Peça mais longa do Brasil? ‘Agamenon 12h’ é encenada durante doze horas sem intervalo


Espetáculo reúne doze encenações sucessivas, cada dia em uma ordem

Por Dirceu Alves Jr.
Atualização:

No verão europeu de 2021, o diretor Carlos Canhameiro aproveitava as férias com a família em uma praia do Algarve, em Portugal, quando teve uma visão inusitada. Uma barraca de camelô vendia bugigangas, como cachorrinhos de pelúcia, brinquedos luminosos e chaveiros para um público de crianças e pais ansiosos por uma anestesia que talvez dure menos de quinze minutos. “Pensei naquelas pessoas que fazem um trabalho só para levar algum sustento para casa e atendem compradores em busca da alegria efêmera de compra que, logo, vira lixo”, conta o encenador.

Cena da peçaAgamenon 12h, que, assim como o nome sugere, possui 12 horas de duração, sem intervalo. Foto: Mariana Chama

Canhameiro tinha em mãos desde 2017 uma peça de Rodrigo García, dramaturgo argentino radicado na Espanha, Agamenon - Voltei do Supermercado e Dei uma Surra em meu Filho, de 2004. O texto, inédito no Brasil, lhe foi entregue pelo ator Eduardo Bordinhon e, em uma concepção óbvia, renderia um solo como outro qualquer, capaz de desafiar o intérprete e circular pelos palcos de outras cidades. “Fiquei provocado porque a reforma trabalhista tinha sido aprovada há pouco e precarizado ainda mais a situação dos brasileiros, mas avisei ao Bordinhon que só toparia dirigir se pudesse criar um exercício diferente de forma e cena”, diz ele, que só teve a noção clara da concepção diante da imagem dos comerciantes informais no Algarve.

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O resultado chega ao público nesta quarta, dia 10, como Agamenon 12h, espetáculo-instalação que ocupa a praça do térreo do Sesc Avenida Paulista. São doze encenações sucessivas e distintas do monólogo de García protagonizadas por uma dúzia de atores, sem intervalos, das 10h às 22h, de quartas a sábados, cada dia em uma ordem. A entrada e a saída dos espectadores são livres e gratuitas, e cada um pode escolher o solo que prefere assistir e emendar quantos tiver vontade.

Certamente, é um dos espetáculos com maior duração em uma temporada, mas não o que soma mais tempo em uma única apresentação - A Gente se Vê por Aqui, do artista plástico e escritor Nuno Ramos, foi apresentada em 2018, em São Paulo, com início às 21h e encerramento somente às 21h17 do dia seguinte.

São doze encenações sucessivas e distintas protagonizadas por uma dúzia de atores, sem intervalos, das 10h às 22h, de quartas a sábados, cada dia em uma ordem. Foto: Mariana Chama
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Amanda Lyra, Cauê Gouveia, Chico Lima, Danielli Mendes, Eduardo Bordinhon, Janaina Leite, Jorge Neto, José Roberto Jardim, Nilcéia Vicente, Mariana Senne, Mercedez Vulcão e Veronica Valenttino formam o elenco da empreitada. Todos estão diante do mesmo cenário, a banca de camelô repleta de quinquilharias. O ponto de partida traz um pai de família, exausto com a atmosfera consumista, que chega do supermercado e percebe que comprou mercadorias inúteis e deixou de lado elementos essenciais. “São doze experiências que exploram interpretações do mesmo texto e nada se repete”, explica o diretor. “Quero propor novas formas de pensamento porque não podemos continuar fazendo o mesmo teatro de antes da pandemia, tudo mudou e, se não for assim, considero um retrocesso artístico.”

Raras são as similaridades percebidas nos solos. Entre os poucos elementos, determinados por Canhameiro, estão que, em algum momento, todos têm um número de dança, comem um hambúrguer, puxam um Parabéns a Você e cantam uma canção, que pode ser Estrada da Vida ou As Andorinhas, dois clássicos sertanejos. “Não sou um diretor impositivo e é sensacional perceber que, por exemplo, as cenas da Amanda Lyra e do José Roberto Jardim resultam de contribuições opostas”, conta Canhameiro.

