Sem cutucadas, Juca de Oliveira revive ‘A Flor do Meu Bem-Querer’


Primeira versão da comédia de costumes, de 2003, não poupava políticos como os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula

Por Dirceu Alves Jr.
Atualização:

A pandemia, deflagrada em março de 2020, trouxe algumas frustrações para o ator e dramaturgo Juca de Oliveira. A maior delas foi tirar de cartaz a comédia Mãos Limpas, que, desde setembro, lotava o Teatro Renaissance. “Foi a pior sensação da minha vida bloquear um espetáculo que garantia o sustento de uma equipe e perceber que a paralisação se arrastaria por muito tempo”, recorda. “E, claro, logo veio o medo de nunca mais subir em um palco e, para quem tem 86 anos, essa espera ganhou outro significado.”

Juca de Oliveira e Rosi Campos (sentados) encabeçam o elenco da peça, que inicia temporada em SP. Foto: Alex Silva/Estadão

A melancolia, aos poucos, cedeu espaço a uma esperança, a da retomada. Com a estreia da comédia A Flor do Meu Bem-Querer, prometida para esta quinta, dia 13, no Teatro Opus Frei Caneca, que volta reformado e sob a administração da Opus Entretenimento, Juca respira diante da possibilidade de garantir o entretenimento de um público ávido por risadas. A Flor do Meu Bem-Querer, dirigida por Léo Stefanini, é a atualização de um sucesso do comediógrafo consagrado por Meno Male (1987), Caixa Dois (1997) e Às Favas com os Escrúpulos (2007). Estreou em 2003 como uma comédia de costumes que não poupava torpedos a nomes como os do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do então recém-empossado Luiz Inácio Lula da Silva.

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Sem acertar o fígado

Juca desconversa sobre as provocações da nova versão. “Neste momento, precisamos de solidariedade, fugir de agressões, não existe nenhum cutucão no fígado de ninguém”, alerta o autor, que também está no palco na pele do caipira Nhô Roque. O personagem é um camponês batalhador, casado com Dos Anjos (representada por Rosi Campos), que criou a afilhada Flor (papel de Natallia Rodrigues). A garota descobre que está grávida e são remotas as chances de ter a paternidade do filho reconhecida pelo senador Zé Otávio (vivido por Léo Stefanini), o dono da Fazenda Bem-Querer. 

O político, em busca de caixa, quer vender o latifúndio e parece pouco sensível ao fato de deixar a família de Nhô Roque sem casa ou terra para plantar. “Uma mãe e um filho é algo que não pode ser mexido, não tem como uma criança nascer sem um lar”, justifica Juca. O elenco fica completo com os atores Daniel Warren, Juliana Araripe, Nilton Bicudo e Angela Dippe, que faz a secretária do senador através de locuções em off.

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A crise sanitária permeia a nova versão. Um personagem pergunta: “Vocês não têm para onde ir?”. Outro, por sua vez, responde: “Mas para onde? Depois da pandemia, não se acha emprego em lugar nenhum”. Citações de políticos são poucas. Flor, em um diálogo com Zé Otávio, comenta que ele será o próximo presidente em substituição a Jair Bolsonaro. O próprio senador fala que agendará um jantar com Lula e Geraldo Alckmin. “As referências ao noticiário fazem parte do universo do Juca, mas a peça não tem discurso ou defesa partidária, o importante é sensibilizar a plateia”, diz Stefanini. 

Indagado sobre a razão de não retomar Mãos Limpas, o dramaturgo alega que a obra não se enquadraria aos dias de hoje. A peça, um tanto ácida, girava em torno de um senador corrupto de esquerda e não poupava críticas ao ex-presidente Lula que, na época da estreia, estava preso. “Era uma crônica específica do momento e, se reestreasse agora, não poderia contar com o protagonista, o Fúlvio Stefanini, que já imagina novos projetos”, disse. 

Longa convivência

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Se não pode trabalhar com o pai, Juca tem ao seu lado o filho de Fúlvio, o ator e diretor Léo Stefanini, de 47 anos, que assinava a encenação de Mãos Limpas. Léo convive com Juca desde os 12 anos, no fim de 1986, quando viu nascer a parceria da dupla em Meno Male. “Eu me lembro da estreia, uma fila imensa, e, dois dias depois, meu pai comentando que as oito semanas seguintes estavam esgotadas”, diz. Juca, atento, complementa o comentário: “A coisa começou a degringolar com a entrada da Lei Rouanet porque todo mundo garantia um dinheiro no começo do projeto e se esquecia de que o importante é manter a plateia lotada de pagantes porque só assim todos garantem comida na mesa”. 

No que depender de Juca e Stefanini, a carreira de A Flor do Meu Bem-Querer, que não conta com qualquer tipo de patrocínio, será longa. Estímulos da vida prática não faltam. Léo acaba de se tornar pai e fala da alegria gerada por Antonella, a filha de três meses. Juca brincava que o diretor poderia contar com sua presença no elenco, por, no máximo, cinco anos, mas já repensa o prazo. Ele será avô pela primeira vez. Sua filha, Isabella, está grávida de cinco meses de uma menina, a Catarina: “Acho que se eu resistir até os 94 a minha neta consegue me ver no palco, não?”. 

