Peça 'Consertando Frank' mescla manipulação e os dilemas sexuais


Com direção de Marco Antônio Pâmio, espetáculo põe no palco fraquezas humanas e ausência de ética profissional

Por Murilo Bomfim

O festival Mix Brasil, que reúne produções que enfocam a diversidade, exibiu o filme Fixing Frank (2002) em sua edição do mesmo ano. O diretor do filme, Michael Selditch, que estava na plateia, foi abordado por um espectador ao fim da sessão. “Este filme é uma peça que eu gostaria de montar”, ouviu do diretor teatral Marco Antônio Pâmio que, em seguida, descobriu que, de fato, se tratava de uma peça.

Pâmio conversou com o dramaturgo Ken Hanes e, após anos com o texto na gaveta, a obra estreia hoje, como Consertando Frank, no teatro MuBE Nova Cultural, em São Paulo.

Os 13 anos que se passaram entre a vontade de montar e a realização do projeto foram, de certa forma, benéficos para o texto. “Naquela época, a temática ainda soava meio esquisita, ninguém falava sobre o assunto”, lembra Pâmio.

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Dois lados. Protagonista se divide entre o namorado e o psicanalista a quem quer prejudicar Foto: HELOÍSA BORTZ/DIVULGAÇÃO

Consertando Frank mostra um repórter (Frank Johnston, o personagem-título, interpretado por Chico Carvalho) que namora o psicanalista Jonathan Baldwin (Rubens Caribé). Eles têm um plano que, aparentemente, é do interesse de ambos: acabar com a carreira do também psicanalista Arthur Apsey (Henrique Schafer), que tem um método terapêutico de “reversão da homossexualidade”. Realizando esse plano, Baldwin acabaria com um arqui-inimigo e Frank teria a grande reportagem de sua carreira.

Segundo Pâmio, uma leitura dramática do texto foi feita em 2003 e causou estranhamento – tanto pelo tema da cura gay, quanto pela possibilidade de sujar a imagem de psicoterapeutas. No entanto, a percepção do público muda em 2012, quando um projeto da bancada evangélica propôs a legalização do tratamento, trazendo a discussão à tona no Brasil.

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“Hoje, nos Estados Unidos, a maioria das pessoas acha absurda a ideia da cura gay”, diz Hanes em entrevista ao Estado. “Há ainda, no entanto, muita gente que pensa que curar gays é uma atitude moral.”

Mas não é só sobre isso que a peça fala: existe, no enredo, um forte jogo de manipulação. No início, Frank Johnston tem a clara intenção de prejudicar o psicanalista Arthur Apsey, depois, passa a questionar o próprio namorado. Se para Hanes este jogo fica em segundo plano – “coloquei a manipulação porque achei que, assim, seria mais fácil para os heterossexuais se identificarem com a peça” –, Pâmio tem uma ótica diferente. “A cura gay é um pretexto para falar de uma pessoa que, por ter uma personalidade um pouco mais fraca, um caráter mais frágil, deixa-se manipular”, analisa também o diretor.

Com um ritmo de falas notavelmente rápido, a montagem deixa o trio de atores no palco o tempo inteiro, mesmo quando um deles não está em cena. Enquanto Frank conversa com um dos personagens, o outro fala eventualmente, fazendo as vezes da consciência – manipulada – de Frank. “É uma peça sobre ética e, principalmente, falta de ética”, define Pâmio.

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CONSERTANDO FRANK

MuBE Nova Cultural. Rua Alemanha, 221, Jardim Europa, 4301-7521. 6ª e sáb., 21h30; dom., 18 h. R$ 30. Até 26/4.

O festival Mix Brasil, que reúne produções que enfocam a diversidade, exibiu o filme Fixing Frank (2002) em sua edição do mesmo ano. O diretor do filme, Michael Selditch, que estava na plateia, foi abordado por um espectador ao fim da sessão. “Este filme é uma peça que eu gostaria de montar”, ouviu do diretor teatral Marco Antônio Pâmio que, em seguida, descobriu que, de fato, se tratava de uma peça.

Pâmio conversou com o dramaturgo Ken Hanes e, após anos com o texto na gaveta, a obra estreia hoje, como Consertando Frank, no teatro MuBE Nova Cultural, em São Paulo.

Os 13 anos que se passaram entre a vontade de montar e a realização do projeto foram, de certa forma, benéficos para o texto. “Naquela época, a temática ainda soava meio esquisita, ninguém falava sobre o assunto”, lembra Pâmio.

Dois lados. Protagonista se divide entre o namorado e o psicanalista a quem quer prejudicar Foto: HELOÍSA BORTZ/DIVULGAÇÃO

Consertando Frank mostra um repórter (Frank Johnston, o personagem-título, interpretado por Chico Carvalho) que namora o psicanalista Jonathan Baldwin (Rubens Caribé). Eles têm um plano que, aparentemente, é do interesse de ambos: acabar com a carreira do também psicanalista Arthur Apsey (Henrique Schafer), que tem um método terapêutico de “reversão da homossexualidade”. Realizando esse plano, Baldwin acabaria com um arqui-inimigo e Frank teria a grande reportagem de sua carreira.

