Morre aos 91 anos a crítica de teatro Bárbara Heliodora


Considerada a maior especialista brasileira em Shakespeare, não fugia da polêmica; artistas repercutem

Por Ubiratan Brasil

(Atualizada às 18h40) A pesquisadora, tradutora e crítica teatral Barbara Heliodora morreu nesta sexta-feira, 10, às 5 horas da manhã, aos 91 anos. Ela estava internada no hospital Samaritano, no Rio, desde 23 de março. O corpo será velado a partir das 8 h de sábado, 11, no cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju, na zona portuária do Rio. A cremação está prevista para as 15 h, no mesmo local. 

A notícia entristeceu a classe artística. Sábato Magaldi, um dos mais importantes críticos da imprensa nacional (trabalhou no Jornal da Tarde e no Estado) ficou consternado. “Perdi uma amiga querida”, disse.

Considerada a maior especialista brasileira em Shakespeare, Barbara foi uma profissional que não fugia da polêmica. Suas críticas diretas, com uma retórica potente e palavras imperdoáveis, criavam mais desafetos que amigos. Publicou durante décadas no jornal O Globo e seus textos tinham o raro poder de sepultar ou canonizar qualquer montagem teatral até sua aposentadoria, em janeiro de 2014.

continua após a publicidade
Barbara. Suas críticas provocavam amor e desprezo entre os artistas Foto: GUGA MELGAR /DIVULGAÇÃO – 4/12/2013

“Se o seu principal vício é um certo comprometimento do gosto, tem a virtude de expô-lo cada vez que escreve seus artigos no Globo”, escreveu o diretor Sérgio de Carvalho, em artigo publicado pelo Estado em 1997. “Quando fala de Shakespeare, entretanto, sua inflexibilidade converte-se em derramamento. É uma amorosa da obra shakespeariana, boa tradutora e conhecedora atenta.”

De fato, sua paixão parecia não ter limites. “A variedade de temas e gêneros abrangida pela obra dramática de Shakespeare é tão grande que só surpreende que ela tenha sido realizada por um só homem”, disse ela, quando conversou com o Estado em 2012. 

continua após a publicidade

O primeiro encontro com Shakespeare aconteceu quando ela estava com 12 anos, época em que recebeu um livro da mãe. “Não me lembro qual foi a primeira peça que li, mas hoje eu teria muita vontade de ler o Hamlet pela primeira vez. É claro que toda vez que lemos descobrimos mais, mas queria descobrir como seria o impacto de ler pela primeira vez. O que é mais fantástico em Shakespeare é que o vocabulário é imenso, 29.600 palavras, e muitas são usadas pela primeira vez impressas na obra dele. No entanto, tem uma linguagem acessível. Este é o grande segredo dele”, disse.

Em 1957, Barbara frequentava o grupo teatral O Tablado, no Rio, e gostava de falar sobre as peças, o que incentivava os amigos a dizer que ela deveria fazer críticas de teatro. Na época, o ator/autor Silveira Sampaio recomendou-a para Carlos Lacerda, então proprietário do jornal Tribuna da Imprensa, que a contratou em outubro daquele ano. Lá, ela fez críticas por 4 meses.

Em março de 1958, transferiu-se para o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, no qual ficou até 1964. Em 1985, depois de 21 anos, foi convidada por Oswaldo Mendes, na época editor da revista Visão, para voltar a fazer críticas, e lá ficou por cinco anos. Ela também colaborou com o Estado. Em 1990, foi convidada pelo jornal O Globo.

continua após a publicidade

Heliodora Carneiro de Mendonça (recebeu o nome Barbara depois do batismo) nasceu no Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1923, filha mais nova de um casal de intelectuais. A influência se refletiu em suas críticas teatrais, que logo conquistaram respeito graças à seriedade, ao rigor e à erudição do texto. Por conta disso, foi uma das líderes na modernização da crítica teatral do Rio de Janeiro.

De 1964 a 1967, afastou-se da crítica para atuar na direção do Serviço Nacional de Teatro (SNT). Em seguida, voltou-se unicamente ao ensino ao atuar como professora de história de teatro no Conservatório Nacional de Teatro e, posteriormente, professora titular da mesma disciplina no Centro de Letras e Artes da Uni-Rio, cargo que desempenhou até a sua aposentadoria, em 1985. 