A pandemia, deflagrada em março de 2020, trouxe algumas frustrações para o ator e dramaturgo Juca de Oliveira. A maior delas foi tirar de cartaz a comédia Mãos Limpas, que, desde setembro, lotava o Teatro Renaissance. “Foi a pior sensação da minha vida bloquear um espetáculo que garantia o sustento de uma equipe e perceber que a paralisação se arrastaria por muito tempo”, recorda. “E, claro, logo veio o medo de nunca mais subir em um palco e, para quem tem 86 anos, essa espera ganhou outro significado.”

Juca de Oliveira e Rosi Campos (sentados) encabeçam o elenco da peça, que inicia temporada em SP. Foto: Alex Silva/Estadão

A melancolia, aos poucos, cedeu espaço a uma esperança, a da retomada. Com a estreia da comédia A Flor do Meu Bem-Querer, prometida para esta quinta, dia 13, no Teatro Opus Frei Caneca, que volta reformado e sob a administração da Opus Entretenimento, Juca respira diante da possibilidade de garantir o entretenimento de um público ávido por risadas. A Flor do Meu Bem-Querer, dirigida por Léo Stefanini, é a atualização de um sucesso do comediógrafo consagrado por Meno Male (1987), Caixa Dois (1997) e Às Favas com os Escrúpulos (2007). Estreou em 2003 como uma comédia de costumes que não poupava torpedos a nomes como os do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do então recém-empossado Luiz Inácio Lula da Silva.

Sem acertar o fígado

Juca desconversa sobre as provocações da nova versão. “Neste momento, precisamos de solidariedade, fugir de agressões, não existe nenhum cutucão no fígado de ninguém”, alerta o autor, que também está no palco na pele do caipira Nhô Roque. O personagem é um camponês batalhador, casado com Dos Anjos (representada por Rosi Campos), que criou a afilhada Flor (papel de Natallia Rodrigues). A garota descobre que está grávida e são remotas as chances de ter a paternidade do filho reconhecida pelo senador Zé Otávio (vivido por Léo Stefanini), o dono da Fazenda Bem-Querer. 

O político, em busca de caixa, quer vender o latifúndio e parece pouco sensível ao fato de deixar a família de Nhô Roque sem casa ou terra para plantar. “Uma mãe e um filho é algo que não pode ser mexido, não tem como uma criança nascer sem um lar”, justifica Juca. O elenco fica completo com os atores Daniel Warren, Juliana Araripe, Nilton Bicudo e Angela Dippe, que faz a secretária do senador através de locuções em off.

A crise sanitária permeia a nova versão. Um personagem pergunta: “Vocês não têm para onde ir?”. Outro, por sua vez, responde: “Mas para onde? Depois da pandemia, não se acha emprego em lugar nenhum”. Citações de políticos são poucas. Flor, em um diálogo com Zé Otávio, comenta que ele será o próximo presidente em substituição a Jair Bolsonaro. O próprio senador fala que agendará um jantar com Lula e Geraldo Alckmin. “As referências ao noticiário fazem parte do universo do Juca, mas a peça não tem discurso ou defesa partidária, o importante é sensibilizar a plateia”, diz Stefanini. 

Indagado sobre a razão de não retomar Mãos Limpas, o dramaturgo alega que a obra não se enquadraria aos dias de hoje. A peça, um tanto ácida, girava em torno de um senador corrupto de esquerda e não poupava críticas ao ex-presidente Lula que, na época da estreia, estava preso. “Era uma crônica específica do momento e, se reestreasse agora, não poderia contar com o protagonista, o Fúlvio Stefanini, que já imagina novos projetos”, disse. 

Longa convivência

Se não pode trabalhar com o pai, Juca tem ao seu lado o filho de Fúlvio, o ator e diretor Léo Stefanini, de 47 anos, que assinava a encenação de Mãos Limpas. Léo convive com Juca desde os 12 anos, no fim de 1986, quando viu nascer a parceria da dupla em Meno Male. “Eu me lembro da estreia, uma fila imensa, e, dois dias depois, meu pai comentando que as oito semanas seguintes estavam esgotadas”, diz. Juca, atento, complementa o comentário: “A coisa começou a degringolar com a entrada da Lei Rouanet porque todo mundo garantia um dinheiro no começo do projeto e se esquecia de que o importante é manter a plateia lotada de pagantes porque só assim todos garantem comida na mesa”. 

No que depender de Juca e Stefanini, a carreira de A Flor do Meu Bem-Querer, que não conta com qualquer tipo de patrocínio, será longa. Estímulos da vida prática não faltam. Léo acaba de se tornar pai e fala da alegria gerada por Antonella, a filha de três meses. Juca brincava que o diretor poderia contar com sua presença no elenco, por, no máximo, cinco anos, mas já repensa o prazo. Ele será avô pela primeira vez. Sua filha, Isabella, está grávida de cinco meses de uma menina, a Catarina: “Acho que se eu resistir até os 94 a minha neta consegue me ver no palco, não?”. 

