Versão nacional de ‘Escola do Rock’ aposta no ensino musical como lição de aceitação


Musical estreia no dia 15 de agosto, no Teatro Santander, em São Paulo

Por Ubiratan Brasil

Quando foi convidado para dirigir o espetáculo Escola do Rock – O Musical, que estreia no dia 15, no Teatro Santander, o encenador argentino Mariano Detry tinha ao menos uma certeza: o principal personagem, Dewey Finn, só podia ser representado pelo jovem ator Arthur Berges. “Além de uma incrível vitalidade, ele tem carisma e encanta as crianças”, justifica Detry. 

De fato, basta acompanhar algumas cenas do espetáculo, como fez o Estado, para assinar embaixo: aos 29 anos, Berges é talhado para interpretar Finn na bem cuidada montagem produzida pelo Atelier de Cultura. E o desafio não é pequeno, pois o papel do cantor e guitarrista frustrado que finge ser um professor substituto e monta um grupo de rock com seus alunos para disputar um concurso entre bandas foi defendido com garra no cinema por Jack Black, que moldou definitivamente o perfil do personagem: carinhoso, energizado, duvidoso e caloroso.

Aula. No musical 'Escola do Rock', Arthur Berges traz empolgação aos alunos Foto: Jairo Goldflus
continua após a publicidade

“É com essa força que Berges entra em cena”, retoma Detry, que notou as qualidades do ator em 2016, quando o dirigiu em Chaplin, o Musical. “Notei que ele sabia o que fazer. E hoje ele se parece com Finn na vida real, obsessivo no que faz, ensaiando sem parar.” A observação, aliás, é semelhante no elenco. 

“Arthur impressiona pela entrega: se for preciso dar 20 cambalhotas nos ensaios, ele dá”, comenta Cleto Bacic que, além de viver Ned Schneebly (o professor que Finn finge ser para entrar na escola e conseguir dinheiro para pagar o aluguel), é um dos diretores do Atelier de Cultura. “Durante o período de audições, quando selecionávamos as crianças, ele participou de todos os testes e sem perder o entusiasmo.” “Não é exagero dizer que Arthur vive plugado nos 220 volts”, emenda Thaiz Piza, intérprete de Patty Di Marco, par romântico de Ned.

Arthur ouve os elogios e apenas sorri, em silêncio – um raro momento em que está em “repouso”. Quando retorna ao ensaio, minutos depois, volta a ser o homem incansável, cuja musculatura por inteiro trabalha a serviço do personagem. “Também acho que vivo com o dedo na tomada”, brinca ele, que muito se inspirou no filme de 2003. “O rock sempre esteve muito presente na minha vida, daí ter adorado o longa com o Black.” O cabelo comprido desgrenhado e o sorriso largo, fácil, conquistam de imediato os colegas infantis.  Aliás, três grupos de 14 crianças vão se revezar durante as seis sessões semanais – e, somando esses 42 atores mirins com os 21 adultos, Escola do Rock contará com um dos maiores elencos que já atuaram no Brasil e com um detalhe obrigatório: sempre em cena haverá quatro crianças que tocarão seus instrumentos ao vivo: guitarra, baixo, bateria e teclado.

continua após a publicidade

“Quando tive a certeza de que Arthur participaria do musical, garantindo, portanto, o esperado carisma de Dewey Finn, meu novo desafio passou a ser o de conseguir uma grande performance das crianças”, conta Mariano Detry. “Como precisava de três grupos fortes, organizei de forma que as que tivessem mesma idade ficassem próximas.”

Como a maioria das cenas se passa em uma sala de aula, o ambiente escolar foi reproduzido em detalhes – especialmente sua pluralidade. “Há variações na sexualidade, no tipo físico, assim, a aceitação é uma das principais mensagens. E o método de ensino utiliza a música como agente libertador”, comenta Bacic. “Por ela, o pai passa a entender melhor o filho.”

É por isso que, para o elenco, o musical se tornou mais atual que o filme. “Quando um personagem ouve o discurso do outro, isso ganha mais importância hoje”, observa Sara Sarres, uma das principais atrizes do musical brasileiro, que vive a vilã da história, a diretora Rosalie Mullins. “Ela se incomoda com o caminho adotado pelo Finn no ensino, mas logo percebe sua eficiência.”

continua após a publicidade

É o terceiro espetáculo estrelado por Sara que tem a assinatura do mago dos musicais, o inglês Andrew Lloyd Webber – antes foram O Fantasma da Ópera (na primeira montagem no Brasil, em 2005, e em uma turnê em inglês pela China, em 2015) e Cats. Para evitar que a trama sumisse em meio a um show de rock, Webber criou canções com melodias mais tradicionais, revisitando suas raízes de Jesus Cristo Superstar, por exemplo. “Isso obriga que nossa voz tenha múltiplos usos”, explica Sara, que também revela sua habilidade como cantora de ópera nas cenas em que a diretora Rosalie aposta no ensinamento mais tradicional, apoiando-se na música clássica.

“A melodia criada por Webber me obriga a buscar mais o agudo”, conta Berges, obrigado ainda a controlar respiração e afinação em meio a corridas e cambalhotas. O compositor britânico, aliás, é quem dá a palavra final na definição do elenco – isso acontece em qualquer montagem mundial que leve sua assinatura. “Depois que escolhemos o grupo, enviamos vídeos para avaliação dele”, revela o produtor Vinicius Munhoz. “E, para nossa surpresa e alegria, a aprovação veio mais rápida que o habitual.”