Mais tarde, também ministrou cursos de pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu, em 1975, a tese de doutorado intitulada A Expressão Dramática do Homem Político em Shakespeare, posteriormente transformada em livro. Publicou também Algumas Reflexões sobre o Teatro Brasileiro em 1972.

continua após a publicidade

Entre seus prêmios, destaca-se a condecoração recebida do Ministério da Cultura da França com a Ordem dos Cavaleiros e das Letras.

Alegou cansaço quando desistiu de publicar críticas no Globo, fato comemorado (discretamente ou não) pelos autores, atores e diretores que não escapavam de sua mira de tiro. Afinal, ao cumprir com sua tarefa com brilhantismo, Barbara destruiu reputações e peças, assim como colocou no Olimpo outros tantos. “Uma leitora me encontrou na rua e veio me dizer que não se acostumará à ausência de minhas resenhas”, afirmou, à época. “Ela disse que se guiava por minhas sugestões. Mas tenho de parar porque estou cansada de sair à noite e ir ao teatro.”

REPERCUSSÃO

continua após a publicidade

"Éramos amigas. Estou desolada. Acho uma perda para a inteligência brasileiro, para universo teatral. Ela era uma mulher especial, brilhante, cheia de vida, vida interior. Acho uma lástima." Marília Gabriela, jornalista e atriz

"A Bárbara, sem dúvida, era nossa maior crítica de teatro, uma enorme intelectual. A maior tradutora e conhecedora de toda a obra de Shakespeare, o que é muito raro porque as obras são complexas. Ela era genial, insubstituível. Não temos e provavelmente não teremos tão cedo alguém no nível dela, como crítica, tradutora e escritora. Ela criticou algumas peças minhas, o que guardo com honraria." Juca de Oliveira, ator

"Era uma intelectual, uma estudiosa do teatro não só no Brasil, como no Mundo. Uma mulher forte e importante para todos nós." Eva Wilma, atriz

continua após a publicidade

"Apesar de ela ser muito severa nas observações teatrais, era uma mulher extremamente apaixonada pelo que ela fazia. Muito culta e comprometida com a linguagem teatral. É uma perda, porque a Bárbara conquistou um espaço importante para o teatro. Inspirou muita gente e acrescentou muito à trajetória de muitos artistas brasileiros." Elias Andreato, ator

"Era uma crítica muito generosa, uma profissional que apostava no artístico” Cláudia Raia, atriz

“Perdi uma amiga querida, que dignificou a crítica teatral. Vai fazer falta” Sábato Magaldi, crítico

“Não conheço ninguém que tenha amado e se entregado tanto ao teatro como ela” Fernanda Montenegro, atriz, em entrevista à Globonews

“Apaixonada pelo teatro, movida pela paixão e com prazer de escrever” Dan Stulbach, ator, no Facebook

Colaborou Murilo Bomfim

(Atualizada às 18h40) A pesquisadora, tradutora e crítica teatral Barbara Heliodora morreu nesta sexta-feira, 10, às 5 horas da manhã, aos 91 anos. Ela estava internada no hospital Samaritano, no Rio, desde 23 de março. O corpo será velado a partir das 8 h de sábado, 11, no cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju, na zona portuária do Rio. A cremação está prevista para as 15 h, no mesmo local. 

A notícia entristeceu a classe artística. Sábato Magaldi, um dos mais importantes críticos da imprensa nacional (trabalhou no Jornal da Tarde e no Estado) ficou consternado. “Perdi uma amiga querida”, disse.

Considerada a maior especialista brasileira em Shakespeare, Barbara foi uma profissional que não fugia da polêmica. Suas críticas diretas, com uma retórica potente e palavras imperdoáveis, criavam mais desafetos que amigos. Publicou durante décadas no jornal O Globo e seus textos tinham o raro poder de sepultar ou canonizar qualquer montagem teatral até sua aposentadoria, em janeiro de 2014.

Barbara. Suas críticas provocavam amor e desprezo entre os artistas Foto: GUGA MELGAR /DIVULGAÇÃO – 4/12/2013

“Se o seu principal vício é um certo comprometimento do gosto, tem a virtude de expô-lo cada vez que escreve seus artigos no Globo”, escreveu o diretor Sérgio de Carvalho, em artigo publicado pelo Estado em 1997. “Quando fala de Shakespeare, entretanto, sua inflexibilidade converte-se em derramamento. É uma amorosa da obra shakespeariana, boa tradutora e conhecedora atenta.”