Amanda Lyra subverteu o gênero e investiu na composição de uma personagem feminina, com características marcantes de voz e postura. “O texto tem uma violência masculina e considerei que seria interessante uma mulher assumir essas ações, como a de bater no próprio marido e se colocar nesse lugar de agressividade”, justifica a atriz. José Roberto Jardim, por sua vez, fugiu do realismo. O ator não abre a boca e faz apenas dois gestos. Todas as suas falas estão previamente gravadas, como se fosse um podcast que Jardim dispara na hora da apresentação. “Trouxe uma descrença no que é visto, pensado e falado em cima desse homem, que vê o tempo passar e se conta de que está perdendo toda a vida dele”, diz Jardim.

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Todas as cenas são feitas tendo o mesmo cenário: uma barraca de vendas de bugigangas. Foto: Mariana Chama

Entre as diferentes contribuições, o ator Chico Lima levou as questões do personagem para a rotina de um casal homossexual, assim como a atriz Veronica Valenttino transfere o conflito para o universo de uma mulher trans. Quem radicaliza mais é Janaina Leite, que rejeita qualquer criação de personagem e sequer pensou em uma noção de gênero para contar a história. Ela trabalha com a lógica da reprodução do texto, dispensando traços de psicologia. “Esse texto não me capta pela personagem, mas sim como um fluxo que reproduz aquela narrativa, como se fosse um vômito ligado a essa lógica de consumo.”

Serviço:

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Sesc Avenida Paulista - Praça. Avenida Paulista, 119, térreo. Quarta a sábado, 10h às 22h. 14 anos. Grátis. Até o dia 27.

No verão europeu de 2021, o diretor Carlos Canhameiro aproveitava as férias com a família em uma praia do Algarve, em Portugal, quando teve uma visão inusitada. Uma barraca de camelô vendia bugigangas, como cachorrinhos de pelúcia, brinquedos luminosos e chaveiros para um público de crianças e pais ansiosos por uma anestesia que talvez dure menos de quinze minutos. “Pensei naquelas pessoas que fazem um trabalho só para levar algum sustento para casa e atendem compradores em busca da alegria efêmera de compra que, logo, vira lixo”, conta o encenador.

Cena da peçaAgamenon 12h, que, assim como o nome sugere, possui 12 horas de duração, sem intervalo. Foto: Mariana Chama

Canhameiro tinha em mãos desde 2017 uma peça de Rodrigo García, dramaturgo argentino radicado na Espanha, Agamenon - Voltei do Supermercado e Dei uma Surra em meu Filho, de 2004. O texto, inédito no Brasil, lhe foi entregue pelo ator Eduardo Bordinhon e, em uma concepção óbvia, renderia um solo como outro qualquer, capaz de desafiar o intérprete e circular pelos palcos de outras cidades. “Fiquei provocado porque a reforma trabalhista tinha sido aprovada há pouco e precarizado ainda mais a situação dos brasileiros, mas avisei ao Bordinhon que só toparia dirigir se pudesse criar um exercício diferente de forma e cena”, diz ele, que só teve a noção clara da concepção diante da imagem dos comerciantes informais no Algarve.

O resultado chega ao público nesta quarta, dia 10, como Agamenon 12h, espetáculo-instalação que ocupa a praça do térreo do Sesc Avenida Paulista. São doze encenações sucessivas e distintas do monólogo de García protagonizadas por uma dúzia de atores, sem intervalos, das 10h às 22h, de quartas a sábados, cada dia em uma ordem. A entrada e a saída dos espectadores são livres e gratuitas, e cada um pode escolher o solo que prefere assistir e emendar quantos tiver vontade.

Certamente, é um dos espetáculos com maior duração em uma temporada, mas não o que soma mais tempo em uma única apresentação - A Gente se Vê por Aqui, do artista plástico e escritor Nuno Ramos, foi apresentada em 2018, em São Paulo, com início às 21h e encerramento somente às 21h17 do dia seguinte.

São doze encenações sucessivas e distintas protagonizadas por uma dúzia de atores, sem intervalos, das 10h às 22h, de quartas a sábados, cada dia em uma ordem. Foto: Mariana Chama

Amanda Lyra, Cauê Gouveia, Chico Lima, Danielli Mendes, Eduardo Bordinhon, Janaina Leite, Jorge Neto, José Roberto Jardim, Nilcéia Vicente, Mariana Senne, Mercedez Vulcão e Veronica Valenttino formam o elenco da empreitada. Todos estão diante do mesmo cenário, a banca de camelô repleta de quinquilharias. O ponto de partida traz um pai de família, exausto com a atmosfera consumista, que chega do supermercado e percebe que comprou mercadorias inúteis e deixou de lado elementos essenciais. “São doze experiências que exploram interpretações do mesmo texto e nada se repete”, explica o diretor. “Quero propor novas formas de pensamento porque não podemos continuar fazendo o mesmo teatro de antes da pandemia, tudo mudou e, se não for assim, considero um retrocesso artístico.”

