica pode ser imaginado. Mas o território da imprecisão é maior. O que se conhece sobre essa personagem também não é neutro. Invariavelmente, há um mediador que se interpõe em cada carta e depoimento. Qual é a historiografia possível? Há muitas camadas a recobrir o real. 

Tão importante quanto o que se criou foi o caminho para fazê-lo. Ao manter os rastros da sua escritura, o projeto do Carmin descola-se de formatos conhecidos, embaralha gêneros e entrega ao espectador a função de arqueólogo desse inventário de fragmentos. O que se construiu é uma peça sobre uma mulher, mas também sobre uma cidade, sobre envelhecer, sobre o teatro. Uma fantástica pequena história que contém todas as outras. 

Com suas hesitações calculadas, os intérpretes parecem nos dizer que aceitaram aquilo que não entenderam. Poderíamos ter ido por aqui, mas fomos por ali. Ninguém sabe, de fato. A atriz Quitéria Kelly até se arrisca a representar Jacy, imitar como seriam seus gestos, sua voz, mas não se demora muito na personagem. Narração, representação e comentário se intercalam constantemente. 

Nesse contexto, tudo aquilo que se diz ocupa papel central. Estamos diante de uma encenação calcada nas palavras e nos mundos que apenas as palavras podem revelar. Mas as imagens não foram, por isso, esvaziadas. A cenografia é erigida diante do público. Elege objetos prosaicos projetados em tela grande, flagra o efeito surpreendente das coisas mais modestas. Como se desse corpo e materialidade ao mistério que atravessa o texto. 

História é uma palavra simples. Mas são muitos os seus significados. Pode-se usar o termo para falar de fatos grandiosos: de uma época, do passado de um povo e de um país. Serve também para dar conta de miudezas: a trajetória de um único indivíduo, uma aventura particular, a narrativa de fatos fictícios ou não. Todas essas acepções de história entram em jogo em Jacy, espetáculo do Grupo Carmin, de Natal, Rio Grande do Norte. Na montagem, a vida de uma mulher se embaralha ao panorama do Brasil no século 20, sua biografia abre espaço para contar as transformações de uma cidade, que saltou de província esquecida a metrópole caótica. 

Grupo Carmin faz temporada no Sesc Pinheiros Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO TIRADA COM MOTO Z PLAY + HASSELBLAD TRUE ZOOM

A realidade alimenta essa obra. Para criá-la, a companhia partiu de objetos abandonados. Dentro de uma pequena maleta, deixada no lixo de uma avenida de Natal, os atores encontraram um cartão com o telefone de um motorista de táxi, recibos dos Correios, próteses dentárias, a radiografia de uma clavícula quebrada. Vestígios de uma desconhecida que foram sendo recompostos em uma teia que combina relatos, cartas, depoimentos gravados e, o mais importante, suposições. 

São antigas e bem conhecidas as práticas documentais utilizadas nos palcos. Remontam pelo menos ao século 19 e encontraram consistência no trabalho do encenador alemão Erwin Piscator, o primeiro a escrever sobre um teatro documental. O que Jacy faz é valer-se de todo esse conhecimento acumulado sobre o uso de arquivos e fontes verídicas em cena, mas sem abrir mão da possibilidade de imaginar. 

Conhecemos os nomes dos pais, avós e irmãos de Jacy Lisboa Lucena. Sabemos que nasceu em Ceará Mirim, em 1920, que viveu em Natal durante a 2.ª Guerra, que se apaixonou por um capitão do exército americano. Depois, foi para o Rio, assistiu à ascensão do regime militar, reencontrou o namorado da juventude – passados 20 anos – e com ele se casou. Aposentada, voltou a Natal, encontrou tudo mudado, e morreu após uma queda, aos 90 anos. 

Mas o que essa menina criada em um engenho de açúcar pensava do amor, da morte, da política? Sabemos isso? Os filósofos Pablo Capistrano e Iracema Macedo escreveram textos que alimentam a dramaturgia, assinada em conjunto com o também ator e diretor Henrique Fontes. Ali, a ficção vem cimentar as fendas deixadas pelo real. O que não se explica pode ser imaginado. Mas o território da imprecisão é maior. O que se conhece sobre essa personagem também não é neutro. Invariavelmente, há um mediador que se interpõe em cada carta e depoimento. Qual é a historiografia possível? Há muitas camadas a recobrir o real. 

Tão importante quanto o que se criou foi o caminho para fazê-lo. Ao manter os rastros da sua escritura, o projeto do Carmin descola-se de formatos conhecidos, embaralha gêneros e entrega ao espectador a função de arqueólogo desse inventário de fragmentos. O que se construiu é uma peça sobre uma mulher, mas também sobre uma cidade, sobre envelhecer, sobre o teatro. Uma fantástica pequena história que contém todas as outras. 