De fato, sua paixão parecia não ter limites. “A variedade de temas e gêneros abrangida pela obra dramática de Shakespeare é tão grande que só surpreende que ela tenha sido realizada por um só homem”, disse ela, quando conversou com o Estado em 2012. 

O primeiro encontro com Shakespeare aconteceu quando ela estava com 12 anos, época em que recebeu um livro da mãe. “Não me lembro qual foi a primeira peça que li, mas hoje eu teria muita vontade de ler o Hamlet pela primeira vez. É claro que toda vez que lemos descobrimos mais, mas queria descobrir como seria o impacto de ler pela primeira vez. O que é mais fantástico em Shakespeare é que o vocabulário é imenso, 29.600 palavras, e muitas são usadas pela primeira vez impressas na obra dele. No entanto, tem uma linguagem acessível. Este é o grande segredo dele”, disse.

Em 1957, Barbara frequentava o grupo teatral O Tablado, no Rio, e gostava de falar sobre as peças, o que incentivava os amigos a dizer que ela deveria fazer críticas de teatro. Na época, o ator/autor Silveira Sampaio recomendou-a para Carlos Lacerda, então proprietário do jornal Tribuna da Imprensa, que a contratou em outubro daquele ano. Lá, ela fez críticas por 4 meses.

Em março de 1958, transferiu-se para o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, no qual ficou até 1964. Em 1985, depois de 21 anos, foi convidada por Oswaldo Mendes, na época editor da revista Visão, para voltar a fazer críticas, e lá ficou por cinco anos. Ela também colaborou com o Estado. Em 1990, foi convidada pelo jornal O Globo.

Heliodora Carneiro de Mendonça (recebeu o nome Barbara depois do batismo) nasceu no Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1923, filha mais nova de um casal de intelectuais. A influência se refletiu em suas críticas teatrais, que logo conquistaram respeito graças à seriedade, ao rigor e à erudição do texto. Por conta disso, foi uma das líderes na modernização da crítica teatral do Rio de Janeiro.

De 1964 a 1967, afastou-se da crítica para atuar na direção do Serviço Nacional de Teatro (SNT). Em seguida, voltou-se unicamente ao ensino ao atuar como professora de história de teatro no Conservatório Nacional de Teatro e, posteriormente, professora titular da mesma disciplina no Centro de Letras e Artes da Uni-Rio, cargo que desempenhou até a sua aposentadoria, em 1985. 

Mais tarde, também ministrou cursos de pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu, em 1975, a tese de doutorado intitulada A Expressão Dramática do Homem Político em Shakespeare, posteriormente transformada em livro. Publicou também Algumas Reflexões sobre o Teatro Brasileiro em 1972.

Entre seus prêmios, destaca-se a condecoração recebida do Ministério da Cultura da França com a Ordem dos Cavaleiros e das Letras.

Alegou cansaço quando desistiu de publicar críticas no Globo, fato comemorado (discretamente ou não) pelos autores, atores e diretores que não escapavam de sua mira de tiro. Afinal, ao cumprir com sua tarefa com brilhantismo, Barbara destruiu reputações e peças, assim como colocou no Olimpo outros tantos. “Uma leitora me encontrou na rua e veio me dizer que não se acostumará à ausência de minhas resenhas”, afirmou, à época. “Ela disse que se guiava por minhas sugestões. Mas tenho de parar porque estou cansada de sair à noite e ir ao teatro.”

REPERCUSSÃO

"Éramos amigas. Estou desolada. Acho uma perda para a inteligência brasileiro, para universo teatral. Ela era uma mulher especial, brilhante, cheia de vida, vida interior. Acho uma lástima." Marília Gabriela, jornalista e atriz

"A Bárbara, sem dúvida, era nossa maior crítica de teatro, uma enorme intelectual. A maior tradutora e conhecedora de toda a obra de Shakespeare, o que é muito raro porque as obras são complexas. Ela era genial, insubstituível. Não temos e provavelmente não teremos tão cedo alguém no nível dela, como crítica, tradutora e escritora. Ela criticou algumas peças minhas, o que guardo com honraria." Juca de Oliveira, ator