A versão brasileira de Escola do Rock é a primeira produção em uma língua diferente da inglesa a ser montada – é conhecida, internamente, como 001, uma vez que os direitos foram adquiridos há dois anos. Para isso, foram captados R$ 7,1 milhões por meio das leis de incentivo, aplicados em uma montagem que promete grandiosa.

continua após a publicidade
'Escola do Rock'. 'Another Brick in the Wall', de Pink Floyd, foi referência Foto: PARAMOUNT PICTURES

‘Rock pesado é altamente teatral’, diz Lloyd Webber

Inglês criador de outros musicais clássicos, como ‘Jesus Cristo Superstar’, ele mostra como o heavy metal serve bem à cena

continua após a publicidade

Em abril de 2013, o compositor e produtor inglês Andrew Lloyd Webber anunciou ter comprado os direitos para o teatro do filme Escola do Rock, dirigido por Richard Linklater, em 2003. Mas, ao contrário do longa, cujo foco estava na atuação de Jack Black, Webber disse se interessar pelos alunos. “Eu queria saber detalhes das crianças e de seus pais.”

Na verdade, foi sua mulher, Madeleine, quem percebeu o potencial teatral do filme. Webber concordou, especialmente depois de verificar a grande quantidade de escolas de rock existentes nos EUA. E seu toque magistral foi o de incluir crianças que tocam os próprios instrumentos ao vivo, no palco.

Sobre as canções, Webber justificou a necessidade de criar melodias adicionais em relação à trilha do filme. “Você pode apresentar um show de heavy metal durante horas, no cinema, fazendo a plateia gritar sem parar. Mas, no teatro, é preciso um respiro, para que a história seja bem contada.”

continua após a publicidade

Mesmo assim, ele manteve a base da estrutura musical do filme, pois acredita que o rock pesado é altamente teatral. “Em muitos momentos, somente um som pesado pode mexer com a emoção da plateia em cenas capitais”, disse ele, exemplificando com um momento de uma de suas criações, Jesus Cristo Superstar: “Quando Jesus chega ao templo onde afugenta a chicotadas os comerciantes mercenários, a cena é puro metal pesado”, comentou, em entrevista à imprensa australiana, em 2018. “Eu não conseguia pensar em outra trilha: era preciso ter acordes rasgados de guitarra.”

“Gosto muito da teatralidade exagerada de algumas bandas de metal, embora não acredito que eu passaria bem uma noite inteira sem algum tipo de luz e sombra”, continuou.

Para Escola do Rock, Webber compôs canções que fazem lembrar o ritmo nos anos 1970, com letras de Glenn Slater. Também o roteiro do espetáculo, assinado por Julian Fellowes (criador da série Downton Abbey), foi atualizado, ainda que mantenha trechos do longa. 

“Na verdade, o espetáculo é fundamentalmente sobre a força de empoderamento da música”, diz. “É sobre o fato de que a música pode libertar a criança. E me agrada o fato de não existir personagem cuja vida não seja alterada pela música.”

ESCOLA DO ROCK

Teatro Santander. Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041. Tel. 4810-6868. 5ª e 6ª, 20h30. Sáb. e Dom., 15h e 18h30. R$ 75 / R$ 310.

‘Sociedade dos Poetas Mortos’ serviu de inspiração para 'Escola do Rock'

Uma das grandes inspirações para o filme Escola do Rock, dirigido por Richard Linklater em 2003, foi outro longa: Sociedade dos Poetas Mortos, que Peter Weir assinou em 1989, alcançando um sucesso mundial.

Lá, o segredo do enredo estava na revolucionária relação que o professor John Keating (bela interpretação de Robin Williams) mantém com seus alunos, em uma instituição rigidamente tradicional – mais que o conhecimento técnico, Keating exalta o livre pensamento e a valorização das paixões individuais.

Repleto de citações de autores como Thoreau, Whitman e Byron, o filme popularizou a expressão latina ‘Carpe diem’, ou seja, aproveite a vida, que é curta.

Escola do Rock ainda faz referência ao maior sucesso da banda Pink Floyd, Another Brick in the Wall, que prega a rebeldia estudantil.

Quando foi convidado para dirigir o espetáculo Escola do Rock – O Musical, que estreia no dia 15, no Teatro Santander, o encenador argentino Mariano Detry tinha ao menos uma certeza: o principal personagem, Dewey Finn, só podia ser representado pelo jovem ator Arthur Berges. “Além de uma incrível vitalidade, ele tem carisma e encanta as crianças”, justifica Detry. 

De fato, basta acompanhar algumas cenas do espetáculo, como fez o Estado, para assinar embaixo: aos 29 anos, Berges é talhado para interpretar Finn na bem cuidada montagem produzida pelo Atelier de Cultura. E o desafio não é pequeno, pois o papel do cantor e guitarrista frustrado que finge ser um professor substituto e monta um grupo de rock com seus alunos para disputar um concurso entre bandas foi defendido com garra no cinema por Jack Black, que moldou definitivamente o perfil do personagem: carinhoso, energizado, duvidoso e caloroso.

Aula. No musical 'Escola do Rock', Arthur Berges traz empolgação aos alunos Foto: Jairo Goldflus

“É com essa força que Berges entra em cena”, retoma Detry, que notou as qualidades do ator em 2016, quando o dirigiu em Chaplin, o Musical. “Notei que ele sabia o que fazer. E hoje ele se parece com Finn na vida real, obsessivo no que faz, ensaiando sem parar.” A observação, aliás, é semelhante no elenco. 

“Arthur impressiona pela entrega: se for preciso dar 20 cambalhotas nos ensaios, ele dá”, comenta Cleto Bacic que, além de viver Ned Schneebly (o professor que Finn finge ser para entrar na escola e conseguir dinheiro para pagar o aluguel), é um dos diretores do Atelier de Cultura. “Durante o período de audições, quando selecionávamos as crianças, ele participou de todos os testes e sem perder o entusiasmo.” “Não é exagero dizer que Arthur vive plugado nos 220 volts”, emenda Thaiz Piza, intérprete de Patty Di Marco, par romântico de Ned.