Com suas hesitações calculadas, os intérpretes parecem nos dizer que aceitaram aquilo que não entenderam. Poderíamos ter ido por aqui, mas fomos por ali. Ninguém sabe, de fato. A atriz Quitéria Kelly até se arrisca a representar Jacy, imitar como seriam seus gestos, sua voz, mas não se demora muito na personagem. Narração, representação e comentário se intercalam constantemente. 

Nesse contexto, tudo aquilo que se diz ocupa papel central. Estamos diante de uma encenação calcada nas palavras e nos mundos que apenas as palavras podem revelar. Mas as imagens não foram, por isso, esvaziadas. A cenografia é erigida diante do público. Elege objetos prosaicos projetados em tela grande, flagra o efeito surpreendente das coisas mais modestas. Como se desse corpo e materialidade ao mistério que atravessa o texto. 

História é uma palavra simples. Mas são muitos os seus significados. Pode-se usar o termo para falar de fatos grandiosos: de uma época, do passado de um povo e de um país. Serve também para dar conta de miudezas: a trajetória de um único indivíduo, uma aventura particular, a narrativa de fatos fictícios ou não. Todas essas acepções de história entram em jogo em Jacy, espetáculo do Grupo Carmin, de Natal, Rio Grande do Norte. Na montagem, a vida de uma mulher se embaralha ao panorama do Brasil no século 20, sua biografia abre espaço para contar as transformações de uma cidade, que saltou de província esquecida a metrópole caótica. 

Grupo Carmin faz temporada no Sesc Pinheiros Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO TIRADA COM MOTO Z PLAY + HASSELBLAD TRUE ZOOM

A realidade alimenta essa obra. Para criá-la, a companhia partiu de objetos abandonados. Dentro de uma pequena maleta, deixada no lixo de uma avenida de Natal, os atores encontraram um cartão com o telefone de um motorista de táxi, recibos dos Correios, próteses dentárias, a radiografia de uma clavícula quebrada. Vestígios de uma desconhecida que foram sendo recompostos em uma teia que combina relatos, cartas, depoimentos gravados e, o mais importante, suposições. 

São antigas e bem conhecidas as práticas documentais utilizadas nos palcos. Remontam pelo menos ao século 19 e encontraram consistência no trabalho do encenador alemão Erwin Piscator, o primeiro a escrever sobre um teatro documental. O que Jacy faz é valer-se de todo esse conhecimento acumulado sobre o uso de arquivos e fontes verídicas em cena, mas sem abrir mão da possibilidade de imaginar. 

Conhecemos os nomes dos pais, avós e irmãos de Jacy Lisboa Lucena. Sabemos que nasceu em Ceará Mirim, em 1920, que viveu em Natal durante a 2.ª Guerra, que se apaixonou por um capitão do exército americano. Depois, foi para o Rio, assistiu à ascensão do regime militar, reencontrou o namorado da juventude – passados 20 anos – e com ele se casou. Aposentada, voltou a Natal, encontrou tudo mudado, e morreu após uma queda, aos 90 anos. 

Mas o que essa menina criada em um engenho de açúcar pensava do amor, da morte, da política? Sabemos isso? Os filósofos Pablo Capistrano e Iracema Macedo escreveram textos que alimentam a dramaturgia, assinada em conjunto com o também ator e diretor Henrique Fontes. Ali, a ficção vem cimentar as fendas deixadas pelo real. O que não se explica pode ser imaginado. Mas o território da imprecisão é maior. O que se conhece sobre essa personagem também não é neutro. Invariavelmente, há um mediador que se interpõe em cada carta e depoimento. Qual é a historiografia possível? Há muitas camadas a recobrir o real. 

Tão importante quanto o que se criou foi o caminho para fazê-lo. Ao manter os rastros da sua escritura, o projeto do Carmin descola-se de formatos conhecidos, embaralha gêneros e entrega ao espectador a função de arqueólogo desse inventário de fragmentos. O que se construiu é uma peça sobre uma mulher, mas também sobre uma cidade, sobre envelhecer, sobre o teatro. Uma fantástica pequena história que contém todas as outras. 

Com suas hesitações calculadas, os intérpretes parecem nos dizer que aceitaram aquilo que não entenderam. Poderíamos ter ido por aqui, mas fomos por ali. Ninguém sabe, de fato. A atriz Quitéria Kelly até se arrisca a representar Jacy, imitar como seriam seus gestos, sua voz, mas não se demora muito na personagem. Narração, representação e comentário se intercalam constantemente. 