"Era uma intelectual, uma estudiosa do teatro não só no Brasil, como no Mundo. Uma mulher forte e importante para todos nós." Eva Wilma, atriz

"Apesar de ela ser muito severa nas observações teatrais, era uma mulher extremamente apaixonada pelo que ela fazia. Muito culta e comprometida com a linguagem teatral. É uma perda, porque a Bárbara conquistou um espaço importante para o teatro. Inspirou muita gente e acrescentou muito à trajetória de muitos artistas brasileiros." Elias Andreato, ator

"Era uma crítica muito generosa, uma profissional que apostava no artístico” Cláudia Raia, atriz

“Perdi uma amiga querida, que dignificou a crítica teatral. Vai fazer falta” Sábato Magaldi, crítico

“Não conheço ninguém que tenha amado e se entregado tanto ao teatro como ela” Fernanda Montenegro, atriz, em entrevista à Globonews

“Apaixonada pelo teatro, movida pela paixão e com prazer de escrever” Dan Stulbach, ator, no Facebook

Colaborou Murilo Bomfim

(Atualizada às 18h40) A pesquisadora, tradutora e crítica teatral Barbara Heliodora morreu nesta sexta-feira, 10, às 5 horas da manhã, aos 91 anos. Ela estava internada no hospital Samaritano, no Rio, desde 23 de março. O corpo será velado a partir das 8 h de sábado, 11, no cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju, na zona portuária do Rio. A cremação está prevista para as 15 h, no mesmo local. 

A notícia entristeceu a classe artística. Sábato Magaldi, um dos mais importantes críticos da imprensa nacional (trabalhou no Jornal da Tarde e no Estado) ficou consternado. “Perdi uma amiga querida”, disse.

Considerada a maior especialista brasileira em Shakespeare, Barbara foi uma profissional que não fugia da polêmica. Suas críticas diretas, com uma retórica potente e palavras imperdoáveis, criavam mais desafetos que amigos. Publicou durante décadas no jornal O Globo e seus textos tinham o raro poder de sepultar ou canonizar qualquer montagem teatral até sua aposentadoria, em janeiro de 2014.

Barbara. Suas críticas provocavam amor e desprezo entre os artistas Foto: GUGA MELGAR /DIVULGAÇÃO – 4/12/2013

“Se o seu principal vício é um certo comprometimento do gosto, tem a virtude de expô-lo cada vez que escreve seus artigos no Globo”, escreveu o diretor Sérgio de Carvalho, em artigo publicado pelo Estado em 1997. “Quando fala de Shakespeare, entretanto, sua inflexibilidade converte-se em derramamento. É uma amorosa da obra shakespeariana, boa tradutora e conhecedora atenta.”

De fato, sua paixão parecia não ter limites. “A variedade de temas e gêneros abrangida pela obra dramática de Shakespeare é tão grande que só surpreende que ela tenha sido realizada por um só homem”, disse ela, quando conversou com o Estado em 2012. 

O primeiro encontro com Shakespeare aconteceu quando ela estava com 12 anos, época em que recebeu um livro da mãe. “Não me lembro qual foi a primeira peça que li, mas hoje eu teria muita vontade de ler o Hamlet pela primeira vez. É claro que toda vez que lemos descobrimos mais, mas queria descobrir como seria o impacto de ler pela primeira vez. O que é mais fantástico em Shakespeare é que o vocabulário é imenso, 29.600 palavras, e muitas são usadas pela primeira vez impressas na obra dele. No entanto, tem uma linguagem acessível. Este é o grande segredo dele”, disse.

Em 1957, Barbara frequentava o grupo teatral O Tablado, no Rio, e gostava de falar sobre as peças, o que incentivava os amigos a dizer que ela deveria fazer críticas de teatro. Na época, o ator/autor Silveira Sampaio recomendou-a para Carlos Lacerda, então proprietário do jornal Tribuna da Imprensa, que a contratou em outubro daquele ano. Lá, ela fez críticas por 4 meses.

Em março de 1958, transferiu-se para o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, no qual ficou até 1964. Em 1985, depois de 21 anos, foi convidada por Oswaldo Mendes, na época editor da revista Visão, para voltar a fazer críticas, e lá ficou por cinco anos. Ela também colaborou com o Estado. Em 1990, foi convidada pelo jornal O Globo.

