Bonita e rica, Silvia (Alinne Moraes) chegou em Duas Caras disposta a ajudar a mãe a superar a terrível perda do marido. A jovem de fala doce nem imagina o que seu destino ficcional lhe reserva: vai virar uma peste do dia para a noite. Silvia será a grande vilã da trama das 9 da Globo, em uma guinada comum só a um tipo de personagem: o bipolar. Vilões que viram santos, mocinhos que cometem as maiores atrocidades, sofredores que saem rindo à toa. Os personagens bipolares são assim, começam de um jeito e terminam de outro completamente diferente na novela. Como na vida real, sofrem alterações bruscas de temperamento sem explicações, deixando a audiência quase sempre atordoada. As causas da "doença" na teledramaturgia são as mais variadas: rejeição do público, ibope em baixa, choramingos de atores e, é claro, a vontade imprevisível dos autores. "Uma violenta mudança de caráter vai acontecer com Silvia. Aquela moça linda, formada em Sorbonne será cúmplice de Ferraço (Dalton Vigh) em todas as suas maldades. E a certa altura vai tentar até matar o filho dele com Maria Paula (Marjorie Estiano)", anuncia Aguinaldo Silva, autor de Duas Caras. Como quase todos os acometidos pelo mal, Alinne Moraes, a bipolar da vez, não sabia da mudança. "Fiquei surpresa, mas minha intuição já previa essa possibilidade por causa do nome da novela", fala a atriz. Feitiçaria Irene Ravache também foi vítima de uma metamorfose no ar. Sua amarga Loreta em Eterna Magia virou a mais doce das criaturas como num passe de mágica. Opa! Esqueçam a mágica, afinal, a da novela das bruxas se voltou contra a feiticeira, no caso, a Globo. Tanto é que uma crise de personalidade também acometeu as protagonistas. Vilã e mocinha se embolaram no núcleo de Eva (Malu Mader) e Nina (Maria Flor). Dos bipolares de Paraíso Tropical, o caso mais grave foi o de Antenor Cavalcante. E olha que Tony Ramos bem que tentou reverter sua fama de bom moço na pele do empresário crápula. Não deu. Antenor conquistou a redenção plena para a alegria geral do ibope, que ainda não engoliu Tony na pelo de lobo. "Quando vejo que um personagem não está agradando, faço pequenas mudanças. Mas é preciso saber se ele realmente não está agradando ou se só está sem ação", fala Aguinaldo Silva. "Se essa bipolaridade é definida com o ator desde o início da novela, acho um truque eficiente de narrativa. Também não vejo mal em usar isso para algum ajuste necessário na trama", completa Silvio de Abreu. "Em Vira-Lata, a personagem de Carolina Dieckmann seria uma vilãzinha. Como a novela começou ruim de ibope, descobri que precisava de um personagem feminina de empatia. Apostei nela, que acabou virando a heroína", revela Carlos Lombardi, endossando a tese de que o Prozac dos bipolares da dramaturgia é o ibope.
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