Arthur ouve os elogios e apenas sorri, em silêncio – um raro momento em que está em “repouso”. Quando retorna ao ensaio, minutos depois, volta a ser o homem incansável, cuja musculatura por inteiro trabalha a serviço do personagem. “Também acho que vivo com o dedo na tomada”, brinca ele, que muito se inspirou no filme de 2003. “O rock sempre esteve muito presente na minha vida, daí ter adorado o longa com o Black.” O cabelo comprido desgrenhado e o sorriso largo, fácil, conquistam de imediato os colegas infantis.  Aliás, três grupos de 14 crianças vão se revezar durante as seis sessões semanais – e, somando esses 42 atores mirins com os 21 adultos, Escola do Rock contará com um dos maiores elencos que já atuaram no Brasil e com um detalhe obrigatório: sempre em cena haverá quatro crianças que tocarão seus instrumentos ao vivo: guitarra, baixo, bateria e teclado.

“Quando tive a certeza de que Arthur participaria do musical, garantindo, portanto, o esperado carisma de Dewey Finn, meu novo desafio passou a ser o de conseguir uma grande performance das crianças”, conta Mariano Detry. “Como precisava de três grupos fortes, organizei de forma que as que tivessem mesma idade ficassem próximas.”

Como a maioria das cenas se passa em uma sala de aula, o ambiente escolar foi reproduzido em detalhes – especialmente sua pluralidade. “Há variações na sexualidade, no tipo físico, assim, a aceitação é uma das principais mensagens. E o método de ensino utiliza a música como agente libertador”, comenta Bacic. “Por ela, o pai passa a entender melhor o filho.”

É por isso que, para o elenco, o musical se tornou mais atual que o filme. “Quando um personagem ouve o discurso do outro, isso ganha mais importância hoje”, observa Sara Sarres, uma das principais atrizes do musical brasileiro, que vive a vilã da história, a diretora Rosalie Mullins. “Ela se incomoda com o caminho adotado pelo Finn no ensino, mas logo percebe sua eficiência.”

É o terceiro espetáculo estrelado por Sara que tem a assinatura do mago dos musicais, o inglês Andrew Lloyd Webber – antes foram O Fantasma da Ópera (na primeira montagem no Brasil, em 2005, e em uma turnê em inglês pela China, em 2015) e Cats. Para evitar que a trama sumisse em meio a um show de rock, Webber criou canções com melodias mais tradicionais, revisitando suas raízes de Jesus Cristo Superstar, por exemplo. “Isso obriga que nossa voz tenha múltiplos usos”, explica Sara, que também revela sua habilidade como cantora de ópera nas cenas em que a diretora Rosalie aposta no ensinamento mais tradicional, apoiando-se na música clássica.

“A melodia criada por Webber me obriga a buscar mais o agudo”, conta Berges, obrigado ainda a controlar respiração e afinação em meio a corridas e cambalhotas. O compositor britânico, aliás, é quem dá a palavra final na definição do elenco – isso acontece em qualquer montagem mundial que leve sua assinatura. “Depois que escolhemos o grupo, enviamos vídeos para avaliação dele”, revela o produtor Vinicius Munhoz. “E, para nossa surpresa e alegria, a aprovação veio mais rápida que o habitual.”

A versão brasileira de Escola do Rock é a primeira produção em uma língua diferente da inglesa a ser montada – é conhecida, internamente, como 001, uma vez que os direitos foram adquiridos há dois anos. Para isso, foram captados R$ 7,1 milhões por meio das leis de incentivo, aplicados em uma montagem que promete grandiosa.

'Escola do Rock'. 'Another Brick in the Wall', de Pink Floyd, foi referência Foto: PARAMOUNT PICTURES

‘Rock pesado é altamente teatral’, diz Lloyd Webber

Inglês criador de outros musicais clássicos, como ‘Jesus Cristo Superstar’, ele mostra como o heavy metal serve bem à cena

Em abril de 2013, o compositor e produtor inglês Andrew Lloyd Webber anunciou ter comprado os direitos para o teatro do filme Escola do Rock, dirigido por Richard Linklater, em 2003. Mas, ao contrário do longa, cujo foco estava na atuação de Jack Black, Webber disse se interessar pelos alunos. “Eu queria saber detalhes das crianças e de seus pais.”

Na verdade, foi sua mulher, Madeleine, quem percebeu o potencial teatral do filme. Webber concordou, especialmente depois de verificar a grande quantidade de escolas de rock existentes nos EUA. E seu toque magistral foi o de incluir crianças que tocam os próprios instrumentos ao vivo, no palco.

Sobre as canções, Webber justificou a necessidade de criar melodias adicionais em relação à trilha do filme. “Você pode apresentar um show de heavy metal durante horas, no cinema, fazendo a plateia gritar sem parar. Mas, no teatro, é preciso um respiro, para que a história seja bem contada.”

Mesmo assim, ele manteve a base da estrutura musical do filme, pois acredita que o rock pesado é altamente teatral. “Em muitos momentos, somente um som pesado pode mexer com a emoção da plateia em cenas capitais”, disse ele, exemplificando com um momento de uma de suas criações, Jesus Cristo Superstar: “Quando Jesus chega ao templo onde afugenta a chicotadas os comerciantes mercenários, a cena é puro metal pesado”, comentou, em entrevista à imprensa australiana, em 2018. “Eu não conseguia pensar em outra trilha: era preciso ter acordes rasgados de guitarra.”

“Gosto muito da teatralidade exagerada de algumas bandas de metal, embora não acredito que eu passaria bem uma noite inteira sem algum tipo de luz e sombra”, continuou.

Para Escola do Rock, Webber compôs canções que fazem lembrar o ritmo nos anos 1970, com letras de Glenn Slater. Também o roteiro do espetáculo, assinado por Julian Fellowes (criador da série Downton Abbey), foi atualizado, ainda que mantenha trechos do longa. 