A pandemia, deflagrada em março de 2020, trouxe algumas frustrações para o ator e dramaturgo Juca de Oliveira. A maior delas foi tirar de cartaz a comédia Mãos Limpas, que, desde setembro, lotava o Teatro Renaissance. “Foi a pior sensação da minha vida bloquear um espetáculo que garantia o sustento de uma equipe e perceber que a paralisação se arrastaria por muito tempo”, recorda. “E, claro, logo veio o medo de nunca mais subir em um palco e, para quem tem 86 anos, essa espera ganhou outro significado.”

Juca de Oliveira e Rosi Campos (sentados) encabeçam o elenco da peça, que inicia temporada em SP. Foto: Alex Silva/Estadão

A melancolia, aos poucos, cedeu espaço a uma esperança, a da retomada. Com a estreia da comédia A Flor do Meu Bem-Querer, prometida para esta quinta, dia 13, no Teatro Opus Frei Caneca, que volta reformado e sob a administração da Opus Entretenimento, Juca respira diante da possibilidade de garantir o entretenimento de um público ávido por risadas. A Flor do Meu Bem-Querer, dirigida por Léo Stefanini, é a atualização de um sucesso do comediógrafo consagrado por Meno Male (1987), Caixa Dois (1997) e Às Favas com os Escrúpulos (2007). Estreou em 2003 como uma comédia de costumes que não poupava torpedos a nomes como os do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do então recém-empossado Luiz Inácio Lula da Silva.

Sem acertar o fígado

Juca desconversa sobre as provocações da nova versão. “Neste momento, precisamos de solidariedade, fugir de agressões, não existe nenhum cutucão no fígado de ninguém”, alerta o autor, que também está no palco na pele do caipira Nhô Roque. O personagem é um camponês batalhador, casado com Dos Anjos (representada por Rosi Campos), que criou a afilhada Flor (papel de Natallia Rodrigues). A garota descobre que está grávida e são remotas as chances de ter a paternidade do filho reconhecida pelo senador Zé Otávio (vivido por Léo Stefanini), o dono da Fazenda Bem-Querer. 

O político, em busca de caixa, quer vender o latifúndio e parece pouco sensível ao fato de deixar a família de Nhô Roque sem casa ou terra para plantar. “Uma mãe e um filho é algo que não pode ser mexido, não tem como uma criança nascer sem um lar”, justifica Juca. O elenco fica completo com os atores Daniel Warren, Juliana Araripe, Nilton Bicudo e Angela Dippe, que faz a secretária do senador através de locuções em off.

A crise sanitária permeia a nova versão. Um personagem pergunta: “Vocês não têm para onde ir?”. Outro, por sua vez, responde: “Mas para onde? Depois da pandemia, não se acha emprego em lugar nenhum”. Citações de políticos são poucas. Flor, em um diálogo com Zé Otávio, comenta que ele será o próximo presidente em substituição a Jair Bolsonaro. O próprio senador fala que agendará um jantar com Lula e Geraldo Alckmin. “As referências ao noticiário fazem parte do universo do Juca, mas a peça não tem discurso ou defesa partidária, o importante é sensibilizar a plateia”, diz Stefanini. 

Indagado sobre a razão de não retomar Mãos Limpas, o dramaturgo alega que a obra não se enquadraria aos dias de hoje. A peça, um tanto ácida, girava em torno de um senador corrupto de esquerda e não poupava críticas ao ex-presidente Lula que, na época da estreia, estava preso. “Era uma crônica específica do momento e, se reestreasse agora, não poderia contar com o protagonista, o Fúlvio Stefanini, que já imagina novos projetos”, disse. 

Longa convivência

Se não pode trabalhar com o pai, Juca tem ao seu lado o filho de Fúlvio, o ator e diretor Léo Stefanini, de 47 anos, que assinava a encenação de Mãos Limpas. Léo convive com Juca desde os 12 anos, no fim de 1986, quando viu nascer a parceria da dupla em Meno Male. “Eu me lembro da estreia, uma fila imensa, e, dois dias depois, meu pai comentando que as oito semanas seguintes estavam esgotadas”, diz. Juca, atento, complementa o comentário: “A coisa começou a degringolar com a entrada da Lei Rouanet porque todo mundo garantia um dinheiro no começo do projeto e se esquecia de que o importante é manter a plateia lotada de pagantes porque só assim todos garantem comida na mesa”. 

No que depender de Juca e Stefanini, a carreira de A Flor do Meu Bem-Querer, que não conta com qualquer tipo de patrocínio, será longa. Estímulos da vida prática não faltam. Léo acaba de se tornar pai e fala da alegria gerada por Antonella, a filha de três meses. Juca brincava que o diretor poderia contar com sua presença no elenco, por, no máximo, cinco anos, mas já repensa o prazo. Ele será avô pela primeira vez. Sua filha, Isabella, está grávida de cinco meses de uma menina, a Catarina: “Acho que se eu resistir até os 94 a minha neta consegue me ver no palco, não?”. 

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