Raras são as similaridades percebidas nos solos. Entre os poucos elementos, determinados por Canhameiro, estão que, em algum momento, todos têm um número de dança, comem um hambúrguer, puxam um Parabéns a Você e cantam uma canção, que pode ser Estrada da Vida ou As Andorinhas, dois clássicos sertanejos. “Não sou um diretor impositivo e é sensacional perceber que, por exemplo, as cenas da Amanda Lyra e do José Roberto Jardim resultam de contribuições opostas”, conta Canhameiro.

Amanda Lyra subverteu o gênero e investiu na composição de uma personagem feminina, com características marcantes de voz e postura. “O texto tem uma violência masculina e considerei que seria interessante uma mulher assumir essas ações, como a de bater no próprio marido e se colocar nesse lugar de agressividade”, justifica a atriz. José Roberto Jardim, por sua vez, fugiu do realismo. O ator não abre a boca e faz apenas dois gestos. Todas as suas falas estão previamente gravadas, como se fosse um podcast que Jardim dispara na hora da apresentação. “Trouxe uma descrença no que é visto, pensado e falado em cima desse homem, que vê o tempo passar e se conta de que está perdendo toda a vida dele”, diz Jardim.

Todas as cenas são feitas tendo o mesmo cenário: uma barraca de vendas de bugigangas. Foto: Mariana Chama

Entre as diferentes contribuições, o ator Chico Lima levou as questões do personagem para a rotina de um casal homossexual, assim como a atriz Veronica Valenttino transfere o conflito para o universo de uma mulher trans. Quem radicaliza mais é Janaina Leite, que rejeita qualquer criação de personagem e sequer pensou em uma noção de gênero para contar a história. Ela trabalha com a lógica da reprodução do texto, dispensando traços de psicologia. “Esse texto não me capta pela personagem, mas sim como um fluxo que reproduz aquela narrativa, como se fosse um vômito ligado a essa lógica de consumo.”

Serviço:

Sesc Avenida Paulista - Praça. Avenida Paulista, 119, térreo. Quarta a sábado, 10h às 22h. 14 anos. Grátis. Até o dia 27.

No verão europeu de 2021, o diretor Carlos Canhameiro aproveitava as férias com a família em uma praia do Algarve, em Portugal, quando teve uma visão inusitada. Uma barraca de camelô vendia bugigangas, como cachorrinhos de pelúcia, brinquedos luminosos e chaveiros para um público de crianças e pais ansiosos por uma anestesia que talvez dure menos de quinze minutos. “Pensei naquelas pessoas que fazem um trabalho só para levar algum sustento para casa e atendem compradores em busca da alegria efêmera de compra que, logo, vira lixo”, conta o encenador.

Cena da peçaAgamenon 12h, que, assim como o nome sugere, possui 12 horas de duração, sem intervalo. Foto: Mariana Chama

Canhameiro tinha em mãos desde 2017 uma peça de Rodrigo García, dramaturgo argentino radicado na Espanha, Agamenon - Voltei do Supermercado e Dei uma Surra em meu Filho, de 2004. O texto, inédito no Brasil, lhe foi entregue pelo ator Eduardo Bordinhon e, em uma concepção óbvia, renderia um solo como outro qualquer, capaz de desafiar o intérprete e circular pelos palcos de outras cidades. “Fiquei provocado porque a reforma trabalhista tinha sido aprovada há pouco e precarizado ainda mais a situação dos brasileiros, mas avisei ao Bordinhon que só toparia dirigir se pudesse criar um exercício diferente de forma e cena”, diz ele, que só teve a noção clara da concepção diante da imagem dos comerciantes informais no Algarve.

O resultado chega ao público nesta quarta, dia 10, como Agamenon 12h, espetáculo-instalação que ocupa a praça do térreo do Sesc Avenida Paulista. São doze encenações sucessivas e distintas do monólogo de García protagonizadas por uma dúzia de atores, sem intervalos, das 10h às 22h, de quartas a sábados, cada dia em uma ordem. A entrada e a saída dos espectadores são livres e gratuitas, e cada um pode escolher o solo que prefere assistir e emendar quantos tiver vontade.