“Na verdade, o espetáculo é fundamentalmente sobre a força de empoderamento da música”, diz. “É sobre o fato de que a música pode libertar a criança. E me agrada o fato de não existir personagem cuja vida não seja alterada pela música.”

ESCOLA DO ROCK

Teatro Santander. Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041. Tel. 4810-6868. 5ª e 6ª, 20h30. Sáb. e Dom., 15h e 18h30. R$ 75 / R$ 310.

‘Sociedade dos Poetas Mortos’ serviu de inspiração para 'Escola do Rock'

Uma das grandes inspirações para o filme Escola do Rock, dirigido por Richard Linklater em 2003, foi outro longa: Sociedade dos Poetas Mortos, que Peter Weir assinou em 1989, alcançando um sucesso mundial.

Lá, o segredo do enredo estava na revolucionária relação que o professor John Keating (bela interpretação de Robin Williams) mantém com seus alunos, em uma instituição rigidamente tradicional – mais que o conhecimento técnico, Keating exalta o livre pensamento e a valorização das paixões individuais.

Repleto de citações de autores como Thoreau, Whitman e Byron, o filme popularizou a expressão latina ‘Carpe diem’, ou seja, aproveite a vida, que é curta.

Escola do Rock ainda faz referência ao maior sucesso da banda Pink Floyd, Another Brick in the Wall, que prega a rebeldia estudantil.

Quando foi convidado para dirigir o espetáculo Escola do Rock – O Musical, que estreia no dia 15, no Teatro Santander, o encenador argentino Mariano Detry tinha ao menos uma certeza: o principal personagem, Dewey Finn, só podia ser representado pelo jovem ator Arthur Berges. “Além de uma incrível vitalidade, ele tem carisma e encanta as crianças”, justifica Detry. 

De fato, basta acompanhar algumas cenas do espetáculo, como fez o Estado, para assinar embaixo: aos 29 anos, Berges é talhado para interpretar Finn na bem cuidada montagem produzida pelo Atelier de Cultura. E o desafio não é pequeno, pois o papel do cantor e guitarrista frustrado que finge ser um professor substituto e monta um grupo de rock com seus alunos para disputar um concurso entre bandas foi defendido com garra no cinema por Jack Black, que moldou definitivamente o perfil do personagem: carinhoso, energizado, duvidoso e caloroso.

Aula. No musical 'Escola do Rock', Arthur Berges traz empolgação aos alunos Foto: Jairo Goldflus

“É com essa força que Berges entra em cena”, retoma Detry, que notou as qualidades do ator em 2016, quando o dirigiu em Chaplin, o Musical. “Notei que ele sabia o que fazer. E hoje ele se parece com Finn na vida real, obsessivo no que faz, ensaiando sem parar.” A observação, aliás, é semelhante no elenco. 

“Arthur impressiona pela entrega: se for preciso dar 20 cambalhotas nos ensaios, ele dá”, comenta Cleto Bacic que, além de viver Ned Schneebly (o professor que Finn finge ser para entrar na escola e conseguir dinheiro para pagar o aluguel), é um dos diretores do Atelier de Cultura. “Durante o período de audições, quando selecionávamos as crianças, ele participou de todos os testes e sem perder o entusiasmo.” “Não é exagero dizer que Arthur vive plugado nos 220 volts”, emenda Thaiz Piza, intérprete de Patty Di Marco, par romântico de Ned.

Arthur ouve os elogios e apenas sorri, em silêncio – um raro momento em que está em “repouso”. Quando retorna ao ensaio, minutos depois, volta a ser o homem incansável, cuja musculatura por inteiro trabalha a serviço do personagem. “Também acho que vivo com o dedo na tomada”, brinca ele, que muito se inspirou no filme de 2003. “O rock sempre esteve muito presente na minha vida, daí ter adorado o longa com o Black.” O cabelo comprido desgrenhado e o sorriso largo, fácil, conquistam de imediato os colegas infantis.  Aliás, três grupos de 14 crianças vão se revezar durante as seis sessões semanais – e, somando esses 42 atores mirins com os 21 adultos, Escola do Rock contará com um dos maiores elencos que já atuaram no Brasil e com um detalhe obrigatório: sempre em cena haverá quatro crianças que tocarão seus instrumentos ao vivo: guitarra, baixo, bateria e teclado.

“Quando tive a certeza de que Arthur participaria do musical, garantindo, portanto, o esperado carisma de Dewey Finn, meu novo desafio passou a ser o de conseguir uma grande performance das crianças”, conta Mariano Detry. “Como precisava de três grupos fortes, organizei de forma que as que tivessem mesma idade ficassem próximas.”

Como a maioria das cenas se passa em uma sala de aula, o ambiente escolar foi reproduzido em detalhes – especialmente sua pluralidade. “Há variações na sexualidade, no tipo físico, assim, a aceitação é uma das principais mensagens. E o método de ensino utiliza a música como agente libertador”, comenta Bacic. “Por ela, o pai passa a entender melhor o filho.”

É por isso que, para o elenco, o musical se tornou mais atual que o filme. “Quando um personagem ouve o discurso do outro, isso ganha mais importância hoje”, observa Sara Sarres, uma das principais atrizes do musical brasileiro, que vive a vilã da história, a diretora Rosalie Mullins. “Ela se incomoda com o caminho adotado pelo Finn no ensino, mas logo percebe sua eficiência.”

É o terceiro espetáculo estrelado por Sara que tem a assinatura do mago dos musicais, o inglês Andrew Lloyd Webber – antes foram O Fantasma da Ópera (na primeira montagem no Brasil, em 2005, e em uma turnê em inglês pela China, em 2015) e Cats. Para evitar que a trama sumisse em meio a um show de rock, Webber criou canções com melodias mais tradicionais, revisitando suas raízes de Jesus Cristo Superstar, por exemplo. “Isso obriga que nossa voz tenha múltiplos usos”, explica Sara, que também revela sua habilidade como cantora de ópera nas cenas em que a diretora Rosalie aposta no ensinamento mais tradicional, apoiando-se na música clássica.

