Imaginem uma peça na qual 68 músicos escolhem individualmente quando começar e quando parar de tocar. Agora, acrescentem 12 bailarinos sobre o palco, em uma coreografia em diálogo com a partitura.
É a partir desse desafio que o coreógrafo Alejandro Ahmed criou Sixty-Eight, que o Balé da Cidade de São Paulo estreia nesta sexta, 2, no Teatro Municipal, e que será reapresentada nos dias 3, 4, 7, 8, 9, 10 e 11 deste mês. O espetáculo tem ainda outra coreografia, Inacabada, de Ihsan Rustem, a partir da Sinfonia nº 8 de Schubert, e a regência é do maestro Alessandro Sangiorgi, à frente da Orquestra Sinfônica Municipal.
Matemática
“Sixty-Eight é uma coreografia imaterial, que existe nos vãos entre o movimento e a música, a partir de uma indeterminação que está na gênese do trabalho”, ele explica. A obra musical foi escrita em 1992 pelo compositor norte-americano John Cage. Ela integra um conjunto de peças a que se deu o nome de Number Pieces, em que o número que batiza a partitura é o número de músicos que a interpretam. Na partitura, Cage trabalha com o conceito de time bracket (intervalo de tempo). Cada músico tem na partitura a indicação de uma minutagem de início e final. Nesse intervalo, ele pode começar e terminar de tocar uma só nota musical a hora que quiser. E, como todos interpretam uma mesma nota, a peça cria as chamadas “cascatas de uníssonos”.
Radicalismo
No palco, três grupos de quatro bailarinos dançam acompanhados do que Ahmed chama de “metrônomo de luz”, que guia os movimentos no tempo da orquestra e marcando a entrada e saída dos artistas. “A cada espetáculo, não teremos a reiteração de algo que já existe, mas algo novo. Isso leva a riscos, a dificuldades. Mas é neles que está o radicalismo da obra”, explica.