Heliodora Carneiro de Mendonça (recebeu o nome Barbara depois do batismo) nasceu no Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1923, filha mais nova de um casal de intelectuais. A influência se refletiu em suas críticas teatrais, que logo conquistaram respeito graças à seriedade, ao rigor e à erudição do texto. Por conta disso, foi uma das líderes na modernização da crítica teatral do Rio de Janeiro.

De 1964 a 1967, afastou-se da crítica para atuar na direção do Serviço Nacional de Teatro (SNT). Em seguida, voltou-se unicamente ao ensino ao atuar como professora de história de teatro no Conservatório Nacional de Teatro e, posteriormente, professora titular da mesma disciplina no Centro de Letras e Artes da Uni-Rio, cargo que desempenhou até a sua aposentadoria, em 1985. 

Mais tarde, também ministrou cursos de pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu, em 1975, a tese de doutorado intitulada A Expressão Dramática do Homem Político em Shakespeare, posteriormente transformada em livro. Publicou também Algumas Reflexões sobre o Teatro Brasileiro em 1972.

Entre seus prêmios, destaca-se a condecoração recebida do Ministério da Cultura da França com a Ordem dos Cavaleiros e das Letras.

Alegou cansaço quando desistiu de publicar críticas no Globo, fato comemorado (discretamente ou não) pelos autores, atores e diretores que não escapavam de sua mira de tiro. Afinal, ao cumprir com sua tarefa com brilhantismo, Barbara destruiu reputações e peças, assim como colocou no Olimpo outros tantos. “Uma leitora me encontrou na rua e veio me dizer que não se acostumará à ausência de minhas resenhas”, afirmou, à época. “Ela disse que se guiava por minhas sugestões. Mas tenho de parar porque estou cansada de sair à noite e ir ao teatro.”

REPERCUSSÃO

"Éramos amigas. Estou desolada. Acho uma perda para a inteligência brasileiro, para universo teatral. Ela era uma mulher especial, brilhante, cheia de vida, vida interior. Acho uma lástima." Marília Gabriela, jornalista e atriz

"A Bárbara, sem dúvida, era nossa maior crítica de teatro, uma enorme intelectual. A maior tradutora e conhecedora de toda a obra de Shakespeare, o que é muito raro porque as obras são complexas. Ela era genial, insubstituível. Não temos e provavelmente não teremos tão cedo alguém no nível dela, como crítica, tradutora e escritora. Ela criticou algumas peças minhas, o que guardo com honraria." Juca de Oliveira, ator

"Era uma intelectual, uma estudiosa do teatro não só no Brasil, como no Mundo. Uma mulher forte e importante para todos nós." Eva Wilma, atriz

"Apesar de ela ser muito severa nas observações teatrais, era uma mulher extremamente apaixonada pelo que ela fazia. Muito culta e comprometida com a linguagem teatral. É uma perda, porque a Bárbara conquistou um espaço importante para o teatro. Inspirou muita gente e acrescentou muito à trajetória de muitos artistas brasileiros." Elias Andreato, ator

"Era uma crítica muito generosa, uma profissional que apostava no artístico” Cláudia Raia, atriz

“Perdi uma amiga querida, que dignificou a crítica teatral. Vai fazer falta” Sábato Magaldi, crítico

“Não conheço ninguém que tenha amado e se entregado tanto ao teatro como ela” Fernanda Montenegro, atriz, em entrevista à Globonews

“Apaixonada pelo teatro, movida pela paixão e com prazer de escrever” Dan Stulbach, ator, no Facebook

Colaborou Murilo Bomfim

(Atualizada às 18h40) A pesquisadora, tradutora e crítica teatral Barbara Heliodora morreu nesta sexta-feira, 10, às 5 horas da manhã, aos 91 anos. Ela estava internada no hospital Samaritano, no Rio, desde 23 de março. O corpo será velado a partir das 8 h de sábado, 11, no cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju, na zona portuária do Rio. A cremação está prevista para as 15 h, no mesmo local. 

A notícia entristeceu a classe artística. Sábato Magaldi, um dos mais importantes críticos da imprensa nacional (trabalhou no Jornal da Tarde e no Estado) ficou consternado. “Perdi uma amiga querida”, disse.