“A melodia criada por Webber me obriga a buscar mais o agudo”, conta Berges, obrigado ainda a controlar respiração e afinação em meio a corridas e cambalhotas. O compositor britânico, aliás, é quem dá a palavra final na definição do elenco – isso acontece em qualquer montagem mundial que leve sua assinatura. “Depois que escolhemos o grupo, enviamos vídeos para avaliação dele”, revela o produtor Vinicius Munhoz. “E, para nossa surpresa e alegria, a aprovação veio mais rápida que o habitual.”

A versão brasileira de Escola do Rock é a primeira produção em uma língua diferente da inglesa a ser montada – é conhecida, internamente, como 001, uma vez que os direitos foram adquiridos há dois anos. Para isso, foram captados R$ 7,1 milhões por meio das leis de incentivo, aplicados em uma montagem que promete grandiosa.

'Escola do Rock'. 'Another Brick in the Wall', de Pink Floyd, foi referência Foto: PARAMOUNT PICTURES

‘Rock pesado é altamente teatral’, diz Lloyd Webber

Inglês criador de outros musicais clássicos, como ‘Jesus Cristo Superstar’, ele mostra como o heavy metal serve bem à cena

Em abril de 2013, o compositor e produtor inglês Andrew Lloyd Webber anunciou ter comprado os direitos para o teatro do filme Escola do Rock, dirigido por Richard Linklater, em 2003. Mas, ao contrário do longa, cujo foco estava na atuação de Jack Black, Webber disse se interessar pelos alunos. “Eu queria saber detalhes das crianças e de seus pais.”

Na verdade, foi sua mulher, Madeleine, quem percebeu o potencial teatral do filme. Webber concordou, especialmente depois de verificar a grande quantidade de escolas de rock existentes nos EUA. E seu toque magistral foi o de incluir crianças que tocam os próprios instrumentos ao vivo, no palco.

Sobre as canções, Webber justificou a necessidade de criar melodias adicionais em relação à trilha do filme. “Você pode apresentar um show de heavy metal durante horas, no cinema, fazendo a plateia gritar sem parar. Mas, no teatro, é preciso um respiro, para que a história seja bem contada.”

Mesmo assim, ele manteve a base da estrutura musical do filme, pois acredita que o rock pesado é altamente teatral. “Em muitos momentos, somente um som pesado pode mexer com a emoção da plateia em cenas capitais”, disse ele, exemplificando com um momento de uma de suas criações, Jesus Cristo Superstar: “Quando Jesus chega ao templo onde afugenta a chicotadas os comerciantes mercenários, a cena é puro metal pesado”, comentou, em entrevista à imprensa australiana, em 2018. “Eu não conseguia pensar em outra trilha: era preciso ter acordes rasgados de guitarra.”

“Gosto muito da teatralidade exagerada de algumas bandas de metal, embora não acredito que eu passaria bem uma noite inteira sem algum tipo de luz e sombra”, continuou.

Para Escola do Rock, Webber compôs canções que fazem lembrar o ritmo nos anos 1970, com letras de Glenn Slater. Também o roteiro do espetáculo, assinado por Julian Fellowes (criador da série Downton Abbey), foi atualizado, ainda que mantenha trechos do longa. 

“Na verdade, o espetáculo é fundamentalmente sobre a força de empoderamento da música”, diz. “É sobre o fato de que a música pode libertar a criança. E me agrada o fato de não existir personagem cuja vida não seja alterada pela música.”

ESCOLA DO ROCK

Teatro Santander. Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041. Tel. 4810-6868. 5ª e 6ª, 20h30. Sáb. e Dom., 15h e 18h30. R$ 75 / R$ 310.

‘Sociedade dos Poetas Mortos’ serviu de inspiração para 'Escola do Rock'

Uma das grandes inspirações para o filme Escola do Rock, dirigido por Richard Linklater em 2003, foi outro longa: Sociedade dos Poetas Mortos, que Peter Weir assinou em 1989, alcançando um sucesso mundial.

Lá, o segredo do enredo estava na revolucionária relação que o professor John Keating (bela interpretação de Robin Williams) mantém com seus alunos, em uma instituição rigidamente tradicional – mais que o conhecimento técnico, Keating exalta o livre pensamento e a valorização das paixões individuais.

Repleto de citações de autores como Thoreau, Whitman e Byron, o filme popularizou a expressão latina ‘Carpe diem’, ou seja, aproveite a vida, que é curta.

Escola do Rock ainda faz referência ao maior sucesso da banda Pink Floyd, Another Brick in the Wall, que prega a rebeldia estudantil.

Quando foi convidado para dirigir o espetáculo Escola do Rock – O Musical, que estreia no dia 15, no Teatro Santander, o encenador argentino Mariano Detry tinha ao menos uma certeza: o principal personagem, Dewey Finn, só podia ser representado pelo jovem ator Arthur Berges. “Além de uma incrível vitalidade, ele tem carisma e encanta as crianças”, justifica Detry. 

De fato, basta acompanhar algumas cenas do espetáculo, como fez o Estado, para assinar embaixo: aos 29 anos, Berges é talhado para interpretar Finn na bem cuidada montagem produzida pelo Atelier de Cultura. E o desafio não é pequeno, pois o papel do cantor e guitarrista frustrado que finge ser um professor substituto e monta um grupo de rock com seus alunos para disputar um concurso entre bandas foi defendido com garra no cinema por Jack Black, que moldou definitivamente o perfil do personagem: carinhoso, energizado, duvidoso e caloroso.