Segundo Pâmio, uma leitura dramática do texto foi feita em 2003 e causou estranhamento – tanto pelo tema da cura gay, quanto pela possibilidade de sujar a imagem de psicoterapeutas. No entanto, a percepção do público muda em 2012, quando um projeto da bancada evangélica propôs a legalização do tratamento, trazendo a discussão à tona no Brasil.

“Hoje, nos Estados Unidos, a maioria das pessoas acha absurda a ideia da cura gay”, diz Hanes em entrevista ao Estado. “Há ainda, no entanto, muita gente que pensa que curar gays é uma atitude moral.”

Mas não é só sobre isso que a peça fala: existe, no enredo, um forte jogo de manipulação. No início, Frank Johnston tem a clara intenção de prejudicar o psicanalista Arthur Apsey, depois, passa a questionar o próprio namorado. Se para Hanes este jogo fica em segundo plano – “coloquei a manipulação porque achei que, assim, seria mais fácil para os heterossexuais se identificarem com a peça” –, Pâmio tem uma ótica diferente. “A cura gay é um pretexto para falar de uma pessoa que, por ter uma personalidade um pouco mais fraca, um caráter mais frágil, deixa-se manipular”, analisa também o diretor.

Com um ritmo de falas notavelmente rápido, a montagem deixa o trio de atores no palco o tempo inteiro, mesmo quando um deles não está em cena. Enquanto Frank conversa com um dos personagens, o outro fala eventualmente, fazendo as vezes da consciência – manipulada – de Frank. “É uma peça sobre ética e, principalmente, falta de ética”, define Pâmio.

CONSERTANDO FRANK

MuBE Nova Cultural. Rua Alemanha, 221, Jardim Europa, 4301-7521. 6ª e sáb., 21h30; dom., 18 h. R$ 30. Até 26/4.

O festival Mix Brasil, que reúne produções que enfocam a diversidade, exibiu o filme Fixing Frank (2002) em sua edição do mesmo ano. O diretor do filme, Michael Selditch, que estava na plateia, foi abordado por um espectador ao fim da sessão. “Este filme é uma peça que eu gostaria de montar”, ouviu do diretor teatral Marco Antônio Pâmio que, em seguida, descobriu que, de fato, se tratava de uma peça.

Pâmio conversou com o dramaturgo Ken Hanes e, após anos com o texto na gaveta, a obra estreia hoje, como Consertando Frank, no teatro MuBE Nova Cultural, em São Paulo.

Os 13 anos que se passaram entre a vontade de montar e a realização do projeto foram, de certa forma, benéficos para o texto. “Naquela época, a temática ainda soava meio esquisita, ninguém falava sobre o assunto”, lembra Pâmio.

Dois lados. Protagonista se divide entre o namorado e o psicanalista a quem quer prejudicar Foto: HELOÍSA BORTZ/DIVULGAÇÃO

Consertando Frank mostra um repórter (Frank Johnston, o personagem-título, interpretado por Chico Carvalho) que namora o psicanalista Jonathan Baldwin (Rubens Caribé). Eles têm um plano que, aparentemente, é do interesse de ambos: acabar com a carreira do também psicanalista Arthur Apsey (Henrique Schafer), que tem um método terapêutico de “reversão da homossexualidade”. Realizando esse plano, Baldwin acabaria com um arqui-inimigo e Frank teria a grande reportagem de sua carreira.

Segundo Pâmio, uma leitura dramática do texto foi feita em 2003 e causou estranhamento – tanto pelo tema da cura gay, quanto pela possibilidade de sujar a imagem de psicoterapeutas. No entanto, a percepção do público muda em 2012, quando um projeto da bancada evangélica propôs a legalização do tratamento, trazendo a discussão à tona no Brasil.

“Hoje, nos Estados Unidos, a maioria das pessoas acha absurda a ideia da cura gay”, diz Hanes em entrevista ao Estado. “Há ainda, no entanto, muita gente que pensa que curar gays é uma atitude moral.”

Mas não é só sobre isso que a peça fala: existe, no enredo, um forte jogo de manipulação. No início, Frank Johnston tem a clara intenção de prejudicar o psicanalista Arthur Apsey, depois, passa a questionar o próprio namorado. Se para Hanes este jogo fica em segundo plano – “coloquei a manipulação porque achei que, assim, seria mais fácil para os heterossexuais se identificarem com a peça” –, Pâmio tem uma ótica diferente. “A cura gay é um pretexto para falar de uma pessoa que, por ter uma personalidade um pouco mais fraca, um caráter mais frágil, deixa-se manipular”, analisa também o diretor.

Com um ritmo de falas notavelmente rápido, a montagem deixa o trio de atores no palco o tempo inteiro, mesmo quando um deles não está em cena. Enquanto Frank conversa com um dos personagens, o outro fala eventualmente, fazendo as vezes da consciência – manipulada – de Frank. “É uma peça sobre ética e, principalmente, falta de ética”, define Pâmio.

CONSERTANDO FRANK

MuBE Nova Cultural. Rua Alemanha, 221, Jardim Europa, 4301-7521. 6ª e sáb., 21h30; dom., 18 h. R$ 30. Até 26/4.

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