Considerada a maior especialista brasileira em Shakespeare, Barbara foi uma profissional que não fugia da polêmica. Suas críticas diretas, com uma retórica potente e palavras imperdoáveis, criavam mais desafetos que amigos. Publicou durante décadas no jornal O Globo e seus textos tinham o raro poder de sepultar ou canonizar qualquer montagem teatral até sua aposentadoria, em janeiro de 2014.

Barbara. Suas críticas provocavam amor e desprezo entre os artistas Foto: GUGA MELGAR /DIVULGAÇÃO – 4/12/2013

“Se o seu principal vício é um certo comprometimento do gosto, tem a virtude de expô-lo cada vez que escreve seus artigos no Globo”, escreveu o diretor Sérgio de Carvalho, em artigo publicado pelo Estado em 1997. “Quando fala de Shakespeare, entretanto, sua inflexibilidade converte-se em derramamento. É uma amorosa da obra shakespeariana, boa tradutora e conhecedora atenta.”

De fato, sua paixão parecia não ter limites. “A variedade de temas e gêneros abrangida pela obra dramática de Shakespeare é tão grande que só surpreende que ela tenha sido realizada por um só homem”, disse ela, quando conversou com o Estado em 2012. 

O primeiro encontro com Shakespeare aconteceu quando ela estava com 12 anos, época em que recebeu um livro da mãe. “Não me lembro qual foi a primeira peça que li, mas hoje eu teria muita vontade de ler o Hamlet pela primeira vez. É claro que toda vez que lemos descobrimos mais, mas queria descobrir como seria o impacto de ler pela primeira vez. O que é mais fantástico em Shakespeare é que o vocabulário é imenso, 29.600 palavras, e muitas são usadas pela primeira vez impressas na obra dele. No entanto, tem uma linguagem acessível. Este é o grande segredo dele”, disse.

Em 1957, Barbara frequentava o grupo teatral O Tablado, no Rio, e gostava de falar sobre as peças, o que incentivava os amigos a dizer que ela deveria fazer críticas de teatro. Na época, o ator/autor Silveira Sampaio recomendou-a para Carlos Lacerda, então proprietário do jornal Tribuna da Imprensa, que a contratou em outubro daquele ano. Lá, ela fez críticas por 4 meses.

Em março de 1958, transferiu-se para o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, no qual ficou até 1964. Em 1985, depois de 21 anos, foi convidada por Oswaldo Mendes, na época editor da revista Visão, para voltar a fazer críticas, e lá ficou por cinco anos. Ela também colaborou com o Estado. Em 1990, foi convidada pelo jornal O Globo.

Heliodora Carneiro de Mendonça (recebeu o nome Barbara depois do batismo) nasceu no Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1923, filha mais nova de um casal de intelectuais. A influência se refletiu em suas críticas teatrais, que logo conquistaram respeito graças à seriedade, ao rigor e à erudição do texto. Por conta disso, foi uma das líderes na modernização da crítica teatral do Rio de Janeiro.

De 1964 a 1967, afastou-se da crítica para atuar na direção do Serviço Nacional de Teatro (SNT). Em seguida, voltou-se unicamente ao ensino ao atuar como professora de história de teatro no Conservatório Nacional de Teatro e, posteriormente, professora titular da mesma disciplina no Centro de Letras e Artes da Uni-Rio, cargo que desempenhou até a sua aposentadoria, em 1985. 

Mais tarde, também ministrou cursos de pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu, em 1975, a tese de doutorado intitulada A Expressão Dramática do Homem Político em Shakespeare, posteriormente transformada em livro. Publicou também Algumas Reflexões sobre o Teatro Brasileiro em 1972.

Entre seus prêmios, destaca-se a condecoração recebida do Ministério da Cultura da França com a Ordem dos Cavaleiros e das Letras.

Alegou cansaço quando desistiu de publicar críticas no Globo, fato comemorado (discretamente ou não) pelos autores, atores e diretores que não escapavam de sua mira de tiro. Afinal, ao cumprir com sua tarefa com brilhantismo, Barbara destruiu reputações e peças, assim como colocou no Olimpo outros tantos. “Uma leitora me encontrou na rua e veio me dizer que não se acostumará à ausência de minhas resenhas”, afirmou, à época. “Ela disse que se guiava por minhas sugestões. Mas tenho de parar porque estou cansada de sair à noite e ir ao teatro.”