Aula. No musical 'Escola do Rock', Arthur Berges traz empolgação aos alunos Foto: Jairo Goldflus

“É com essa força que Berges entra em cena”, retoma Detry, que notou as qualidades do ator em 2016, quando o dirigiu em Chaplin, o Musical. “Notei que ele sabia o que fazer. E hoje ele se parece com Finn na vida real, obsessivo no que faz, ensaiando sem parar.” A observação, aliás, é semelhante no elenco. 

“Arthur impressiona pela entrega: se for preciso dar 20 cambalhotas nos ensaios, ele dá”, comenta Cleto Bacic que, além de viver Ned Schneebly (o professor que Finn finge ser para entrar na escola e conseguir dinheiro para pagar o aluguel), é um dos diretores do Atelier de Cultura. “Durante o período de audições, quando selecionávamos as crianças, ele participou de todos os testes e sem perder o entusiasmo.” “Não é exagero dizer que Arthur vive plugado nos 220 volts”, emenda Thaiz Piza, intérprete de Patty Di Marco, par romântico de Ned.

Arthur ouve os elogios e apenas sorri, em silêncio – um raro momento em que está em “repouso”. Quando retorna ao ensaio, minutos depois, volta a ser o homem incansável, cuja musculatura por inteiro trabalha a serviço do personagem. “Também acho que vivo com o dedo na tomada”, brinca ele, que muito se inspirou no filme de 2003. “O rock sempre esteve muito presente na minha vida, daí ter adorado o longa com o Black.” O cabelo comprido desgrenhado e o sorriso largo, fácil, conquistam de imediato os colegas infantis.  Aliás, três grupos de 14 crianças vão se revezar durante as seis sessões semanais – e, somando esses 42 atores mirins com os 21 adultos, Escola do Rock contará com um dos maiores elencos que já atuaram no Brasil e com um detalhe obrigatório: sempre em cena haverá quatro crianças que tocarão seus instrumentos ao vivo: guitarra, baixo, bateria e teclado.

“Quando tive a certeza de que Arthur participaria do musical, garantindo, portanto, o esperado carisma de Dewey Finn, meu novo desafio passou a ser o de conseguir uma grande performance das crianças”, conta Mariano Detry. “Como precisava de três grupos fortes, organizei de forma que as que tivessem mesma idade ficassem próximas.”

Como a maioria das cenas se passa em uma sala de aula, o ambiente escolar foi reproduzido em detalhes – especialmente sua pluralidade. “Há variações na sexualidade, no tipo físico, assim, a aceitação é uma das principais mensagens. E o método de ensino utiliza a música como agente libertador”, comenta Bacic. “Por ela, o pai passa a entender melhor o filho.”

É por isso que, para o elenco, o musical se tornou mais atual que o filme. “Quando um personagem ouve o discurso do outro, isso ganha mais importância hoje”, observa Sara Sarres, uma das principais atrizes do musical brasileiro, que vive a vilã da história, a diretora Rosalie Mullins. “Ela se incomoda com o caminho adotado pelo Finn no ensino, mas logo percebe sua eficiência.”

É o terceiro espetáculo estrelado por Sara que tem a assinatura do mago dos musicais, o inglês Andrew Lloyd Webber – antes foram O Fantasma da Ópera (na primeira montagem no Brasil, em 2005, e em uma turnê em inglês pela China, em 2015) e Cats. Para evitar que a trama sumisse em meio a um show de rock, Webber criou canções com melodias mais tradicionais, revisitando suas raízes de Jesus Cristo Superstar, por exemplo. “Isso obriga que nossa voz tenha múltiplos usos”, explica Sara, que também revela sua habilidade como cantora de ópera nas cenas em que a diretora Rosalie aposta no ensinamento mais tradicional, apoiando-se na música clássica.

“A melodia criada por Webber me obriga a buscar mais o agudo”, conta Berges, obrigado ainda a controlar respiração e afinação em meio a corridas e cambalhotas. O compositor britânico, aliás, é quem dá a palavra final na definição do elenco – isso acontece em qualquer montagem mundial que leve sua assinatura. “Depois que escolhemos o grupo, enviamos vídeos para avaliação dele”, revela o produtor Vinicius Munhoz. “E, para nossa surpresa e alegria, a aprovação veio mais rápida que o habitual.”

A versão brasileira de Escola do Rock é a primeira produção em uma língua diferente da inglesa a ser montada – é conhecida, internamente, como 001, uma vez que os direitos foram adquiridos há dois anos. Para isso, foram captados R$ 7,1 milhões por meio das leis de incentivo, aplicados em uma montagem que promete grandiosa.

'Escola do Rock'. 'Another Brick in the Wall', de Pink Floyd, foi referência Foto: PARAMOUNT PICTURES

‘Rock pesado é altamente teatral’, diz Lloyd Webber

Inglês criador de outros musicais clássicos, como ‘Jesus Cristo Superstar’, ele mostra como o heavy metal serve bem à cena

Em abril de 2013, o compositor e produtor inglês Andrew Lloyd Webber anunciou ter comprado os direitos para o teatro do filme Escola do Rock, dirigido por Richard Linklater, em 2003. Mas, ao contrário do longa, cujo foco estava na atuação de Jack Black, Webber disse se interessar pelos alunos. “Eu queria saber detalhes das crianças e de seus pais.”

Na verdade, foi sua mulher, Madeleine, quem percebeu o potencial teatral do filme. Webber concordou, especialmente depois de verificar a grande quantidade de escolas de rock existentes nos EUA. E seu toque magistral foi o de incluir crianças que tocam os próprios instrumentos ao vivo, no palco.

Sobre as canções, Webber justificou a necessidade de criar melodias adicionais em relação à trilha do filme. “Você pode apresentar um show de heavy metal durante horas, no cinema, fazendo a plateia gritar sem parar. Mas, no teatro, é preciso um respiro, para que a história seja bem contada.”