Nesse contexto, tudo aquilo que se diz ocupa papel central. Estamos diante de uma encenação calcada nas palavras e nos mundos que apenas as palavras podem revelar. Mas as imagens não foram, por isso, esvaziadas. A cenografia é erigida diante do público. Elege objetos prosaicos projetados em tela grande, flagra o efeito surpreendente das coisas mais modestas. Como se desse corpo e materialidade ao mistério que atravessa o texto. 

História é uma palavra simples. Mas são muitos os seus significados. Pode-se usar o termo para falar de fatos grandiosos: de uma época, do passado de um povo e de um país. Serve também para dar conta de miudezas: a trajetória de um único indivíduo, uma aventura particular, a narrativa de fatos fictícios ou não. Todas essas acepções de história entram em jogo em Jacy, espetáculo do Grupo Carmin, de Natal, Rio Grande do Norte. Na montagem, a vida de uma mulher se embaralha ao panorama do Brasil no século 20, sua biografia abre espaço para contar as transformações de uma cidade, que saltou de província esquecida a metrópole caótica. 

Grupo Carmin faz temporada no Sesc Pinheiros Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO TIRADA COM MOTO Z PLAY + HASSELBLAD TRUE ZOOM

A realidade alimenta essa obra. Para criá-la, a companhia partiu de objetos abandonados. Dentro de uma pequena maleta, deixada no lixo de uma avenida de Natal, os atores encontraram um cartão com o telefone de um motorista de táxi, recibos dos Correios, próteses dentárias, a radiografia de uma clavícula quebrada. Vestígios de uma desconhecida que foram sendo recompostos em uma teia que combina relatos, cartas, depoimentos gravados e, o mais importante, suposições. 

São antigas e bem conhecidas as práticas documentais utilizadas nos palcos. Remontam pelo menos ao século 19 e encontraram consistência no trabalho do encenador alemão Erwin Piscator, o primeiro a escrever sobre um teatro documental. O que Jacy faz é valer-se de todo esse conhecimento acumulado sobre o uso de arquivos e fontes verídicas em cena, mas sem abrir mão da possibilidade de imaginar. 

Conhecemos os nomes dos pais, avós e irmãos de Jacy Lisboa Lucena. Sabemos que nasceu em Ceará Mirim, em 1920, que viveu em Natal durante a 2.ª Guerra, que se apaixonou por um capitão do exército americano. Depois, foi para o Rio, assistiu à ascensão do regime militar, reencontrou o namorado da juventude – passados 20 anos – e com ele se casou. Aposentada, voltou a Natal, encontrou tudo mudado, e morreu após uma queda, aos 90 anos. 

Mas o que essa menina criada em um engenho de açúcar pensava do amor, da morte, da política? Sabemos isso? Os filósofos Pablo Capistrano e Iracema Macedo escreveram textos que alimentam a dramaturgia, assinada em conjunto com o também ator e diretor Henrique Fontes. Ali, a ficção vem cimentar as fendas deixadas pelo real. O que não se explica pode ser imaginado. Mas o território da imprecisão é maior. O que se conhece sobre essa personagem também não é neutro. Invariavelmente, há um mediador que se interpõe em cada carta e depoimento. Qual é a historiografia possível? Há muitas camadas a recobrir o real. 

Tão importante quanto o que se criou foi o caminho para fazê-lo. Ao manter os rastros da sua escritura, o projeto do Carmin descola-se de formatos conhecidos, embaralha gêneros e entrega ao espectador a função de arqueólogo desse inventário de fragmentos. O que se construiu é uma peça sobre uma mulher, mas também sobre uma cidade, sobre envelhecer, sobre o teatro. Uma fantástica pequena história que contém todas as outras. 

Com suas hesitações calculadas, os intérpretes parecem nos dizer que aceitaram aquilo que não entenderam. Poderíamos ter ido por aqui, mas fomos por ali. Ninguém sabe, de fato. A atriz Quitéria Kelly até se arrisca a representar Jacy, imitar como seriam seus gestos, sua voz, mas não se demora muito na personagem. Narração, representação e comentário se intercalam constantemente. 

Nesse contexto, tudo aquilo que se diz ocupa papel central. Estamos diante de uma encenação calcada nas palavras e nos mundos que apenas as palavras podem revelar. Mas as imagens não foram, por isso, esvaziadas. A cenografia é erigida diante do público. Elege objetos prosaicos projetados em tela grande, flagra o efeito surpreendente das coisas mais modestas. Como se desse corpo e materialidade ao mistério que atravessa o texto. 

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