REPERCUSSÃO

"Éramos amigas. Estou desolada. Acho uma perda para a inteligência brasileiro, para universo teatral. Ela era uma mulher especial, brilhante, cheia de vida, vida interior. Acho uma lástima." Marília Gabriela, jornalista e atriz

"A Bárbara, sem dúvida, era nossa maior crítica de teatro, uma enorme intelectual. A maior tradutora e conhecedora de toda a obra de Shakespeare, o que é muito raro porque as obras são complexas. Ela era genial, insubstituível. Não temos e provavelmente não teremos tão cedo alguém no nível dela, como crítica, tradutora e escritora. Ela criticou algumas peças minhas, o que guardo com honraria." Juca de Oliveira, ator

"Era uma intelectual, uma estudiosa do teatro não só no Brasil, como no Mundo. Uma mulher forte e importante para todos nós." Eva Wilma, atriz

"Apesar de ela ser muito severa nas observações teatrais, era uma mulher extremamente apaixonada pelo que ela fazia. Muito culta e comprometida com a linguagem teatral. É uma perda, porque a Bárbara conquistou um espaço importante para o teatro. Inspirou muita gente e acrescentou muito à trajetória de muitos artistas brasileiros." Elias Andreato, ator

"Era uma crítica muito generosa, uma profissional que apostava no artístico” Cláudia Raia, atriz

“Perdi uma amiga querida, que dignificou a crítica teatral. Vai fazer falta” Sábato Magaldi, crítico

“Não conheço ninguém que tenha amado e se entregado tanto ao teatro como ela” Fernanda Montenegro, atriz, em entrevista à Globonews

“Apaixonada pelo teatro, movida pela paixão e com prazer de escrever” Dan Stulbach, ator, no Facebook

Colaborou Murilo Bomfim

(Atualizada às 18h40) A pesquisadora, tradutora e crítica teatral Barbara Heliodora morreu nesta sexta-feira, 10, às 5 horas da manhã, aos 91 anos. Ela estava internada no hospital Samaritano, no Rio, desde 23 de março. O corpo será velado a partir das 8 h de sábado, 11, no cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju, na zona portuária do Rio. A cremação está prevista para as 15 h, no mesmo local. 

A notícia entristeceu a classe artística. Sábato Magaldi, um dos mais importantes críticos da imprensa nacional (trabalhou no Jornal da Tarde e no Estado) ficou consternado. “Perdi uma amiga querida”, disse.

Considerada a maior especialista brasileira em Shakespeare, Barbara foi uma profissional que não fugia da polêmica. Suas críticas diretas, com uma retórica potente e palavras imperdoáveis, criavam mais desafetos que amigos. Publicou durante décadas no jornal O Globo e seus textos tinham o raro poder de sepultar ou canonizar qualquer montagem teatral até sua aposentadoria, em janeiro de 2014.

Barbara. Suas críticas provocavam amor e desprezo entre os artistas Foto: GUGA MELGAR /DIVULGAÇÃO – 4/12/2013

“Se o seu principal vício é um certo comprometimento do gosto, tem a virtude de expô-lo cada vez que escreve seus artigos no Globo”, escreveu o diretor Sérgio de Carvalho, em artigo publicado pelo Estado em 1997. “Quando fala de Shakespeare, entretanto, sua inflexibilidade converte-se em derramamento. É uma amorosa da obra shakespeariana, boa tradutora e conhecedora atenta.”

De fato, sua paixão parecia não ter limites. “A variedade de temas e gêneros abrangida pela obra dramática de Shakespeare é tão grande que só surpreende que ela tenha sido realizada por um só homem”, disse ela, quando conversou com o Estado em 2012. 

O primeiro encontro com Shakespeare aconteceu quando ela estava com 12 anos, época em que recebeu um livro da mãe. “Não me lembro qual foi a primeira peça que li, mas hoje eu teria muita vontade de ler o Hamlet pela primeira vez. É claro que toda vez que lemos descobrimos mais, mas queria descobrir como seria o impacto de ler pela primeira vez. O que é mais fantástico em Shakespeare é que o vocabulário é imenso, 29.600 palavras, e muitas são usadas pela primeira vez impressas na obra dele. No entanto, tem uma linguagem acessível. Este é o grande segredo dele”, disse.