Mesmo assim, ele manteve a base da estrutura musical do filme, pois acredita que o rock pesado é altamente teatral. “Em muitos momentos, somente um som pesado pode mexer com a emoção da plateia em cenas capitais”, disse ele, exemplificando com um momento de uma de suas criações, Jesus Cristo Superstar: “Quando Jesus chega ao templo onde afugenta a chicotadas os comerciantes mercenários, a cena é puro metal pesado”, comentou, em entrevista à imprensa australiana, em 2018. “Eu não conseguia pensar em outra trilha: era preciso ter acordes rasgados de guitarra.”

“Gosto muito da teatralidade exagerada de algumas bandas de metal, embora não acredito que eu passaria bem uma noite inteira sem algum tipo de luz e sombra”, continuou.

Para Escola do Rock, Webber compôs canções que fazem lembrar o ritmo nos anos 1970, com letras de Glenn Slater. Também o roteiro do espetáculo, assinado por Julian Fellowes (criador da série Downton Abbey), foi atualizado, ainda que mantenha trechos do longa. 

“Na verdade, o espetáculo é fundamentalmente sobre a força de empoderamento da música”, diz. “É sobre o fato de que a música pode libertar a criança. E me agrada o fato de não existir personagem cuja vida não seja alterada pela música.”

ESCOLA DO ROCK

Teatro Santander. Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041. Tel. 4810-6868. 5ª e 6ª, 20h30. Sáb. e Dom., 15h e 18h30. R$ 75 / R$ 310.

‘Sociedade dos Poetas Mortos’ serviu de inspiração para 'Escola do Rock'

Uma das grandes inspirações para o filme Escola do Rock, dirigido por Richard Linklater em 2003, foi outro longa: Sociedade dos Poetas Mortos, que Peter Weir assinou em 1989, alcançando um sucesso mundial.

Lá, o segredo do enredo estava na revolucionária relação que o professor John Keating (bela interpretação de Robin Williams) mantém com seus alunos, em uma instituição rigidamente tradicional – mais que o conhecimento técnico, Keating exalta o livre pensamento e a valorização das paixões individuais.

Repleto de citações de autores como Thoreau, Whitman e Byron, o filme popularizou a expressão latina ‘Carpe diem’, ou seja, aproveite a vida, que é curta.

Escola do Rock ainda faz referência ao maior sucesso da banda Pink Floyd, Another Brick in the Wall, que prega a rebeldia estudantil.

Quando foi convidado para dirigir o espetáculo Escola do Rock – O Musical, que estreia no dia 15, no Teatro Santander, o encenador argentino Mariano Detry tinha ao menos uma certeza: o principal personagem, Dewey Finn, só podia ser representado pelo jovem ator Arthur Berges. “Além de uma incrível vitalidade, ele tem carisma e encanta as crianças”, justifica Detry. 

De fato, basta acompanhar algumas cenas do espetáculo, como fez o Estado, para assinar embaixo: aos 29 anos, Berges é talhado para interpretar Finn na bem cuidada montagem produzida pelo Atelier de Cultura. E o desafio não é pequeno, pois o papel do cantor e guitarrista frustrado que finge ser um professor substituto e monta um grupo de rock com seus alunos para disputar um concurso entre bandas foi defendido com garra no cinema por Jack Black, que moldou definitivamente o perfil do personagem: carinhoso, energizado, duvidoso e caloroso.

Aula. No musical 'Escola do Rock', Arthur Berges traz empolgação aos alunos Foto: Jairo Goldflus

“É com essa força que Berges entra em cena”, retoma Detry, que notou as qualidades do ator em 2016, quando o dirigiu em Chaplin, o Musical. “Notei que ele sabia o que fazer. E hoje ele se parece com Finn na vida real, obsessivo no que faz, ensaiando sem parar.” A observação, aliás, é semelhante no elenco. 

“Arthur impressiona pela entrega: se for preciso dar 20 cambalhotas nos ensaios, ele dá”, comenta Cleto Bacic que, além de viver Ned Schneebly (o professor que Finn finge ser para entrar na escola e conseguir dinheiro para pagar o aluguel), é um dos diretores do Atelier de Cultura. “Durante o período de audições, quando selecionávamos as crianças, ele participou de todos os testes e sem perder o entusiasmo.” “Não é exagero dizer que Arthur vive plugado nos 220 volts”, emenda Thaiz Piza, intérprete de Patty Di Marco, par romântico de Ned.

Arthur ouve os elogios e apenas sorri, em silêncio – um raro momento em que está em “repouso”. Quando retorna ao ensaio, minutos depois, volta a ser o homem incansável, cuja musculatura por inteiro trabalha a serviço do personagem. “Também acho que vivo com o dedo na tomada”, brinca ele, que muito se inspirou no filme de 2003. “O rock sempre esteve muito presente na minha vida, daí ter adorado o longa com o Black.” O cabelo comprido desgrenhado e o sorriso largo, fácil, conquistam de imediato os colegas infantis.  Aliás, três grupos de 14 crianças vão se revezar durante as seis sessões semanais – e, somando esses 42 atores mirins com os 21 adultos, Escola do Rock contará com um dos maiores elencos que já atuaram no Brasil e com um detalhe obrigatório: sempre em cena haverá quatro crianças que tocarão seus instrumentos ao vivo: guitarra, baixo, bateria e teclado.

“Quando tive a certeza de que Arthur participaria do musical, garantindo, portanto, o esperado carisma de Dewey Finn, meu novo desafio passou a ser o de conseguir uma grande performance das crianças”, conta Mariano Detry. “Como precisava de três grupos fortes, organizei de forma que as que tivessem mesma idade ficassem próximas.”