Certamente, é um dos espetáculos com maior duração em uma temporada, mas não o que soma mais tempo em uma única apresentação - A Gente se Vê por Aqui, do artista plástico e escritor Nuno Ramos, foi apresentada em 2018, em São Paulo, com início às 21h e encerramento somente às 21h17 do dia seguinte.

São doze encenações sucessivas e distintas protagonizadas por uma dúzia de atores, sem intervalos, das 10h às 22h, de quartas a sábados, cada dia em uma ordem. Foto: Mariana Chama

Amanda Lyra, Cauê Gouveia, Chico Lima, Danielli Mendes, Eduardo Bordinhon, Janaina Leite, Jorge Neto, José Roberto Jardim, Nilcéia Vicente, Mariana Senne, Mercedez Vulcão e Veronica Valenttino formam o elenco da empreitada. Todos estão diante do mesmo cenário, a banca de camelô repleta de quinquilharias. O ponto de partida traz um pai de família, exausto com a atmosfera consumista, que chega do supermercado e percebe que comprou mercadorias inúteis e deixou de lado elementos essenciais. “São doze experiências que exploram interpretações do mesmo texto e nada se repete”, explica o diretor. “Quero propor novas formas de pensamento porque não podemos continuar fazendo o mesmo teatro de antes da pandemia, tudo mudou e, se não for assim, considero um retrocesso artístico.”

Raras são as similaridades percebidas nos solos. Entre os poucos elementos, determinados por Canhameiro, estão que, em algum momento, todos têm um número de dança, comem um hambúrguer, puxam um Parabéns a Você e cantam uma canção, que pode ser Estrada da Vida ou As Andorinhas, dois clássicos sertanejos. “Não sou um diretor impositivo e é sensacional perceber que, por exemplo, as cenas da Amanda Lyra e do José Roberto Jardim resultam de contribuições opostas”, conta Canhameiro.

Amanda Lyra subverteu o gênero e investiu na composição de uma personagem feminina, com características marcantes de voz e postura. “O texto tem uma violência masculina e considerei que seria interessante uma mulher assumir essas ações, como a de bater no próprio marido e se colocar nesse lugar de agressividade”, justifica a atriz. José Roberto Jardim, por sua vez, fugiu do realismo. O ator não abre a boca e faz apenas dois gestos. Todas as suas falas estão previamente gravadas, como se fosse um podcast que Jardim dispara na hora da apresentação. “Trouxe uma descrença no que é visto, pensado e falado em cima desse homem, que vê o tempo passar e se conta de que está perdendo toda a vida dele”, diz Jardim.

Todas as cenas são feitas tendo o mesmo cenário: uma barraca de vendas de bugigangas. Foto: Mariana Chama

Entre as diferentes contribuições, o ator Chico Lima levou as questões do personagem para a rotina de um casal homossexual, assim como a atriz Veronica Valenttino transfere o conflito para o universo de uma mulher trans. Quem radicaliza mais é Janaina Leite, que rejeita qualquer criação de personagem e sequer pensou em uma noção de gênero para contar a história. Ela trabalha com a lógica da reprodução do texto, dispensando traços de psicologia. “Esse texto não me capta pela personagem, mas sim como um fluxo que reproduz aquela narrativa, como se fosse um vômito ligado a essa lógica de consumo.”

Serviço:

Sesc Avenida Paulista - Praça. Avenida Paulista, 119, térreo. Quarta a sábado, 10h às 22h. 14 anos. Grátis. Até o dia 27.

No verão europeu de 2021, o diretor Carlos Canhameiro aproveitava as férias com a família em uma praia do Algarve, em Portugal, quando teve uma visão inusitada. Uma barraca de camelô vendia bugigangas, como cachorrinhos de pelúcia, brinquedos luminosos e chaveiros para um público de crianças e pais ansiosos por uma anestesia que talvez dure menos de quinze minutos. “Pensei naquelas pessoas que fazem um trabalho só para levar algum sustento para casa e atendem compradores em busca da alegria efêmera de compra que, logo, vira lixo”, conta o encenador.