Em 1957, Barbara frequentava o grupo teatral O Tablado, no Rio, e gostava de falar sobre as peças, o que incentivava os amigos a dizer que ela deveria fazer críticas de teatro. Na época, o ator/autor Silveira Sampaio recomendou-a para Carlos Lacerda, então proprietário do jornal Tribuna da Imprensa, que a contratou em outubro daquele ano. Lá, ela fez críticas por 4 meses.

Em março de 1958, transferiu-se para o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, no qual ficou até 1964. Em 1985, depois de 21 anos, foi convidada por Oswaldo Mendes, na época editor da revista Visão, para voltar a fazer críticas, e lá ficou por cinco anos. Ela também colaborou com o Estado. Em 1990, foi convidada pelo jornal O Globo.

Heliodora Carneiro de Mendonça (recebeu o nome Barbara depois do batismo) nasceu no Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1923, filha mais nova de um casal de intelectuais. A influência se refletiu em suas críticas teatrais, que logo conquistaram respeito graças à seriedade, ao rigor e à erudição do texto. Por conta disso, foi uma das líderes na modernização da crítica teatral do Rio de Janeiro.

De 1964 a 1967, afastou-se da crítica para atuar na direção do Serviço Nacional de Teatro (SNT). Em seguida, voltou-se unicamente ao ensino ao atuar como professora de história de teatro no Conservatório Nacional de Teatro e, posteriormente, professora titular da mesma disciplina no Centro de Letras e Artes da Uni-Rio, cargo que desempenhou até a sua aposentadoria, em 1985. 

Mais tarde, também ministrou cursos de pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu, em 1975, a tese de doutorado intitulada A Expressão Dramática do Homem Político em Shakespeare, posteriormente transformada em livro. Publicou também Algumas Reflexões sobre o Teatro Brasileiro em 1972.

Entre seus prêmios, destaca-se a condecoração recebida do Ministério da Cultura da França com a Ordem dos Cavaleiros e das Letras.

Alegou cansaço quando desistiu de publicar críticas no Globo, fato comemorado (discretamente ou não) pelos autores, atores e diretores que não escapavam de sua mira de tiro. Afinal, ao cumprir com sua tarefa com brilhantismo, Barbara destruiu reputações e peças, assim como colocou no Olimpo outros tantos. “Uma leitora me encontrou na rua e veio me dizer que não se acostumará à ausência de minhas resenhas”, afirmou, à época. “Ela disse que se guiava por minhas sugestões. Mas tenho de parar porque estou cansada de sair à noite e ir ao teatro.”

REPERCUSSÃO

"Éramos amigas. Estou desolada. Acho uma perda para a inteligência brasileiro, para universo teatral. Ela era uma mulher especial, brilhante, cheia de vida, vida interior. Acho uma lástima." Marília Gabriela, jornalista e atriz

"A Bárbara, sem dúvida, era nossa maior crítica de teatro, uma enorme intelectual. A maior tradutora e conhecedora de toda a obra de Shakespeare, o que é muito raro porque as obras são complexas. Ela era genial, insubstituível. Não temos e provavelmente não teremos tão cedo alguém no nível dela, como crítica, tradutora e escritora. Ela criticou algumas peças minhas, o que guardo com honraria." Juca de Oliveira, ator

"Era uma intelectual, uma estudiosa do teatro não só no Brasil, como no Mundo. Uma mulher forte e importante para todos nós." Eva Wilma, atriz

"Apesar de ela ser muito severa nas observações teatrais, era uma mulher extremamente apaixonada pelo que ela fazia. Muito culta e comprometida com a linguagem teatral. É uma perda, porque a Bárbara conquistou um espaço importante para o teatro. Inspirou muita gente e acrescentou muito à trajetória de muitos artistas brasileiros." Elias Andreato, ator

"Era uma crítica muito generosa, uma profissional que apostava no artístico” Cláudia Raia, atriz

“Perdi uma amiga querida, que dignificou a crítica teatral. Vai fazer falta” Sábato Magaldi, crítico

“Não conheço ninguém que tenha amado e se entregado tanto ao teatro como ela” Fernanda Montenegro, atriz, em entrevista à Globonews

“Apaixonada pelo teatro, movida pela paixão e com prazer de escrever” Dan Stulbach, ator, no Facebook

Colaborou Murilo Bomfim

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.