Como a maioria das cenas se passa em uma sala de aula, o ambiente escolar foi reproduzido em detalhes – especialmente sua pluralidade. “Há variações na sexualidade, no tipo físico, assim, a aceitação é uma das principais mensagens. E o método de ensino utiliza a música como agente libertador”, comenta Bacic. “Por ela, o pai passa a entender melhor o filho.”

É por isso que, para o elenco, o musical se tornou mais atual que o filme. “Quando um personagem ouve o discurso do outro, isso ganha mais importância hoje”, observa Sara Sarres, uma das principais atrizes do musical brasileiro, que vive a vilã da história, a diretora Rosalie Mullins. “Ela se incomoda com o caminho adotado pelo Finn no ensino, mas logo percebe sua eficiência.”

É o terceiro espetáculo estrelado por Sara que tem a assinatura do mago dos musicais, o inglês Andrew Lloyd Webber – antes foram O Fantasma da Ópera (na primeira montagem no Brasil, em 2005, e em uma turnê em inglês pela China, em 2015) e Cats. Para evitar que a trama sumisse em meio a um show de rock, Webber criou canções com melodias mais tradicionais, revisitando suas raízes de Jesus Cristo Superstar, por exemplo. “Isso obriga que nossa voz tenha múltiplos usos”, explica Sara, que também revela sua habilidade como cantora de ópera nas cenas em que a diretora Rosalie aposta no ensinamento mais tradicional, apoiando-se na música clássica.

“A melodia criada por Webber me obriga a buscar mais o agudo”, conta Berges, obrigado ainda a controlar respiração e afinação em meio a corridas e cambalhotas. O compositor britânico, aliás, é quem dá a palavra final na definição do elenco – isso acontece em qualquer montagem mundial que leve sua assinatura. “Depois que escolhemos o grupo, enviamos vídeos para avaliação dele”, revela o produtor Vinicius Munhoz. “E, para nossa surpresa e alegria, a aprovação veio mais rápida que o habitual.”

A versão brasileira de Escola do Rock é a primeira produção em uma língua diferente da inglesa a ser montada – é conhecida, internamente, como 001, uma vez que os direitos foram adquiridos há dois anos. Para isso, foram captados R$ 7,1 milhões por meio das leis de incentivo, aplicados em uma montagem que promete grandiosa.

'Escola do Rock'. 'Another Brick in the Wall', de Pink Floyd, foi referência Foto: PARAMOUNT PICTURES

‘Rock pesado é altamente teatral’, diz Lloyd Webber

Inglês criador de outros musicais clássicos, como ‘Jesus Cristo Superstar’, ele mostra como o heavy metal serve bem à cena

Em abril de 2013, o compositor e produtor inglês Andrew Lloyd Webber anunciou ter comprado os direitos para o teatro do filme Escola do Rock, dirigido por Richard Linklater, em 2003. Mas, ao contrário do longa, cujo foco estava na atuação de Jack Black, Webber disse se interessar pelos alunos. “Eu queria saber detalhes das crianças e de seus pais.”

Na verdade, foi sua mulher, Madeleine, quem percebeu o potencial teatral do filme. Webber concordou, especialmente depois de verificar a grande quantidade de escolas de rock existentes nos EUA. E seu toque magistral foi o de incluir crianças que tocam os próprios instrumentos ao vivo, no palco.

Sobre as canções, Webber justificou a necessidade de criar melodias adicionais em relação à trilha do filme. “Você pode apresentar um show de heavy metal durante horas, no cinema, fazendo a plateia gritar sem parar. Mas, no teatro, é preciso um respiro, para que a história seja bem contada.”

Mesmo assim, ele manteve a base da estrutura musical do filme, pois acredita que o rock pesado é altamente teatral. “Em muitos momentos, somente um som pesado pode mexer com a emoção da plateia em cenas capitais”, disse ele, exemplificando com um momento de uma de suas criações, Jesus Cristo Superstar: “Quando Jesus chega ao templo onde afugenta a chicotadas os comerciantes mercenários, a cena é puro metal pesado”, comentou, em entrevista à imprensa australiana, em 2018. “Eu não conseguia pensar em outra trilha: era preciso ter acordes rasgados de guitarra.”

“Gosto muito da teatralidade exagerada de algumas bandas de metal, embora não acredito que eu passaria bem uma noite inteira sem algum tipo de luz e sombra”, continuou.

Para Escola do Rock, Webber compôs canções que fazem lembrar o ritmo nos anos 1970, com letras de Glenn Slater. Também o roteiro do espetáculo, assinado por Julian Fellowes (criador da série Downton Abbey), foi atualizado, ainda que mantenha trechos do longa. 

“Na verdade, o espetáculo é fundamentalmente sobre a força de empoderamento da música”, diz. “É sobre o fato de que a música pode libertar a criança. E me agrada o fato de não existir personagem cuja vida não seja alterada pela música.”

ESCOLA DO ROCK

Teatro Santander. Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041. Tel. 4810-6868. 5ª e 6ª, 20h30. Sáb. e Dom., 15h e 18h30. R$ 75 / R$ 310.

‘Sociedade dos Poetas Mortos’ serviu de inspiração para 'Escola do Rock'

Uma das grandes inspirações para o filme Escola do Rock, dirigido por Richard Linklater em 2003, foi outro longa: Sociedade dos Poetas Mortos, que Peter Weir assinou em 1989, alcançando um sucesso mundial.

Lá, o segredo do enredo estava na revolucionária relação que o professor John Keating (bela interpretação de Robin Williams) mantém com seus alunos, em uma instituição rigidamente tradicional – mais que o conhecimento técnico, Keating exalta o livre pensamento e a valorização das paixões individuais.

Repleto de citações de autores como Thoreau, Whitman e Byron, o filme popularizou a expressão latina ‘Carpe diem’, ou seja, aproveite a vida, que é curta.

Escola do Rock ainda faz referência ao maior sucesso da banda Pink Floyd, Another Brick in the Wall, que prega a rebeldia estudantil.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.