Cena da peçaAgamenon 12h, que, assim como o nome sugere, possui 12 horas de duração, sem intervalo. Foto: Mariana Chama

Canhameiro tinha em mãos desde 2017 uma peça de Rodrigo García, dramaturgo argentino radicado na Espanha, Agamenon - Voltei do Supermercado e Dei uma Surra em meu Filho, de 2004. O texto, inédito no Brasil, lhe foi entregue pelo ator Eduardo Bordinhon e, em uma concepção óbvia, renderia um solo como outro qualquer, capaz de desafiar o intérprete e circular pelos palcos de outras cidades. “Fiquei provocado porque a reforma trabalhista tinha sido aprovada há pouco e precarizado ainda mais a situação dos brasileiros, mas avisei ao Bordinhon que só toparia dirigir se pudesse criar um exercício diferente de forma e cena”, diz ele, que só teve a noção clara da concepção diante da imagem dos comerciantes informais no Algarve.

O resultado chega ao público nesta quarta, dia 10, como Agamenon 12h, espetáculo-instalação que ocupa a praça do térreo do Sesc Avenida Paulista. São doze encenações sucessivas e distintas do monólogo de García protagonizadas por uma dúzia de atores, sem intervalos, das 10h às 22h, de quartas a sábados, cada dia em uma ordem. A entrada e a saída dos espectadores são livres e gratuitas, e cada um pode escolher o solo que prefere assistir e emendar quantos tiver vontade.

Certamente, é um dos espetáculos com maior duração em uma temporada, mas não o que soma mais tempo em uma única apresentação - A Gente se Vê por Aqui, do artista plástico e escritor Nuno Ramos, foi apresentada em 2018, em São Paulo, com início às 21h e encerramento somente às 21h17 do dia seguinte.

São doze encenações sucessivas e distintas protagonizadas por uma dúzia de atores, sem intervalos, das 10h às 22h, de quartas a sábados, cada dia em uma ordem. Foto: Mariana Chama

Amanda Lyra, Cauê Gouveia, Chico Lima, Danielli Mendes, Eduardo Bordinhon, Janaina Leite, Jorge Neto, José Roberto Jardim, Nilcéia Vicente, Mariana Senne, Mercedez Vulcão e Veronica Valenttino formam o elenco da empreitada. Todos estão diante do mesmo cenário, a banca de camelô repleta de quinquilharias. O ponto de partida traz um pai de família, exausto com a atmosfera consumista, que chega do supermercado e percebe que comprou mercadorias inúteis e deixou de lado elementos essenciais. “São doze experiências que exploram interpretações do mesmo texto e nada se repete”, explica o diretor. “Quero propor novas formas de pensamento porque não podemos continuar fazendo o mesmo teatro de antes da pandemia, tudo mudou e, se não for assim, considero um retrocesso artístico.”

Raras são as similaridades percebidas nos solos. Entre os poucos elementos, determinados por Canhameiro, estão que, em algum momento, todos têm um número de dança, comem um hambúrguer, puxam um Parabéns a Você e cantam uma canção, que pode ser Estrada da Vida ou As Andorinhas, dois clássicos sertanejos. “Não sou um diretor impositivo e é sensacional perceber que, por exemplo, as cenas da Amanda Lyra e do José Roberto Jardim resultam de contribuições opostas”, conta Canhameiro.

Amanda Lyra subverteu o gênero e investiu na composição de uma personagem feminina, com características marcantes de voz e postura. “O texto tem uma violência masculina e considerei que seria interessante uma mulher assumir essas ações, como a de bater no próprio marido e se colocar nesse lugar de agressividade”, justifica a atriz. José Roberto Jardim, por sua vez, fugiu do realismo. O ator não abre a boca e faz apenas dois gestos. Todas as suas falas estão previamente gravadas, como se fosse um podcast que Jardim dispara na hora da apresentação. “Trouxe uma descrença no que é visto, pensado e falado em cima desse homem, que vê o tempo passar e se conta de que está perdendo toda a vida dele”, diz Jardim.

Todas as cenas são feitas tendo o mesmo cenário: uma barraca de vendas de bugigangas. Foto: Mariana Chama

Entre as diferentes contribuições, o ator Chico Lima levou as questões do personagem para a rotina de um casal homossexual, assim como a atriz Veronica Valenttino transfere o conflito para o universo de uma mulher trans. Quem radicaliza mais é Janaina Leite, que rejeita qualquer criação de personagem e sequer pensou em uma noção de gênero para contar a história. Ela trabalha com a lógica da reprodução do texto, dispensando traços de psicologia. “Esse texto não me capta pela personagem, mas sim como um fluxo que reproduz aquela narrativa, como se fosse um vômito ligado a essa lógica de consumo.”

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